terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Minha vida de petista

*Publicado no jornal Diário da Manhã em 10.01.12


“Você lembra, lembra!
Daquele tempo
Eu tinha estrelas nos olhos...”
Roupa Nova

Eu me lembro com muita saudade das aulas de História do prof. Afonso Lyra, no Colégio Agostiniano, no início dos anos 80. Um dos fundadores do PT, ele foi a primeira referência que tive, deste partido político.
Participei do Diretas Já e em 1985 meu ex-marido e eu recebemos na EMBI, nossa escola de informática, o candidato do PT a prefeito de Goiânia, o prof. Darci Accorsi, por influência do meu compadre Simões, estudante de História, na época.
Veio daí minha admiração pelo prof. Athos Magno, em quem pude votar pela primeira vez, no final dessa década.
Em 1989 eu morava em frente ao Diretório do PT, no Centro, e estava a ver a preparação do bloco Lua Lá, que desceria a Av. Goiás, no desfile de rua, no carnaval, quando Darci Accorsi puxou-me e andou comigo até me conseguir um capuz preto para eu entrar no bloco que faria protesto em alusão ao assassinato de Chico Mendes. E assim eu desci a avenida no carnaval de Goiânia; foi a primeira das três vezes que fiz isto.
Logo em seguida surgiu uma viagem para São Bernardo, para o comício do Lula e eu fui. Foi tudo muito lindo, lembro-me até da lua, que eu via pela janela do ônibus. Jamais me esquecerei do Pinheiro Salles passeando e conversando comigo e depois, ficando sem a jaqueta de frio, para me emprestar, já que a minha ficara trancada no ônibus e não encontrávamos o motorista... Ao chegar a Goiânia, filiei-me ao Partido dos Trabalhadores.
Nesta época haviam as Sextas Culturais do Ivanor, do Pedro Tierra e uma febre de venda de artigos como camisetas, bonés e bottons com a estrela do PT.
Ganhei um brinquinho com a estrela do PT, do prof. Pedro Wilson, que veio a ser meu exemplo de fé, de humanidade e de grandeza. Eu também comprava e incentivava as compras junto às pessoas que eu conhecia.
Lembro-me que levei minha TV para acompanhar a apuração dos votos no diretório, junto ao Gutemberg e uma galera e minha mãe quase teve um treco, não gostava do PT na minha vida.
Foram muitas as campanhas, caminhadas, panfletagens, reuniões, comícios e encontros. Em meu segundo encontro, na antiga Câmara de Vereadores no Pathernon Center, levei meu talher para o almoço, pois não conseguia usar a colher que faziam com a tampa do marmitex. Era muita alegria, muita fé, muita esperança, muita teoria para a construção de um mundo melhor. Era muita gente boa pensando junto.
Muitas batalhas. Meu cunhado me deu uma linda botina feminina, para que eu pudesse ir e vir “mais a vontade”, segundo ele. Nesta época eu era estudante de Serviço Social. Eu andava muito, nos bairros, na cidade.
Na antiga UCG, minhas colegas do SER não valorizavam minha militância, pois criticavam o “aparelhamento” dos partidos políticos, das instituições...
Na campanha de Darci em 1992, comecei a avaliar algumas questões que me incomodavam e no segundo turno, apoiei Sandro Mabel. Meu pai quase teve um treco. Lembro-me bem dele me dizendo “-Mas minha filha, o Darci vai ganhar...” e eu dizendo que isto não importava. Eu até gravei na Stillus, uma fala sobre o porquê de não votar no PT naquele momento.
Eu falava aos quatro cantos, do dinheiro que entrou na campanha através do candidato a vice, da aliança, da descaracterização do Partido...
Depois, Pedro Wilson me conseguiu um estágio de pesquisa no IEL e assim, trabalhei com ele quando vereador. Como o meu salário rendia. E o trabalho também. Desenvolvi uma pesquisa sobre Movimentos Sociais e a apresentei no encerramento do curso, na disciplina de Pesquisa Social. Foi de uma riqueza imensa, esta época, em que o Pedro Wilson era “The Best” em análise de conjuntura. Tínhamos o Adérso.
Diante do ritmo exaustivo das reuniões, eu sempre fazia e levava pães de queijo, pão integral, café e suco de caju para oferecer “um agrado” àquelas pessoas que comigo compartilhavam sonhos e lutas.
Entre as campanhas, era ao redor de Pedro que eu ficava, embora tenha passado pela TM.
Engraçado que quando optei por militar na campanha de Juarez Lopes para vereador e alguém me disse para sair e apoiar outro mais forte, estranhei, pois entendia que tinha que contribuir com quem precisava...
Mais tarde, já formada, trabalhei na mega campanha de Luiz Antônio de Carvalho. Comecei de secretária dele, fui para a Agenda, depois para a Mobilização do interior e daí para a Comunicação, onde tive a satisfação de ter orientações de Pinheiro Salles e de Wilmar Alves. Almoçava com a falecida companheira Sueli Frassáit enrolando o arroz nas folhas de alface.
Trabalhei com Luis César em dois momentos. No primeiro, como professora substituta dele, que me convidou quando passava pelo gabinete do falecido Moura, na Assembléia e depois, na campanha de 1996 e no primeiro mandato de vereador. Muita articulação, leituras, pensamentos estratégicos, “bonecos” para jornaizinhos, organização de idéias e ações sem esquecer o violão, a música brasileira, o rock e a poesia.
Aí me afastei do PT, mas no fim do primeiro turno da campanha de Pedro Wilson para prefeito procurei por ele e voltei à militância petista.
Na campanha de 2002, pedi demissão da Cidadão 2000 e assumi o trabalho à frente do comitê da profª Clélia Brandão ao Senado, convidada pelo prof. Daniel da antiga UCG e pelo falecido amigo Gil, da CUT; nesta campanha apoiei Paulo Garcia, candidato à Deputado Estadual. Clélia Brandão teve em torno de 400 mil votos e o Lula foi eleito. Depois, fiquei nove meses desempregada.
Passada a campanha do Gil para vereador, percebi que precisava sair do partido, mas veio o “mensalão”. Então, resolvi ficar mais um pouco, para não me sentir uma ratazana. Fui a primeira pessoa a falar em público sobre a hipocrisia disto, em uma reunião do Pedro Wilson. Depois desta reunião, lembro-me da última longa conversa com o Gil, na porta do IFTEG, sobre isto e sobre a campanha dele.
Em 2007 me desfiliei do PT. Mas não foi por desilusão ou arrependimento ou coisa parecida. Sou profundamente agradecida por um bocado de coisas que vivi junto ao PT e não nego.
Na última Conferência de Mulheres, foi estranho ver Carmem Síria sem saber se me oferecia ou não uma estrelinha; mas foi muito bom revê-la e também rever a mulherada que segura este movimento.
Nada me faz entender o porquê das atuais alianças do PT de Goiás. Tampouco os discursos chinfrins que aparecem na mídia ou os comportamentos iracundos que revelam mediocridade, onde antes aparecia uma oposição com um brilhantismo e uma esperança cativantes e invejáveis.
Quando eu era petista, havia até um modo petista de governar.

A população de rua em Goiânia e a assistência social

* Republicação de artigo publicado no jornal Diário da Manhã em 18.09.10. Republicado em 05.01.12

Se por um lado a Assistência não pode obrigar ninguém a “aceitar ajuda”, por outro, tem o papel e deve ter a competência para mostrar a quem está na rua, que tem algo melhor que a rua, para oferecer. Tem que ter competência para o convencimento através do diálogo, de uma relação honesta, pautada nos princípios da Assistência Social. Tem que ter mesmo, o que oferecer.
Como diz a profª Cida Skorupski, “ninguém, em sã consciência prefere a rua a uma caminha arrumada, limpa, um alimento quentinho, saboroso, uma casa aconchegante...”.
É preciso conhecer de confusão mental, de miséria, de sistema explorador, prá se ter competência em Assistência Social, que não faz tratamento psicológico, mas encaminha... Que não é filosofia/sociologia, mas se utiliza destas ciências, para compreender na totalidade, os fenômenos sociais.
A visão de trabalho social que permeava as extintas Cidadão 2000 e Casa Ser Cidadão (que trabalhavam as questões de crianças/adolescentes e adultos em situação de riscos socioeconômicos em Goiânia) sabia bem disso: de relações honestas, sem medo, com cuidados, mas horizontalizadas. Esta visão não escolhia usuário, não impedia de entrar nas casas de acolhida, pessoas que usam drogas (lícitas/ilícitas) ou que são agressivas ou que furtam. Estas eram o público-alvo. Sabia-se como lidar com elas.
Temos, na atualidade, profissionais que têm medo... Falta de perfil, de preparo e ainda, excesso da visão e de argumentos que fazem da Assistência Social solidariedade/caridade e que imprimem a esta política, um caráter “solidário e amoroso” que se diluem quando os resultados não revelam o almejado, quando o enfrentamento exige “abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos”, conforme exige o Código de Ética da profissão.
Na “Casa de Acolhida” de Goiânia moram “pessoas com feridas”, problemas de saúde, que “não têm para onde ir”... Não tenho dúvida de que este trabalho está equivocado.
No Natal de 2009 apareceu no jornal da TV, uma moça dizendo da maravilha que é ter onde ficar, dormir, comer e até agradecendo por ter conseguido lá, um novo marido... Mais de 200 pessoas ali, sem ter gastos...
Claro que Goiânia está muito atrativa para moradores de rua, por isto está cheia deles! O danado é que isto não traz dignidade e a PNAS orienta para o direito à convivência familiar e comunitária, tendo havido inclusive uma Audiência Pública neste sentido, no Auditório do Ministério Público em 08/12/09.
Não se reconhece a importância norteadora do Movimento Nacional de População de Rua e da Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua no desenvolvimento desta política.
Enquanto a SEMAS pede “ajuda” à população, através de campanhas de doação, a devolução de verbas ali é constante, por falhas de planejamento e por falta de projetos.
Saliente-se aqui, que a política de doações (recebimento/redistribuição) da SEMAS é assunto para outro momento.
Não haverá sucesso nas políticas sociais goianas enquanto o poder público não se atentar para o fato de que as políticas sociais devem acontecer em conexão entre o social (histórico), o econômico e o ambiental, estabelecendo relações entre as particularidades dos problemas, que não começam e nem terminam em si.
É preciso uma atuação articulada, multiprofissional e intrasetorial, com outro olhar e agir, que sejam capazes de superar o assistencialismo e a ineficiência dos programas atuais no que diz respeito à construção da emancipação e da inserção social.