* Publicado no Jornal "Diário da Manhã" em 26.09.08
Esta frase do prof. Pedro Demo, da UNB, PhD em sociologia, resume a importância da participação em qualquer processo de conquista, sendo princípio, meio e fim na promoção social.
Segundo este professor, a participação deve ser persistentemente construída e diariamente conquistada, assumida pelo interessado enquanto um projeto próprio.
Neste sentido, é preciso que os poderes e as políticas sociais se percebam e se façam instrumentos de motivação da autopromoção, sabendo-se que a “redução das desigualdades sociais jamais será resultado conseqüente da política econômica, nem apenas como expressão da boa vontade dos detentores do poder”.
Na política democrática, as ações devem estimular o processo de desenvolvimento da cidadania produtiva para a almejada participação social através de estratégias emancipatórias e com visão de longo prazo. A conquista da cidadania não se faz rapidamente, mas culturalmente, diariamente, através de mediações.
Para constituirmos uma sociedade verdadeiramente composta por sujeitos que participam da riqueza socialmente produzida, é preciso reconhecermos e protegermos os direitos humanos e a questão social enquanto elementos que afetam a todos.
O trabalho, a saúde, a educação, a assistência social, a moradia, o esporte e o lazer, entre outros direitos proclamados, devem passar a ser reivindicados e conquistados efetivamente pelos seus demandatários.
A participação não pode ser cedida, não é concessão. Mas pode estar incluída em discursos que escamoteiam a realidade centralizadora, conservadora e alienante de programas/ações sociais paternalistas e assistencialistas.
A Lei orgânica de Assistência Social – preconiza a participação e o controle social nas instâncias de planejamento, execução e avaliação dos programas/ações sociais.
Na política de assistência social do Governo Federal, é por intermédio dos conselhos locais de assistência social que esta participação se dá, definindo, de acordo com a realidade local, os contornos dos programas e ações implantados, de forma descentralizada, desalienante, regionalizada.
Trata-se, com efeito, do resultado de uma trajetória de lutas dentro do Serviço Social, na busca da assistência emancipadora, que não atua somente diante da pobreza material, mas na e diante da pobreza imaterial, política, cognitiva, afetiva.
É urgente a reativação dos conselhos locais de assistência social na capital goiana e a ativação nos municípios que ainda não o possuem.
Os conselhos locais são instâncias que devem constituir todos os centros de assistência, orientando, avaliando e contribuindo com o aperfeiçoamento dos serviços oferecidos nesses centros.
Sob este aspecto, é indubitável o trabalho feito pelo prof. Pedro Wilson, a partir da Prefeitura de Goiânia, que corroborou com uma política de assistência social fidedigna, marcada pela participação popular, pelo viés dialógico e pela organização comunitária voltada para a conquista dos direitos humanos e da qualidade de vida com cidadania.
O entendimento de que Assistência Social é política de direito e de direitos, é condição para o avanço da participação social, para o fim da idéia do cidadão/usuário desta política enquanto beneficiário e para sua inserção no protagonismo de sua história.
Gente não quer só comida, vale lembrar.
"Não há mudança sem sonho, como não há sonho sem esperança. Não há utopia verdadeira fora da tensão entre a denúncia de um presente e o anúncio de um futuro à ser criado, construído, política, ética e esteticamente, por todos nós. " Paulo Freire
sábado, 27 de setembro de 2008
Primavera
* Publicado no Jornal "Diário da Manhã" em 19.09.08
Hoje não sei meus sentidos
Embaçam-me os ouvidos
Em um visual esquisito
E me impregno de dor
Repugno
Vomito as mesmices
Dos sonhos perdidos
E me embala uma flor
Que não vejo nesta mesa
Que não brota nesta porta
Que não exala nesta sala
Mas que paira
E para em minha mente
Demente.
E mariposas sobrevoam
As luzes neste teto
Insetos
Incerta, adormeço atônita
Meus sentidos
Não querendo sabê-los,
Perco-me em zunidos
Pelas ruas de copas
E ventos floridos
Onde ando percorrendo.
Pra começar a Primavera com poesia, além da saudade do barulho de cigarras, que não escuto mais e revelar o torpor em que me encontro, de novo envolta em mudanças e andanças e relutâncias.
As contradições, dialeticamente existentes, cotidianamente presentes têm me misturado um bocado e quase não consigo ordenar os sentidos e expressar meus zunidos.
Tenho percorrido estradas e convivido com paisagens tão novas e tão antigas e sentido saudades e lembranças que vêm nos ventos, nas flores, nas cores dos verdes, nas lembranças dos amores.
Oxalá as primaveras vindouras não percam nunca, em nenhum lugar, a capacidade de renovar as esperanças, imprimir sonhos e forças positivas.
Que as certezas da onipotência e da onipresença de Deus prevaleçam sob nossos desejos e nos oriente rumo aos melhores caminhos.
Vivas à Primavera, vivas ao cerrado brasileiro, vivas ao papai Xande, pelo seu natalício em 21 de setembro, e à sua sabedoria, sua bondade, sua persistência. Que o Grande Arquiteto do Universo esteja sempre na construção de sua vida, que também neste dia, há 51 anos se uniu à de minha mãe.
E vivas a esta poderosa mãe, esposa, avó, amiga, de nome Cleusa, resistente, combativa, amorosa e inteligente, eterna noiva, eternamente presente com meu pai, em minha alma.
Viva a vida!
Hoje não sei meus sentidos
Embaçam-me os ouvidos
Em um visual esquisito
E me impregno de dor
Repugno
Vomito as mesmices
Dos sonhos perdidos
E me embala uma flor
Que não vejo nesta mesa
Que não brota nesta porta
Que não exala nesta sala
Mas que paira
E para em minha mente
Demente.
E mariposas sobrevoam
As luzes neste teto
Insetos
Incerta, adormeço atônita
Meus sentidos
Não querendo sabê-los,
Perco-me em zunidos
Pelas ruas de copas
E ventos floridos
Onde ando percorrendo.
Pra começar a Primavera com poesia, além da saudade do barulho de cigarras, que não escuto mais e revelar o torpor em que me encontro, de novo envolta em mudanças e andanças e relutâncias.
As contradições, dialeticamente existentes, cotidianamente presentes têm me misturado um bocado e quase não consigo ordenar os sentidos e expressar meus zunidos.
Tenho percorrido estradas e convivido com paisagens tão novas e tão antigas e sentido saudades e lembranças que vêm nos ventos, nas flores, nas cores dos verdes, nas lembranças dos amores.
Oxalá as primaveras vindouras não percam nunca, em nenhum lugar, a capacidade de renovar as esperanças, imprimir sonhos e forças positivas.
Que as certezas da onipotência e da onipresença de Deus prevaleçam sob nossos desejos e nos oriente rumo aos melhores caminhos.
Vivas à Primavera, vivas ao cerrado brasileiro, vivas ao papai Xande, pelo seu natalício em 21 de setembro, e à sua sabedoria, sua bondade, sua persistência. Que o Grande Arquiteto do Universo esteja sempre na construção de sua vida, que também neste dia, há 51 anos se uniu à de minha mãe.
E vivas a esta poderosa mãe, esposa, avó, amiga, de nome Cleusa, resistente, combativa, amorosa e inteligente, eterna noiva, eternamente presente com meu pai, em minha alma.
Viva a vida!
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quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Na juventude, tudo pode?
* Publicado no Jornal Diário da Manhã, em 10.09.08
“O homem só envelhece
quando os lamentos substituem seus sonhos”
Provérbio chinês
O Estatuto do Idoso, Lei sancionada pelo Presidente Lula, e que passou a vigorar em 1º de janeiro de 2004, visa regulamentar garantias já asseguradas pela Constituição Federal de 1988 e é, indubitavelmente, um campo fértil para a mobilização social em prol da efetivação de direitos básicos para pessoas com idade acima de 60 anos.
Esta Lei imputa à Família, à comunidade e ao Poder Público, o dever de garantir ao idoso a conquista dos direitos humanos e estimula a formulação de políticas sociais, o privilégio na destinação dos recursos públicos, o convívio, a informação, a ocupação e a prioridade no atendimento, quer público ou privado, assegurando atenção integral e vedando a possibilidade de discriminação de qualquer natureza.
No mundo todo a expectativa de tempo de vida vem aumentando e isto revela a urgência social de uma remodelação dos valores que permeiam a humanidade.
Embora o Estatuto seja uma conquista, a verdade é que não foi de uma luta popular. Representantes da sociedade civil, organizados em conselhos representativos puderam, através do Parlamento, garantir este instrumento de validação de reivindicações e expectativas, é verdade. Mas o que quero aqui colocar é o fato de que a Lei de Nº 10.741 de 1º de outubro de 2003, é apenas um passo, é um meio e não um fim em si.
A lei por si só não garante resultados.
Precisamos construir sujeitos coletivos, que participam de um conjunto de noções, crenças e valores subjetivos comuns a outros sujeitos. Esta construção impõe que saiamos do vanguardismo e do corporativismo das lutas, buscando um caráter menos ativista e mais voltado para a participação cotidiana da sociedade.
O Estatuto do Idoso precisa ter força de opinião popular e ser compreendido enquanto germe de transformação social e uma aspiração coletiva.
No livro O Complô de Matusalém (sem tradução no Brasil), de autoria do alemão Frank Schirrmacher, o autor diz que os jovens devem mudar de comportamento com relação aos idosos urgentemente, sob pena, caso contrário, de construírem a própria ruína num futuro próximo, já que a humanidade está envelhecendo em uma velocidade nunca vista. Ficar velho é condição sine qua non de se manter vivo. Lutar pela vida é garantir um envelhecimento digno. Segundo esse autor, não estamos adaptados à experiência de ficarmos velhos e participamos, veladamente, de uma ditadura da juventude que nega a velhice.
Compreendendo esta ditadura enquanto resultado de um fenômeno econômico, o referido autor conclama à que jovens do mundo todo, no auge do vigor físico e intelectual, se revoltem contra o atual modelo biológico e cultural que vem sendo construído pela humanidade ao longo dos anos.
É neste modelo que quero me ater. Acredito no Estatuto, mas não creio que ele por si, indique a direção de uma sociedade para todas as idades.
Ora, uma boa velhice começa a ser garantida na infância.
O médico gerontologista Alexandre Kalache acredita que o envelhecimento na população vai obrigar os países a integrarem os idosos à sociedade produtiva, pois até 2050 a população mundial terá um número de idosos igual ao número de jovens.
Isto tem que alterar a mentalidade das políticas públicas e da sociedade privada, que não consideram este aumento acelerado e não se preparam para esta realidade.
O Estatuto encanta pela contundência no quesito responsabilização e nas questões de discriminação. Quanto à garantia de direito aos bens e serviços, creio que deixe um pouco a desejar. Não existe mobilização quanto a este tema. Faltam resistência e combate.
Considero uma afronta, uma hipocrisia, uma debilidade, o Art. 26, do Estatuto do Idoso, sobre a profissionalização e o trabalho, já que a realidade da maior parte de nossos idosos revela cansaço, problemas de saúde, e apesar de tantos anos trabalhados e filhos criados, enfrentamentos para garantir alimentação, saúde, moradia, ir e vir, lazer, educação.
Ressalte-se que menos de 20% da população brasileira tem mais de 11 anos de escolaridade e apenas 25% de brasileiros demonstram habilidades de leitura e escrita e são capazes de ler textos longos e localizar neles, mais de uma informação.
Há unanimidade entre geriatras, sociólogos e filósofos em dizerem que o cultivo de bons hábitos é fundamental para uma longa vida e uma vida com qualidade.
A receita básica é uma combinação das seguintes atitudes: eliminação dos vícios, dieta balanceada, prática de atividades físicas regulares, vacinação, acompanhamento médico, atividades intelectuais e manutenção da vida afetiva e do lazer.
É concreto afirmar que com o passar do tempo, as pessoas perdem massa óssea, enfraquecem músculos e se vêem mais às voltas com problemas de hipertensão arterial, diabetes, obesidade, tabagismo, sedentarismo, hiperlipidemia (colesterol e triglicerídeos altos) e estresse.
Na juventude, tem-se esta consciência?
Como conseguir, além das transformações físicas e emocionais inevitáveis da dita “melhor idade”, conciliar vida prática, real, com mudanças de hábito?
As limitações advindas da própria faixa etária e do modo de vida exercido, normalmente vão crescendo, ao invés de serem superadas.
A Lei garante o Direito no papel, mas na prática, a construção de uma nova sociedade só se dará coletivamente, sob um olhar mais nivelado das partes do nosso sistema social, econômico e político.
“O homem só envelhece
quando os lamentos substituem seus sonhos”
Provérbio chinês
O Estatuto do Idoso, Lei sancionada pelo Presidente Lula, e que passou a vigorar em 1º de janeiro de 2004, visa regulamentar garantias já asseguradas pela Constituição Federal de 1988 e é, indubitavelmente, um campo fértil para a mobilização social em prol da efetivação de direitos básicos para pessoas com idade acima de 60 anos.
Esta Lei imputa à Família, à comunidade e ao Poder Público, o dever de garantir ao idoso a conquista dos direitos humanos e estimula a formulação de políticas sociais, o privilégio na destinação dos recursos públicos, o convívio, a informação, a ocupação e a prioridade no atendimento, quer público ou privado, assegurando atenção integral e vedando a possibilidade de discriminação de qualquer natureza.
No mundo todo a expectativa de tempo de vida vem aumentando e isto revela a urgência social de uma remodelação dos valores que permeiam a humanidade.
Embora o Estatuto seja uma conquista, a verdade é que não foi de uma luta popular. Representantes da sociedade civil, organizados em conselhos representativos puderam, através do Parlamento, garantir este instrumento de validação de reivindicações e expectativas, é verdade. Mas o que quero aqui colocar é o fato de que a Lei de Nº 10.741 de 1º de outubro de 2003, é apenas um passo, é um meio e não um fim em si.
A lei por si só não garante resultados.
Precisamos construir sujeitos coletivos, que participam de um conjunto de noções, crenças e valores subjetivos comuns a outros sujeitos. Esta construção impõe que saiamos do vanguardismo e do corporativismo das lutas, buscando um caráter menos ativista e mais voltado para a participação cotidiana da sociedade.
O Estatuto do Idoso precisa ter força de opinião popular e ser compreendido enquanto germe de transformação social e uma aspiração coletiva.
No livro O Complô de Matusalém (sem tradução no Brasil), de autoria do alemão Frank Schirrmacher, o autor diz que os jovens devem mudar de comportamento com relação aos idosos urgentemente, sob pena, caso contrário, de construírem a própria ruína num futuro próximo, já que a humanidade está envelhecendo em uma velocidade nunca vista. Ficar velho é condição sine qua non de se manter vivo. Lutar pela vida é garantir um envelhecimento digno. Segundo esse autor, não estamos adaptados à experiência de ficarmos velhos e participamos, veladamente, de uma ditadura da juventude que nega a velhice.
Compreendendo esta ditadura enquanto resultado de um fenômeno econômico, o referido autor conclama à que jovens do mundo todo, no auge do vigor físico e intelectual, se revoltem contra o atual modelo biológico e cultural que vem sendo construído pela humanidade ao longo dos anos.
É neste modelo que quero me ater. Acredito no Estatuto, mas não creio que ele por si, indique a direção de uma sociedade para todas as idades.
Ora, uma boa velhice começa a ser garantida na infância.
O médico gerontologista Alexandre Kalache acredita que o envelhecimento na população vai obrigar os países a integrarem os idosos à sociedade produtiva, pois até 2050 a população mundial terá um número de idosos igual ao número de jovens.
Isto tem que alterar a mentalidade das políticas públicas e da sociedade privada, que não consideram este aumento acelerado e não se preparam para esta realidade.
O Estatuto encanta pela contundência no quesito responsabilização e nas questões de discriminação. Quanto à garantia de direito aos bens e serviços, creio que deixe um pouco a desejar. Não existe mobilização quanto a este tema. Faltam resistência e combate.
Considero uma afronta, uma hipocrisia, uma debilidade, o Art. 26, do Estatuto do Idoso, sobre a profissionalização e o trabalho, já que a realidade da maior parte de nossos idosos revela cansaço, problemas de saúde, e apesar de tantos anos trabalhados e filhos criados, enfrentamentos para garantir alimentação, saúde, moradia, ir e vir, lazer, educação.
Ressalte-se que menos de 20% da população brasileira tem mais de 11 anos de escolaridade e apenas 25% de brasileiros demonstram habilidades de leitura e escrita e são capazes de ler textos longos e localizar neles, mais de uma informação.
Há unanimidade entre geriatras, sociólogos e filósofos em dizerem que o cultivo de bons hábitos é fundamental para uma longa vida e uma vida com qualidade.
A receita básica é uma combinação das seguintes atitudes: eliminação dos vícios, dieta balanceada, prática de atividades físicas regulares, vacinação, acompanhamento médico, atividades intelectuais e manutenção da vida afetiva e do lazer.
É concreto afirmar que com o passar do tempo, as pessoas perdem massa óssea, enfraquecem músculos e se vêem mais às voltas com problemas de hipertensão arterial, diabetes, obesidade, tabagismo, sedentarismo, hiperlipidemia (colesterol e triglicerídeos altos) e estresse.
Na juventude, tem-se esta consciência?
Como conseguir, além das transformações físicas e emocionais inevitáveis da dita “melhor idade”, conciliar vida prática, real, com mudanças de hábito?
As limitações advindas da própria faixa etária e do modo de vida exercido, normalmente vão crescendo, ao invés de serem superadas.
A Lei garante o Direito no papel, mas na prática, a construção de uma nova sociedade só se dará coletivamente, sob um olhar mais nivelado das partes do nosso sistema social, econômico e político.
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