*Artigo publicado no jornal Diário da Manhã em 29/12/2013
Recentemente, a senhora disse que "cabe a todos nós, servidores públicos, responder essas vozes" que clamam por soluções para as mazelas de nosso país e por qualidade nos serviços públicos.
Sou servidora pública desde 1990 e há 4 anos sou concursada.Tive a oportunidade de trabalhar muito com o PT e conheci bem de perto as teorias que me convenceram a acreditar nos programas do seu partido. Fui militante. Sai por não ver acontecer nada do que era a proposta inicial. Já no primeiro discurso de posse de Lula, fiquei desapontada e aos poucos percebi que estava acontecendo com o PT, o que eu previ em 1993. Aqui estamos.
Luto muito para defender o que aprendi quando estive no PT, não desistirei nunca!
Então, peço à V. Excelência, que se atente às mudanças de concepção que se fazem necessárias nesta era de transformações socioeconômicas.
O Prof. Márcio Pochmann, doutor em Ciência Econômica, já disse que “continuamos discutindo as condições de trabalho como herdeiros do capitalismo do século XX”, afirmando que “é preciso considerar que estamos diante de uma nova possibilidade técnica de organização do trabalho, com jornadas diárias menores e ingresso no mercado de trabalho somente aos 25 anos”, considerando que “antes, a pessoa deve ser totalmente integrada a uma educação que deve ser recebida ao longo de toda sua vida, diante da complexidade da sociedade contemporânea”.
Chega de não ver que a juventude serve de mão de obra barata e ocupa vagas que serviriam para chefes de família e que o baixo poder de compra salarial remete famílias inteiras ao mercado de trabalho, aumentando o exército de reserva. E que as famílias, quase nunca conseguem garantir aos seus membros, saúde, educação, lazer, moradia e transporte com dignidade mínima, nos serviços públicos, embora os tributos fiscais destinados a garantir estes direitos básicos, onerem mercado e sociedade. O trabalho na juventude é, estatisticamente, motivo de evasão escolar, e esta é a causa da falta de qualificação profissional no mercado.
Quero aqui, discordar da forma com que é tratada a questão do trabalho. Da idéia purista de que “o trabalho dignifica o homem”, mas que não pondera que o trabalho não é uma exclusividade material ou física, considerando que ele também se resulta de atividade afetiva (emocional) e intelectual (cognitiva).
Na verdade, acredito que se pensarmos bem, não permitiremos a entrada de pessoas em formação, no mercado de trabalho, pois este é um campo perigoso, pernicioso mesmo, repleto de maus costumes e de exploração. Além do mais, ao adentrar o mercado, o (a) jovem passa a ser responsável por si, a ir e vir por conta própria; em contrapartida, tem menos tempo para o convívio familiar, para os estudos, o lazer; adquire maus hábitos pessoais e sociais.
Também não comungo das maravilhas das creches e escolas integrais. Estas, devem valer como opção, não condição ou ideal. É a família que deve criar seus filhos, não o Estado. A prerrogativa das escolas integrais e creches é parte da idéia desenvolvimentista, e deveria ter sido efetivada nos idos dos anos 70, mas já não servem para este século, quando a desacelaração do tempo e a convivência familiar e social, além dos hábitos sociais, exigem novos comportamentos;
Quando pensamos em saúde, apenas reclamamos sobre as condições para o tratamento de doenças, raramente pensando ou interferindo para que a doença não acometa. Bertrand Russel, em O Elogio ao Ócio, afirma categoricamente, que “a moral do trabalho é uma moral de escravos, e o mundo moderno não precisa de escravidão”. Russel, nos anos de 1935, já defendia quatro horas diárias de trabalho e dizia que só assim “haverá felicidade e alegria de viver, em vez de nervos em frangalhos, fadiga e má digestão”. Neste caso, a previdência social pode contribuir com dados sobre idades e problemas de saúde que demandam afastamentos remunerados e aposentadorias precoces. Costumo dizer que o mercado de trabalho estraga e o INSS paga...
O Brasil precisa pensar no lazer de sua população, garantindo por exemplo, o funcionamento de parques públicos em turno noturno, durante a semana, e 24 horas nos finais de semana, com a devida segurança e espaços para alimentação saudável e recreação completa (arvorismo, jogos de vôlei, squash, basquete, tênis de mesa etc. e também concertos, shows de arte, biblioteca, cafenet, clubes de leitura, do vídeo, videoteca e oficinas permanentes diversas, como: de arte, de produção, de beleza e saúde, educativas para o meio ambiente, as vocações, as relações, o trabalho voluntário), para pessoas que cumprem turnos irregulares de trabalho, considerando que o setor privado, investe em lazer e entretenimento, mas não se preocupa com os efeitos do que oferecem e trabalham 24 horas por dia. São bares, boates, lan houses, festas psicodélicas, postos de conveniência. A escala é industrial. No setor público, a escala é artesanal, e os resultados, podemos ver: violência nas noites, toxicomanias, insatisfação pessoal, egocentrismo e perda de vários valores humanos coletivos essenciais, em uma sociedade fútil, com apego em valores efêmeros e sem preocupação com a saúde e com a vida.
É fundamental constituirmos um Movimento junto a trabalhadores (as), patroas e patrões, em uma ação genuinamente voltada para o bem comum, os ideais coletivos e a emancipação do homem, através do investimento na produção do pensamento coletivo acerca das questões humanas, associando a prática cotidiana aos ideais teóricos, através de estratégias da administração de empresa; que de forma inteligente, se destine a contribuir com um mundo de vidas mais felizes, com significados positivos.
Na pauta deste Movimento, questões como diminuição de jornada de trabalho, direitos e deveres trabalhistas e patronais, entre outros temas relevantes que afetem diretamente a classe trabalhadora e a sociedade em geral, requalificando postos de trabalho e refletindo sobre condições e modernização do trabalho, no sentido de ampliarmos o grau de satisfação de patrões, trabalhadores e usuários dos serviços e produtos oferecidos, pois não é apenas o setor público que carece de mudanças e seriedade em sua condução; a realidade econômica mundial nos remete a obrigação de buscarmos novos rumos para o consumo e a produção de bens e serviços, que garantam padrão de qualidade e sustentabilidade socioambiental.
A diversidade de opções do mercado exige competitividade. Por outro lado, administradores modernos indicam a visão de futuro como sendo quesito para qualquer empreendimento de sucesso, além do investimento no capital humano, com treinamentos e assistência aos funcionários, que acabam melhorando a produtividade, buscando realmente a inovação de alguns valores, regras e comportamentos, tanto no mercado quanto na sociedade como um todo. A consolidação dos direitos humanos só se dará com novas relações que não indiquem explorado e explorador, na superação da visão mercadológica do arcaico capitalismo selvagem, onde tudo é mercadoria, onde o lucro e a vantagem são premissas básicas.
É tempo de investirmos em uma discussão fundamental, de acordo com Freud, para a nossa felicidade, enquanto humanidade: a nossa sexualidade. O aborto, os inúmeros e até os ignorados estupros que sabemos que existem, em nosso país, a violência doméstica, a iniciação sexual e gravidez precoce. Ora, se nossa sociedade joga feto/bebê vivo no lixo, ou se mata antes de jogar, isto não é problema de foro íntimo, apenas. Se nossos homens (moços, até) se comportam como bestas, como animais rupestres, e estupram, violentam, desacolhem suas crias (mesmo que sejam frutos de relação “extemporânea”…), isto é uma questão de saúde mental, cultural e de educação e de segurança… É sim, uma questão de Estado. Ora, se mulher não quer filho, se preserve; existem vários meios. Não tem que jogar fora – de uma vez por todas, é o que penso. Nossa sociedade precisa entender a lei da ação e da reação.
Bertrand Russel, em O Elogio ao Ócio, apregoa que “é necessária uma reforma educacional radical para que o conhecimento, o aprendizado e o saber sejam valorizados em si mesmo e para que o ócio, a diversão e o lazer substituam o trabalho como atividades dignificantes”.
Nossa sociedade precisa parar de educar e de viver para satisfazer o mercado. Precisa pensar a vida que vive e a vida que quer, trabalhando neste sentido. O setor público precisa parar de governar para o mercado. Desenvolver políticas educacionais para além da escola formal, utilizando-se para isto, da Assistência Social, por exemplo, que deve fazer mais do que oferecer bolsas de auxílio. Precisa de uma Educação que alcance crianças e jovens e adultos, para uma sociedade que avance em sentido contrário ao da barbárie que temos visto.
O planejamento familiar, o estímulo aos bons hábitos da alimentação saudável, da prática diária de atividades físicas e a preocupação com o meio ambiente, retomando as discussões e atividades da antiga Agenda 21, são premissas básicas para as mudanças que o Brasil enseja.
Precisamos de investimentos em pesquisas nos campos da biologia, da tecnologia e também da sociologia e demais ciências humanas, nas quais quase nada, ou bem pouco, se investe.
Trabalho com foco nestas questões após estudos, desde 2000. Como já tentei muito argumentar estas questões nos espaços do PT, do PMDB e até do PSDB, em vão, e por constatar que a cada dia, são mais pertinentes, solicito a atenção de Vossa Excelência.