*Publicado no Jornal "Diário da Manhã" em 25.11.08
“Oramos aos domingos para que possamos ter luz
Que guie nossas passadas na trilha que palmilhamos
Estamos saturados de guerra, o conflito não nos seduz;
Mesmo assim é dos mortos que nos fartamos.”
George Bernard Shaw
O Meatless Day Campagne é uma data mundialmente comemorada desde 1986 e foi criada pelo indiano Dadaji J.P. Vaswani em homenagem a Sadhu T.L. Vaswani.
O respeito a todas as formas de vida é um preceito em nome da paz e do amor universal e orienta esta campanha ecológica e sua reflexão sobre a matança de animais.
Sabe-se cientificamente, que a dieta influencia nossa saúde e nossa disposição. Não é novidade ouvirmos que é mito a necessidade da proteína da carne. Pitágoras, Plutarco, Sócrates, Da Vinci, Rosseau, Benjamim Franklin, Leo Tostoy e Adam Smith, entre tantos outros, deixaram seus testemunhos sobre a crença de que a suspensão do consumo alimentar de animais tenha a ver com o aperfeiçoamento gradual humano e o pacifismo, como afirmou Ghandi, que dizia que “o progresso espiritual requer, em uma determinada etapa, que paremos de matar nossos companheiros, os animais, para a satisfação de nossos desejos corpóreos”.
É fácil encontrarmos obras literárias sobre os males que causa a ingestão de carne e as dietas pobres em termos de vegetais e cereais.
Há incoerência ao se falar em Desenvolvimento Sustentável ao mesmo tempo em que se busca mercado para exportação da carne. Existem mais cabeças de gado do que de pessoas no Brasil e o que isto representa em termos de danos ambientais é de uma vastidão devastadora.
Já em 1973 o New York Time Post verificou que uma enorme instalação para matar galinhas utilizava 378 milhões de litros de água por dia. Em agosto de 1974, a Agência Central de Inteligência (CIA) alertou, em um relato, sobre a necessidade de que o consumo de animais criados com cereais diminuísse “rápida e drasticamente”, nos países tidos como ricos.
Para se ter uma idéia, a produção de 1 Kg. de carne exige 5000 litros de água. A destruição das matas e do solo provocada pelos pivôs de irrigação do pasto são outros danos; a carcaça é problema, o gás que emitem é problema. A quantidade de hormônios que se consome com a ingestão de carnes é problema.
Ouvi sobre o abate humanizado estes dias, e isto me agradou, pois creio que significa uma tomada de consciência com relação à necessidade de que se garanta o bem-estar dos animais; é o reconhecimento de que a prática de agressões e o estresse dos animais, que são comuns, ocasionam descargas de hormônio e queda na qualidade do produto.
É algum avanço, mas urge a necessidade de um empresariado cada vez mais moderno, que ouse construir novas relações sociais e de produção. Que se empenhe realmente em buscar investimentos sustentáveis, que atendam necessidades socioambientais e não que simplesmente saciem o apetite de um mercado arcaico e perverso, que nos retire do produtismo que tem devorado nossos recursos econômicos e reproduzido cada vez mais, velhos riscos sociais e ecológicos.
É preciso nos comprometermos realmente, na prática, com o pacifismo, que sempre estará envolvido às questões sociais, econômicas, culturais e ecológicas. Que tal o dia 25 de novembro, sem carne?
Até quando salvaremos apenas as baleias e os micos leões dourados?