* Publicado no jornal "Diário da Manhã" em 25.05.09
A audiência pública em defesa do amianto, ocorrida em 21 de maio, na Assembléia Legislativa de Goiás, revelou a enorme discrepância entre o que deve ser, a bem do Estado, e o que vem sendo, para o bem do governo.
Esta confusão é histórica e determina todas as aberrações políticas que temos visto, ouvido e vivido nos últimos tempos, através da democracia e da liberdade de imprensa, que mal mal, vigoram em nosso país.
Digo mal mal, diante do fato de que o Estado é democrático mas não garante o mínimo, ainda, sem oferecer à todos as mesmas condições de acesso aos bens e serviços produzidos coletivamente e o governo sempre possui meios de controlar a comunicação, a educação e a cultura, ideologicamente e economicamente, através do apoio ou do boicote ao que lhe convém.
Quando comecei a escrever sobre a questão do amianto, apenas uma pessoa em nosso Estado, manifestava sua opinião através de artigos convenientes aos interesses do capital direcionado a exploração do amianto, sempre de modo ideologicamente construído, utilizando para tanto, recursos de uma retórica persuasiva, recheada de cinismo e evocando uma legitimidade supostamente digna a esta luta, que há mais de década observo, e apresentando os interesses de um grupo como sendo interesses gerais da sociedade, na tentativa de mobilizar a opinião pública em torno de determinados objetivos, escusos ao desenvolvimento sustentável preconizado nos discursos políticos de hoje em dia.
Nos últimos dias, no entanto, mais pessoas têm-se manifestado a favor da exploração do amianto, em Goiás. E isto é salutar. A produção de amianto vem mostrando a sua cara, em Goiás.
Pessoalmente, não sou contra nem a favor do amianto, mas ávida pela sua discussão, que demorou a chegar a nossa capital. Isto sempre me impressionou pelo que vem sendo posto mundialmente, sobre o amianto, enquanto por aqui sempre se fala de seus méritos econômicos.
E sinto muito, pela forma que chegou e mais ainda, pela última manifestação que vi, de sua discussão.
Ora, a sobreposição de fatores econômicos sobre os ambientais, humanos e sociais, não pode ser de um Estado justo, com um governo seriamente comprometido com o desenvolvimento socioeconômico sustentável e a democracia efetiva.
Estive na audiência aqui mencionada, e não havia sequer uma pessoa na composição da mesa, que pensasse diferente dos que pensam apenas nos méritos do amianto. A mesa não ofereceu espaço para falas, além de si mesma. E embora tenham sido mostradas imagens bem produzidas no aspecto do audiovisual, sobre as fábricas da ETERNIT e as instalações da SAMA, com enfoque em uma “produção limpa e sustentável”, e nada tenha sido contestado, considero deplorável que o nome da engenheira civil e auditora do trabalho em São Paulo, a Sra. Fernanda Giannasi, reconhecida, aclamada e premiada mundialmente como pessoa do bem e de bem, pelos seus estudos e sua luta, tenha sido mencionado tantas vezes, de forma jocosa e pior, como “ludibriadora”, enquanto a SAMA, segundo afirmações ali colocadas, tenha aderido ao Pacto Global.
O asqueroso não é a posição a favor, esta é legítima de seus beneficiados, mas a forma como ela tem se manifestado, ridicularizando o que chama de “oposição”, quer seja a pessoa do Ministro do Meio Ambiente, da Fernanda ou de qualquer “gato pingado” que se coloque nesta “oposição”.
Fui, porque a audiência se denominou pública. Foram feitas ali, indagações sobre dados da “oposição” ao amianto, mas os luxuosos ônibus que transportaram pessoas para a dita “audiência”, e que no fim do dia estavam estacionados em frente a uma churrascaria, apenas continham pessoas “a favor” da exploração do amianto. A inculcação ali estabelecida foi tamanha que acreditam que a SAMA é “empresa modelo para o mundo”, apesar das ações judiciais que respondem, por sonegação de impostos e compras de terras, do Estado, por bagatelas questionáveis. Sequer pensam nas indenizações conquistadas a duras custas, por mais de 2000 trabalhadores do amianto.
Ora, entendo que Minaçú tenha decretado feriado em 16 de abril e que pessoas encheram ônibus para Brasília. Sabemos que a visão de mundo das pessoas reflete-se do modo como exercem a produção e a reprodução de suas vidas. E esta, tem sido cada vez mais imediatista e descartável, mesmo.
O crescimento e a prosperidade das indústrias do amianto, ali colocadas e provavelmente, reais, e que foi atribuída a pessoas com “determinação”, entre “acionistas e colaboradores”, e ainda, à existência de mercado no Brasil, já que os produtos de amianto servem ao numeroso nicho da população, que é de baixa renda, é inquestionável. O questionável aí é o papel do Estado, que não pode mais ser o financiador da acumulação do capital, simplesmente.
O IBC, é público e notório, recebe verba pública e se diz científico. Mas não responde acusações dirigidas ao modus operandis de suas “pesquisas” e de seus pesquisadores, nem orientou a SAMA a procurar médico especializado, para perícias, quando estas eram feitas por médico ginecologista. Científico, mas crente que “não podemos correr o risco de perder este mineral tão importante para o país”.
Ah, o espaço é curto e pouco sei, desta questão do amianto. Mas gostaria de saber mais sobre as considerações da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (IARC, sigla em inglês), do Instituto Nacional de Saúde e Segurança Ocupacional (NIOSH) dos Estados Unidos, do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França (INSERM) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Brasil e também, as últimas reações da luta, em Pouso Alegre, em Curitiba, em Brasília, em São Paulo e no mundo.
Afinal, não é por estarmos no interior do Brasil, parte mais recentemente desbravada, que não queremos cultura, conhecimento, sustentabilidade e cidadania.
4 comentários:
Acho de extrema irresponsabilidade a autora deste artigo afirmar que não foi dado espaço äs opiniões contrárias ao uso do amianto para se manifestarem na mesa da audiencia publica citada.
Diversas entidades foram convidadas a participar deste debate, porém, se recusaram a comparecer e, como a audiencia é pública, cabe aos convidados decidir se participar vão ou não do debate..
Infelizmente as poessoas contnuam criticando sem procurar saber a respeito... Quando não criticam o amianto em si, criticam as pessoas que defendem seu uso... ou inventam situações que dão a enteder q há um "interesse escuso" em tudo o que diz respeito ao amianto.
Vá conhecer Minaçu.. vá conhecer as empresas que utilizam o amianto... vá conversar com os trabalhadores da cadeia produtiva deste mineral (coisa que você deveria ter feito na própria audiência e sei la porque náo o fez) e decida se vale continuar crticando ou se seria o caso de rever o seu conceito.
E o mais interessante.... voce fala da importancia dae se ter opiniões contrarias... mas no seu blog, voce controla o q entra e o que não entra...
muito bem!!!
Até então, o único conhecimento que eu tinha sobre o amianto, foi quando o mesmo foi proibido em são paulo e as ações da eternit despencaram.
Acredito que temos que dar alternativas económicas para assim de fato conseguirmos acabar com o amianto, até onde eu li, trata-se de um setor solido de base de muitas famílias brasileiras, para essas famílias, qual seria as alternativas ? Seria interessante buscar alternativas para esse povo e assim conseguir o apoio dos mesmos.
Encontrei bastante informação aqui:
http://www.abrea.org.br/
Nossa, calmem!
Pablo,
talvez as falas tenham sido registradas pela AL, em vídeo ou texto, mas não vi nem ouvi mesmo, a oportunidade dada, para contraposições.
E com quem conversei, amistosamente, que estava ao meu lado e fez sua defesa, não me falou de entidades convidadas.
Não fico por conta desta questão, nem do blog (infelizmente), gostaria de me dedicar mais mesmo nestes pontos. Daí a demora na publicação do comentário... mas o blog não é público, mesmo, direitos e bons modos a parte... Não se trata de pesquisa in loco, para mim. E sei bem a posição sindical e de trabalhadores do amianto.
O problema aí, não é apenas de conteúdo, mas de forma.
Parece-me que a região de Minaçú seria pródiga para o Turismo, a pscicultura, Marcelo. E o mercado, ao se modernizar e se adequar à novas necessidades, se adapta e absorve, não apenas as novas tecnologias, como os antigos trabalhadores. O arcaísmo é diferente de tradição e nunca foi garantia de eternidade, desenvolvimento. A superação deve ser uma constante para qualquer progresso, e conter um destino seguro e pautado em princípios claros, no caso,
a sustentabilidade socioeconômica.
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