* Publicado no Jornal "O Popular" em 06 de maio de 2000.
Mesmo não sendo uma estudiosa da antropologia, dedico-me às leituras que enfocam a questão da cultura enquanto elemento integrante e integrador das sociedades.
E é a partir daí que venho percebendo uma significativa omissão conceitual no pensamento dos que lidam e se referem à política cultural, pois esta tem sido reduzida às expressões artísticas.
É fato que a arte interfere no comportamento humano e que a Secretaria Municipal de Cultura tem promovido eventos que refletem a riqueza artística da nossa cidade.
Porém, a cultura deve, ao meu ver, receber análises que abrajam com mais rigor o seu território, promovendo além das artes plásticas e cênicas, da musicalidade e da literatura, as idéias, crenças, valores, normas, atitudes, padrões de conduta e abstrações que nos conduzam à um desenvolvimento qualitativo de nossa existência, em um mundo "sem fronteiras".
De que modo conseguir tamanha façanha?
Ora, como não faz parte das ciências exatas, a promoção cultural não exibe regras, o que dificulta o seu desenvolvimento. E como uma política cultural é uma política de longo prazo acaba sempre entrecruzada por elementos circunstanciais, perdendo a sequência e esbarrando em interesses ideológicos e eleitorais.
A lacuna entre as mudanças objetivas do mundo em geral e a estagnação da política emancipadora está minando a visão de futuro pelo qual devemos lutar. Mas a interseção da história e do futuro é a essência da política e do governo em sua melhor acepção. E hoje, um grande número de pessoas, alimentadas por uma dieta consistente de más notícias, filmes de catástrofes e cenários de pesadelo, aparentemente pressupõem a destruição gradativa da sociedade.
Acreditando piamente que as catástrofes econômicas, sociais e políticas não aumentaram, mas que são veiculadas com maior rapidez e riqueza de detalhes e também acreditando no progresso das lutas sociais, antevejo uma transformação na maneira como vivemos, trabalhamos, divertimos e pensamos, pressuposto de um mundo sadio, desejável.
Daí a importância de se ampliar a socialização da cultura, reorganizando a a vida cotidiana através de uma ação política que alie conhecimento, reflexão, discussão e mudanças, utilizando para isto, por exemplo a pesquisa participante, que oferece à comunidade o conhecimento de si mesma e a discussão sobre os estilos de vida e valores existentes e os necessários para conquistarmos um nível superior de liberdade e realização humana em um futuro melhor, mais civil, mais decente e mais democrático.
Precisamos de pesquisas, conferências, concursos, enfim, eventos culturais que contribuam para a superação do individualismo, da falta de solidariedade e de consciência coletiva, após identificar a vontade e a consciência dos indivíduos sociais, desenvolvendo a personalidade moral com novos valores para a vida.
Uma nova civilizaçãoemerge e traz consigo novos estilos de famílias, de lazer, de vida. Surgem novos paradigmas para os setores econômicos e político e acima de tudo, uma consciência modificada.
A política cultural desejável emprega, discute e socializa um plano de pesquiza sobre os velhos e novos modelos de relações humanas, desvela e divulga as várias dimensões da vida social e desempenha a função de construtora de uma vontade coletiva hegemônica, além de eliminar a apropriação privada ou elitista do saber e da cultura.
Em nossa época, pela rapidez e pela intensidade das comunicações, pela integração das várias crenças, a política da cultura talvez tenha se tornado pela primeira vez possível, segundo escreve Norberto Bobbio, em Os Intelectuais e o Poder, onde estabelece relações entre a política e a cultura, colocando de forma apropriada a cultura na evolução da sociedade, já que, citando Umberto campagnolo, "a política separa, a cultura une".
Para Gramsci, a cultura é um meio privilegiado de despertar nos homens sua consciência universal. Apregoou que junto às batalhas econômicas e políticas, a batalha cultural proporcionaria a sociedade justa pela qual os libertários sonhavam. Gramsci lutou sempre pela difusão de cultura universal que promovesse a formação de uma vontade coletiva de transformação social, por não acreditar nas reformas impostas "do alto". Em Gramsci, a batalha cultural implica um movimento que recolha e sintetize os momentos mais elevados da cultura do passado, que una a profundidade intelectual do Renascimento com o caráter popular e de massa da reforma.
Uma nova visão de política cultural se faz necessária e urgente. Com premissas que ampliem as condições de conhecimento intelectual, de expressão, associação, opção, participação e interferência do homem no mundo, estimulando assim suas aptidões e contribuindo de maneira sempre mais eficiente para o progresso e o bem estar da sociedade.
Mesmo não sendo uma estudiosa da antropologia, dedico-me às leituras que enfocam a questão da cultura enquanto elemento integrante e integrador das sociedades.
E é a partir daí que venho percebendo uma significativa omissão conceitual no pensamento dos que lidam e se referem à política cultural, pois esta tem sido reduzida às expressões artísticas.
É fato que a arte interfere no comportamento humano e que a Secretaria Municipal de Cultura tem promovido eventos que refletem a riqueza artística da nossa cidade.
Porém, a cultura deve, ao meu ver, receber análises que abrajam com mais rigor o seu território, promovendo além das artes plásticas e cênicas, da musicalidade e da literatura, as idéias, crenças, valores, normas, atitudes, padrões de conduta e abstrações que nos conduzam à um desenvolvimento qualitativo de nossa existência, em um mundo "sem fronteiras".
De que modo conseguir tamanha façanha?
Ora, como não faz parte das ciências exatas, a promoção cultural não exibe regras, o que dificulta o seu desenvolvimento. E como uma política cultural é uma política de longo prazo acaba sempre entrecruzada por elementos circunstanciais, perdendo a sequência e esbarrando em interesses ideológicos e eleitorais.
A lacuna entre as mudanças objetivas do mundo em geral e a estagnação da política emancipadora está minando a visão de futuro pelo qual devemos lutar. Mas a interseção da história e do futuro é a essência da política e do governo em sua melhor acepção. E hoje, um grande número de pessoas, alimentadas por uma dieta consistente de más notícias, filmes de catástrofes e cenários de pesadelo, aparentemente pressupõem a destruição gradativa da sociedade.
Acreditando piamente que as catástrofes econômicas, sociais e políticas não aumentaram, mas que são veiculadas com maior rapidez e riqueza de detalhes e também acreditando no progresso das lutas sociais, antevejo uma transformação na maneira como vivemos, trabalhamos, divertimos e pensamos, pressuposto de um mundo sadio, desejável.
Daí a importância de se ampliar a socialização da cultura, reorganizando a a vida cotidiana através de uma ação política que alie conhecimento, reflexão, discussão e mudanças, utilizando para isto, por exemplo a pesquisa participante, que oferece à comunidade o conhecimento de si mesma e a discussão sobre os estilos de vida e valores existentes e os necessários para conquistarmos um nível superior de liberdade e realização humana em um futuro melhor, mais civil, mais decente e mais democrático.
Precisamos de pesquisas, conferências, concursos, enfim, eventos culturais que contribuam para a superação do individualismo, da falta de solidariedade e de consciência coletiva, após identificar a vontade e a consciência dos indivíduos sociais, desenvolvendo a personalidade moral com novos valores para a vida.
Uma nova civilizaçãoemerge e traz consigo novos estilos de famílias, de lazer, de vida. Surgem novos paradigmas para os setores econômicos e político e acima de tudo, uma consciência modificada.
A política cultural desejável emprega, discute e socializa um plano de pesquiza sobre os velhos e novos modelos de relações humanas, desvela e divulga as várias dimensões da vida social e desempenha a função de construtora de uma vontade coletiva hegemônica, além de eliminar a apropriação privada ou elitista do saber e da cultura.
Em nossa época, pela rapidez e pela intensidade das comunicações, pela integração das várias crenças, a política da cultura talvez tenha se tornado pela primeira vez possível, segundo escreve Norberto Bobbio, em Os Intelectuais e o Poder, onde estabelece relações entre a política e a cultura, colocando de forma apropriada a cultura na evolução da sociedade, já que, citando Umberto campagnolo, "a política separa, a cultura une".
Para Gramsci, a cultura é um meio privilegiado de despertar nos homens sua consciência universal. Apregoou que junto às batalhas econômicas e políticas, a batalha cultural proporcionaria a sociedade justa pela qual os libertários sonhavam. Gramsci lutou sempre pela difusão de cultura universal que promovesse a formação de uma vontade coletiva de transformação social, por não acreditar nas reformas impostas "do alto". Em Gramsci, a batalha cultural implica um movimento que recolha e sintetize os momentos mais elevados da cultura do passado, que una a profundidade intelectual do Renascimento com o caráter popular e de massa da reforma.
Uma nova visão de política cultural se faz necessária e urgente. Com premissas que ampliem as condições de conhecimento intelectual, de expressão, associação, opção, participação e interferência do homem no mundo, estimulando assim suas aptidões e contribuindo de maneira sempre mais eficiente para o progresso e o bem estar da sociedade.
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