segunda-feira, 20 de julho de 2009

Minc e a sociedade do novo milênio

* Publicado no Jornal "Diário da Manhã", em 12.07.09

Por mais que seja complicado tolerar a situação de omissão, cumplicidade e até participação do poder público nas ingerências do mercado no que tange a questões do meio ambiente, o Ministro Minc pode mesmo ter exagerado em suas declarações, ultimamente, sobre ruralistas. Qualquer um pode exagerar, neste campo, me parece.
Mas nunca alguém combateu tão do alto, tão de frente e diante de holofotes de repercussão nacional e até mundial, poderes tão arraigados em nossa terra, mãe gentil explorada, devastada, vilipendiada. O Minc é nosso único ministro com cara de esquerda, além da Dilma, claro.
No decorrer do episódio por ora arrefecido, ao ministro Minc foi atribuído o desejo de “dividir a sociedade em grandes, médios e pequenos produtores”.
Sinto-me muito aliada deste ministro e sentir-me-ia mais desprezada ainda, se não tivesse eu lido As belas Mentiras e já discutido um pouco sobre a apropriação indevida do conhecimento marxista para inculcação ideológica, pelos conservadores.
Ora, como negar a existência de pequenos, médios e grandes produtores? Nesta perspectiva, é bom lembrar que nossa sociedade também se compõe, além de produtores (de gado, alimentos, combustíveis, da indústria, de ciência, de arte etc.), de trabalhadores, de comerciantes, de excluídos. É do sistema capitalista, a divisão social do trabalho – que eu inclusive, acho linda, por remeter a humanidade à interdependência entre suas partes. Isto não é deste governo.
Será já possível discutir as políticas, no campo dos poderes públicos constituídos, da perspectiva da luta de classes, será isto, e a partir do discurso dos ditos ruralistas? Têm a mesma força, estão juntos na mesma luta pequenos, médios e grandes produtores? Difícil imaginar isto.
Mas não é difícil saber que a ira do ministro não pode ser atribuída ao trabalho e ao comportamento de pequenos e médios produtores. Tampouco que são estes que garantem a segurança alimentar no Brasil.
O que ele tem combatido com veemência é uma elite econômica extremamente unida para defender interesses comuns, como a grilagem, que garante os grandes negócios de carvoarias, madeireiras, pecuaristas, produtores de cana de açúcar, de soja, de milho e de monocultivos de madeiras como eucalipto e pinho, todos, agronegócios de exportação, que não seriam problema, não fossem movidos pela cobiça capitalista que comanda a invasão de reservas florestais, por exemplo, mediante ampliação dos seus terrenos através da ocupação da área a ser demarcada e em seguida, legalizada. Á esta elite, até pela sua organização incontestável, ao longo dos séculos, no Brasil, a política sempre garantiu os necessários subsídios agrícolas, as autorizações de uso da terra, e as compras de terras a preços questionáveis. É isto, o que se quer combater, creio.
Muito se noticiou da ofensiva do ministro Minc, mas pouco das cinco horas de suas retratações diante do júri, digo, da Comissão de Agricultura da Câmara, mês passado. É incrível como ficou pobre a discussão, apenas no viés da provocação vingativa, do levante de acusações pessoais, cínicas ou sinistras, insinuosas, inconseqüentes, fora do contexto. No caso, o que se destila, em contrapartida às palavras e ações de Minc pelo Meio Ambiente, são sempre contundências relativas à pessoalidade do ministro. Quanto exagero.
Mas o imaginável acontece e na democracia, com sabedoria, é preciso dizer apenas, humildemente, como fez Minc, na sessão para qual fora convocado, a fim de levar um “passa-fora público”: que não se aceita as injúrias pessoais levantadas, nem as mentiras e falsas interpretações, afinal às vezes, viver não é preciso. Paciência. A caravana passa.
Parabéns, ao Ministro Minc, que a cada dia merece mais, o cargo que ocupa. Continue, junto aos seus, coibindo crimes ambientais, quaisquer que sejam, e esteja certo de que defeitos vários, todos temos. Com vocês ambientalistas, estamos muitos cidadãos comuns.
Neste episódio, esperava eu, mais da liderança ruralista, composta de pessoas da mais alta estirpe, que já devem ter clareza da mudança de tempos, que não são novos, pois há muito temos constatado, dito e ouvido sobre a necessidade da mudança de paradigmas e de comportamentos políticos.
Quão medonho devem ter sido os espetáculos nas arenas em que homens eram jogados aos leões.
É preciso que todos reconheçam logo os atuais e futuros prejuízos socioeconômicos e ambientais previsíveis e mais, que os relacionemos com as arcaicas práticas que temos admitido em nome do mercado capitalista, na busca de uma nova cultura, com novos valores, com vistas à desejada construção da sociedade sustentável que queremos deixar como herança de nossa civilidade.

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