*Publicado no Jornal Diário da Manhã em 27.06.08
“Do Oriente a luz, do Ocidente, a lei.” Provérbio Latino
Fascina-me o conhecimento milenar das culturas orientais, que ao longo dos séculos preservam em suas tradições, a busca do auto-conhecimento e da auto-realização, em nome da fé e da consciência de Deus.
Lá, onde o sol nasce, no Oriente, os valores e a existência se revelam mesmo opostos aos nossos, de cá, do Ocidente.
Nosso Brasil, forjado na intenção mercantilista da expansão européia, produtivista, colonizadora e exploradora, possui hoje, como herança deste modelo de ocupação, além da concentração de renda, uma diversidade cultural que nos enriquece. Apesar da pouca história que temos, em termos de tempo de existência, somos um país que busca garantir a pluralidade, os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável.
Isto nos remete pensar, neste momento de questionamentos acerca de problemas ambientais, econômicos e sociais, que o mundo é uma construção humana e que devemos, cada vez mais, participar, conhecer, modificar e adequá-lo às nossas necessidades, reafirmando valores e buscando novos valores, conhecimentos e atitudes que realmente favoreçam a vida, garantindo maior satisfação humana, com segurança e responsabilidade política e econômica.
Algumas riquezas dos conhecimentos milenares parcamente divulgados em nosso mundo ocidental, que prima pelo ter, pelo fazer e pela aparência, precisam ser considerados neste nosso mundo. Não considerando os grupos radicais extremistas, podemos dizer que os povos do Oriente primam pela contemplação, pela resignação, pelo ser, pela essência, pela espiritualidade. Sem os costumes e as leis machistas, as torpezas e a luxúria de muitos dos antigos impérios, a auto-flagelação e os sacrifícios vãos, muito da cultura oriental é interessante e proveitoso, falando de modo ocidental.
Não podemos falar em desenvolvimento do Brasil sem lembrarmos as contribuições dos povos orientais, principalmente com a vinda dos japoneses.
Em comemoração à chegada do povo japonês no Brasil há cem anos, em 18 de junho de 1908, quando o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos, com 781 japoneses em busca de liberdade, de trabalho e de dignidade, abduzidos para substituírem os escravos no trabalho dos cafezais, não falarei das terríveis condições por ele enfrentadas.
Ressalto aqui a importância desta cultura, sua filosofia, ciência, sabedoria e riqueza, expressas, por exemplo, na poderosa medicina milenar alternativa, na saborosa culinária, na informática, na tecnologia de ponta, nas conquistas sociais. Há muito o nosso país se rendeu aos bonsais, às artes marciais, à cerâmica, à arquitetura, ao artesanato, aos sons, à leveza das danças, aos origamis, às vestimentas, aos sushis, sashimis, ao yakisoba e outras tantas maravilhas do povo japonês. Como não nos encantar nem reconhecer os poderes do cultivo de exercícios mentais, espirituais e corporais definidos na busca da disciplina, da persistência, do equilíbrio, da perfeição, da harmonia, da determinação, do perdão, do sentimento de gratidão?
O Príncipe herdeiro do Japão, Naruhito, está no Brasil desde o dia 17 último, nas comemorações do centenário da migração japonesa para o nosso país. Com direito a quebra de protocolo para cumprimentos, Naruhito participou de uma cerimônia oficial no Congresso Nacional, junto ao Presidente Lula, dando início a uma série de visitas
Em Goiânia, a comemoração não passa despercebida. Em seu 13º ano, a Associação Nipo-Brasileira de Goiás realiza a mostra desta cultura com bazar, oficinas, exposições, performances, concurso de artes e claro, muita gastronomia japonesa, no kaikan.
Que possamos, à luz dos conhecimentos orientais, oferecer mais ao nosso crescimento interno, espiritual e intelectual; mais à contemplação do que ao ativismo exacerbado e às vezes, inócuo. Que possamos afirmar princípios e valores universais democraticamente, desenhando uma nova ideologia, construtora de um país realmente justo, fraterno e soberano e de uma cidadania viva, consciente, através da promoção de momentos e espaços para socialização e discussão das diversas culturas do mundo.
São legados, histórias e experiências de uma humanidade da qual precisamos nos apropriar, refletir, discutir, repassar e recriar, para a construção de um futuro melhor.
A sabedoria milenar oriental é sem dúvida, substancial ao crescimento de qualquer indivíduo ou povo que busque a paz, a temperança, a qualidade de vida e a vida em abundância.
Obrigada ao povo japonês, pelo exemplo de trabalho, perseverança, força e dignidade. Parabéns pelas lutas e conquistas pelo bem, aqui e alhures!
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