terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Goiânia: o lixo, o parlamento e a prefeitura

* Publicado no jornal "Diário da Manhã" em 07.12.09

A Prefeitura de Goiânia, ao intensificar o processo de organização do trabalho de coleta seletiva, nada mais faz do que o esperado, o almejado, o já iniciado, desde 2000, quando no Brasil inteiro se intensificou a questão da consciência e da sustentabilidade ambiental.

Em várias cidades brasileiras existem bons resultados a partir da associação de pessoas coletoras de recicláveis, propiciando a inclusão social de populações marginalizadas, em espaços e condições de trabalho mais adequados e melhores condições de comercialização.

O exercício da cidadania neste processo substitui as condições de violência e de marginalidade vividas nas ruas; o trabalho organizado se torna profissional e agrega mais resultados positivos, desde a questão da quantidade e da qualidade do material coletado à questão do desenvolvimento econômico e socioambiental sustentáveis.

Não é possível ao alcance curto da inteligência que remete à assistência social as causas dos dilemas sociais e econômicos de nossa população, o entendimento de que as causas estão na concentração de renda, na falta de ideais autenticamente coletivos e na falta de vocação política na exata acepção da palavra, o que tem levado esta classe a perpetrar palavras e atitudes torpes, como o nepotismo, a corrupção, a defesa de 13º, 14º e 15º salários.

Mas é possível desejarmos sucesso a este empreendimento que se reinicia, de organização da coleta seletiva, enquanto cidadãos do bem. É necessário.

E este reinício poderia ter sido menos traumático se nosso parlamento não tivesse deixado ao vento o trabalho começado em 2000, se tivesse cobrado a continuidade dos bons projetos e serviços, já que muitos parlamentares têm mandatos contínuos.

Associações podem oferecer serviços sociais como de orientações jurídicas, de saúde, educação, segurança alimentar, esporte e lazer, oferecer banheiros para que os trabalhadores tomem banho ao final do dia, roupas adequadas.

Quem não se comove com um carrinho cheio de lixo sendo puxado por semelhante visivelmente maltratado e quase sempre com alguma criança dentro ou por perto ajudando na coleta? Isso não é digno, e o que vivem estas pessoas fora destes momentos também não. Mas tirar proveito disso é menos digno ainda.

Coletores de lixo ajudam a reduzir custos e a preservar o ambiente. Precisam ter reconhecida sua atividade, como sendo profissional e altamente relevante ao todo da sociedade. Segundo levantamentos da Comurg, cerca de 35% das mais de 30 mil toneladas mensais de lixo poderiam ser reciclados, gerando, em média, R$ 800 mil e aumentando a vida útil dos aterros sanitários.

Nosso parlamento precisa desenvolver uma ampla campanha de sensibilização para a mudança dos hábitos de descarte nas atividades funcionais e domésticas, de consumo exagerado, de desperdício, e atuar mais próximo da sociedade em geral, conhecendo a realidade, para transformá-la, para formular discursos, leis e ações que realmente emancipem as pessoas e melhorem a qualidade de vida na cidade.

Um comentário:

anja zouk disse...

Sou sua fã!
Parabéns por sua personalidade única e audácia sutíl.
VOCÊ ME INSPIRA!!
OBRIGADA POR TUDO.