* Publicado no Jornal "Diário da Manhã" em 17.11.09
“... 75% da sociedade também é preta...”
Libera O Badaró
Na cidade Utopia, o trabalho físico tem, não menor importância, mas menor desgaste. As pessoas dedicam-se plenamente à elevação moral, intelectual, espiritual. Buscam prazeres menos efêmeros do que os que nos trouxe a sociedade capitalista. Lá, os cidadãos têm igual acesso aos serviços de educação e saúde. Não têm problemas de moradia e os índices de violência são baixíssimos, mais devido à qualidade de vida, do que ao sistema carcerário que é extremamente duro e eficaz.
Lembrando que utopia não é o irrealizável, como disse Paulo Freire, mas o ainda não realizado, o mercado goianiense precisa se modernizar e o Estado precisa desconcentrar a renda e estimular o que significa aumentar a atratividade das cidades para o turismo e nada melhor, neste sentido, do que garantir a qualidade de vida.
Existem estudos que mostram que neste século a indústria que mais vai crescer é a do turismo, do lazer e do entretenimento. Pergunta-se para quem, se a maioria dos brasileiros não pode freqüentar festas, cinemas, teatros, viajar, conhecer a diversidade no mundo das artes plásticas, da música, da literatura.
Feriados na cidade podem significar circuitos culturais, esportivos, de artes, de lazer etc. Podem significar postos de trabalho extra.
Não há excesso de feriado diante do tamanho dos salários. Diante do desgaste diário do trabalhador brasileiro (valor da cesta básica x salário, trânsito, longas distâncias, convívio com humores e personalidades diversas, debilidade das relações sociais, pessoais e familiares), quando o feriado chega, é hora de colocar em dia as relações, os cuidados com o corpo, a casa, o jardim e o carro, o sono, o lazer, o esporte, a caridade, a espiritualidade.
Os feriados são garantia de sobrevivência para trabalhadores. Chegam sempre na hora exata. Estudiosos garantem que não há maior produtividade com corte de férias.
Se por um lado, o Brasil possui o maior número de dias livres de trabalho, em número de horas trabalhadas supera os países da Europa.
O Brasil empata com a Lituânia, com 41 dias de folgas, segundo pesquisa da consultoria Mercer. A França está na segunda colocação ao lado da Finlândia. A Espanha tem um total de 36 dias.
Os trabalhadores com menos dias de folga são os canadenses, com 19. Na China, são 21. No Japão são 20 dias de férias por ano, mais 16 dias de feriados, o que o faz o país com o maior número de feriados. Nos Estados Unidos não há lei que define, mas normalmente são 15 dias de férias e 10 dias de feriados.
O Brasil tem o maior número em dias de férias trabalhistas: 30, igual à França e à Finlândia. No critério de feriados, o País está na sexta posição, com 11 dias.
É a soma dos critérios férias e feriados que coloca o Brasil no topo da lista.
A Europa é a região do mundo onde menos se trabalha por ano e a Ásia onde se possui menos dias de descanso. Na Índia, são apenas 12 dias, na China 10 e 14 em Cingapura.
Vale avaliar que salários e benefícios em vários países, são melhores que os brasileiros. A Noruega oferece licença paternidade de dois meses e as mães desfrutam de 12 meses de salário maternidade, sem trabalho. A Suíça garante licença de três dias pela morte de parente.
Nos últimos dez anos os americanos trabalharam 137 horas a mais do que os japoneses, 260 horas a mais do que os trabalhadores ingleses e 499 a mais do que os alemães.
Muitas constitucionalidades precisam ser vistas, é fato, mas o motim que derrubou o feriado do Dia da Consciência Negra está equivocado.
O Movimento Negro é legítimo e não reconhece o “Dia da Abolição” como sendo data significativa para negros e negras, que ficaram à mercê da sociedade brasileira, desde sempre.
Oxalá os capitães do motim repensem a manobra e se dediquem a produzir mais para o imenso filão de consumidores negros e negras. Que desistam de ver seus marinheiros vibrarem rijos, os chicotes, para verem o povo negro a dançar “ao som de orquestras irônicas e estridentes”, relembrando os dos conhecidos navios negreiros de outrora.
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