quinta-feira, 27 de março de 2008

KAMCHATKA


"Golpe Militar, Argentina, 1976. A mãe tira o filhos da escola. Os três se encontram com o pai e se mudam para o interior. Kamchatka mostra como a política mudou a vida de uma família. Geograficamente e emocionalmente. Mas o filme passa longe do discurso político, panfletário, engajado. É sobre pessoas que se amam, sobre família. Nunca se sabe qual o crime, o porquê da perseguição. Basta saber que eles têm que fugir.

A ditadura corrobora para a cristalização do núcleo familiar. Pais e filhos ficam mais próximos que nunca, na tentativa de sobreviver. Irmão e irmão, mais cúmplices. E o jovem que chega vira um amigo. Kamchatka também é um filme sobre perdas. Mas não necessariamente sobre a perda da liberdade. É sobre as perdas nossas de cada dia. O colega, a escola, o novo amigo. Tudo que vem e vai porque a vida é assim. E é sobre como lidar com essas perdas. Entendê-las mesmo sem aceitá-las.

Marcelo Piñeyro mais uma vez demonstra delicadeza e intensidade. Adota o filho mais velho como protagonista e olha para o mundo pelos olhos dele. O pequeno ator sabe sofrer, ser denso, ser frio e nunca deixa de ser criança. Sabe que a vida nem sempre funciona do jeito que se quer. Cuida do irmãozinho encantador que faz xixi na cama, como se fosse soldado em missão de honra. Fica pronto em silêncio para uma batalha que nunca travará. Ou que o acertará de outra maneira. Kamchatka é sobre pai, mãe, filhos e irmãos. Sobre amar sobre todas as coisas. Poesia não precisa de palavras. Basta um tapete e muitas estrelas, um rosto grande colado num rosto pequeno, uma mão sobre uma mão sobre outra mão".

Kamchatka
Kamchatka, Argentina/Espanha, 2002
Direção: Marcelo Piñeyro.
Elenco: Matías Del Pozo, Milton De La Canal, Ricardo Darín, Cecilia Roth, Héctor Alterio, Fernanda Mistral, Tomás Fonzi, Mónica Scapparone, Evelyn Domínguez, Leticia Brédice, Nicolás Cantafio, Gabriel Galíndez, Maria Socas, Juan Carrasco, Demián Bugallo, Oscar Ferrigno Jr.
Roteiro: Marcelo Piñeyro e Marcelo Figueras. Edição: Juan Carlos Macías. Produção: Pablo Bossi, Óscar Kramer e Francisco Ramos. Fotografia: Alfredo F. Mayo. Direção de Arte:Música: Bingen Mendizábal. Figurinos: Ana Markarián .

posted by CHICO FIREMAN Mark Tildesley.

REFLEXÃO

“Aqui estou, meu Pai, silencio e ouço a Tua palavra de inspiração.

Descanso na certeza de tua unidade comigo.

Em ti me completo e me plenifico. Em Ti tenho Fé de que tudo me irá bem.

Faze de mim um instrumento consciente de Teus divinos propósitos”.

(IRRADIAÇÃO ESPÍRITA CRISTÃ. Serviço de Divulgação Evangélica – Doutrinária do Departamento de Cultura e Divulgação. Rua 201 nº. 232 – Vila Nova – Goiânia – Goiás).

AÇÃO DE GRAÇAS

É maravilhoso, Senhor, ter

Braços perfeitos,

Quando há tantos mutilados!

Meus olhos perfeitos,

Quando há tantos sem luz!

Minha voz que canta, quando tantas emudeceram!

Minhas mãos que trabalham, quando tantas mendigam!

É maravilhoso voltar para casa,

Quando tantos não têm para onde ir!

É maravilhoso:

Amar, viver, sorrir, sonhar!

Quando há tantos que choram,

Odeiam, revolvem-se em pesadelos, morrem antes de nascer.

É maravilhoso ter um Deus para crer,

Quando há tantos que não têm o consolo de uma crença.

É maravilhoso Senhor, sobretudo,

Ter tão pouco a pedir

Tanto a oferecer e agradecer.

(Michel Quoist)

CUIDAI DE VÓS!

“O homem sensato dorme o necessário para a saúde do corpo e valoriza o tesouro do tempo.

Sabe reservar momentos para meditar em suas noites e em cada amanhecer. Cuida da limpeza de seu corpo como a chuva cuida das ruas íngremes de Jerusalém. Medita em seu caminhar e conhece a necessidade do jejum das palavras. Sabe fazer profundo silêncio interior. Alimenta-se com a devida prudência para não sofrer os desequilíbrios da sensualidade.

Cuidai de Vós!

O homem sensato é organizado em seus compromissos materiais e escolhe o melhor tempo para servir e meditar. Experimenta o jejum do alimento para valorizar a fome e sentir alegria em ser o educador de si próprio. Estabelece um plano de estudo para valorizar seus conhecimentos e sua inteligência.

Estuda a si próprio para aumentar sua consciência de seus atos e de seus pensamentos. Educa-se pelo caminho natural de todas as coisas. É o verdadeiro construtor de seu destino e cresce dia a dia em lutas vitoriosas”.

(Mensagem retirada do Livro “UM DIA EM JERUSALÉM”, de Emídio Silva Falcão Brasileiro – 4ª Edição)

ORAÇÃO DA MANHÃ

Senhor,

no silêncio deste dia que amanhece, venho pedir-te a paz, a sabedoria, a força.

Quero olhar hoje o mundo com os olhos cheios de amor; ser paciente; compreensivo, manso e prudente; ver além das aparências teus filhos como tu mesmo os vês, e assim não ver senão o bem em cada um.

Cerra meus ouvidos a toda calúnia. Guarda minha língua de toda maldade.

Que só de bênçãos se encha meu espírito.

Que eu seja tão bondoso e alegre, que todos quantos se achegarem a mim, sintam tua presença.

Reveste-me de tua beleza, Senhor, e que no decorrer deste dia eu te revele a todos.

Assim seja!

PALAVRAS PARA JÚLIA

Paco Ibañez
(Tradução de Antonio Miranda)

Tu não podes voltar atrás
porque a vida te empurra
como um uivo interminável
interminável.
Te sentirás encurralada
sentirás como perdida ou sozinha
talvez desejes não ter nascido
não ter nascido.
Mas sempre te lembres
do que um dia eu escrevi.
Pensando em ti como penso agora.
A vida é bela já verás
que apesar dos pesares
terás amigos terás amores
terás amigos.
Um homem só uma mulher
considerados um a um
são como pó nada são
nada são.
Então sempre te lembres
do que um dia escrevi
pensando em ti como penso agora.
Nunca te entregues nem te afastes
pelo caminho nunca digas
não posso mais e por aqui fico
por aqui fico.
Outros esperam que resistas,
que tua alegria os ajude,
que os ajude tua canção
entre suas canções.
Então sempre te lembres
do que um dia eu escrevi
pensando em ti como penso agora.
A vida é bela já verás
apesar de todos os pesares
terás amigos terás amores
terás amigos.
Nada mais posso dizer-te
mas tu deves entender
que ainda estou no caminho,
no caminho.
Então sempre te lembres
do que um dia escrevi
pensando em ti como penso agora.

GOIÂNIA E O CURSO DA HISTÓRIA

* Publicado no Jornal Diário da Manhã em 13.03.08

Planejada nos anos 30 para abrigar 50.000 habitantes até 1942, a cidade de Goiânia, que hoje é um importante centro metropolitano regional, possui, de acordo com estimativas do IBGE, cerca de 1.244.696 habitantes, revelando um crescimento populacional vertiginoso e configurando uma expansão urbana desordenada, diferentemente do que previa o plano piloto norteador de sua construção.

Segundo os idealizadores de Goiânia, esta seria uma cidade planejada racionalmente, com pressupostos que garantiriam uma cidade “capaz de satisfazer as necessidades da vida humana”.

De acordo com dados do IBGE, em 1940, Goiânia possuía 48.166 habitantes, e desta época para o ano de 1960, quando da construção de Brasília, a cidade mais que triplicou seu número de habitantes, passando a ter em 20 anos, 151.013 habitantes. Passados apenas 10 anos, já em 1970, Goiânia contava com uma densidade populacional oito vezes maior que o previsto em 1936, passando a ter 380.773 habitantes. De 1970 para 1980, portanto em mais 10 anos, e após 40 anos do lançamento do movimento getulista da Marcha para o Oeste, a população goianiense quase que dobrou novamente, tendo aumentado mais de quinze vezes, desde a inauguração da capital. Contava com 717.526 habitantes.

Pode-se observar que esta tendência de crescimento populacional exorbitante foi, no século XX, uma característica nacional que combinava a persistência de elevadas taxas de natalidade e a redução progressiva das taxas de mortalidade, devido o progresso da medicina e da bioquímica, paralelamente à melhoria das condições médico-hospitalares e higiênico-sanitárias, com o combate das doenças de massas como a varíola, o tifo, o cólera e o controle da desnutrição, das diarréias infecciosas e das doenças respiratórias.

A crescente necessidade de mão de obra para sustentar a industrialização, determinou uma política populacionista, que nos anos 60 criou o salário-natalidade e o salário família e produziu a maior explosão demográfica do mundo, com deslocamentos populacionais intensos e o adensamento das zonas urbanas, resultantes das transformações pelas quais passava a sociedade brasileira.

Percebe-se, no entanto, em Goiânia, como em todo o Brasil, a partir de dados censitários, o encolhimento do crescimento demográfico, diante da queda nas taxas de fecundidade e da diminuição da migração interna.

A migração de retorno é um fenômeno que começou a se revelar em 1980 e se intensificou a partir de 1995, com grande evasão populacional das capitais para as cidades médias nas periferias metropolitanas, embora a urbanidade da sociedade brasileira seja um fato irreversível, mesmo diante de variações dos estoques demográficos e da falta de oportunidades econômicas e sociais nas grandes cidades, o que gera conflitos e segregação social e espacial.

A pirâmide etária brasileira ainda apresenta-se fortemente triangular, com larga base e estreito cume. A população jovem (até 19 anos) constitui mais de um terço do total, representando aproximadamente 40% da população brasileira; o corpo afunilado da pirâmide corresponde às pessoas com faixa etária entre 20 e 59 anos, representando cerca de 51% da população e o ápice da pirâmide corresponde às pessoas com idade superior a 59 anos, perfazendo 9% da população.

A análise do censo de 2000 revela uma diminuição relativa da população de jovens, devido inclusive ao preocupante aumento da mortalidade de rapazes com idade entre 15 e 29 anos, associada ao aumento da violência urbana no fim do século.

Diante disto, e do aumento da expectativa de vida, vem ocorrendo uma mudança na estrutura etária da nossa população, com o aumento proporcional de idosos, que vem se acentuando e nos trazendo a necessidade de pensarmos mais efetivamente a nossa sociedade e as adequações necessárias, sob o risco de que o sistema previdenciário sugue, cada vez mais, os recursos da nação, inviabilizando investimentos em outras políticas públicas, como educação, saúde, defesa, infra-estrutura.

E a longevidade aumentou – não somente para as classes mais abastadas, diferentemente do passado, trazendo maior tempo de usufruto das aposentadorias, maior presença de doenças tidas como senis e maiores demandas familiares nos cuidados com seus idosos.

Em todo o mundo, a elevação de gastos sociais e a desaceleração econômica vêm se acentuando, e diante do crescente número de indivíduos aposentados, em relação àqueles em atividade, existe uma ameaça à sustentação do tradicional sistema previdenciário, no qual os funcionários atuais pagam pelos direitos dos trabalhadores aposentados.

Em 2000, constatou-se também, que as proporções entre a população masculina e feminina vêm diminuindo paulatinamente no Brasil. Em 1980 havia 98,7 homens para cada cem mulheres, proporção que caiu para 97% em 2000. Em números absolutos, o excedente feminino, que era de 2,5 milhões em 2000, chegará a seis milhões em 2050. Em Goiânia, existem 521.055 homens e 571.952 mulheres.

Os dados do IBGE revelam que a fecundidade (ou seja, o número médio de filhos por mulher) tornou-se o principal elemento responsável pela dinâmica populacional, pois embora a taxa de mortalidade no país tenha caído bastante desde a década de 1940 – principalmente entre crianças e idosos, a queda na taxa de natalidade foi ainda maior, diante de incentivos à redução da natalidade (como a disseminação de anticoncepcionais).

O Centro de Estratégia e Estudos Internacionais (CSIS) recomendou, em 2002, que o envelhecimento populacional seja incorporado enquanto tema permanente na agenda de reuniões do G8 (grupo das sete nações mais industrializadas do mundo, mais a Rússia), avaliando que “sociedades envelhecidas terão que se tornar muito eficientes para evitar recessões”, pois o choque econômico é certo, e exige reflexão e mudanças na políticas públicas relativas à previdência social, à saúde, às leis trabalhistas, leis de imigração e à política de planejamento familiar.

A alteração demográfica que ora se apresenta pode vir a dificultar o crescimento da economia e o equilíbrio social. Precisamos perceber Goiânia no contexto de mudanças da sociedade pós-industrial. É preciso e urgente pensar nossa sociedade, avaliarmos, projetarmos, recriarmos – sob pena de, em caso contrário, nos perdermos no “trem da história”.

A TRANSFORMAÇÃO ATRAVÉS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

* Publicado em 16.05.07 no Jornal O Popular - Goiânia-GO


Ontem, 15 de maio comemorou-se o Dia do Assistente Social. Ainda hoje, há mais de 100 anos após a abertura da 1a. Escola de Trabalho Social, em Nova York, e há cerca de 400 anos após os primeiros registros sobre as condições de vida e a pauperização, na Bélgica, identificando possíveis causas da miséria, ouvimos pessoas falarem de Assistência Social como sendo obra de caridade, questão de humanidade ou filantropia, devido ao fato de que a história do Serviço Social realmente está entremeada à atuação da Igreja Católica e identificada com a solidariedade.
No Brasil, a 1a Escola de Serviço Social foi fundada em São Paulo, no ano de 1936, por leigos identificados com o pensamento da Igreja Católica. No ano de 1960, em um encontro em Belo Horizonte, o Serviço Social brasileiro adquiriu ares de engajamento político e compromisso com a transformação social, mas somente após o Encontro de Sumaré, em 1978 e no início dos anos 80, com a abertura política, ainda que gradual e restrita, é que a literatura e a formação profissional do Serviço Social passaram a incorporar elementos das correntes teóricas presentes hoje, oferecendo metodologias específicas para o trato profissional, concebendo a Assistência Social enquanto política de direito, sob a batuta do Conselho Federal de Serviço Social – CFESS, que em nível nacional, representa os CRESS, os CEAS e os CMAS, respectivamente, os conselhos regionais, estaduais e municipais.

Sobre os programas sociais, precisamos saber que as "bolsas" são na verdade, transferência de renda e por isso mesmo, não são "benefícios" concedidos e sim, repasses que deveriam garantir direitos como saúde, alimentação, educação, moradia; não garantem, mas deveriam advir do reconhecimento, pelo Estado, da violação dos direitos dos cidadãos, que juntos, garantem a riqueza social. As fraudes não são apenas as que aparecem na heroína imprensa, mas estão na falta de dignidade com que as pessoas são tratadas no credenciamento, com filas enormes, falhas de atendimento e principalmente no gerenciamento e supervisão. Se a administração municipal não é aliada do governo, pior. Não há compromisso com o objetivo do governo federal. Por outro lado, o governo federal não acompanha efetivamente os programas. Atenta-se em dados de relatório. Não qualifica, não organiza e nem interliga as ações. Não há uma política social, e sim, programas. O controle periódico que existe, ainda é ineficiente.

A política social não pode mais se dar de forma isolada, mas em conexão entre o social, o econômico e o ambiental. Tendo surgido a partir da ascensão da sociedade burguesa no século XIX, o Serviço Social se limitava a “assistir” a classe proletária com intuito de facilitar certo "controle" sobre o proletariado, evitando possíveis insurreições sociais. Hoje, as questões sociais não se limitam às questões de classe, apenas. Tampouco o Serviço Social se presta ao papel de “amortecedor” de conflitos.

É preciso haver uma inversão nas políticas públicas; as necessidades sociais devem orientar o trabalho, o mercado, a busca dos recursos e não o contrário. É preciso um efetivo monitoramento e a avaliação contínua e sistemática dos programas sociais sob o aspecto qualitativo e sob o aspecto quantitativo em termos de efetividade e eficácia, com a publicização, inclusive, da prestação de contas. O avanço da política social não aparece através das amostras estatísticas, mas na ampliação da qualidade de vida da população através da qualidade dos serviços. Precisamos entender as particularidades dos problemas, que não começam e nem terminam em si mesmos.

Onde estão os conselhos locais de assistência social no acompanhamento do órgão gestor desta política pública? Os CLAS foram aprovados pela Câmara de Vereadores e já funcionaram, anteriormente.

Precisamos construir indicadores sobre o quanto se cumpre daquilo que se discute; discutir sobre a questão dos planos teórico-metodológico e orçamentário. É ponto pacifico a necessidade, na Assistência Social, do tripé planejamento/execução/avaliação do trabalho, além da construção de um banco de dados que justifique receitas e despesas, possuindo indicadores sócio-econômico dos demandatários. Universalização dos direitos sociais, transparência, descentralização, equidade e participação são princípios que constituem a Lei Orgânica da Assistência Social.

Pois bem: é neste sentido que esta reflexão pretende colaborar, buscando identificar os sinais que precisamos neste momento, em que urge à Assistência Social o desvelamento dos paradigmas que norteiam esta profissão e que enfim, poderão suplantar a visão utilitarista e pragmática do trabalho social, através de uma visão humanística, centrada na formação, organização e emancipação do ser humano, abandonando o espírito que considera pobreza algo material, somente, em uma perspectiva de garantia de direitos.

O principal paradigma, de acordo com nosso Código de Ética, é a transformação social. Ainda estamos no exercício de reprodução social e de mediação de conflitos entre as classes sociais e econômicas, propiciando a reprodução da força de trabalho, em meio ao caos social.

Como em Paulo Freire, “nosso sonho de sociedade” deve ultrapassar “os limites de sonhar que aí estão”, já que, como disse o mesmo Paulo Freire, “utopia não é o irrealizável, mas o que não foi realizado”.