quinta-feira, 31 de julho de 2008

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
das horas que passei à sombra de teus gestos
bebendo em tua boca o perfume
dos sorrisos,
das noites que vivi acalentado
pela graça indizível de teus passos
eternamente fugindo,
trago a doçura dos que aceitam
melancolicamente
e posso te dizer que o grande afeto
que te deixo
não traz o exaspero das lágrimas,
nem a fascinação das promessas,
nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
é um sossego, uma unção, um
transbordamento de carícias
e só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
e deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem Fatalidade,
o olhar estático da aurora.

Vinícius de Moraes

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