"Não há mudança sem sonho, como não há sonho sem esperança. Não há utopia verdadeira fora da tensão entre a denúncia de um presente e o anúncio de um futuro à ser criado, construído, política, ética e esteticamente, por todos nós. " Paulo Freire
domingo, 13 de maio de 2012
Minha mãe menininha
*Publicado no Jornal Diário da Manhã em 13 de maio, 2012
Complicado está sendo chegar aqui e não expor as maravilhas da minha mãe. Por menos que ela goste da exposição de sua figura. Sinto um desejo imenso de contar para todo mundo, o como a amo.
Tenho certo pudor de dizer a ela Feliz Dia das Mães, pois sei que ela pode me dizer de novo: “– Feliz para você que tem a sua mãe!”. Ela é muito engraçada. E direta. Ia diariamente à casa de vovó.
Mamãe não comemora a noite de Natal e de Ano-Novo. Ela reza. No outro dia, faz almoço. Mamãe reza muito. Tem seus horários, no dia. Todos os dias. Sempre foi assim.
Minha mãe é colorida e brilha, como a do menininho da propaganda da TV. Entremeando seus fios de prata, estão seus cabelos de fogo. E ela me ensinou que Dia das Mães é todo dia. Sabendo disto, já deixei de presenteá-la, algumas vezes. Normal.
Outro dia um colega contou, no elevador, que tinha ido almoçar na casa da mãe e claro, gabou a comilança. Fiquei pensando na minha. Naquele dia mesmo, mamãe me mandara o almoço. Manda lanche, jantar, sobremesas, presentes. Cabides, com as roupas que vão, para passar lá.
Estou muito chateada comigo, pois não tenho ido a casa dela.
Até hoje minha mãe me cuida. E do papai, de minha irmã, da casa dela. Só tem ajudante para a passação da roupa. É muito exigente. Ainda bem que conseguiu excelente marido. É muito amorosa.
Casou-se muito cedo, aos quinze anos. Desde os oito, convivia com meu pai, em Jaraguá, pois são primos. Meu pai queria se casar com a mãe dela, mas ele tinha só três anos, quando vovó se casou e ela lhe prometeu uma filha, para que ele parasse de chorar, na porta da igreja.
Mamãe fazia as tarefas escolares de uma amiga dela e esta amiga, arrumava a cozinha do almoço, para mamãe. A amiga hoje é médica. Mamãe, como sempre, dona-de-casa.
Mamãe dá notícia de quase tudo. Lê muito e de tudo. É muito espiritualizada e sua casa tem um ar de alento, sua presença é fresca, harmoniosa. Gosta de escrever e tem uma sensibilidade incrível. Saca tudo da História de Goiás, conta casos incríveis. Da nossa família, sabe tudo. Os sensos ético e estético são apurados. Viveu um tempo com o padrinho, que fora juiz, delegado e seu mestre; estudou em colégio de freira. Talvez daí certa rigidez que se abrandou, com o tempo. Ás vezes, fala muito ou emburra. Mas nunca me condenou.
Conheci minha mãe, ela usava micro saia. Foi a primeira mulher a usar maiô de duas peças, em Uruana. Mamãe faz o melhor bife com fritas do mundo. O melhor arroz, as melhores saladas, as melhores comidas e sobremesas e surpresas. Sempre fez. E tem o melhor cafuné, a melhor massagem. A voz mais doce. Ela é macia, “divina e graciosa”.
Lembro-me dela com cabeleiras vermelhas e cacheadas, quando fez permanente. Lembro-me dela nos eventos da Maçonaria, com lencinho no pescoço, nas aulas de corte e costura e culinária, nos nossos aniversários, em instituições, nas nossas viagens e passeios e nas igrejas. É incrível como arruma rapidinho uma roupa, faz uns bordados lindos, é muito caprichosa. Uma colega dos tempos de Santa Clara comentou que quando éramos crianças ela se encantava com o jeito como eu ia arrumadinha, engomadinha, para a escola.
Lembro-me de mamis em festas. Sorria muito mais, a mamãe. Contava muita piada, sempre foi meio “riguilida”, como diz. É altamente sociável. E sincera. Não é dada a obrigações, mas é cheia de considerações. E cheia de excelentes amizades.
Penso nela menininha. Vermelha, encrenqueira. Sempre muito linda. Trabalhadeira. Sempre cheia de vontades. E de fé.
Mamãe dava beliscões, puxões de orelha. Tapas. Cortava o uso do telefone, a televisão sempre foi controlada, as amizades também, toda a rotina. Mas a gente nem notava, só tentava obedecer. Vez em quando jogava coisas, dava na gente com um cinto que papai trouxe de Xavantina. Ô cinto dolorido, trançado... Coisa de índios. E até hoje, dependendo da conversa, não posso entrar no meio... Certa vez. ela passou doce de leite na cara da minha irmã, pois tínhamos tomado lombrigueiro e a mana deixou a marca do dedo no doce da geladeira... E uma vez me despejou na cabeça, calmamente, uma lata do açúcar refinado, onde eu colocara sal, sem querer, por cima.
Costumo dizer que minha mãe me ensina a respeitar as mulheres. Que vida de mulher é difícil, complexa. Ensinou-me que ser gente não é ser perfeito e que ninguém é santo, nem mãe. Que a vida é lida e que “é o tempo que cura o queijo”. Mamãe ensina-me a ser mãe e eu agradeço a Deus, por isto. Preciso aprender tanto, ainda.
Que Deus dê à minha mãe, o que de melhor houver neste mundo e na eternidade. Eu peço muito isto. Eu conto com isto, pois posso oferecer tão pouco, a ela.
Que Deus nos abençoe, a todas as mães. Que os filhos sejam cada vez melhores e mais felizes.
À mamãe, o meu maior amor, a minha eterna gratidão. E ao papai, que me garante a melhor mãe do mundo. Longa vida, saúde e paz!
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