segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Resposta à Presidente Dilma Roussef


*Artigo publicado no jornal Diário da Manhã em 29/12/2013


Recentemente, a senhora disse que "cabe a todos nós, servidores públicos, responder essas vozes" que clamam por soluções para as mazelas de nosso país e por qualidade nos serviços públicos.
Sou servidora pública desde 1990 e há 4 anos sou concursada.Tive a oportunidade de trabalhar muito com o PT e conheci bem de perto as teorias que me convenceram a acreditar nos programas do seu partido. Fui militante. Sai por não ver acontecer nada do que era a proposta inicial. Já no primeiro discurso de posse de Lula, fiquei desapontada e aos poucos percebi que estava acontecendo com o PT, o que eu previ em 1993. Aqui estamos.
Luto muito para defender o que aprendi quando estive no PT, não desistirei nunca!
Então, peço à V. Excelência, que se atente às mudanças de concepção que se fazem necessárias nesta era de transformações socioeconômicas.
O Prof. Márcio Pochmann, doutor em Ciência Econômica, já disse que “continuamos discutindo as condições de trabalho como herdeiros do capitalismo do século XX”, afirmando que “é preciso considerar que estamos diante de uma nova possibilidade técnica de organização do trabalho, com jornadas diárias menores e ingresso no mercado de trabalho somente aos 25 anos”, considerando que “antes, a pessoa deve ser totalmente integrada a uma educação que deve ser recebida ao longo de toda sua vida, diante da complexidade da sociedade contemporânea”.
Chega de não ver que a juventude serve de mão de obra barata e ocupa vagas que serviriam para chefes de família e que o baixo poder de compra salarial remete famílias inteiras ao mercado de trabalho, aumentando o exército de reserva. E que as famílias, quase nunca conseguem garantir aos seus membros, saúde, educação, lazer, moradia e transporte com dignidade mínima, nos serviços públicos, embora os tributos fiscais destinados a garantir estes direitos básicos, onerem mercado e sociedade. O trabalho na juventude é, estatisticamente, motivo de evasão escolar, e esta é a causa da falta de qualificação profissional no mercado.
Quero aqui, discordar da forma com que é tratada a questão do trabalho. Da idéia purista de que “o trabalho dignifica o homem”, mas que não pondera que o trabalho não é uma exclusividade material ou física, considerando que ele também se resulta de atividade afetiva (emocional) e intelectual (cognitiva).
Na verdade, acredito que se pensarmos bem, não permitiremos a entrada de pessoas em formação, no mercado de trabalho, pois este é um campo perigoso, pernicioso mesmo, repleto de maus costumes e de exploração. Além do mais, ao adentrar o mercado, o (a) jovem passa a ser responsável por si, a ir e vir por conta própria; em contrapartida, tem menos tempo para o convívio familiar, para os estudos, o lazer; adquire maus hábitos pessoais e sociais.
Também não comungo das maravilhas das creches e escolas integrais. Estas, devem valer como opção, não condição ou ideal. É a família que deve criar seus filhos, não o Estado. A prerrogativa das escolas integrais e creches é parte da idéia desenvolvimentista, e deveria ter sido efetivada nos idos dos anos 70, mas já não servem para este século, quando a desacelaração do tempo e a convivência familiar e social, além dos hábitos sociais, exigem novos comportamentos;
Quando pensamos em saúde, apenas reclamamos sobre as condições para o tratamento de doenças, raramente pensando ou interferindo para que a doença não acometa. Bertrand Russel, em O Elogio ao Ócio, afirma categoricamente, que “a moral do trabalho é uma moral de escravos, e o mundo moderno não precisa de escravidão”. Russel, nos anos de 1935, já defendia quatro horas diárias de trabalho e dizia que só assim “haverá felicidade e alegria de viver, em vez de nervos em frangalhos, fadiga e má digestão”. Neste caso, a previdência social pode contribuir com dados sobre idades e problemas de saúde que demandam afastamentos remunerados e aposentadorias precoces. Costumo dizer que o mercado de trabalho estraga e o INSS paga...
O Brasil precisa pensar no lazer de sua população, garantindo por exemplo, o funcionamento de parques públicos em turno noturno, durante a semana, e 24 horas nos finais de semana, com a devida segurança e espaços para alimentação saudável e recreação completa (arvorismo, jogos de vôlei, squash, basquete, tênis de mesa etc. e também concertos, shows de arte, biblioteca, cafenet, clubes de leitura, do vídeo, videoteca e oficinas permanentes diversas, como: de arte, de produção, de beleza e saúde, educativas para o meio ambiente, as vocações, as relações, o trabalho voluntário), para pessoas que cumprem turnos irregulares de trabalho, considerando que o setor privado, investe em lazer e entretenimento, mas não se preocupa com os efeitos do que oferecem e trabalham 24 horas por dia. São bares, boates, lan houses, festas psicodélicas, postos de conveniência. A escala é industrial. No setor público, a escala é artesanal, e os resultados, podemos ver: violência nas noites, toxicomanias, insatisfação pessoal, egocentrismo e perda de vários valores humanos coletivos essenciais, em uma sociedade fútil, com apego em valores efêmeros e sem preocupação com a saúde e com a vida.
É fundamental constituirmos um Movimento junto a trabalhadores (as), patroas e patrões, em uma ação genuinamente voltada para o bem comum, os ideais coletivos e a emancipação do homem, através do investimento na produção do pensamento coletivo acerca das questões humanas, associando a prática cotidiana aos ideais teóricos, através de estratégias da administração de empresa; que de forma inteligente, se destine a contribuir com um mundo de vidas mais felizes, com significados positivos.
Na pauta deste Movimento, questões como diminuição de jornada de trabalho, direitos e deveres trabalhistas e patronais, entre outros temas relevantes que afetem diretamente a classe trabalhadora e a sociedade em geral, requalificando postos de trabalho e refletindo sobre condições e modernização do trabalho, no sentido de ampliarmos o grau de satisfação de patrões, trabalhadores e usuários dos serviços e produtos oferecidos, pois não é apenas o setor público que carece de mudanças e seriedade em sua condução; a realidade econômica mundial nos remete a obrigação de buscarmos novos rumos para o consumo e a produção de bens e serviços, que garantam padrão de qualidade e sustentabilidade socioambiental.
A diversidade de opções do mercado exige competitividade. Por outro lado, administradores modernos indicam a visão de futuro como sendo quesito para qualquer empreendimento de sucesso, além do investimento no capital humano, com treinamentos e assistência aos funcionários, que acabam melhorando a produtividade, buscando realmente a inovação de alguns valores, regras e comportamentos, tanto no mercado quanto na sociedade como um todo. A consolidação dos direitos humanos só se dará com novas relações que não indiquem explorado e explorador, na superação da visão mercadológica do arcaico capitalismo selvagem, onde tudo é mercadoria, onde o lucro e a vantagem são premissas básicas.
É tempo de investirmos em uma discussão fundamental, de acordo com Freud, para a nossa felicidade, enquanto humanidade: a nossa sexualidade. O aborto, os inúmeros e até os ignorados estupros que sabemos que existem, em nosso país, a violência doméstica, a iniciação sexual e gravidez precoce. Ora, se nossa sociedade joga feto/bebê vivo no lixo, ou se mata antes de jogar, isto não é problema de foro íntimo, apenas. Se nossos homens (moços, até) se comportam como bestas, como animais rupestres, e estupram, violentam, desacolhem suas crias (mesmo que sejam frutos de relação “extemporânea”…), isto é uma questão de saúde mental, cultural e de educação e de segurança… É sim, uma questão de Estado. Ora, se mulher não quer filho, se preserve; existem vários meios. Não tem que jogar fora – de uma vez por todas, é o que penso. Nossa sociedade precisa entender a lei da ação e da reação.
Bertrand Russel, em O Elogio ao Ócio, apregoa que “é necessária uma reforma educacional radical para que o conhecimento, o aprendizado e o saber sejam valorizados em si mesmo e para que o ócio, a diversão e o lazer substituam o trabalho como atividades dignificantes”.
Nossa sociedade precisa parar de educar e de viver para satisfazer o mercado. Precisa pensar a vida que vive e a vida que quer, trabalhando neste sentido. O setor público precisa parar de governar para o mercado. Desenvolver políticas educacionais para além da escola formal, utilizando-se para isto, da Assistência Social, por exemplo, que deve fazer mais do que oferecer bolsas de auxílio. Precisa de uma Educação que alcance crianças e jovens e adultos, para uma sociedade que avance em sentido contrário ao da barbárie que temos visto.
O planejamento familiar, o estímulo aos bons hábitos da alimentação saudável, da prática diária de atividades físicas e a preocupação com o meio ambiente, retomando as discussões e atividades da antiga Agenda 21, são premissas básicas para as mudanças que o Brasil enseja.
Precisamos de investimentos em pesquisas nos campos da biologia, da tecnologia e também da sociologia e demais ciências humanas, nas quais quase nada, ou bem pouco, se investe.
Trabalho com foco nestas questões após estudos, desde 2000. Como já tentei muito argumentar estas questões nos espaços do PT, do PMDB e até do PSDB, em vão, e por constatar que a cada dia, são mais pertinentes, solicito a atenção de Vossa Excelência.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A luta da Saúde, o Dia 18 de Maio e a politicagem que enlouquece

   *Artigo publicado no jornal "Diário da Manhã" em 16.05.2014


Sei bem pouco da luta da Saúde em Goiás, mas sempre respeitei o movimento, que conheci há mais de 20 anos, quando comecei a militar em partido político. Havia uma vanguarda realmente ativa, na Saúde, em Goiás. Eis o problema das vanguardas: resultam das desigualdades e das separações que existem no todo social, formadas por pessoas que lideram modelos intelectuais e experiências cotidianas acima ou à frente de um conjunto maior de pessoas, quase sempre sem compreensão da totalidade. E quando elas desaparecem, os movimentos que representam, muitas vezes, se enfraquecem.
Não quero pensar o Brasil à época do INPS e fazer aqui, a defesa do SUS. Mas acompanhei bem a luta pela Reforma Psiquiátrica e não tenho dúvida de que defendo que o poder público invista em uma Rede de Atendimento Psicosocial própria e não em “comunidades terapêuticas”, clínicas e hospitais psiquiátricos conveniados, que promovam qualquer tipo de exclusão.
Talvez por ter sido criada muito próxima à parentes e amigos da família, em situação de sofrimento mental e por ter, desde muito menina, frequentando estabelecimentos para reabilitação e asilo, junto à minha mãe, visitando conhecidos e desconhecidos e ver que esta convivência depende muito mais de quem se diz “normal”, por exemplo; ou por saber de casos de clínicas e/ou centros de recuperação que excedem em medicamentos e usam de medidas indignas e desumananizantes, ou ainda, diante dos tantos casos de “recaídas” e surtos, que vemos e/ou ficamos sabendo, entre pessoas que já passaram por internações. Seja por problema genético ou adquirido, temporário ou crônico.
Este é um assunto tão amplo e tão pouco discutido. Principalmente sob o viés cultural. Da cultura que não tolera o diferente, o singular. Da cultura que restringe a vida à sobrevivência em selvas de pedra que não nos garantem os alimentos que causam bom humor, energia vital, anticorpos de defesa; que não nos garante um ir e vir pacífico, trabalhos prazerosos; que nos condena a relações rápidas, superficiais, egocentricas, inseguras. De uma cultura que nos impele a desejar e a querer amar e cuidar apenas de lindos e domesticáveis seres.
A saúde em geral e mais especificamente, a mental, e o sofrimento mental, relacionam-se com o modo de vida, por isso, dependem em muito,.da cultura.
A cultura que encarcerava e retirava de circulação, pessoas “improdutivas” ou que não se adequavam a determinados padrões e regras e as privava de direitos humanos básicos, depois de muita luta e questionamentos, foi compreendida como desprezível.
No final dos anos de 1970, o movimento de luta pela saúde mental no Brasil tomou força e ganhou visibilidade, mas somente no início deste século, em 2001, a Lei nº 10.216 de 6 de abril de 2001 - da Reforma Psiquiátrica, foi aprovada, após muita luta de trabalhadores, usuários e familiares de usuários, com denúncias, conferências, pesquisas, congressos e mobilizações junto ao poder público e setores da sociedade.
No entanto, na última década quase nada tem sido feito em favor da saúde mental em Goiás, e impressiona o poder da antiga “indústria da loucura”. Não me importa se alguém ou algum grupo quer ganhar dinheiro. O que indigna é a falta de responsabilidade socioeconômica do nosso setor empresarial, no mínimo; a preguiça de refletir, de ter que fazer diferente, de ter criatividade, buscar novas possibilidades. E a desfaçatez do poder público, ora esculhambado exatamente por não defender e garantir qualidade nos serviços que presta, financiado por cidadãos e cidadãs, em sua burocracia, ineficácia e em seus coluios, com entes privados perniciosos.
Ora, precisamos pensar a saúde mental em Goiânia, desde os reflexos da falta dela, no trânsito, por exemplo; na violência que nos assola se revelando em crimes diversos e horrendos e na permanência de pessoas em situação de rua, quando a secretaria municipal responsável por acolher e promover, discrimina, exclui e avassala, até o cotidiano da busca dela, quando a secretaria municipal responsável por ela, não oferece os recursos necessários ao seu pleno funcionamento, que depende de insumos e medicamentos, pessoal capacitado e em número suficiente, espaços adequados aos serviços oferecidos e fundamentalmente, articulação com outras secretarias e setores da sociedade, para esclarecimentos quanto à política de saúde mental vigente e ações em rede, para o atendimento das pessoas, de forma integral e não pontual ou com foco na doença/problema.
As interfaces entre a saúde, educação, asistência social, moradia, o trabalho e o lazer precisam ser compreendidas e trabalhadas pelo poder público, para a efetividade da Reforma Psiquiátrica.
A saúde, reitero, depende do que se come, do que se bebe, de sono satisfatório; depende das relações sociais e de trabalho, do lazer, da moradia digna, da educação que promove e liberta. Depende, muitas vezes, de acompanhamento clínico específico, de compreensão multifatorial e sempre, de cuidados multisetoriais.
O mercado precisa se atentar para isto e ampliar a produção para a cultura da vida, da saúde. A sociedade precisa parar para entender verdadeiramente o que se passa com ela, deixar de ser alienada.
No Dia 18/05, comemora-se o Dia de Luta Antimanicomial e chamamos a atenção para o fato de que tanto nossas autoridades políticas como jurídicas e a sociedade, ainda estão de fora desta luta, embora a Reforma Psiquiátrica seja Lei e prerrogativa do SUS.
A Associação de Usuários da Saúde Mental de Goiás, juntamente com o Fórum Goiano de Saúde Mental, em parceria com trabalhadores da Prefeitura de Goiânia, realizou nesta semana, de 12 a 15/05, a Semana de Luta Antimanicomial, no Espaço Sonhus do Colégio Lyceu, com diversas atrações artísticas como Miquéias Paz, Milla Tuli, Duo Goiás, Projeto Mazombo além de apresentações teatrais, oficinas, rodas de conversa e exibição de vídeos. Ao final, grande passeata.
Seria inintendível para Goiânia, a solução dada pelo prefeito, para o descredenciamento de leitos, pelos hospitais psiquiátricos conveniados com a Prefeitura, se já não soubéssemos da torpeza e mediocridade de nosso mercado, quando se encosta no poder público para levar vantagem e este é fraco, inconsequente, insustentável e ainda, favorece sempre, ao setor privado.
Ora, os CAPS precisam funcionar como estão previstos, em quantidade e qualidade. Toda a rede pública está com suas unidades comprometidas, em seus funcionamentos, seja por problemas técnicos com pessoal ou por suas estruturas físicas. Sequer atingimos metas de vacinação, em Goiânia. Mas o prefeito mais do que dobrou, diante de pressãozinha do mercado de saúde, o valor per capta do que é pago, pelo atendimento nas clínicas particulares. E aonde estava este dinheiro? É a pergunta que não quer calar.
Fica difícil trabalharmos a contento. Trabalhadores e usuários estão revoltosos com tal atitude. A sociedade fecha os olhos e a boca, diante da situação. Mal percebe que o problema da saúde mental não é “coisa de loucos” (como se loucos fossem desprezíveis), mas de pessoas com depressão, ansiedade, bipolaridade, esquisofrenia, autismo, déficit de atenção... E de pessoas que convivem diariamente com esta pessoas, lembrando que qualquer pessoa está sujeita a problemas com saúde mental; não existe vacina, mas controle..
É como bem disse o Sr. Valterson, da Associação de Usuários da Saúde Mental em Goiânia, não queremos um atendimento de internação melhor. Queremos um sistema de saúde público e de qualidade. Ele citou a modernização do telefone para ilustrar este entendimento: criou-se o smartfone, mas a função básica do telefone, é a mesma.
Não queremos segregação, intolerância. Precisamos de uma sociedade que tenha mais tempo para a saúde, trabalho dignificante, relações sadias. Queremos uma sociedade que respeite diferenças, individualidades; que cultive a tolerância com limites e opções pessoais. Que estimule o protagonismo e a promoção social, o auto-conhecimento, a auto-realização, a construção de um mundo melhor, justo, solidário.
Particularmente, admito que algumas pessoas optam pelo serviço hospitalocêntrico, para o próprio tratamento ou de parente com sofrimento mental e respeito, claro. É interessante oferecermos também, esta opção, ainda. Mas no poder público, a Lei vigente ordena investimento efetivo no SUS, e não, aparente.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Contradições e mediações entre o marxismo de Gramsci e o de Irapuan Costa Jr.


    *Artigo publicado no Jornal Diário da Manhã na 1ª quinzena de setembro de 2013, em resposta ao artigo do Sr. Irapuan, e também no Jornal Opção, onde o srtigo do referido senhor fora publicado

Em recente artigo, o ex-governador de Goiás, Irapuan Costa Jr., expressa, na páginas do jornal Opção, suas “lógicas” conservadoristas no mais puro estilo saramandesco, chegando a afirmar que Gramsci “ é o estrategista do mal que influencia o Brasil”. Quisera influenciasse. O Gramsci, claro.
O gramscismo nunca chegou ao governo, que sempre é o poder.
É preciso entender que Karl Marx, Vladimir Lênin e Antonio Gramsci, entre outros, são elos de uma mesma corrente, e que se Gramsci foi mais perspicaz, foi devido ao que recebeu e à vida que levou, ao seu tempo e espaço. Vida disciplinada e dura, de perseguições, saúde debilitada e com ideais transformadores, em meio ao fascismo.
O problema do conhecimento produzido pela esquerda, é que ele é quase sempre desvirtuado, conhecido debilmente, explorado com preconceitos. O do produzido pelos conservadores é que ele é limitado e quase sempre com objetivos espúrios à construção de uma consciência coletiva. O conhecimento sempre é problema se vira arma para inculcação ou dominação ou vil exploração.
Não entendo como pode o ex-governador duvidar de que o capitalismo está em crise e de que os autores que citou em seu artigo, formularam a partir do real. E não entendo a realidade em que vive o mesmo, quando não enxerga o empobrecimento, que aparece no endividamento das famílias, nas notícias sobre corrupções e desvios no setor público, na selvageria e barbarismo dos crimes que acontecem a todo minuto em nosso país e no mundo capitalista selvagem... Escatológico é não enxergar a história, a sustentabilidade e a promoção do humanismo enquanto condições para evolução da sociedade e ainda, a concentração de rendas e de riquezas, compreendendo estas, não apenas enquanto bens materiais.
Se por um lado, não queremos uma “ditadura do proletariado”, de outro, precisamos modernizar o pensamento e as relações, para uma verdadeira prosperidade e evolução humana e social, através da democracia participativa e dialógica.
Meio para o ex-governador, em conhecimentos. Talvez lhe falte consciência de classe para a negação necessária ao conhecimento crítico, ao pensamento filosófico.
Não é interessante querer a derrocada do capitalismo, mas o seu ajuste a uma lógica humanizada, pois que, se ele é uma construção humana, pode ser transformado pela ação humana, lapidado, adequado aos interesses da humanidade e não de uma entidade chamada “mercado”, que dita cegamente normas e comportamentos absorvidos da mesma maneira.
A falta de objetividade e de expressividade, o preconceito umbiguista e o urubusismo contaminam os que pensam e têm poder, hoje. Os homens citados e ridicularizados por Irapuam Costa Jr., não somente denunciaram e revolucionaram o pensamento para todos os tempos, como defenderam a necessidade do fim da exploração e da dominação do homem pelo homem e deram suas vidas por isto, porque isto se fez necessário; não fugiram ao seu tempo.
Os tais homens ridicularizados ousaram pensar, sonhar e agir em seus tempos. Nos falta a nós, que podemos e temos liberdade e muitíssimas informações e recursos, sonharmos com uma vida melhor para todos, em nosso tempo, e como eles, lutarmos obstinadamente por isto de forma mais coletiva, para construirmos isto. O que Gramsci viu e que o ex citou sobre a sociedade civil é muito importante para a construção da sociedade ideal.
Como pode o senhor Irapuam, negar que o poder tem que ter respaldo das organizações civis e que estas têm que estar organizadas? Eu ainda estranho um pouco, o não enxergar das pessoas diante de uma colheita, em que há joio e trigo... Interessante como o senso comum não é questão de
classe social, nacionalidade, idade...
Sou uma defensora das “organizações burguesas como igreja, sindicatos, universidades, imprensa”, família, Estado e também sou gramcista. Amo Gramsci e sei que nada neste mundo é perfeito. Respeito sua vida, sua história e sou grata pelo conhecimento que ele produziu e que me orienta em minhas aspirações e metas.
A busca do “consenso”, a intelectualidade orgânica, a organização da classe trabalhadora (entendendo que intelectuais são trabalhadores do pensamento), o entendimento sobre as contradições e sobre o que é a hegemonia, sobre qual o papel da cultura na substituição dos valores capitalistas de burgueses selvagens, por valores morais e éticos fundamentados na justiça social e na práxis, são tópicos do exercício do Serviço Social, profissão à qual me dedico.
Não sou ideológica, não quero heróis, não acredito em salvadores da pátria e nem em vanguardas revolucionárias. E acredito que a divisão social do trabalho é o que nos une, o que nos garante a riqueza que temos e que precisa ser conhecida, reconhecida e experienciada.
A avaliação e a crítica permanentes do poder público, o entendimento quanto aos limites e alcances da polícia e da repressão e ainda, da marginalidade enquanto fruto histórico da injustiça social e da exclusão burguesa, são condições sine qua non para a construção de uma sociedade melhor. E digo isto, mesmo sendo defensora da sociedade burguesa, embora o que queira realmente, seja uma casa no campo.
O ex-governador promoveu em seu artigo maniqueísta e tosco, o nada, misturando pensamentos e conclusões que não combinaram. Mostra o que é bom, obnubilado, para parecer ruim; e o que é ruim, preconceituosamente, sendo ruim, nota zero, o resultado, incoerente.
Como negar a presença nefasta de latifúndios, de mão de obra escrava, de depredadores da natureza, de gananciosos apropriadores de mais valia, de sonegadores e de parasitas especuladores em nosso sistema socioeconômico?
Ora, como Marx e todo pensador, Gramsci produziu conhecimentos e conclusões partindo do contexto de seu tempo, dentro de suas possibilidades. Cabe a nós, produzirmos a partir do nosso tempo, o pensamento que precisamos para construirmos o mundo novo que desejamos, aproveitando o conhecimento que já existe, reformulando e/ou produzindo novos conhecimentos, novas sínteses.
Precisamos abandonar de vez os pensamentos totalitários... A totalidade tem que ser compreendida enquanto dinâmica, dialética, em seu vir a ser...
É incrível como o ex governador se dispõe à discussão e como a esquerda revolucionária tem se escondido do debate. E como eu, com meus parcos conhecimentos, ansiava por esta discussão, mesmo não sendo socialista nem nada.