* Publicado no jornal "Diário da Manhã", em 19.08.09
Segundo João Pedro Stédile, o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, é um movimento social democrático, que usa o diálogo como expressão, defende a sustentabilidade ambiental e uma reforma agrícola que redistribua a terra, produza alimentos sadios através dos pequenos agricultores e ainda, que desenvolva pequenas agroindústrias nos assentamentos, na forma de cooperativas, para agregar valor aos produtos e gerar empregos no campo.
Tendo surgido no final dos anos 70, o MST incorporou os ideais e a luta das ligas camponesas, apoiado pela Comissão Pastoral da Terra, da igreja católica e pelo Partido dos Trabalhadores. Luta pela terra e pelo debate sobre o modelo agrícola atual do Brasil, propondo uma reforma agrária que favoreça a agroecologia e a pluricultura.
Nos últimos dias, o MST realizou caminhadas, manifestações e ocupações em áreas rurais e urbanas de diversos estados, cobrando do governo federal, o assentamento de 90 mil famílias acampadas há mais de quatro anos Brasil afora, a atualização dos índices de produtividade da terra, inalterados desde 1975 e o descontigenciamento de R$ 800 milhões retidos do orçamento do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), depois do corte de 48% do orçamento aprovado no Congresso, para a reforma agrária.
Os preconceitos e a visão negativa que se tem do MST, denotam a imaturidade política e a manipulação ideológica das classes dominantes em nosso país ainda hoje, com um governo eleito pelas camadas populares, em virtude de um discurso histórico, voltado para a garantia dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável.
Não se pode mais ignorar a função social e econômica da reforma agrária, diante da nova questão social, que se originou de um modelo econômico concentrador de rendas, que traz graves conseqüências a toda a sociedade.
Negar a legitimidade deste movimento de luta por terra para quem nela quer trabalhar e/ou criminalizar esta luta é não querer enxergar as desigualdades entre as pessoas e principalmente, como essas desigualdades se reproduzem na sociedade e na subjetividade humana.
Tive a grata satisfação de estar junto ao MST em alguns poucos momentos, no acampamento em frente ao INCRA e em passeatas. No acampamento, há mais de cinco anos atrás, conheci uma senhorinha que me ofereceu um xarope feito por ela, para tosse, para “uso da casa”. Fiquei surpresa com o poder do remédio e com o carinho da senhorinha e da companheirada ali presente. Encantou-me a organização, a disposição para a luta, o cultivo da cultura camponesa, a seriedade e o compromisso do pessoal. Encontrei ali, jovens, crianças, homens e mulheres, todos imbuídos de alguma mágica esperança, solidários uns aos outros, embora alguns, visivelmente cansados, sob tensão. Alguns mais aguerridos, desconfiados, no primeiro momento. Povo sofrido.
Sempre penso: onde estariam estas pessoas/famílias, se não estivessem neste movimento?
O agronegócio, que expulsa mão-de-obra do campo, adotando a mecanização intensiva, favorece as empresas transnacionais e as exportações e ainda, promove a degradação ambiental através do monocultivo e do uso excessivo de agrotóxicos (de acordo com Stédile, “na safra passada foram jogados 713 milhões de toneladas de veneno sobre o nosso solo, a nossa água e os nossos alimentos”) não incomoda. Mas o MST é considerado criminoso por grande parte da sociedade brasileira, alienada, mal informada, ignorante.
A esta, que muitas vezes pode ampliar seus conhecimentos e sua capacidade crítica, mas tem preguiça, incomoda saber que o MST formou mais de 3.000 filhos de camponeses em cursos superiores e que mais de 3.500 freqüentam universidades e ainda, que mais de 300 fazem pós-graduação, mestrado e doutorado.
Mas é assim mesmo que o MST terá a cada dia, mais sucesso e menos violência em suas lutas. Estudando, dialogando e convencendo, através do sonho em uma sociedade sustentável, com trabalho, educação, moradia e alimento para todos.
Parabéns e sucesso ao MST, na luta por ver e viver a vida digna!
De olho nos fazendeiros coronelistas arcaicos, nos latifúndios, nos banqueiros financiadores do agronegócio, nas empresas transnacionais exploradoras, nos meios de comunicação da elite conservadora, nos políticos representantes do atraso mental e econômico de empreendedores gananciosos e estupidamente alheios à busca de sustentabilidade socioeconômica em nosso país e neste governo, oriundo das lutas sociais, das classes trabalhadoras, de um partido que teve, antes do poder, como uma das maiores bandeiras, a reforma agrária.
Um comentário:
huum, gooostei !
obg ae, me ajudou mt.
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