* Publicado no Jornal Diário da Manhã em 13.03.08
Planejada nos anos 30 para abrigar 50.000 habitantes até 1942, a cidade de Goiânia, que hoje é um importante centro metropolitano regional, possui, de acordo com estimativas do IBGE, cerca de 1.244.696 habitantes, revelando um crescimento populacional vertiginoso e configurando uma expansão urbana desordenada, diferentemente do que previa o plano piloto norteador de sua construção.
Segundo os idealizadores de Goiânia, esta seria uma cidade planejada racionalmente, com pressupostos que garantiriam uma cidade “capaz de satisfazer as necessidades da vida humana”.
De acordo com dados do IBGE, em 1940, Goiânia possuía 48.166 habitantes, e desta época para o ano de 1960, quando da construção de Brasília, a cidade mais que triplicou seu número de habitantes, passando a ter em 20 anos, 151.013 habitantes. Passados apenas 10 anos, já em 1970, Goiânia contava com uma densidade populacional oito vezes maior que o previsto em 1936, passando a ter 380.773 habitantes. De 1970 para 1980, portanto em mais 10 anos, e após 40 anos do lançamento do movimento getulista da Marcha para o Oeste, a população goianiense quase que dobrou novamente, tendo aumentado mais de quinze vezes, desde a inauguração da capital. Contava com 717.526 habitantes.
Pode-se observar que esta tendência de crescimento populacional exorbitante foi, no século XX, uma característica nacional que combinava a persistência de elevadas taxas de natalidade e a redução progressiva das taxas de mortalidade, devido o progresso da medicina e da bioquímica, paralelamente à melhoria das condições médico-hospitalares e higiênico-sanitárias, com o combate das doenças de massas como a varíola, o tifo, o cólera e o controle da desnutrição, das diarréias infecciosas e das doenças respiratórias.
A crescente necessidade de mão de obra para sustentar a industrialização, determinou uma política populacionista, que nos anos 60 criou o salário-natalidade e o salário família e produziu a maior explosão demográfica do mundo, com deslocamentos populacionais intensos e o adensamento das zonas urbanas, resultantes das transformações pelas quais passava a sociedade brasileira.
Percebe-se, no entanto, em Goiânia, como em todo o Brasil, a partir de dados censitários, o encolhimento do crescimento demográfico, diante da queda nas taxas de fecundidade e da diminuição da migração interna.
A migração de retorno é um fenômeno que começou a se revelar em 1980 e se intensificou a partir de 1995, com grande evasão populacional das capitais para as cidades médias nas periferias metropolitanas, embora a urbanidade da sociedade brasileira seja um fato irreversível, mesmo diante de variações dos estoques demográficos e da falta de oportunidades econômicas e sociais nas grandes cidades, o que gera conflitos e segregação social e espacial.
A pirâmide etária brasileira ainda apresenta-se fortemente triangular, com larga base e estreito cume. A população jovem (até 19 anos) constitui mais de um terço do total, representando aproximadamente 40% da população brasileira; o corpo afunilado da pirâmide corresponde às pessoas com faixa etária entre 20 e 59 anos, representando cerca de 51% da população e o ápice da pirâmide corresponde às pessoas com idade superior a 59 anos, perfazendo 9% da população.
A análise do censo de 2000 revela uma diminuição relativa da população de jovens, devido inclusive ao preocupante aumento da mortalidade de rapazes com idade entre 15 e 29 anos, associada ao aumento da violência urbana no fim do século.
Diante disto, e do aumento da expectativa de vida, vem ocorrendo uma mudança na estrutura etária da nossa população, com o aumento proporcional de idosos, que vem se acentuando e nos trazendo a necessidade de pensarmos mais efetivamente a nossa sociedade e as adequações necessárias, sob o risco de que o sistema previdenciário sugue, cada vez mais, os recursos da nação, inviabilizando investimentos em outras políticas públicas, como educação, saúde, defesa, infra-estrutura.
E a longevidade aumentou – não somente para as classes mais abastadas, diferentemente do passado, trazendo maior tempo de usufruto das aposentadorias, maior presença de doenças tidas como senis e maiores demandas familiares nos cuidados com seus idosos.
Em todo o mundo, a elevação de gastos sociais e a desaceleração econômica vêm se acentuando, e diante do crescente número de indivíduos aposentados, em relação àqueles em atividade, existe uma ameaça à sustentação do tradicional sistema previdenciário, no qual os funcionários atuais pagam pelos direitos dos trabalhadores aposentados.
Em 2000, constatou-se também, que as proporções entre a população masculina e feminina vêm diminuindo paulatinamente no Brasil. Em 1980 havia 98,7 homens para cada cem mulheres, proporção que caiu para 97% em 2000. Em números absolutos, o excedente feminino, que era de 2,5 milhões em 2000, chegará a seis milhões em 2050. Em Goiânia, existem 521.055 homens e 571.952 mulheres.
Os dados do IBGE revelam que a fecundidade (ou seja, o número médio de filhos por mulher) tornou-se o principal elemento responsável pela dinâmica populacional, pois embora a taxa de mortalidade no país tenha caído bastante desde a década de 1940 – principalmente entre crianças e idosos, a queda na taxa de natalidade foi ainda maior, diante de incentivos à redução da natalidade (como a disseminação de anticoncepcionais).
O Centro de Estratégia e Estudos Internacionais (CSIS) recomendou, em 2002, que o envelhecimento populacional seja incorporado enquanto tema permanente na agenda de reuniões do G8 (grupo das sete nações mais industrializadas do mundo, mais a Rússia), avaliando que “sociedades envelhecidas terão que se tornar muito eficientes para evitar recessões”, pois o choque econômico é certo, e exige reflexão e mudanças na políticas públicas relativas à previdência social, à saúde, às leis trabalhistas, leis de imigração e à política de planejamento familiar.
A alteração demográfica que ora se apresenta pode vir a dificultar o crescimento da economia e o equilíbrio social. Precisamos perceber Goiânia no contexto de mudanças da sociedade pós-industrial. É preciso e urgente pensar nossa sociedade, avaliarmos, projetarmos, recriarmos – sob pena de, em caso contrário, nos perdermos no “trem da história”.