*Artigo publicado no Jornal Diário da Manhã na 1ª quinzena de setembro de 2013, em resposta ao artigo do Sr. Irapuan, e também no Jornal Opção, onde o srtigo do referido senhor fora publicado
Em
recente artigo, o ex-governador de Goiás, Irapuan Costa Jr.,
expressa, na páginas do jornal Opção, suas “lógicas”
conservadoristas no mais puro estilo saramandesco, chegando a afirmar
que Gramsci “ é o estrategista do mal que influencia o Brasil”.
Quisera influenciasse. O Gramsci, claro.
O
gramscismo nunca chegou ao governo, que sempre é o poder.
É
preciso entender que Karl Marx, Vladimir Lênin e Antonio Gramsci,
entre outros, são elos de uma mesma corrente, e que se Gramsci foi
mais perspicaz, foi devido ao que recebeu e à vida que levou, ao seu
tempo e espaço. Vida disciplinada e dura, de perseguições, saúde
debilitada e com ideais transformadores, em meio ao fascismo.
O
problema do conhecimento produzido pela esquerda, é que ele é quase
sempre desvirtuado, conhecido debilmente, explorado com preconceitos.
O do produzido pelos conservadores é que ele é limitado e quase
sempre com objetivos espúrios à construção de uma consciência
coletiva. O conhecimento sempre é problema se vira arma para
inculcação ou dominação ou vil exploração.
Não
entendo como pode o ex-governador duvidar de que o capitalismo está
em crise e de que os autores que citou em seu artigo, formularam a
partir do real. E não entendo a realidade em que vive o mesmo,
quando não enxerga o empobrecimento, que aparece no endividamento
das famílias, nas notícias sobre corrupções e desvios no setor
público, na selvageria e barbarismo dos crimes que acontecem a todo
minuto em nosso país e no mundo capitalista selvagem... Escatológico
é não enxergar a história, a sustentabilidade e a promoção do
humanismo enquanto condições para evolução da sociedade e ainda,
a concentração de rendas e de riquezas, compreendendo estas, não
apenas enquanto bens materiais.
Se por
um lado, não queremos uma “ditadura do proletariado”, de outro,
precisamos modernizar o pensamento e as relações, para uma
verdadeira prosperidade e evolução humana e social, através da
democracia participativa e dialógica.
Meio
para o ex-governador, em conhecimentos. Talvez lhe falte consciência
de classe para a negação necessária ao conhecimento crítico, ao
pensamento filosófico.
Não é
interessante querer a derrocada do capitalismo, mas o seu ajuste a
uma lógica humanizada, pois que, se ele é uma construção humana,
pode ser transformado pela ação humana, lapidado, adequado aos
interesses da humanidade e não de uma entidade chamada “mercado”,
que dita cegamente normas e comportamentos absorvidos da mesma
maneira.
A falta
de objetividade e de expressividade, o preconceito umbiguista e o
urubusismo contaminam os que pensam e têm poder, hoje. Os homens
citados e ridicularizados por Irapuam Costa Jr., não somente
denunciaram e revolucionaram o pensamento para todos os tempos, como
defenderam a necessidade do fim da exploração e da dominação do
homem pelo homem e deram suas vidas por isto, porque isto se fez
necessário; não fugiram ao seu tempo.
Os tais
homens ridicularizados ousaram pensar, sonhar e agir em seus tempos.
Nos falta a nós, que podemos e temos liberdade e muitíssimas
informações e recursos, sonharmos com uma vida melhor para todos,
em nosso tempo, e como eles, lutarmos obstinadamente por isto de
forma mais coletiva, para construirmos isto. O que Gramsci viu e que
o ex citou sobre a sociedade civil é muito importante para a
construção da sociedade ideal.
Como
pode o senhor Irapuam, negar que o poder tem que ter respaldo das
organizações civis e que estas têm que estar organizadas? Eu ainda
estranho um pouco, o não enxergar das pessoas diante de uma
colheita, em que há joio e trigo... Interessante como o senso comum
não é questão de
classe social, nacionalidade, idade...
classe social, nacionalidade, idade...
Sou uma
defensora das “organizações burguesas como igreja, sindicatos,
universidades, imprensa”, família, Estado e também sou gramcista.
Amo Gramsci e sei que nada neste mundo é perfeito. Respeito sua
vida, sua história e sou grata pelo conhecimento que ele produziu e
que me orienta em minhas aspirações e metas.
A busca
do “consenso”, a intelectualidade orgânica, a organização da
classe trabalhadora (entendendo que intelectuais são trabalhadores
do pensamento), o entendimento sobre as contradições e sobre o que
é a hegemonia, sobre qual o papel da cultura na substituição dos
valores capitalistas de burgueses selvagens, por valores morais e
éticos fundamentados na justiça social e na práxis, são tópicos
do exercício do Serviço Social, profissão à qual me dedico.
Não sou
ideológica, não quero heróis, não acredito em salvadores da
pátria e nem em vanguardas revolucionárias. E acredito que a
divisão social do trabalho é o que nos une, o que nos garante a
riqueza que temos e que precisa ser conhecida, reconhecida e
experienciada.
A
avaliação e a crítica
permanentes do poder público, o entendimento quanto aos limites e
alcances da polícia e da repressão e ainda, da marginalidade
enquanto fruto histórico da injustiça social e da exclusão
burguesa, são condições sine qua non para a construção de uma
sociedade melhor. E digo isto, mesmo sendo defensora da sociedade
burguesa, embora o que queira realmente, seja uma casa no campo.
O ex-governador promoveu em seu artigo maniqueísta e tosco, o nada,
misturando pensamentos e conclusões que não combinaram. Mostra o
que é bom, obnubilado, para parecer ruim; e o que é ruim,
preconceituosamente, sendo ruim, nota zero, o resultado, incoerente.
Como negar a presença nefasta de latifúndios, de mão de obra
escrava, de depredadores da natureza, de gananciosos apropriadores de
mais valia, de sonegadores e de parasitas especuladores em nosso
sistema socioeconômico?
Ora, como Marx e todo pensador, Gramsci produziu conhecimentos e
conclusões partindo do contexto de seu tempo, dentro de suas
possibilidades. Cabe a nós, produzirmos a partir do nosso tempo, o
pensamento que precisamos para construirmos o mundo novo que
desejamos, aproveitando o conhecimento que já existe, reformulando
e/ou produzindo novos conhecimentos, novas sínteses.
Precisamos abandonar de vez os pensamentos totalitários... A
totalidade tem que ser compreendida enquanto dinâmica, dialética,
em seu vir a ser...
É incrível como o ex governador se dispõe à discussão e como a
esquerda revolucionária tem se escondido do debate. E como eu, com
meus parcos conhecimentos, ansiava por esta discussão, mesmo não
sendo socialista nem nada.
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