quinta-feira, 31 de julho de 2008

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
das horas que passei à sombra de teus gestos
bebendo em tua boca o perfume
dos sorrisos,
das noites que vivi acalentado
pela graça indizível de teus passos
eternamente fugindo,
trago a doçura dos que aceitam
melancolicamente
e posso te dizer que o grande afeto
que te deixo
não traz o exaspero das lágrimas,
nem a fascinação das promessas,
nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
é um sossego, uma unção, um
transbordamento de carícias
e só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
e deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem Fatalidade,
o olhar estático da aurora.

Vinícius de Moraes

O Vôo

Goza a euforia do vôo, do pássaro,
do anjo perdido em ti.

Não indagues se nossas estradas,
tempo e vento

desabam no abismo,
que temes que seu mistério seja uma noite.
Enche-o de estrelas,
conserva a ilusão de que teu vôo te leva
sempre para o mais alto.
No deslumbramento da ascensãp,
se pressentires que amanhã estarás mudo,
esgota, como um pássaro, as canções
que tens na garganta.

Canta, canta pra conservar uma ilusão
de festa e de vitória, talvez as canções adormeçam as feras
que querem devorar o pássaro.
Desde que nasceste não és mais
que um vôo

no tempo
rumo ao céu?
Que importa a rota,
voa e canta enquanto resistirem as asas.

Menotti del Picchia

segunda-feira, 28 de julho de 2008

A Importância do Entusiasmo

A palavra entusiasmo vem do grego e significa ter um Deus dentro de si. Os gregos eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses. A pessoa entusiasmada era aquela que era possuída por um dos deuses e por causa disso poderia transformar a natureza e fazer as coisas acontecerem. Assim, se você fosse entusiasmado por Ceres (Deusa da agricultura)você seria capaz de fazer acontecer a melhor colheita, e assim por diante. Segundo os gregos, só pessoas entusiasmadas eram capazes de vencer os desafios do cotidiano. Era preciso portanto, entusiasmar-se.
Assim, o entusiasmo é diferente do otimismo. Otimismo significa eu acreditar que uma coisa deu certo. Talvez até torcer para que ele dê certo. Muita gente confunde otimismo com entusiasmo. No mundo de hoje, na empresa de hoje, é preciso ser entusiasmado. A pessoa entusiasmada é aquela que acredita na sua capacidade de transformar as coisas, de fazer dar certo. Entusiasmada é a pessoa que acredita nos outros. Acredita na força que as pessoas têm de transformar o mundo e a própria realidade.
E só há uma maneira de ser entusiasmado. É agir entusiasmadamente! Se formos esperar termos as condições ideais primeiro para depois nos entusiasmarmos, jamais nos entusiasmaremos com coisa alguma, pois sempre teremos razões para não nos entusiasmarmos. Não é o sucesso que traz o entusiasmo, é o entusiasmo que tra o sucesso. Conheço pessoas que ficam esperando as condições melhoraram, a vida melhorar, o sucesso chegar, para depois se entusiasmarem. A verdade é que jamais se entusiasmarão com coisa alguma. O entusiasmo é que traz a nova visão de vida.

Texto estraído do livro - Socorro! Preciso de Motivação
Autor: Luiz Manns

Frases Peroladas

1. "A gente sofre de teimoso quando esquece do prazer".
(Guilherme Arantes)

2. "A sobrevivência da humanidade depende muito mais do amor ao belo do que do combate ao mal".
(Máximo Górki em Os Pequenos Burgueses)

3. "Compartilhar aumenta o prazer".

4. "Falei muitas vezes como palhaço mas nunca desacreditei da platéia que sorria".

5. "A inovação dá vida aos sonhos".

6. "Não se convence com armas. Só se convence fazendo sonhar."
Che Guevara

7. "Só tem o poder sobre os outros quem o tem sobre si mesmo".
Mons. Tissier

8. "A mentira é como a desgraça: nunca vem só."
A. Vinet

9. "Ninguém pode torná-lo infeliz sem o seu consentimento."
Maxwell Maltz

10. "Enriquecemo-nos pelo que damos, não pelo que temos."
Coelho Neto

11. "A dúvida é o começo da sabedoria."
Condensa de Ségur

12. "Instruir é construir."
Pe. Antônio Vieira

13. "A humildade nada mais é do que a caminhada para a verdade."
Santa Terezinha do Menino Jesus

14. "A virtude do sacrifício e do amor não tem limites no coração das mulheres".
Tarchetti

15. "Nós somos soprados pelo vento de Deus!"
Maria Luiza Silveira Teles

16."A imaginação é mais importante que o conhecimento."
Albert Einstein

17. "Não tem sentido lutar quando estamos em vantagem."
Mahatma Gandhi

18. "Muitos são parentes da fortuna e não da pessoa."
Pe. Antônio Vieira

19."Tem que usar os meios humanos como se os divinos não existissem e os divinos como se não existissem os humanos."
Santo Inácio de Loyola

20. "Reze como se tudo dependesse de Deus e trabalhe
como se tudo dependesse do ser humano."
Cardeal Spellman

21. "A essência de Deus é o Amor e a Vida."
Frei Battistini

22. "O coração de Maria é o coração do mundo, pois através dele os homens reencontram seu Deus e o Pai."
Frei Battistini

23. "Viver é desenhar sem borracha."
Millôr Fernandes


24. "O bem que não se conseguir com a amizade,
muito menos se conseguirá sem ela."
Ivo dos Santos Castro

25. "A mais profunda realização humana brota da alegria de servir."
Pe. Roque Schneider

26. "Existir é decidir, em coerência com nossa consciência."
Chico Alencar

27. "A educação é a colheita do estudo."
Pe. Roque Schneider

28. "Ó que glorioso, santo e grande é ter um Pai no Céu!"
São Francisco de Assis

29. "O primeiro dever do ser humano é dominar o medo."
Carlyle

30. "Quem não ri é uma pessoa séria."
Chopin

31. "A honestidade e a fraqueza nos tornam vulneráveis.
Assim mesmo seja honesto e fraco."
Pe. Roque Schneider

32. "Niguém deve aceitar para si um destino pequeno,
um caminho sem grandeza.”
Frei Neylor J. Tonin

33. "O paraíso é a terra dos que vivem
para sempre e é possuída pelos humildes."
Santo Antônio de Pádua

34. "Nada é pequeno daquilo que é feito por amor."
Chiara Lubich

35. "Respeito muito minhas lágrimas mas ainda mais minhas risadas."
Caetano Veloso

36. "Deus nos promete a unidade que é ele próprio."
Santo Inácio de Antioquia

37 "Liberdade, antes confusa que nenhuma."
Machado de Assis

38. "A caridade não se faz somente com dinheiro!"
São João Maria Vianney

39. "Deus nos ama como o melhor dos pais e a mais terna das mães."
São João Maria Vianney

40. "Você não caminha sozinho. Há muitos outros
peregrinos em busca da mesma meta."
Frei Almir Ribeiro Guimarães

41. "Silêncio, algumas vezes, é calar.
Mas é sempre escutar.”
Magdalena Delbrel

42. "No que acredito mesmo é em Deus."
Ayrton Senna

43. "O ciúme é a arma dos inseguros e dos
que ainda não aprenderam a amar."
Iran Ibrahin Jacob

44. "Quão mutável é a sorte: sempre roda de um lugar para o outro!"
São Pedro de Alcântara

45. "Fazer de cada momento uma vida e da vida
um único momento, isto é felicidade.”
Pe. Roque Schneider

46. "Sê o que quiseres, mas procure sê-lo totalmente."
Santo Tomás Moro

47. "O mal não subsiste por si; decorre da privação do bem."
São Gregório de Nissa

48. "Nós devemos ser a mudança que queremos ver no mundo!"
Mahatma Gandhi

49. "O maior defeito é não ter consciência de nenhum defeito."
Carlyle

50. "A arte é um exercício experimental da liberdade."
Mário Pedrosa

51. "A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde." André Maurois

52. "Se você quer ter amigos, deve ganhá-los através do amor, da simpatia e da sinceridade."
Pe. Luis Cechinato

53. "Ao avarento falta tanto o que tem quanto o que não tem."
A. Rivarol

54. "O inimigo ocupa maior lugar na nossa cabeça
do que o amigo no nosso coração.”
A. Bougeard

55. "Todo aquele que não tem caráter, não é ser humano, é uma coisa."
Chamfort

56. "Santidade é exercer o amor de Deus não só afetivo,
mas também operativo."
São Leonardo Murialdo

57. "O amor é a força unitiva de todo o universo."
Milton Paulo de Lacerda

58. "Muitos ao mesmo tempo aviltam com os costumes o que com a inteligência aprenderam.”
São Gregório Magno

59. "A verdade alivia mais do que machuca. E estará acima de qualquer falsidade, como o óleo sobre a água."
Cervantes

60. "O progresso da pessoa é maior quando ela caminha às escuras e sem saber."
São João da Cruz

61. "A felicidade é um fruto que nunca se deixa amadurecer."
C. Diane

62. "A modéstia doura talentos; a vaidade os deslustra."
Marquês de Maricá

63. "Os que recebem alguma coisa sem antes ter sofrido por ela,
a conservam sem amor."
Santo Tomás de Aquino

64. "Quem já não tem condições de ouvir o irmão, acaba não podendo mais ouvir o próprio Deus."
Frei Almir Ribeiro Guimarães

65. "Não conhecer o amor é não conhecer a vida."
Machado de Assis

66. "A dor da gente não sai no jornal."
Chico Buarque

67. "A verdadeira felicidade custa pouco;
se for cara não é de boa qualidade."
Chateaubriand

68. "Quem é bom tem coração de mulher, quem ama tem coração de mãe."
Pe. Gambi

69. "A candura é metade da beleza."
Meidani

70. "A preguiça é a inimiga da alma."
São Bento

71. "Hoje em dia o ser humano não sabe o que fazer com o silêncio."
Ignácio Larrañaga

72. "O que se faz com amor e boa vontade não cansa."
C. Ramalho Campelo

73. "Ninguém limite a ternura da criança."
Antônio Marcos Noronha

74."O falar distrai e o silêncio na ação leva ao recolhimento e dá força ao espírito."
São João da Cruz

75. "O objetivo da política não é a felicidade. O objetivo da política é a liberdade. E é nessa liberdade que cada um pode fazer a sua felicidade".
(Cornelius Castoriadis)

76. "Não é o tempo que envelhece, é o medo do tempo, o declínio do entusiasmo e do cultivo pessoal"
Antônio Baggio

77. "Sedes pacientes nas tribulações, valentes nas dificuldades, modestos no falar
e agradecidos nos benefícios."
São Francisco de Assis

78. "Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia." (José Saramago)

79. "Metade da humanidade não come; e a outra metade não dorme, com medo da que não come". Josué de Castro.

80. "Mesmo que as pessoas mudem e suas vidas se reorganizem, os amigos devem ser amigos para sempre, mesmo que não tenham nada em comum, somente compartilhar as mesmas recordações". Vinícius de Moraes

domingo, 27 de julho de 2008

Chuva de idéias para políticos férteis

* Publicado no Jornal "Diário da Manhã", em 25.07.08

Em plena campanha eleitoral, apresento algumas sugestões bem simples, depois de tanto ponderar sobre a importância do “ócio produtivo”, pois sei que não basta criticar.
Se por um lado, a indústria do entretenimento é como já foi dito, “mola propulsora” da economia neste novo século, por outro lado, uma pesquisa divulgada pelo IBGE, garante que diversão é privilégio de poucos brasileiros. Assim como o desemprego, a violência, os problemas da saúde e da educação, a falta de recursos e de oportunidades de lazer, são reflexos de um sistema elitista, excludente e desequilibrado.
A Assistência Social, no afã de resolver os problemas emergenciais, continua trabalhando na perspectiva do paliativo e desenvolvendo ações que premiam ineficiências e insucessos, promove dependência, e o pior, não garante os resultados esperados quanto ao caráter preventivo, corretivo ou promocional da Assistência Social.
O Código de Ética dos Assistentes Sociais, em seus Princípios Fundamentais, revela a “opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e gênero”. Na Lei Orgânica da Assistência Social-LOAS, fala-se na “supremacia do atendimento às necessidades sociais”, e na “universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas”. Então, a “chuva”:
1. Construção de “albergues” para turistas que sejam universitários, efetivando nesta capital, o funcionamento de um local que cobre preços módicos, por hospedagem completa a estudantes universitários que para cá vierem a passeio, como existe em várias cidades do Brasil e do mundo.
2. Um ônibus coletivo diário, que faça determinado trajeto, percorrendo locais públicos, históricos, ecológicos, de forma programada e em horários específicos, pela manhã, à tarde e à noite, como existe em várias cidades de Santa Catarina.
3. Passeios organizados, periódicos, que podem ser locais, ou não, contemplando: melhores alunos de escolas municipais; pessoas captadas pelas associações de moradores, com critérios do tipo: bom desempenho profissional nos equipamentos sociais e comerciais do bairro; pessoas com idade superior a 35 anos, desempregadas.
A idéia é montar as “excursões” com pessoas diversas, em idade, sexo, atividades, gostos, até mesmo para que sejam trabalhadas estas diversidades no convívio proposto, de acordo com a LOAS que em seus princípios, dispõe sobre a “igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza”.
Estas atividades não devem ser gratuitas, mas a preços e condições facilitadas, tendo inclusive, no caso de viagens, a previsão do financiamento das despesas, no caso da impossibilidade da pessoa incluída arcar com as mesmas, através de pessoas físicas, empresas e ONG’s.
4. Instituir o Parque 24 horas - turno noturno para o funcionamento da área externa do Jardim Zoológico, durante a semana, e 24 horas nos finais de semana, com programas de alimentação típica goiana e recreação completa (arvorismo, jogos de vôlei, squash, basquete, tênis de mesa etc. e também concertos, shows de arte, biblioteca, cafenet, clubes de leitura, do vídeo, videoteca, oficinas diversas, como: de arte, de produção, de beleza e saúde, educativas para o meio ambiente, as vocações, as relações, o trabalho voluntário), para pessoas que cumprem turnos irregulares de trabalho.
O setor privado, que investe em lazer e entretenimento, não se preocupa com os efeitos do que oferecem e trabalham 24 horas por dia. São bares, boates, lan houses, festas psicodélicas, postos de conveniência. Na 5a. Conferência do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente ficou deliberado que o poder público deve oferecer políticas de esporte e lazer também no turno noturno. Na Cultura, já temos alguma coisa em movimento e com ótima qualidade.
A idéia é estimular a prática esportiva e também o turismo, principalmente o de negócios, que é bastante rico em Goiânia, mas reclama atividades fora do circuito das reuniões. É comum o comentário de que as pessoas vêm para congressos e similares e se as atividades destes se acabam na sexta, os congressistas já vão embora por falta de terem o que fazer aqui.
5. Constituir uma força de trabalho que atue nas ruas centrais, nos parques, nas feiras e nos equipamentos sociais (portas de escolas, clínicas médicas, hospitais, pontos de ônibus), em todos os dias da semana, levando e buscando informações sobre os serviços públicos da cidade e sobre temas de relevância à comunidade, utilizando como instrumento operacional, a Pesquisa Participante, ou Pesquisa-Ação, com equipes itinerantes capacitadas para traduzirem, no dia-a-dia, os valores políticos da sociedade justa, democrática e fraterna que pretendemos, através de abordagens, reflexões e projeções acerca da sociedade, suas idéias, valores, costumes.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Meu Nome É Joe

Título Original: My Name Is Joe

Gênero: Romance

Origem/Ano: ING/1998

Duração: 105 min

Direção: Ken Loach

Elenco:

Louise Goodall...Sarah Downie
Peter Mullan...Joe Kavanagh
David McKay...Liam
Anne-M.Kennedy...Sabine
David Hayman...McGowan
Gary Lewis...Shanks
Lorraine McIntosh...Maggie
Scott Hannah...Scott
David Peacock...Hooligan
Gordon McMurray...Scrag
James McHendry...Perfume
Paul Clark...Zulu
Stephen McCole...Mojo
Simon Macallum...Robbo
Paul Gillan...Davy

Sinopse: Joe Kavanagh (Louise Goodall), é um cara que cometeu vários erros e não consegue se livrar dos fantasmas do passado. Sem muito o que fazer da vida, morando em um apartamento mal-cheiroso em Glasgow, ele mata o tempo atuando como treinador de futebol de um time formado basicamente por delinquentes.

Como Joe está tentando recuperar a dignidade, resolve ajudar um dos jogadores da equipe, Liam (David McKay), que está em apuros por dever dinheiro ao traficante mais poderoso da cidade. Só que "ajudar" nesse caso significa mergulhar novamente no submundo - o que colocaria em risco o recém-estabelecido romance de Joe com a enfermeira Sarah.

Sarah (Louise Goodall) representa a última chance de Joe encontrar a felicidade. Só que o relacionamento é complicado o suficiente - mesmo antes de Joe ter problemas com os traficantes locais. A forma como eles se relacionam é bastante realista, na medida em que ambos parecem carregar decepções que os impedem de alimentar grandes ilusões no amor. Desde o momento em que a dupla se conhece, do jeito menos romântico possível.

Liam acaba sendo o elo de ligação entre os amantes. Ele é casado com a viciada Sabine (Anne-Marie Kennedy), que Sarah tenta reencaminhar na vida.

Fonte:http://www.webcine.com.br/filmessi/meunomej.htm

Prece de Singapura

Revolve, Ó Deus, o solo,
Aprofunda a relha do arado,
Abre repetidamente os sulcos.
Revira a terra dura e seca.
Não poupes força ou labuta,
Mesmo que eu chore.
Na terra solta, recém mutilada,
Semeia novas sementes.
Livre da vinha rastejante e da
Erva daninha
Dá à luz viçosas flores.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Metade

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
pois metade de mim é partida
a outra metade é saudade.

Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
pois metade de mim é o que ouço
a outra metade é o que calo.

Que a minha vontade de ir embora
se transforme na calma e paz que mereço
que a tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
a outra metade um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
pois metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o silêncio me fale cada vez mais
pois metade de mim é abrigo
a outra metade é cansaço.

Que a arte me aponte uma resposta
mesmo que ela mesma não saiba
e que ninguém a tente complicar
pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
pois metade de mim é platéia
a outra metade é canção.

Que a minha loucura seja perdoada
pois metade de mim é amor
e a outra metade também...

Osvaldo Montenegro

Drummond

A cada dia que vivo, mais me convenço de que
o desperdício da vida está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.

Carlos Drummond de Andrade

Nada como o tempo

Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela.

Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o "alguém" da sua vida.

Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.

O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você.

No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

Desconhecido

De Chaplin

Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
"quebrei a cara muitas vezes"!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi, e ainda vivo!
Não passo pela vida…
E você também não deveria passar!

Viva!
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é "muito" pra ser insignificante.
Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
"quebrei a cara muitas vezes"!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi, e ainda vivo!
Não passo pela vida…
E você também não deveria passar!

Viva!
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é "muito" pra ser insignificante.

Charles Chaplin

Palabras para Julia

Tu no puedes volver atrás
porque la vida ya te empuja
como un aullido interminable
interminable.
Te sentirás acorralada
te sentirás perdida o sola
tal vez querrás no haber nacido
no haber nacido.
Pero tú siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí
pensando en ti como ahora pienso.
La vida es bella ya verás
como a pesar de los pesares
tendrás amigos tendrás amor
tendrás amigos
Un hombre solo una mujer
así tomados de uno en uno
son como polvo no son nada
no son nada.
Entonces siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí
pensando en ti como ahora pienso.
Nunca te entregues ni te apartes
junto al camino nunca digas
no puedo más y aquí me quedo
y aquí me quedo.
Otros esperan que resistas,
que les ayude tu alegría,
que les ayude tu canción
entre sus canciones.
Entonces siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí
pensando en ti como ahora pienso.
La vida es bella ya verás
como a pesar de los pesares
tendrás amigos tendrás amor
tendrás amigos.
No sé decirte nada más
pero tú debes comprender
que aún estoy en el camino,
en el camino.
Pero tú siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí
pensando en ti como ahora pienso.

Paco Ibañez

***

Palavras para Júlia
Paco Ibañez
(Tradução de Antonio Miranda)

Tu não podes voltar atrás
porque a vida te empurra
como um uivo interminável
interminável.
Te sentirás encurralada
sentirás como perdida ou sozinha
talvez desejes não ter nascido
não ter nascido.
Mas sempre te lembres
do que um dia eu escrevi.
Pensando em ti como penso agora.
A vida é bela já verás
que apesar dos pesares
terás amigos terás amores
terás amigos.
Um homem só uma mulher
considerados um a um
são como pó nada são
nada são.
Então sempre te lembres
do que um dia escrevi
pensando em ti como penso agora.
Nunca te entregues nem te afastes
pelo caminho nunca digas
não posso mais e por aqui fico
por aqui fico.
Outros esperam que resistas,
que tua alegria os ajude,
que os ajude tua canção
entre suas canções.
Então sempre te lembres
do que um dia eu escrevi
pensando em ti como penso agora.
A vida é bela já verás
apesar de todos os pesares
terás amigos terás amores
terás amigos.
Nada mais posso dizer-te
mas tu deves entender
que ainda estou no caminho,
no caminho.
Então sempre te lembres
do que um dia escrevi
pensando em ti como penso agora.

Nós também queremos viver, nós também amamos a vida

Pra vocês, escola, pra nós, pedir esmola
Pra vocês, academia, pra nós, Delegacia
Pra vocês, forró, pra nós, mocó
Pra vocês, coca cola, pra nós, cheirar cola
Pra vocês, avião, pra nós, camburão
Pra vocês, vida bela, pra nós, morar na favela
Pra vocês, televisão, pra nós, paredão
Pra vocês, piscina, pra nós, chacina
Pra vocês, emoção, pra nós, catar papelão
Pra vocês, conhecer a lua, pra nós, morar na rua
Pra vocês, está bom, felicidades
Mas pra nós, só igualdade

Nós também queremos viver
Nós também amamos a vida

(Meninos e meninas de 10 a 12 anos, moradores da favela “Padre Vidigal”, em Curitiba, no Paraná, ligados ao Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua – MNMMR).

Mestre

“Mestre, são plácidas
Todas as horas
Que nós perdemos, se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores.

Não há tristeza
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver,

Mas decorrê-la,
(....)

Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.

Girassóis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
Tranqüilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.”

Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

NÃO SOMOS LÍRIOS NO CAMPO

*Publicado no Jornal "Diário da Manhã" em 11.07.08

É certo. Nós, seres humanos, somos os únicos seres da face da terra, capazes de planejarmos, de modificarmos nossa trajetória, nossas funções, nossos interesses, nossas capacidades. Sempre, através do trabalho, mas diferentemente do trabalho das abelhas, por exemplo. Segundo Harry Braverman, escritor e político americano, comunista, “o que distingue a força de trabalho humano é (...) seu caráter inteligente e proposital”.
Constatado está, que o trabalho e a produção são características intrínsecas ao ser humano. E isto é, não apenas inegável, como imutável. O mesmo não acontece com as condições de trabalho, que se processam historicamente através das relações de produção que os homens estabelecem entre si e com a natureza.
O trabalho do homem é seu modo de viver e de manifestar sua vida, sua maneira de ser, que é conjugada ao que ele produz e consome e ao modo como ele produz e consome. “As relações de trabalho determinam o seu comportamento, suas expectativas, seus projetos para o futuro, sua linguagem, seu afeto”, de acordo com o estudioso da Psicologia Social, Wanderley Codo, para quem “cada gesto, cada palavra, cada reflexão, cada fantasia traz a marca indelével, indiscutível de sua classe social, do lugar que o indivíduo ocupa na produção”.
Tenho podido defender aqui, no Diário da Manhã, posicionamentos na defesa do lazer e do ócio e avalio, como muitos, que a redução da jornada de trabalho e o aumento da idade mínima para entrada no mercado de trabalho são mecanismos que podem ampliar as vagas deste mercado para que pais de família consigam trabalho e também os dados que indicam menos de 20% da população economicamente ativa com mais de 11 anos de escolaridade. A intenção não é jamais, propor a indolência, o parasitismo, a libertinagem ou qualquer espaço propício a “oficinas do diabo”. Antes, ao contrário.
A questão é que em nossa sociedade, na qual o homem vale pelo que possui, a felicidade toma o âmbito da posse de bens materiais, e, sobretudo, da aquisição daquilo que tem o poder de adquirir todos os objetos: o dinheiro.
Questiono a visão romântica ou puramente economicista do trabalho. Grosso modo, o homem, seu crescimento, sua satisfação, nada disto é o objetivo do trabalho em si, mas o trabalho é o objetivo do homem e a riqueza o objetivo do trabalho.
O trabalho é atividade vital e não apenas atividade material resultante do desempenho de nossas funções profissionais, para recebimento de salário. É preciso que se leve em conta o que está na mente do trabalhador enquanto produz. Esta relação mental/material é contínua, se reproduz na vida subjetiva e na própria reprodução material que se efetiva. O trabalhador está sempre juntando o que faz intelectualmente, o que produz através do trabalho físico e o que experimenta como pessoa. Não existe o que chamam de mente ociosa, a menos que se atinja o nirvana, que antes de acontecer precisa de muito exercício (trabalho) e disciplina. Para Marx, “os homens realizam trabalho, isto é, criam e reproduzem sua existência na prática diária, ao respirar, ao buscar alimento, abrigo, amor etc.”.
Por isto é urgente e necessário estabelecermos um modo de vida que estimule os “hábitos do bom trabalho” para que o homem possa continuamente usar a experiência de seu trabalho em sua vida em reciprocidade. O homem não é um ser abstrato, determinado, isolado de situações reais, históricas e presentes, nas quais transcorre sua vida, forma-se sua personalidade e estabelecem-se relações de todos os tipos.
O trabalho modifica não apenas suas condições iniciais objetivas, os trabalhadores mudam com ele, pela emergência de novas qualidades, transformando-se e desenvolvendo-se na produção, adquirindo novas forças, novas concepções e novas necessidades e ainda, se reproduz no cotidiano, na própria condição de existência dos trabalhadores, na idéia que têm de si, e em seus relacionamentos com outros indivíduos.
O trabalhador não é capacidade de trabalho puramente subjetiva, ele enfrenta as condições objetivas do seu trabalho. Se, em determinada situação, o homem primitivo lutava pela sobrevivência a partir de relações originais e espontâneas com a natureza, as diversas transições e fases pela qual passou, levou-o à separação dessa natureza, em um processo antagônico no qual, na medida em que este homem formou as civilizações, desenvolveu-se nas sociedades um processo de individualização humana e o homem foi se especializando em funções, criando assim, a divisão sexual e posteriormente, social do trabalho.
O que deveria se tornar motivo de cooperação passa a ser a razão da alienação. O trabalhador passa a produzir para outros o que nem sempre possui e a possuir o que não produz, passando a viver, não do produto de seu trabalho, mas da venda de si, de sua capacidade, sua força de trabalho em troca do salário. O ser humano hoje não é dono de si mesmo, nem de seu universo. Ele passou a ter valor de uso, e muito aquém de suas reais necessidades vitais e de sua produtividade, o que garante o excedente da produção que vai propiciar o lucro do capitalista, através da mais valia.
Para o capitalista, o trabalhador não constitui uma condição de produção, mas apenas o trabalho o é. Se o trabalhador tiver que ser trocado, o é facilmente, pois a reprodução da classe trabalhadora é garantida no capitalismo, com mecanismos estruturais e ideológicos que recriam os enormes exércitos de reserva. Se o trabalho puder ser executado pela maquinaria, tanto melhor. Daí a terrível idéia de que ninguém é insubstituível, como se o homem fosse um objeto.
Na sociedade capitalista, onde o trabalho se transforma em mercadoria e na qual o estudo adapta-se às exigências da produção comercial, tende-se a fazer de qualquer atividade profissional um meio para satisfazer interesses pessoais egoístas, despojando-a assim, de sua significação social.
Não se pode esquecer que, para o marxismo, o capitalismo representa uma fase historicamente necessária, e carrega em gestação, a nova sociedade. O ideal humanista do pleno desenvolvimento individual está mais próximo do que jamais esteve em qualquer fase anterior da história. Apenas aguarda o que Karl Marx chama de “etapa pré-histórica da sociedade humana”.
A revolução marxista tem por objetivo conciliar as relações sociais e a força de produção, restabelecendo o homem perdido de si mesmo, para que ele volte a apropriar-se de sua essência humana, mecanizada e esfalfada no dia a dia do trabalho que o expropria.
É preciso que o mercado e os setores hegemônicos percebam os prejuízos decorrentes das perversidades deste sistema capitalista, que perpetua a concentração de renda, prioriza o trabalho material em detrimento do trabalho espiritual e intelectual e não garante os direitos fundamentais do homem, previstos constitucionalmente.
Considerar os extremos, pensar o oposto, vários pontos de vista, é característica do método que uso para compreensão e atuação na realidade; sou marxista, graças a Deus, e creiam, sempre trabalho muito e não possuo a visão aristotélica do trabalho, considerando valoroso apenas o trabalho intelectual.
O que acontece é que, sendo cristã e cheia de fé, cedo percebi que no mesmo livro usado como referência para a afirmação de que é preciso trabalhar para se ter o pão – a Bíblia, fala-se que não devemos acumular riquezas materiais, que devemos desejar ao outro o queremos para nós, que devemos reservar tempo para nossa espiritualidade, pois “nem só de pão vive o homem”. Em nenhum lugar deste livro, o trabalho físico aparece como única ou como a melhor via para a salvação da alma e para a inclusão social.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O PRAZER E ALGUMAS CONEXÕES

* Publicado no Jornal Diário da Manhã em 11.07.2008

O que mais tem me interessado na gestão do prefeito Íris Rezende é a sua disposição para a construção de espaços de lazer. Principalmente por saber da história deste Prefeito, o prático criador dos mutirões para sonhadas casas próprias. Digo que ele sempre me causou admiração e respeito, desde pequenina, e me lembro do encantamento que me causava e causa o Mutirama, construído em sua primeira gestão do município de Goiânia. Este imenso parque de diversões por diversas vezes me abrigou, em passeios com familiares e escola, quando criança, com irmã e com amigas e nossas crianças, acompanhando turmas de educandos, sozinha ou com amigos, em caminhadas ao seu redor. Por ali, inúmeras vezes pensei Íris Rezende, entre tantas coisas e eu mesma. Quando criança, todos aqueles brinquedos, coleguinhas, os piqueniques, os pastéis e os olhares, os doces e correrias e choros, todas aquelas árvores, tudo era muito mágico.

Hoje, ainda fico pensando os pensamentos e as obras de Íris Rezende. Sua atuação agora, como antes, caracteriza sua visão de futuro e garante claramente um direito fundamental que muito me interessa: o lazer. Diferentemente de políticos que ainda insistem em pregar a criação de postos de trabalho e de bolsas auxílio, entre suas promessas pirotécnicas para inclusão social. Por isso, tenho esperança de mudanças com Íris Rezende, pela sua capacidade de sair do senso comum.

Recentemente, estando em Brasília, tive a oportunidade de ver a Exposição Oscar Niemayer. Fiquei mesmo embasbacada, como boi diante do palácio, mas ao mesmo tempo, com um sentimento de completude tremenda, em instantes de contemplação de algo que me pareceu muito familiar, meio que um reencontro mesmo, foi incrível, pois nunca havia visto toda a obra dele. A arte é assim, inebriante. O pensamento é inebriante, mas Oscar Niemayer foi a “coisa” mais lúcida, mais concreta pra mim, nos últimos tempos; como ele, só Batista Custódio. Ali, admirei, ri, chorei, parei, senti, pensei e olhei muito, suas obras, o espaço que as revelava e que inclusive fora idealizado por ele, as pessoas que ali circulavam como eu, me vi.

Em uma de suas escritas, nas paredes, Oscar N. fala do espanto das pessoas quando projetou o salão de bailes populares, na Pampulha. Ele não hesitou em explicar que o povo merecia aquele espaço e os momentos de prazer que ali desfrutariam, como teriam os ricos. Em outra parede escreveu que o que mais o agrada não é saber da funcionalidade de sua arquitetura, mas que “uma pessoa pobre poderia vê-la e se maravilhar com ela, ter uma surpresa, uma coisa nova, bonita”. Compreendi minha admiração por este comunista e sua obra. É incrível como ele fala da importância da fantasia, do prazer e da beleza, enquanto direitos humanos. E a sua busca pela flexibilidade do concreto e o quanto a sua obra, sempre grandiosa e “insinuosa”, impregna, reflete-se no espaço, como nas mentes, e como são sempre identificadas com a liberdade, a humanidade, a criatividade. Assim como é a sua vida, de cem anos.

Sempre cultivei, mesmo quando entrei no PT, alguma atração pela burguesia. Em algum momento, isto me causou certo desconforto. Mas tranqüilizou-me um trecho de Bertrand Russel em seu Elogio ao Ócio, no qual ele associa a burguesia ao ócio e ao desenvolvimento, nos escrevendo que “No passado havia uma pequena classe ociosa e uma grande classe trabalhadora. A classe ociosa desfrutava vantagens que não tinham qualquer fundamento na justiça social, o que tornou esta classe inapelavelmente opressora, limitou seu sentido de solidariedade e levou-a a inventar teorias para justificar seus privilégios. Isso fez diminuir enormemente a sua excelência, mas não a impediu de ter contribuído com quase tudo o que hoje chamamos de civilização. Ela cultivou as artes e descobriu as ciências, escreveu os livros, inventou as filosofias e aperfeiçoou as relações sociais (...) sem a classe ociosa, a humanidade nunca teria saído da barbárie”. Por isto entendo que defender o lazer, o tão combatido ócio, e questionar a estrutura quanto à jornada de trabalho não seja utopismo ou idealismo, mas senso de sobrevivência da humanidade.

No início da gestão de Alcides Rodrigues no governo de Goiás, como vice-governador, senti uma convulsão ideológica terrível quando li na imprensa, que o mesmo reduziria a jornada de trabalho nos órgãos do Estado, enquanto uma das medidas da reforma administrativa, por questões econômicas. Fiquei quieta, não alardeei, pois não ouvia isto da esquerda anti neoliberalismo, por onde eu andava; a idéia logo se perdeu, mas confesso que torci para que ela fosse colocada em prática, ainda que por neoliberais. No município, ficou decretado durante algum tempo, redução de jornada com negociação entre chefias e servidores, mas isto acabou, também por decreto, cerca de sete anos atrás, no discurso de “moralização”.

Já está provado que funcionários passam muito mais tempo no local de trabalho do que precisam para desempenhar suas funções, principalmente nas repartições públicas. O tempo excedente é sempre mal empregado e ainda gera custos com equipamentos que acabam sendo utilizados para questões pessoais, como o telefone e o computador. Por outro lado, claro, funcionários mais satisfeitos, desempenho melhor de funções.

Redução de jornada agora, propicia ao discurso contra a vida sedentária e mecanizada, a possibilidade de vir a ser modo de vida, quem sabe, ao menos daqui um século, em uma sociedade com uma mente e um corpo mais sãos, com interesses mais voltados para as artes, os esportes, para o conhecimento e para uma cultura mais universal e humana, em uma vida menos selvagem e alienante, capaz de construir sujeitos críticos, que buscam e que vivam realmente a plenitude da vida.

Voltando à Bertrand Russel, cito um trecho em que ele escreve que “Os prazeres das populações urbanas se tornaram fundamentalmente passivos: ver filmes, assistir a partidas de futebol, ouvir rádio e assim por diante”. Ainda que o tempo dele tenha sido o início do século passado, é atual, seu pensamento. Somam-se às diversões citadas, a tv, o computador, os celulares, as drogadições, as compras desnecessárias... Prazeres rápidos para uma sociedade que tem pressa.

O fato é que nossa sociedade sempre condenou os prazeres, o ócio, mas compactua com eles ora esculachadamente, ora veladamente, ora passivamente, ora doentiamente. Trata-se de começarmos a questioná-los. De assumirmos, enquanto pessoas de direitos, que precisamos deles. De entendermos o lazer que realmente é prazer e o que é prejuízo, sem a idéia de que tudo que dá prazer é ilegal, imoral ou engorda. O que deleita e nos transforma para melhor, o que amplia nossa criatividade vital e é eterno e o que é futilidade, o que é efêmero. O lazer também dignifica, purifica. “A virtude está no equilíbrio, em não buscar prazeres que causem desprazer”.

A crise da humanidade, a meu ver, não tem apenas caracteres macroscópicos, não se manifesta apenas nas instituições, na violência e na desagregação social, mas nas mais básicas concepções de mentalidade e de vida, que antes serviram ao poder hegemônico, enquanto instrumentos de inculcação e domínio.

terça-feira, 8 de julho de 2008

KARL MARX E O SISTEMA “S”

* Publicado no Jornal "Diário da Manhã", em 04.07.08


Precisamos verdadeiramente conhecer sobre o que Karl Marx criou enquanto método para conhecimento da realidade. O marxismo enquanto teoria que é, antes de tudo, dialética. Precisamos não falar de Marx somente enquanto leitura de uma época, mas estarmos com sentidos atentos às categorias, enquanto expressões conceituais que pretendem refletir os aspectos gerais e essenciais do real, suas conexões e funções, ao movimento histórico, aos objetivos e rumos pretendidos, enquanto compromisso, enquanto fundamentação de uma prática. Não podemos repetir a leitura que ele fez de um tempo que foi o dele, por mais que ela tenha sido extraordinária. O eterno é o método, é o que interessa.

Incomoda, creio eu, que ele tenha se oposto à propriedade privada e a mais-valia. Que ele tenha identificado como elementos antagônicos e com interesses antagônicos, a força de trabalho e os meio de produção, proletariados e capitalistas.

Amo de paixão – e olha que isto não é de bom tom desde sempre, de quando conheço Karl Marx, a teoria marxista e a vida de Karl Marx, até o que chamam de suas irresponsabilidades.

As conceituações, as representações, a alienação, a contradição, a totalidade, a mediação, a reprodução, a hegemonia, a ideologia, a análise, a síntese, a essência e o fenômeno, tudo isto e muito mais, passaram a existir para mim junto com Marx. E são fundamentais, a cada dia, como referências ou método, no conhecimento da realidade.

Em meio a este conhecimento, tenho a certeza de que existem motivos para esperanças sim, sempre existiram. E sempre andaram juntas, a imprensa, a arte e as lutas pelas transformações, em todos os tempos e em todo o mundo, nas gazetas renanas, nos diários das manhãs, nas tribunas populares, nos germinais em busca do mundo bom, denunciando e anunciando o que houver.

A desesperança, isto já era, nos tempos de Rui Barbosa, motivo para as críticas, o claustro e a incredulidade. O novo é o poder de expressão, é a esquerda no poder, é a direita na oposição. Nem o otimismo nem o pessimismo, mas a possibilidade de construção.

Agora a abertura é ampla geral e irrestrita. Podemos falar nas esquinas, não nos tormenta o risco do exílio, a posse do livro. Podemos ler escrever pensar, até juntos. Perguntei a um amigo, reencontrado neste fim de semana, onde estão mesmo os que, até bem pouco tempo atrás poderiam mudar o mundo. Onde está Paulo Freire, Gramsci, Norberto Bobbio e onde estão seus precursores? O que veio depois deles, o que está aí? Sei que tem muita gente querendo que o mundo seja melhor, que age neste sentido.

Compactuo com Marx e Engels, que preconizavam “o entrosamento da teoria com o proletariado, em lugar do isolamento do Espírito diante das massas”. O discurso tem que ser comum a todos, cada vez mais rico, que penetre nas massas e se converta em força social transformadora. Nada de vanguardas; embora eu acredite na divisão social do trabalho e a ache linda, porquanto determina nossa sociabilidade, o fazer tem que estar junto com o pensar, sempre. Viva o intelectual orgânico, questionemos as estruturas!

E por falar em trabalho e educação, a discussão sobre as entidades privadas do comércio e da indústria, Sesi, Senai, Sesc e Senac, não é nova, é tão oportuna quanto providencial e vai muito além de pôr em xeque, a qualidade da formação educacional e dos serviços ali oferecidos. É inegável o alcance e o patrimônio que têm.

O que se questiona é, por exemplo, o número de vagas nos cursos, diante da expressiva arrecadação das confederações, obtida através do recolhimento de 2,5% da folha de pagamento das empresas, sendo, portanto, fundo de natureza pública, e também diante da demanda reprimida, que aguarda oportunidade de vaga. Como as empresas repassam o valor do recolhimento aos produtos e serviços, todos acabam financiando este sistema, ele não é privado. Critica-se a ostentação e a burocracia das entidades, além dos currículos dos cursos, que são referentes aos interesses das indústrias e do comércio, apenas.

Trata-se, neste ponto, de uma oposição à visão reducionista e utilitarista da formação e da educação da classe trabalhadora, na busca da superação do antagonismo entre formação geral e formação técnica, através de currículos compostos de conhecimentos tecnológicos, científicos e gerais sobre o homem, a sociedade, a história, o trabalho e a cultura, tendo em vista o aprimoramento, não só da consciência profissional, mas também da consciência cidadã.

Também, sempre foi reivindicação, o gerenciamento por conselho tripartite (trabalhadores, governo e empresários) deste sistema, que sendo patrimônio público, assim deve ser administrado, na gestão, elaboração e avaliação de seus programas e serviços.