quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Contraversão

*Publicada em meu livro QUIMERA

Não quero mais o que me inunda
E no espaço me joga
Em valas profundas

Não me cansei ou me desiludi
Mas aprendi
A querer mais
Intento coisas reais
Junto aos meus sentimentos
Fatos concretos
Que me absorvam
Caminhos certos que me levem
Aos sonhos traçados
Imaculados
Desejos humanos
Conquistas causais
Substanciais
E não abstratas
Comuns, próprias, derivadas

Não quero mais somente essências
Quero aparências
E impressões superficiais
Pensar no todo
Não me ater em motivos
Pensar as conseqüências
Dos atos contidos
E incontidos
Dos verbos calados
E falados

Viver em asas que voltam ao chão
Correr nas águas
Que ao certo vão
Sentindo o vento
A brisa, o refresco
O sol que esquenta
E arde com o tempo
Fazendo de conta
Que esqueci a essência
E que os meus sentimentos
São só conseqüências.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Do direito à convivência familiar e comunitária

*Publicado no jornal Diário da Manhã em 08/10/2011

Em Audiência Pública realizada no auditório do MP em 2009, em defesa do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, muito se falou sobre a ruptura com a cultura da institucionalização e sobre a garantia de direitos de crianças e adolescentes.
Com a presença de importantes entidades representativas e profissionais da área, falou-se sobre a prática da desqualificação das famílias, muito combatida no início dos movimentos pelos direitos de crianças e adolescentes, e que tem sido cada vez mais comum em nossos dias, contrariando estudos e conquistas deste campo.
Esta prática inclui a não contextualização da criança e do adolescente (família/comunidade), negando que a história e a condição de vida destas instâncias interferem na realidade das crianças e adolescentes aí inseridos, como se bastasse separar criança/família.
Também se falou sobre a falta de qualidade nos serviços e programas oferecidos à este público, quase sempre em ações que não inserem na sociedade e que revitimizam, por violar direitos básicos como o de se expressar, se alimentar, ter lazer e informações com liberdade e dignidade, conforme preconizam os artigos 3º e 4º do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente.
A mudança de cultura que determinou a centralidade da família nas políticas públicas se deu a partir do momento em que se percebeu que era inócuo o simples atendimento das partes, pois estas são partes de um todo complexo que também demanda atenção.
Era mais ou menos assim: cuidava-se e educava-se a criança e quando ela voltava para casa, a realidade era outra. Distante dos cuidados e da educação recebida, os conflitos e confrontos nem sempre se transformam em resultados positivos.
Deste modo, percebeu-se que o foco do trabalho não deveria ser exatamente as crianças e sim, as famílias, pois não é a criança que tem que ser preparada para a família e sim, a família tem que estar preparada para o desenvolvimento adequado da criança.
O mesmo se dá com relação às comunidades.
Diante disto, na referida audiência pública, ficou claro a necessidade de sistematização e difusão de metodologias participativas de trabalho com famílias e comunidades, ficando inclusive a sugestão, ao SUAS, de que se crie junto aos CRAS, o Programa Social da Família, nos moldes do antigo Programa de Saúde da Família, do SUS, para melhor acompanhamento e estudo de casos de famílias com maior vulnerabilidade ou risco socioeconômico.
É urgente a criação de programas de apoio ao desenvolvimento local a partir dos conselhos locais nos CRAS, com associações de bairro, comerciantes e igrejas, envolvendo construção de agenda, levantamento de pesquisas socioeconômicas, formação de pequenas cooperativas, grupos de leitura, de teatro, hortas pedagógicas e grupos de discussões/ações acerca, por exemplo, de meio ambiente, planejamento familiar, patrimônios públicos e privados, materiais e imateriais, produção e geração de renda, refletindo sobre o passado, a realidade e o desejável, junto às comunidades.
Também ficou acatada a sugestão da criação, pelo poder público (parceria entre os entes federativos), de equipe multiprofissional para visitas às unidades de atendimento (próprias e conveniadas), em observância à primazia da responsabilidade do Estado no fomento, na coordenação e no acompanhamento de políticas integradas de apoio à família, junto aos municípios.
A intensificação do trabalho com as famílias deve articular as políticas públicas sociais pertinentes, por meio de ações abrangentes que garantam a inserção dos seus membros nos programas das políticas setoriais e o seu fortalecimento para o cumprimento do seu papel na proteção de seus filhos.
O que tem sido feito pela comissão municipal intersetorial para o acompanhamento e a implementação do Plano de Convivência Familiar e Comunitária de Goiânia?