*Artigo publicado no jornal Diário da Manhã, em 29.11.10
“Toda a educação varia sempre
em função de uma concepção de vida,
refletindo, em cada época,
a filosofia predominante que é determinada,
a seu turno,
pela estrutura da sociedade.”
(Manifesto dos Pioneiros, 1932)
Saio do primitivismo das cavernas, da educação passada às gerações através da cultura, da linguagem oral, da escrita, dos desenhos e entendendo-a enquanto processo permanente e vital da humanidade, constante todo o tempo e em todos os espaços e foco meu olhar nos anos que antecederam o “milagre brasileiro”, na época do golpe militar e na década de setenta – anos em que a presidenta Dilma Roussef atuava politicamente contra a ditadura militar, pela liberdade no Brasil. Anos também, do exílio de vários intelectuais brasileiros, como Paulo Freire, principal responsável pela reforma educacional do governo João Goulart, que antecedeu o golpe militar.
Penso Gramsci, que disse que “a educação predominante sempre foi a educação do poder dominante”.
Saliente-se, que atualmente o Brasil é representado por uma mulher eleita Presidenta, dita guerrilheira, ungida e indicada pelo partido do maior líder sindicalista do mundo, o Partido dos Trabalhadores, para a presidência da República brasileira.
O modelo educacional que se pretende desvelar nesta nova perspectiva passa por Paulo Freire, pela educação integral, mas não necessariamente pela escola integral – interessante para o século passado, a sociedade industrial.
A política desenvolvimentista brasileira, aliada a cultura ocidental pragmática e reproduzida a partir de uma história eivada pela concentração de renda e a exploração, em nome do acúmulo de capital, está em colapso, graças a Deus.
Já é tempo de a Educação ser compreendida enquanto sistema para o desenvolvimento humano, fonte de conhecimento, libertária, e não como mecanismo de inculcação, como retórica populista ou instrumento para formação de mão de obra ‘qualificada’.
Não precisamos mais formar uma “massa de trabalhadores apta” às condições e necessidades do mercado. O Estado cria determinado tipo de civilização, e o Estado atual não tem que criar trabalhadores úteis ao mercado, e sim um mercado e um Estado capazes de servir à cidadania, aos cidadãos, trabalhadores dignos de felicidade.
O Estado precisa ampliar o acesso aos bens sociais, à riqueza coletiva.
As famílias da classe trabalhadora agora precisam ter seus direitos básicos garantidos. Pensar que o estudo, o lazer, o esporte, o turismo também dignificam o homem... Abandonar a moral escrava.
É preciso elucidar a teoria da esquerda brasileira. Lembrando Herbert de Souza, “o que nos falta é a capacidade de transformar em proposta aquilo que ilumina nossa inteligência e mobiliza nossos corações: a construção de um novo mundo”.
A escola pública formal não está alfabetizando bem, não fomenta o desenvolvimento do senso crítico e não é atrativa ao alunado brasileiro. Não desenvolve laços de respeito, confiança, fraternidade. Não está ligada a produção nem ao consumo de conhecimento. A educação brasileira está voltada para a aprendizagem e não para o conhecimento.
Precisamos sim, de equipamentos sociais comunitários que ofereçam opções de atividades no campo do desenvolvimento das artes, da cultura, dos esportes, do lazer... Para uma educação integral, socializadora. Mas não penso que o esquema de escola integral tenha o peso que se quer dar, no momento, embora esta possa ser uma opção.
Bom é que qualquer membro da família tenha acesso, nas comunidades, a futebol ou artes ou tênis ou xadrez ou alemão ou oficinas e cursos sócio-educativos... Em determinado dia da semana e horário... Conforme a oferta planejada democraticamente, e o seu próprio interesse.
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