Em resposta a artigos publicados recentemente no DM:
Aos convidados para irem conhecer a mina de Cana Brava em Minaçu, eu aconselharia cautela. Não é local de turismo e muito menos um ambiente saudável para quem busca ar puro e descontaminado para encher os pulmões. Dar uma fungada mais profunda, nem pensar!
Os relatos de quem desbravou a bela Serra da Cana Brava - esta sim um paraíso ecológico, se não tivesse as imensas crateras que a voraz produção mineral cravou naquele santuário, são desalentadores. São centenas de famílias atingidas pela poeira devastadora do mineral cancerígeno que causa, entre outras doenças, o pulmão de pedra ou pulmão branco - asbestose, além do câncer de pulmão e o temível mesotelioma.
O que impera naquela região, que foi considerada o Eldorado goiano, é a lei da mordaça ou um silêncio obsequioso imposto pelos detentores do poder - os caciques da cidade. E aí se incluem políticos, donos dos meios de comunicação, sindicalistas, comerciantes. Um pacto de silêncio vergonhoso para que não se conheça a triste realidade com a qual convivem as famílias atingidas pela catástrofe sanitária do século XX.
O convite para que visitem a mina a qualquer hora e dia sem avisar é uma falácia. A tal política das "portas abertas" é algo que só funciona quando os convidados são leigos. Se houver alguém na "comitiva" que entenda minimamente de saúde e meio ambiente, aí começa um drama. Não deixam entrar antes de passarem a noite lavando e lustrando as instalações e modificando o ambiente para o "ilustre visitante".
Eu estive em três oportunidades na mina de Cana Brava, na SAMA em Minaçu. Estive em 3 décadas distintas (80, 90 e agora em pleno terceiro milênio) e pude constatar o avanço da frente de lavra sobre terras agricultáveis já a começar pelo sobrevôo que a cada visita me deixa mais impressionada. O que acontecerá quando o minério se esgotar ? Quem vai tomar conta daquelas crateras? É uma chaga aberta em plena serra e ninguém discute sobre isto.
As vociferações que tentam desqualificar o nosso trabalho por chamar a atenção das autoridades e alertar sobre o que está acontecendo em Minaçu não nos incomoda, muito menos as ameaças veladas e denúncias que institutos propagandistas da fibra cancerígena tentam nos imputar. O que nos preocupa é a falta de conhecimento da população de Goiás sobre o que acontece em Minaçu, manipulada pela desinformação promovida por defensores da fibra assassina, que se locupletam em suas campanhas políticas com fartas doações em dinheiro. Basta entrar em sites como o Transparência Brasil para saber quem é que é financiado pela mineradora e indústrias do amianto neste país da "IM(p)UNIDADE PARLAMENTAR".
Tentar ridicularizar os atos de importantes homens públicos do país, como fizeram com a matéria assinada no jornal DM, sobre a Portaria 43 do Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, é mais uma das especialidades destes lobistas que pensam que podem iludir o povo com seu jogo de palavras, que incluem ofensas pessoais àqueles que divergem de sua opinião autoritária. O povo não é idiota e sabe muito bem o que está por trás destes ataques travestidos da defesa do interesse do povo de Minaçu. Só adiam o debate, que tem de ocorrer e rápido, antes que seja tarde demais.
O que estes farsantes não dizem, por exemplo, é que o "especialista" que diagnostica os pulmões das pobres vítimas de Minaçu tem residência médica em ginecologia (a nós parece que o buraco que ele investiga é mais embaixo do que deveria!). Cânceres em Minaçu, nem pensar! "Todos são inveterados fumantes", é o que dizem, mesmo que nunca tenha posto um cigarro na boca. Ouvi este relato repetido à exaustão nos encontros em Minaçu com vítimas, viúvas e familiares ávidos para contarem seus dramas pessoais e o descaso em que vivem. Doentes só são reconhecidos e indenizados se tiveram exposição antes de 1980, pois faz parte da máquina propagandística que quem trabalhou após a década de 80 não ficará doente.
Os amiantófilos nunca dizem que quem se expôs a partir de 1980 só terá câncer a partir de 2010.
Afirmar a inexistência de doentes em Minaçu é, no mínimo, uma indecência e um insulto à inteligência humana. Não vivemos mais a época do regime militar onde falar a verdade podia conduzir a morte! As mordaças se romperão e aí veremos quem é que ilude o povo de Minaçu com falsas promessas.
Falam em guerra comercial, como se os produtores de amianto não fizessem parte desta disputa feroz. Por estupidez e visão míope, defendem uma tecnologia obsoleta como é o cimento-amianto, que vem sendo progressivamente substituído por materiais muito mais versáteis (haja vista as caixas d’ água que ninguém mais quer com amianto). Certamente novos concorrentes virão, já que a indústria da reciclagem está sendo uma importante opção para aqueles que querem um material ambientalmente correto e menos perigoso que o amianto!
Esperamos que o amianto seja substituído o mais rapidamente possível e que os políticos de Goiás olhem para Minaçu em busca de alternativas saudáveis e sustentáveis para impulsionar o desenvolvimento da região, ao invés de ficarem enganando a população de lá com promessas mirabolantes de que vão impedir que o amianto seja banido no Brasil.
Esperamos, sinceramente, que Minaçu deixe de ser a cidade das viúvas do amianto e purgatório das vítimas, saindo da era das trevas e se libertando deste pacto de silêncio imposto, com o fim daquele que já foi considerado o mineral mágico e posteriormente se converteu num pesadelo para a sociedade industrial do século XX.
Fernanda Giannasi é Engenheira Civil e Auditora-Fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego em São Paulo há 25 anos, onde é Gerente do Projeto Estadual do Amianto.
"Não há mudança sem sonho, como não há sonho sem esperança. Não há utopia verdadeira fora da tensão entre a denúncia de um presente e o anúncio de um futuro à ser criado, construído, política, ética e esteticamente, por todos nós. " Paulo Freire
sábado, 21 de fevereiro de 2009
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Acho bacana beber e fumar
* Publicado no Jornal Diário da Manhã" em 06.02.09
Comecei a beber cerveja bem novinha, na “xicrinha”; quase me lembro de como achavam beleza e graça nisto; acho que é por me lembrar de ver um primo bem mais novo que eu também passar por isto.
Aos doze anos, mamãe acendeu um cigarro depois do almoço e disse que queria sentir o que papai sentia; minha irmã e ela não gostaram. Achei interessante, mesmo sem tragar.
E cresci em um lar que continha cerveja, cigarro, cuba libre. Era lindo. Muita valsa, muito bolero, algum tango, Roberto Carlos, MPB, Maysa.
Papai sempre parou depois do trabalho, para tomar uma cerveja; e uma “pinguinha”, quase sempre. Em seguida, direto prá casa. Às vezes, nos buscava antes, para tomarmos um guaraná. Quando não, nos levava o guaraná, o sonho de valsas e a revistinha, com a de modas da mamãe, claro.
Em casa, líamos literatura e jornal diariamente, e pai e mãe garantiram a mim e minha irmã, o privilégio de estudar em excelentes escolas católicas, particulares. Pensavam em nosso futuro, projetavam um mundo melhor, acreditavam na vida e nos repassavam estes valores. Praticamos esportes, dança, convivemos com uma diversidade de culturas, de línguas, de povos. Sem preconceitos.
Agora, papai não bebe mais, mas pode. Não se sente bem quando bebe. Mamãe bebe apenas de vez em quando, como antes, mas apenas um ou dois copos, nada mais.
Ao assistir a mini série Maysa, pude entender meu modo de ser, meus mundos caídos, a paixão sempre contida. Convivo desde sempre, com muita nostalgia. Sou fã de Maysa, e ela me influenciou.
Mas nunca me admiti ser alcoolista ou fumante inveterada. Cada dia tento mais, evitar prejuízos.
Além da “brincadeira” com cerveja e cigarro, papai e mamãe nos ofereceram em nosso lar, muito amor. Aquele amor exigente.
E papai nunca se atrasou para o trabalho, ou “matou” serviço. E a casa de mamãe sempre foi muito organizada, limpa. Papai sempre almoça em casa, na mesma hora, e mamãe sempre o aguarda com a comida à mesa, bonitinha. Ela e a comida.
Diariamente íamos à casa de vovó e tínhamos contato com familiares. Aprendemos, minha irmã e eu, com nossos pais, a respeitar a mesa de refeições, o alimento, e a dar graças a Deus, por tê-lo e por tudo. E sempre tivemos nossas tarefas domésticas.
Como meu pai era assíduo na maçonaria, freqüentávamos muitos eventos beneficentes e mamãe sempre nos levava para passear em instituições filantrópicas. E aprendemos a importância das verdadeiras amizades e também das orações.
Vendo Maysa, na TV, bebendo e fumando aos 15 anos, e todos ao seu redor, percebi o como era comum isto, nos anos 60 e 70. Era chique, moderno. A busca do prazer, a liberdade, a contestação dos padrões da época versus a busca e a inculcação de novos padrões.
Não havia o ECA nem as pesquisas sobre o câncer ou sobre os males do alcoolismo. Parei prá pensar na influência dos poderes econômicos, de comunicação. Nos modismos.
Li uma entrevista com o conceituadíssimo cardiologista de celebridades, o Dr. Bernardino Tranchesi Júnior, onde ele diz que fumar um cigarro após o almoço e outro após o jantar, não faz mal. Gostei da matéria. O médico, elegantérrimo, falava sobre a longevidade, o bem que faz a alimentação equilibrada, uma taça de vinho às refeições, uma caminhada diária e sobre suas próprias vaidades e prazeres: dezenas de roupas e de sapatos de altas grifes, boa comida, bons carros; afirmou fumar cinco cigarros ao dia. Aí, pensei nos índios, que fumam em momentos religiosos e festivos.
Não tenho dúvida de que o problema não é o álcool ou o cigarro, mas as histórias de vida, o desequilíbrio das pessoas, das famílias, a falta de autocontrole, de autoconhecimento. O consumismo desregrado que impede a visão do limite entre “o prazer e a dependência”, o dever e o direito; a inconsciência que coloca em artifícios, em produtos descartáveis, em sensações e em fatores externos, a felicidade.
Comecei a fumar de verdade, aos catorze anos, escondido. Passei muito mal para conseguir. Fumava dois ou três cigarros por dia e há uns cinco anos, deixei de conseguir, pois me sentia mal. Se me perguntavam se tinha parado, dizia que não, apenas não conseguia mais. Aí, há uns quatro meses, voltei. Fumei uma carteira em um mês e não quis mais, mas não me senti mal. Não gosto do cheiro do cigarro, que fica, e não tenho sentido vontade de fumar.
Costumo dizer que gosto muito de beber pouco. Não tenho compromisso com o álcool, nem mesmo em fins de semana. Gosto de beber uma latinha, às vezes duas, quase sempre, em casa. Não gosto de perder o meu controle, de passar mal.
Gosto de bares, de boates, de festas, de bate-papo, de danças. Mas nada disso faz parte do meu ritmo, do meu habitué. Gosto muito de gente, de amizades, mas tenho várias razões para gostar de estar em casa também, e da minha companhia.
Comecei a beber cerveja bem novinha, na “xicrinha”; quase me lembro de como achavam beleza e graça nisto; acho que é por me lembrar de ver um primo bem mais novo que eu também passar por isto.
Aos doze anos, mamãe acendeu um cigarro depois do almoço e disse que queria sentir o que papai sentia; minha irmã e ela não gostaram. Achei interessante, mesmo sem tragar.
E cresci em um lar que continha cerveja, cigarro, cuba libre. Era lindo. Muita valsa, muito bolero, algum tango, Roberto Carlos, MPB, Maysa.
Papai sempre parou depois do trabalho, para tomar uma cerveja; e uma “pinguinha”, quase sempre. Em seguida, direto prá casa. Às vezes, nos buscava antes, para tomarmos um guaraná. Quando não, nos levava o guaraná, o sonho de valsas e a revistinha, com a de modas da mamãe, claro.
Em casa, líamos literatura e jornal diariamente, e pai e mãe garantiram a mim e minha irmã, o privilégio de estudar em excelentes escolas católicas, particulares. Pensavam em nosso futuro, projetavam um mundo melhor, acreditavam na vida e nos repassavam estes valores. Praticamos esportes, dança, convivemos com uma diversidade de culturas, de línguas, de povos. Sem preconceitos.
Agora, papai não bebe mais, mas pode. Não se sente bem quando bebe. Mamãe bebe apenas de vez em quando, como antes, mas apenas um ou dois copos, nada mais.
Ao assistir a mini série Maysa, pude entender meu modo de ser, meus mundos caídos, a paixão sempre contida. Convivo desde sempre, com muita nostalgia. Sou fã de Maysa, e ela me influenciou.
Mas nunca me admiti ser alcoolista ou fumante inveterada. Cada dia tento mais, evitar prejuízos.
Além da “brincadeira” com cerveja e cigarro, papai e mamãe nos ofereceram em nosso lar, muito amor. Aquele amor exigente.
E papai nunca se atrasou para o trabalho, ou “matou” serviço. E a casa de mamãe sempre foi muito organizada, limpa. Papai sempre almoça em casa, na mesma hora, e mamãe sempre o aguarda com a comida à mesa, bonitinha. Ela e a comida.
Diariamente íamos à casa de vovó e tínhamos contato com familiares. Aprendemos, minha irmã e eu, com nossos pais, a respeitar a mesa de refeições, o alimento, e a dar graças a Deus, por tê-lo e por tudo. E sempre tivemos nossas tarefas domésticas.
Como meu pai era assíduo na maçonaria, freqüentávamos muitos eventos beneficentes e mamãe sempre nos levava para passear em instituições filantrópicas. E aprendemos a importância das verdadeiras amizades e também das orações.
Vendo Maysa, na TV, bebendo e fumando aos 15 anos, e todos ao seu redor, percebi o como era comum isto, nos anos 60 e 70. Era chique, moderno. A busca do prazer, a liberdade, a contestação dos padrões da época versus a busca e a inculcação de novos padrões.
Não havia o ECA nem as pesquisas sobre o câncer ou sobre os males do alcoolismo. Parei prá pensar na influência dos poderes econômicos, de comunicação. Nos modismos.
Li uma entrevista com o conceituadíssimo cardiologista de celebridades, o Dr. Bernardino Tranchesi Júnior, onde ele diz que fumar um cigarro após o almoço e outro após o jantar, não faz mal. Gostei da matéria. O médico, elegantérrimo, falava sobre a longevidade, o bem que faz a alimentação equilibrada, uma taça de vinho às refeições, uma caminhada diária e sobre suas próprias vaidades e prazeres: dezenas de roupas e de sapatos de altas grifes, boa comida, bons carros; afirmou fumar cinco cigarros ao dia. Aí, pensei nos índios, que fumam em momentos religiosos e festivos.
Não tenho dúvida de que o problema não é o álcool ou o cigarro, mas as histórias de vida, o desequilíbrio das pessoas, das famílias, a falta de autocontrole, de autoconhecimento. O consumismo desregrado que impede a visão do limite entre “o prazer e a dependência”, o dever e o direito; a inconsciência que coloca em artifícios, em produtos descartáveis, em sensações e em fatores externos, a felicidade.
Comecei a fumar de verdade, aos catorze anos, escondido. Passei muito mal para conseguir. Fumava dois ou três cigarros por dia e há uns cinco anos, deixei de conseguir, pois me sentia mal. Se me perguntavam se tinha parado, dizia que não, apenas não conseguia mais. Aí, há uns quatro meses, voltei. Fumei uma carteira em um mês e não quis mais, mas não me senti mal. Não gosto do cheiro do cigarro, que fica, e não tenho sentido vontade de fumar.
Costumo dizer que gosto muito de beber pouco. Não tenho compromisso com o álcool, nem mesmo em fins de semana. Gosto de beber uma latinha, às vezes duas, quase sempre, em casa. Não gosto de perder o meu controle, de passar mal.
Gosto de bares, de boates, de festas, de bate-papo, de danças. Mas nada disso faz parte do meu ritmo, do meu habitué. Gosto muito de gente, de amizades, mas tenho várias razões para gostar de estar em casa também, e da minha companhia.
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