*Artigo publicado no jornal Diário da Manhã, em 19.12.10
“... É mais fácil cultivar os mortos que os vivos,
Mais fácil viver de sombras que de sóis...”
Zeca Baleiro
Já pensei muito sobre a vida, sobre o mundo. Já quis muito viver e já vivi sem querer.
Pensei a morte, tive medo, a desejei, já cuidei dela, já sofri por causa dela. Já a evitei e também cheguei perto, acho.
Já percebi que não importa quão bem eu esteja, quase sempre as coisas ao meu redor estão conflitantes. Aprendi a dar valor às coisas, pois entendi que o fenômeno é a manifestação da essência, com a Fenomenologia.
Entendo que não sou este corpo perecível, “saco de excremento”, como dizem os devotos Hare Krsna. Sei pouco de mim, mas procuro me conhecer e gosto de ter conhecimento sobre meus antepassados.
“Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos...”
Entendo também que o corpo é a casa da alma.
E já não quero entender tudo.
Tento, no máximo, entender o concreto que vivencio, porém meu gosto pelo etéreo, com o que se me revela essência, é inevitável.
Ah, as contradições. Vida e morte, corpo e alma, essência e aparência (fenômeno). Temas que me interessam.
Na morte, tanto como na vida, precisamos de dignidade. E não temos.
E é sempre “tão estranho, os bons morrem antes...”, como disse o Renato Russo.
Acompanhei a preparação do corpo de uma pessoa amiga, desde sua retirada da capela do hospital até sua chegada para o velório, em cidade a cerca de 6 horas de Goiânia.
Ajudei no embalsamamento, pegando materiais, cantando, rezando, lavando, penteando, colocando flores enfim, participei ativamente e ouvi do moço da funerária (ex-açougueiro), um obrigado e o comentário de que “podia ter sempre uma ajuda assim...”.
Pude ver transformações na face dela, até serenar, e também nas energias, durante todo o ritual, até o sepultamento.
Já tinha ajudado na preparação do corpo de vovó, mas neste, não houve embalsamamento. Lembro-me da chuvinha rala, com sol, quando cheguei em meu apartamento e olhei rumo ao Jardim das Palmeiras. Depois, escutei O Vento no Litoral, do Legião Urbana.
Penso que as funerárias têm que ter toalhas decentes. Sabonetes, buchas, tudo decente. Chegou lá, como disse o preparador (ex-açougueiro), é tudo igual. Tem que ser mesmo, mas com decência prá todos, não digo luxo.
Não sei se a morte é o fim, mas nesta vida ainda quero ver a valorização deste momento, no sentido da espiritualidade, em contraposição ao horror de alguns.
Como nas passagens bíblicas ou nas sociedades orientais, gostaria de ver nossos corpos sendo encaminhados à eternidade, cremados ou de volta prá terra, após uns banhos e óleos, além das orações de ritos duros, inflexíveis... Sei lá.
Em torno da morte tem ainda mais comércio do que da vida. E ainda mais negligências. Com o agravante de que o cliente não pode reclamar, ou não consegue...
De 1985 para cá, já recebi vários recadinhos em mensagens psicografadas, endereçadas a minha mãe.
Não penso muito, nem trabalho voltada para a vida além da morte, mas respeito e muito este trabalho espiritual, que considero valoroso e valioso.
Fui dia destes, a um centro kardecista, em busca de missiva pra mamãe, que está impossibilitada de se fazer presente; em nome da saudade, aproveitei e pedi mensagens também, mas em vão. Recebi emocionadíssima, a mensagem prá mamãe, com a breve menção carinhosa à minha pessoa.
Mas tudo bem. Depois de ter feito o silêncio necessário, de ter lido salmos da bíblia que carrego na bolsa, ouvido músicas lindas, lido um pouco do Nietsche que meu amigo Júnior me deu e ouvido algumas reflexões acerca do Evangelho, em companhia de minha filhinha, reencontrei algumas amigas de mamãe. Todas muito queridas, e foi ótimo nosso papo de mulheres vivinhas, de se ver.
Uma beleza.
Ao voltar a minha casa estava irradiante.
"Não há mudança sem sonho, como não há sonho sem esperança. Não há utopia verdadeira fora da tensão entre a denúncia de um presente e o anúncio de um futuro à ser criado, construído, política, ética e esteticamente, por todos nós. " Paulo Freire
domingo, 19 de dezembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Qual é a Educação, mesmo, imprescindível?
*Artigo publicado no jornal Diário da Manhã, em 29.11.10
“Toda a educação varia sempre
em função de uma concepção de vida,
refletindo, em cada época,
a filosofia predominante que é determinada,
a seu turno,
pela estrutura da sociedade.”
(Manifesto dos Pioneiros, 1932)
Saio do primitivismo das cavernas, da educação passada às gerações através da cultura, da linguagem oral, da escrita, dos desenhos e entendendo-a enquanto processo permanente e vital da humanidade, constante todo o tempo e em todos os espaços e foco meu olhar nos anos que antecederam o “milagre brasileiro”, na época do golpe militar e na década de setenta – anos em que a presidenta Dilma Roussef atuava politicamente contra a ditadura militar, pela liberdade no Brasil. Anos também, do exílio de vários intelectuais brasileiros, como Paulo Freire, principal responsável pela reforma educacional do governo João Goulart, que antecedeu o golpe militar.
Penso Gramsci, que disse que “a educação predominante sempre foi a educação do poder dominante”.
Saliente-se, que atualmente o Brasil é representado por uma mulher eleita Presidenta, dita guerrilheira, ungida e indicada pelo partido do maior líder sindicalista do mundo, o Partido dos Trabalhadores, para a presidência da República brasileira.
O modelo educacional que se pretende desvelar nesta nova perspectiva passa por Paulo Freire, pela educação integral, mas não necessariamente pela escola integral – interessante para o século passado, a sociedade industrial.
A política desenvolvimentista brasileira, aliada a cultura ocidental pragmática e reproduzida a partir de uma história eivada pela concentração de renda e a exploração, em nome do acúmulo de capital, está em colapso, graças a Deus.
Já é tempo de a Educação ser compreendida enquanto sistema para o desenvolvimento humano, fonte de conhecimento, libertária, e não como mecanismo de inculcação, como retórica populista ou instrumento para formação de mão de obra ‘qualificada’.
Não precisamos mais formar uma “massa de trabalhadores apta” às condições e necessidades do mercado. O Estado cria determinado tipo de civilização, e o Estado atual não tem que criar trabalhadores úteis ao mercado, e sim um mercado e um Estado capazes de servir à cidadania, aos cidadãos, trabalhadores dignos de felicidade.
O Estado precisa ampliar o acesso aos bens sociais, à riqueza coletiva.
As famílias da classe trabalhadora agora precisam ter seus direitos básicos garantidos. Pensar que o estudo, o lazer, o esporte, o turismo também dignificam o homem... Abandonar a moral escrava.
É preciso elucidar a teoria da esquerda brasileira. Lembrando Herbert de Souza, “o que nos falta é a capacidade de transformar em proposta aquilo que ilumina nossa inteligência e mobiliza nossos corações: a construção de um novo mundo”.
A escola pública formal não está alfabetizando bem, não fomenta o desenvolvimento do senso crítico e não é atrativa ao alunado brasileiro. Não desenvolve laços de respeito, confiança, fraternidade. Não está ligada a produção nem ao consumo de conhecimento. A educação brasileira está voltada para a aprendizagem e não para o conhecimento.
Precisamos sim, de equipamentos sociais comunitários que ofereçam opções de atividades no campo do desenvolvimento das artes, da cultura, dos esportes, do lazer... Para uma educação integral, socializadora. Mas não penso que o esquema de escola integral tenha o peso que se quer dar, no momento, embora esta possa ser uma opção.
Bom é que qualquer membro da família tenha acesso, nas comunidades, a futebol ou artes ou tênis ou xadrez ou alemão ou oficinas e cursos sócio-educativos... Em determinado dia da semana e horário... Conforme a oferta planejada democraticamente, e o seu próprio interesse.
“Toda a educação varia sempre
em função de uma concepção de vida,
refletindo, em cada época,
a filosofia predominante que é determinada,
a seu turno,
pela estrutura da sociedade.”
(Manifesto dos Pioneiros, 1932)
Saio do primitivismo das cavernas, da educação passada às gerações através da cultura, da linguagem oral, da escrita, dos desenhos e entendendo-a enquanto processo permanente e vital da humanidade, constante todo o tempo e em todos os espaços e foco meu olhar nos anos que antecederam o “milagre brasileiro”, na época do golpe militar e na década de setenta – anos em que a presidenta Dilma Roussef atuava politicamente contra a ditadura militar, pela liberdade no Brasil. Anos também, do exílio de vários intelectuais brasileiros, como Paulo Freire, principal responsável pela reforma educacional do governo João Goulart, que antecedeu o golpe militar.
Penso Gramsci, que disse que “a educação predominante sempre foi a educação do poder dominante”.
Saliente-se, que atualmente o Brasil é representado por uma mulher eleita Presidenta, dita guerrilheira, ungida e indicada pelo partido do maior líder sindicalista do mundo, o Partido dos Trabalhadores, para a presidência da República brasileira.
O modelo educacional que se pretende desvelar nesta nova perspectiva passa por Paulo Freire, pela educação integral, mas não necessariamente pela escola integral – interessante para o século passado, a sociedade industrial.
A política desenvolvimentista brasileira, aliada a cultura ocidental pragmática e reproduzida a partir de uma história eivada pela concentração de renda e a exploração, em nome do acúmulo de capital, está em colapso, graças a Deus.
Já é tempo de a Educação ser compreendida enquanto sistema para o desenvolvimento humano, fonte de conhecimento, libertária, e não como mecanismo de inculcação, como retórica populista ou instrumento para formação de mão de obra ‘qualificada’.
Não precisamos mais formar uma “massa de trabalhadores apta” às condições e necessidades do mercado. O Estado cria determinado tipo de civilização, e o Estado atual não tem que criar trabalhadores úteis ao mercado, e sim um mercado e um Estado capazes de servir à cidadania, aos cidadãos, trabalhadores dignos de felicidade.
O Estado precisa ampliar o acesso aos bens sociais, à riqueza coletiva.
As famílias da classe trabalhadora agora precisam ter seus direitos básicos garantidos. Pensar que o estudo, o lazer, o esporte, o turismo também dignificam o homem... Abandonar a moral escrava.
É preciso elucidar a teoria da esquerda brasileira. Lembrando Herbert de Souza, “o que nos falta é a capacidade de transformar em proposta aquilo que ilumina nossa inteligência e mobiliza nossos corações: a construção de um novo mundo”.
A escola pública formal não está alfabetizando bem, não fomenta o desenvolvimento do senso crítico e não é atrativa ao alunado brasileiro. Não desenvolve laços de respeito, confiança, fraternidade. Não está ligada a produção nem ao consumo de conhecimento. A educação brasileira está voltada para a aprendizagem e não para o conhecimento.
Precisamos sim, de equipamentos sociais comunitários que ofereçam opções de atividades no campo do desenvolvimento das artes, da cultura, dos esportes, do lazer... Para uma educação integral, socializadora. Mas não penso que o esquema de escola integral tenha o peso que se quer dar, no momento, embora esta possa ser uma opção.
Bom é que qualquer membro da família tenha acesso, nas comunidades, a futebol ou artes ou tênis ou xadrez ou alemão ou oficinas e cursos sócio-educativos... Em determinado dia da semana e horário... Conforme a oferta planejada democraticamente, e o seu próprio interesse.
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sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Lamentável?
*Publicado no jornal Diário da Manhã, em 12.11.10
Como admitir que imagens autorizadas não sejam suficientes para denúncia, quando a situação foi investigada por quase um mês e delatada por pessoas tão materializadas quanto às crianças submetidas aos maus tratos e torturas pela proprietária e orientadora pedagógica da escolinha/berçário que formava bebês infelizmente, com a antiga “pedagogia de Auschwitz”.
Ora, além de detenção imediata para averiguações mais minuciosas, a Justiça deveria ter startado imediatamente – para o que ainda há tempo, alguns questionamentos a luz do Estatuto de Crianças e Adolescentes, de modo a garantirmos efetivamente a primazia e a precedência na proteção e no atendimento dos direitos de crianças e adolescentes.
Este estatuto, o ECA, precisa ser conhecido pela sociedade, que é co responsável pelos direitos e pela proteção de crianças e adolescentes neste nosso Brasil varonil.
Basta ler seu Art. 4º, que diz: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.
Desde que se tornou Lei, fala-se no aperfeiçoamento do ECA.
Sequer, o ECA é respeitado, considerado, na prática diária de alguns trabalhadores que lidam com crianças e adolescentes. E muitos também não o conhecem.
Penso que o ECA deve ser trabalhado com crianças a partir dos sete anos, e, por conseguinte com seus familiares, através da escola formal e demais aparelhos sociais comunitários que desenvolvem atividades com famílias, crianças e adolescentes. Toda família deve receber um, junto com a caderneta de vacinação da criança.
A família, a comunidade, a sociedade em geral e o poder público devem cobrar, o respeito ao ECA, e em caso de desrespeito, a aplicação e o cumprimento da pena prevista, claro.
O vexame e/ou constrangimento de crianças e adolescentes, por exemplo, rende pena de detenção de 6 meses a 2 anos, a qualquer pessoa detentora de autoridade, guarda ou vigilância destas, de acordo com o artigo 232 do ECA.
Causou-me espanto a atitude do magistrado neste caso do Berçário Bebê Feliz, diante da regularidade processual. O alarde na imprensa, que foi acionada antes da prisão. O descaso com o material de prova dos fatos.
Mas muito mais me espanta, a omissão e a negligência dos conselhos de direitos de crianças e adolescentes. Das instâncias responsáveis, da Educação municipal.
Espanta-me a ineficiência no acompanhamento e na fiscalização das instituições e empresas ligadas à vida de crianças e adolescentes em nossa capital, em nosso Estado, em nosso país.
Repugna-me a idéia da política voltada para os “pobres” e não para a dignidade humana. A idéia da religiosidade e da benevolência presentes nas políticas públicas de direito, que devem ser fundamentadas cientificamente e desenvolvidas tecnicamente.
Impressiona-me o número de reincidentes nos tratamentos por dependência química e nos atos infracionais. A precariedade na aplicação das medidas, que não recuperam.
Também, a barbárie crescente, a bestialização da vida.
Indigna-me a nossa falta de tempo, para criarmos nossos filhos. Para discutirmos o sentido de nossas vidas, nossas opções, limites, possibilidades, crenças, objetivos, caminhos. Para conhecermos melhor nosso próximo. O nosso conformismo e também o barulho inócuo das turbas.
A cada dia tenho mais certeza de que não temos que ter filhos para o Estado criar. De que o Estado não está a parte de nós. Tenho mais certeza de que temos que ter menor jornada de trabalho. E mais planejamento familiar.
Penso que talvez, a proprietária do berçário Bebê Feliz, Maria do Carmo Serrano, 62 anos, acreditasse que tinha o direito de agir como agia. Que estava educando. Claro que não é normal. A política pedagógica dela é malvada. Mas esta política é mais comum do que se pode imaginar. Como terá sido a política em que ela foi educada? Ela criou filhos?
Como admitir que imagens autorizadas não sejam suficientes para denúncia, quando a situação foi investigada por quase um mês e delatada por pessoas tão materializadas quanto às crianças submetidas aos maus tratos e torturas pela proprietária e orientadora pedagógica da escolinha/berçário que formava bebês infelizmente, com a antiga “pedagogia de Auschwitz”.
Ora, além de detenção imediata para averiguações mais minuciosas, a Justiça deveria ter startado imediatamente – para o que ainda há tempo, alguns questionamentos a luz do Estatuto de Crianças e Adolescentes, de modo a garantirmos efetivamente a primazia e a precedência na proteção e no atendimento dos direitos de crianças e adolescentes.
Este estatuto, o ECA, precisa ser conhecido pela sociedade, que é co responsável pelos direitos e pela proteção de crianças e adolescentes neste nosso Brasil varonil.
Basta ler seu Art. 4º, que diz: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.
Desde que se tornou Lei, fala-se no aperfeiçoamento do ECA.
Sequer, o ECA é respeitado, considerado, na prática diária de alguns trabalhadores que lidam com crianças e adolescentes. E muitos também não o conhecem.
Penso que o ECA deve ser trabalhado com crianças a partir dos sete anos, e, por conseguinte com seus familiares, através da escola formal e demais aparelhos sociais comunitários que desenvolvem atividades com famílias, crianças e adolescentes. Toda família deve receber um, junto com a caderneta de vacinação da criança.
A família, a comunidade, a sociedade em geral e o poder público devem cobrar, o respeito ao ECA, e em caso de desrespeito, a aplicação e o cumprimento da pena prevista, claro.
O vexame e/ou constrangimento de crianças e adolescentes, por exemplo, rende pena de detenção de 6 meses a 2 anos, a qualquer pessoa detentora de autoridade, guarda ou vigilância destas, de acordo com o artigo 232 do ECA.
Causou-me espanto a atitude do magistrado neste caso do Berçário Bebê Feliz, diante da regularidade processual. O alarde na imprensa, que foi acionada antes da prisão. O descaso com o material de prova dos fatos.
Mas muito mais me espanta, a omissão e a negligência dos conselhos de direitos de crianças e adolescentes. Das instâncias responsáveis, da Educação municipal.
Espanta-me a ineficiência no acompanhamento e na fiscalização das instituições e empresas ligadas à vida de crianças e adolescentes em nossa capital, em nosso Estado, em nosso país.
Repugna-me a idéia da política voltada para os “pobres” e não para a dignidade humana. A idéia da religiosidade e da benevolência presentes nas políticas públicas de direito, que devem ser fundamentadas cientificamente e desenvolvidas tecnicamente.
Impressiona-me o número de reincidentes nos tratamentos por dependência química e nos atos infracionais. A precariedade na aplicação das medidas, que não recuperam.
Também, a barbárie crescente, a bestialização da vida.
Indigna-me a nossa falta de tempo, para criarmos nossos filhos. Para discutirmos o sentido de nossas vidas, nossas opções, limites, possibilidades, crenças, objetivos, caminhos. Para conhecermos melhor nosso próximo. O nosso conformismo e também o barulho inócuo das turbas.
A cada dia tenho mais certeza de que não temos que ter filhos para o Estado criar. De que o Estado não está a parte de nós. Tenho mais certeza de que temos que ter menor jornada de trabalho. E mais planejamento familiar.
Penso que talvez, a proprietária do berçário Bebê Feliz, Maria do Carmo Serrano, 62 anos, acreditasse que tinha o direito de agir como agia. Que estava educando. Claro que não é normal. A política pedagógica dela é malvada. Mas esta política é mais comum do que se pode imaginar. Como terá sido a política em que ela foi educada? Ela criou filhos?
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quinta-feira, 4 de novembro de 2010
O aborto, o estupro, o Estado, a política e a politicalha
*Artigo original publicado no jornal DM em 01.11.10
Cheguei a pensar que minha candidata ao Governo Federal deste segundo turno das eleições no Brasil, teria competência para avançar nas discussões apresentadas e trazer novos temas à pauta.
Ledo engano. Que pena!
Para quem pensa que aborto não é tema político, digo que penso que é.
E digo que até cogitei votar em Serra, para oxigenar o governo. Mas ele foi muito leviano, jogando este tema sem querer discutir e pior, sendo hipócrita, pois sua esposa fez aborto. Hipócrita, não por ela ter feito, mas por terem mascarado... Ela podia ter falado em sua experiência, aí sim, mas não – eles condenaram, para provocar saia justa em Dilma, apenas... Serra trouxe a bestialização da campanha.
Dilma me convenceu que é melhor do que Serra. Pelos movimentos sociais, pelo governo popular e democrático, votei em Dilma, agora. Antes, votei em Marina Silva.
E repeti meu voto em Marconi Perillo.
Penso que serão estadistas o suficiente para colocarem o Estado acima de suas siglas partidárias, no decorrer de seus mandatos. Deste modo, equilibramos os poderes. Nada estará dominado por um, nem por outro, penso.
Mas, voltando ao tema, perdemos a oportunidade de iniciarmos uma discussão fundamental, de acordo com Freud, para a nossa felicidade, enquanto humanidade: a nossa sexualidade.
Ainda que o tempo tenha sido pouco, poderíamos ter falado juntamente ao tema Aborto, dos inúmeros e até dos ignorados estupros que sabemos que existem, em nosso país. Da violência doméstica. Dos inúmeros casos de gravidez precoce (12,14,15 anos). Da precocidade da iniciação sexual de nossa moçada (ou não?!).
Ora, se nossa sociedade joga feto/bebê vivo no lixo, ou se mata antes de jogar... Isto não é problema de foro íntimo, apenas.
Se nossos homens (moços, até) se comportam como bestas, como animais rupestres, e estupram, violentam, desacolhem suas crias (mesmo que sejam frutos de relação “extemporânea”...), isto é uma questão de saúde mental, cultural e de educação e de segurança... É sim, uma questão de Estado.
Ora, se mulher não quer filho, se preserve, existem vários meios. Não tem que jogar fora – de uma vez por todas, é o que penso. Nossa sociedade precisa entender a lei da ação e da reação.
Nossa sociedade precisa parar de educar e de viver para satisfazer o mercado. Precisa pensar a vida que vive e a vida que quer.
O Estado precisa parar de governar para o mercado. Desenvolver políticas educacionais para além da escola formal, utilizando-se para isto, da Assistência Social, por exemplo, que deve fazer mais do que oferecer bolsas de auxílio. Precisa de uma Educação que alcance crianças e jovens e adultos, para uma sociedade que avance em sentido contrário a barbárie.
O mercado está aí oferecendo a volúpia, seja através de imagens e de produtos, seja através da normatização velada e/ou escancarada, de comportamentos... Oferecendo festas open bar com álcool à vontade, e as drogas vêm juntas... Tudo está interligado.
Como mãe, prefiro aqui nem comentar os conflitos que tenho, diante da falta de sintonia que enfrento com o mundo e com as minhas “crianças”, quando não os autorizo, por terem 15,13 e 11 anos, a irem às festas, aos shows e bares de adultos. Com meu filho de 24 anos, meu problema esteve nas lan houses... Superamos.
Prá mal dos pecados, o governo e a sociedade agem como se o ECA fosse só para a classe “menos favorecida”.
Se para jovens pobres temos uma política pública ineficiente, para a juventude de classe média e alta, a política é zero e isto está errado!
Uma sexualidade sadia e prazerosa é preciso. Hipocrisia e omissão, não é preciso!
Cheguei a pensar que minha candidata ao Governo Federal deste segundo turno das eleições no Brasil, teria competência para avançar nas discussões apresentadas e trazer novos temas à pauta.
Ledo engano. Que pena!
Para quem pensa que aborto não é tema político, digo que penso que é.
E digo que até cogitei votar em Serra, para oxigenar o governo. Mas ele foi muito leviano, jogando este tema sem querer discutir e pior, sendo hipócrita, pois sua esposa fez aborto. Hipócrita, não por ela ter feito, mas por terem mascarado... Ela podia ter falado em sua experiência, aí sim, mas não – eles condenaram, para provocar saia justa em Dilma, apenas... Serra trouxe a bestialização da campanha.
Dilma me convenceu que é melhor do que Serra. Pelos movimentos sociais, pelo governo popular e democrático, votei em Dilma, agora. Antes, votei em Marina Silva.
E repeti meu voto em Marconi Perillo.
Penso que serão estadistas o suficiente para colocarem o Estado acima de suas siglas partidárias, no decorrer de seus mandatos. Deste modo, equilibramos os poderes. Nada estará dominado por um, nem por outro, penso.
Mas, voltando ao tema, perdemos a oportunidade de iniciarmos uma discussão fundamental, de acordo com Freud, para a nossa felicidade, enquanto humanidade: a nossa sexualidade.
Ainda que o tempo tenha sido pouco, poderíamos ter falado juntamente ao tema Aborto, dos inúmeros e até dos ignorados estupros que sabemos que existem, em nosso país. Da violência doméstica. Dos inúmeros casos de gravidez precoce (12,14,15 anos). Da precocidade da iniciação sexual de nossa moçada (ou não?!).
Ora, se nossa sociedade joga feto/bebê vivo no lixo, ou se mata antes de jogar... Isto não é problema de foro íntimo, apenas.
Se nossos homens (moços, até) se comportam como bestas, como animais rupestres, e estupram, violentam, desacolhem suas crias (mesmo que sejam frutos de relação “extemporânea”...), isto é uma questão de saúde mental, cultural e de educação e de segurança... É sim, uma questão de Estado.
Ora, se mulher não quer filho, se preserve, existem vários meios. Não tem que jogar fora – de uma vez por todas, é o que penso. Nossa sociedade precisa entender a lei da ação e da reação.
Nossa sociedade precisa parar de educar e de viver para satisfazer o mercado. Precisa pensar a vida que vive e a vida que quer.
O Estado precisa parar de governar para o mercado. Desenvolver políticas educacionais para além da escola formal, utilizando-se para isto, da Assistência Social, por exemplo, que deve fazer mais do que oferecer bolsas de auxílio. Precisa de uma Educação que alcance crianças e jovens e adultos, para uma sociedade que avance em sentido contrário a barbárie.
O mercado está aí oferecendo a volúpia, seja através de imagens e de produtos, seja através da normatização velada e/ou escancarada, de comportamentos... Oferecendo festas open bar com álcool à vontade, e as drogas vêm juntas... Tudo está interligado.
Como mãe, prefiro aqui nem comentar os conflitos que tenho, diante da falta de sintonia que enfrento com o mundo e com as minhas “crianças”, quando não os autorizo, por terem 15,13 e 11 anos, a irem às festas, aos shows e bares de adultos. Com meu filho de 24 anos, meu problema esteve nas lan houses... Superamos.
Prá mal dos pecados, o governo e a sociedade agem como se o ECA fosse só para a classe “menos favorecida”.
Se para jovens pobres temos uma política pública ineficiente, para a juventude de classe média e alta, a política é zero e isto está errado!
Uma sexualidade sadia e prazerosa é preciso. Hipocrisia e omissão, não é preciso!
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segunda-feira, 11 de outubro de 2010
O Plano de Íris Rezende e a Assistência Social
* Publicado no jornal Diário da Manhã, em 11.10.10
Diante do desejo de contribuir com o processo eleitoral e após a publicação de breve avaliação do plano do outro candidato ao governo com maior expressão de votos, conforme as pesquisas eleitorais, atenho-me neste momento ao plano de governo do candidato Íris Rezende, para também, uma breve avaliação.
Tarefa complexa, pois não acredito em neutralidade científica e sinceramente, após ter conhecido Íris Rezende como gestor, fica complicado ler, em seu plano, críticas aos que tratam o “Planejamento como retórica, ficção, artifício”.
Foi impossível continuar a leitura, num primeiro momento, após ler no plano de Íris, duras críticas ao fim de estatais, tendo sido o PMDB responsável pela extinção do BEG, da CAIXEGO e a venda de Cachoeira Dourada.
O plano fala em propostas integradas e globalizantes, mas propõe trabalho para adolescentes egressos e em cumprimento de pena; para funcionários públicos, propõe “qualificação”, como se estes fossem desqualificados; fala em adequação do aparato administrativo às novas exigências impostas por um padrão de resultados, o que se torna administrativamente perigoso, pois às gestões de resultados, não importam os processos...
Este plano fala em 10 encontros regionais para discussões temáticas e amplo debate com o povo goiano, mas na prática, não houve a divulgação destas atividades pela imprensa, o que leva a crer que os mesmos não aconteceram.
A impressão que se tem é que este plano não é importante para a coligação, o que difere da prática costumeira do PT, que até então, tinha os planos de governo como estratégia e mobilização popular e administrativa.
Ponto para a visão de que Goiás não é um Estado-problema.
Trata temas fundamentais como a saúde, a educação, a infra-estrutura, no entanto, o tema da Assistência Social como foi colocado, causa-me certa descrença e torna esta leitura enfadonha, motivo pelo qual peço desculpas, pois isto limita minha capacidade de interpretação.
Devo dizer, inclusive, de meu assombro ao ouvir de importante figura petista, que as deliberações para a assistência social contidas no plano construído pelo PT e PMDB por ocasião da aliança para a Prefeitura de Goiânia, há dois anos, estão engavetadas; nada foi posto em prática. Sequer, eu imaginava que pudesse ter havido esta discussão, diante do que acontece na assistência social do município.
Ademais, o plano cita como proposta, os CRAS – Centro de Referência em Assistência Social, que já existem, pois são exigência do SUAS.
Em Goiânia, a gestão de Íris Rezende não valorizou os CRAS, que requerem mais que o maquiamento para os mutirões; requerem as adequações exigidas pelo MDS e que nunca saíram do papel, o que tem prejudicado sobremaneira o andamento do trabalho no município. Problemas com espaço físico, recursos pedagógicos/administrativos e relações de trabalho.
Este plano revela uma visão estigmatizante da população usuária da assistência social, de acordo com a LOAS que em seus princípios, fala na “supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica”, pois foca o trabalho “ à população excluída do município, especialmente em áreas com maior concentração da pobreza”.
Diante disto, paro por aqui.
Diante do desejo de contribuir com o processo eleitoral e após a publicação de breve avaliação do plano do outro candidato ao governo com maior expressão de votos, conforme as pesquisas eleitorais, atenho-me neste momento ao plano de governo do candidato Íris Rezende, para também, uma breve avaliação.
Tarefa complexa, pois não acredito em neutralidade científica e sinceramente, após ter conhecido Íris Rezende como gestor, fica complicado ler, em seu plano, críticas aos que tratam o “Planejamento como retórica, ficção, artifício”.
Foi impossível continuar a leitura, num primeiro momento, após ler no plano de Íris, duras críticas ao fim de estatais, tendo sido o PMDB responsável pela extinção do BEG, da CAIXEGO e a venda de Cachoeira Dourada.
O plano fala em propostas integradas e globalizantes, mas propõe trabalho para adolescentes egressos e em cumprimento de pena; para funcionários públicos, propõe “qualificação”, como se estes fossem desqualificados; fala em adequação do aparato administrativo às novas exigências impostas por um padrão de resultados, o que se torna administrativamente perigoso, pois às gestões de resultados, não importam os processos...
Este plano fala em 10 encontros regionais para discussões temáticas e amplo debate com o povo goiano, mas na prática, não houve a divulgação destas atividades pela imprensa, o que leva a crer que os mesmos não aconteceram.
A impressão que se tem é que este plano não é importante para a coligação, o que difere da prática costumeira do PT, que até então, tinha os planos de governo como estratégia e mobilização popular e administrativa.
Ponto para a visão de que Goiás não é um Estado-problema.
Trata temas fundamentais como a saúde, a educação, a infra-estrutura, no entanto, o tema da Assistência Social como foi colocado, causa-me certa descrença e torna esta leitura enfadonha, motivo pelo qual peço desculpas, pois isto limita minha capacidade de interpretação.
Devo dizer, inclusive, de meu assombro ao ouvir de importante figura petista, que as deliberações para a assistência social contidas no plano construído pelo PT e PMDB por ocasião da aliança para a Prefeitura de Goiânia, há dois anos, estão engavetadas; nada foi posto em prática. Sequer, eu imaginava que pudesse ter havido esta discussão, diante do que acontece na assistência social do município.
Ademais, o plano cita como proposta, os CRAS – Centro de Referência em Assistência Social, que já existem, pois são exigência do SUAS.
Em Goiânia, a gestão de Íris Rezende não valorizou os CRAS, que requerem mais que o maquiamento para os mutirões; requerem as adequações exigidas pelo MDS e que nunca saíram do papel, o que tem prejudicado sobremaneira o andamento do trabalho no município. Problemas com espaço físico, recursos pedagógicos/administrativos e relações de trabalho.
Este plano revela uma visão estigmatizante da população usuária da assistência social, de acordo com a LOAS que em seus princípios, fala na “supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica”, pois foca o trabalho “ à população excluída do município, especialmente em áreas com maior concentração da pobreza”.
Diante disto, paro por aqui.
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sábado, 18 de setembro de 2010
A população de rua em Goiânia e a assistência social
* Publicado no jornal Diário da Manhã em 18.09.10
Se por um lado a Assistência não pode obrigar ninguém a “aceitar ajuda”, por outro, tem o papel e deve ter a competência para mostrar a quem está na rua, que tem algo melhor que a rua, para oferecer. Tem que ter competência para o convencimento através do diálogo, de uma relação honesta, pautada nos princípios da Assistência Social. Tem que ter mesmo, o que oferecer.
Como diz a profª Cida Skorupski, “ninguém, em sã consciência prefere a rua a uma caminha arrumada, limpa, um alimento quentinho, saboroso, uma casa aconchegante...”.
É preciso conhecer de confusão mental, de miséria, de sistema explorador, prá se ter competência em Assistência Social, que não faz tratamento psicológico, mas encaminha... Que não é filosofia/sociologia, mas se utiliza destas ciências, para compreender na totalidade, os fenômenos sociais.
A visão de trabalho social que permeava as extintas Cidadão 2000 e Casa Ser Cidadão (que trabalhavam as questões de crianças/adolescentes e adultos em situação de riscos socioeconômicos em Goiânia) sabia bem disso: de relações honestas, sem medo, com cuidados, mas horizontalizadas. Esta visão não escolhia usuário, não impedia de entrar nas casas de acolhida, pessoas que usam drogas (lícitas/ilícitas) ou que são agressivas ou que furtam. Estas eram o público-alvo. Sabia-se como lidar com elas.
Temos, na atualidade, profissionais que têm medo... Falta de perfil, de preparo e ainda, excesso da visão e de argumentos que fazem da Assistência Social solidariedade/caridade e que imprimem a esta política, um caráter “solidário e amoroso” que se diluem quando os resultados não revelam o almejado, quando o enfrentamento exige “abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos”, conforme exige o Código de Ética da profissão.
Na “Casa de Acolhida” de Goiânia moram “pessoas com feridas”, problemas de saúde, que “não têm para onde ir”... Não tenho dúvida de que este trabalho está equivocado.
No Natal de 2009 apareceu no jornal da TV, uma moça dizendo da maravilha que é ter onde ficar, dormir, comer e até agradecendo por ter conseguido lá, um novo marido... Mais de 200 pessoas ali, sem ter gastos...
Claro que Goiânia está muito atrativa para moradores de rua, por isto está cheia deles! O danado é que isto não traz dignidade e a PNAS orienta para o direito à convivência familiar e comunitária, tendo havido inclusive uma Audiência Pública neste sentido, no Auditório do Ministério Público em 08/12/09.
Não se reconhece a importância norteadora do Movimento Nacional de População de Rua e da Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua no desenvolvimento desta política
Enquanto a SEMAS pede “ajuda” à população, através de campanhas de doação, a devolução de verbas ali é constante, por falhas de planejamento e por falta de projetos.
Saliente-se aqui, que a política de doações (recebimento/redistribuição) da SEMAS é assunto para outro momento.
Não haverá sucesso nas políticas sociais goianas enquanto o poder público não se atentar para o fato de que as políticas sociais devem acontecer em conexão entre o social (histórico), o econômico e o ambiental, estabelecendo relações entre as particularidades dos problemas, que não começam e nem terminam em si.
É preciso uma atuação articulada, multiprofissional e intrasetorial, com outro olhar e agir, que sejam capazes de superar o assistencialismo e a ineficiência dos programas atuais no que diz respeito à construção da emancipação e da inserção social.
Agora, tento entender como a SEMAS diz que possui espaço para a demanda que ora se apresenta nas ruas da cidade, se já possui um contingente bastante robusto, ocupando as ‘vagas’ existentes para o atendimento que se presta, no município.
Se por um lado a Assistência não pode obrigar ninguém a “aceitar ajuda”, por outro, tem o papel e deve ter a competência para mostrar a quem está na rua, que tem algo melhor que a rua, para oferecer. Tem que ter competência para o convencimento através do diálogo, de uma relação honesta, pautada nos princípios da Assistência Social. Tem que ter mesmo, o que oferecer.
Como diz a profª Cida Skorupski, “ninguém, em sã consciência prefere a rua a uma caminha arrumada, limpa, um alimento quentinho, saboroso, uma casa aconchegante...”.
É preciso conhecer de confusão mental, de miséria, de sistema explorador, prá se ter competência em Assistência Social, que não faz tratamento psicológico, mas encaminha... Que não é filosofia/sociologia, mas se utiliza destas ciências, para compreender na totalidade, os fenômenos sociais.
A visão de trabalho social que permeava as extintas Cidadão 2000 e Casa Ser Cidadão (que trabalhavam as questões de crianças/adolescentes e adultos em situação de riscos socioeconômicos em Goiânia) sabia bem disso: de relações honestas, sem medo, com cuidados, mas horizontalizadas. Esta visão não escolhia usuário, não impedia de entrar nas casas de acolhida, pessoas que usam drogas (lícitas/ilícitas) ou que são agressivas ou que furtam. Estas eram o público-alvo. Sabia-se como lidar com elas.
Temos, na atualidade, profissionais que têm medo... Falta de perfil, de preparo e ainda, excesso da visão e de argumentos que fazem da Assistência Social solidariedade/caridade e que imprimem a esta política, um caráter “solidário e amoroso” que se diluem quando os resultados não revelam o almejado, quando o enfrentamento exige “abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos”, conforme exige o Código de Ética da profissão.
Na “Casa de Acolhida” de Goiânia moram “pessoas com feridas”, problemas de saúde, que “não têm para onde ir”... Não tenho dúvida de que este trabalho está equivocado.
No Natal de 2009 apareceu no jornal da TV, uma moça dizendo da maravilha que é ter onde ficar, dormir, comer e até agradecendo por ter conseguido lá, um novo marido... Mais de 200 pessoas ali, sem ter gastos...
Claro que Goiânia está muito atrativa para moradores de rua, por isto está cheia deles! O danado é que isto não traz dignidade e a PNAS orienta para o direito à convivência familiar e comunitária, tendo havido inclusive uma Audiência Pública neste sentido, no Auditório do Ministério Público em 08/12/09.
Não se reconhece a importância norteadora do Movimento Nacional de População de Rua e da Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua no desenvolvimento desta política
Enquanto a SEMAS pede “ajuda” à população, através de campanhas de doação, a devolução de verbas ali é constante, por falhas de planejamento e por falta de projetos.
Saliente-se aqui, que a política de doações (recebimento/redistribuição) da SEMAS é assunto para outro momento.
Não haverá sucesso nas políticas sociais goianas enquanto o poder público não se atentar para o fato de que as políticas sociais devem acontecer em conexão entre o social (histórico), o econômico e o ambiental, estabelecendo relações entre as particularidades dos problemas, que não começam e nem terminam em si.
É preciso uma atuação articulada, multiprofissional e intrasetorial, com outro olhar e agir, que sejam capazes de superar o assistencialismo e a ineficiência dos programas atuais no que diz respeito à construção da emancipação e da inserção social.
Agora, tento entender como a SEMAS diz que possui espaço para a demanda que ora se apresenta nas ruas da cidade, se já possui um contingente bastante robusto, ocupando as ‘vagas’ existentes para o atendimento que se presta, no município.
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sábado, 11 de setembro de 2010
Assistência Social em Goiânia
* Publicado no jornal Diário da Manhã em 05/09/10, em Opinião do Leitor, após a republicação do artigo "Assistência Social em Goiânia cresceu 200%", em 04/09/10
Não se pode dizer que a Assistência Social "cresceu 200%" pelo fato de ter ampliado o número de atendimento. Ora, se a Assistência Social, enquanto secretaria assumiu o trabalho que era feito pela Cidadão 2000, isto não é crescimento. A vantagem da Assistência não pode estar em números, mas em qualidade. A qualidade do serviço caiu enormemente. O rumo está equivocado. O município não tem uma política de Assistência Social. Recursos retornam às fontes. Trabalhadores rechaçam o trabalho que fazem. Na PNAS, o SUAS preconiza a informação, o monitoramento e a avaliação da Assistência Social, mas nada disto é feito. Já foi cobrado pelo MDS a adequação dos espaços físicos onde funcionam os CRAS conforme prevêem as normativas federais e isto também ñ foi feito. Faltam recursos básicos para o trabalho, como os pedagógicos, administrativos, de comunicação, de transporte e alimentação para profissionais e usuários da política. É preciso ampliar a política de modo a alcançar usuários (as) em outros programas além dos atuais, com atividades mais dinâmicas e atrativas, que garantam eficiência ao serviço prestado. E que este serviço seja construído de forma descentralizada, democraticamente (entre usuários e trabalhadores), em relações horizontais, respeitosas, conforme determinam as leis e normas da Assistência Social.
É preciso principalmente que se reconheça que nem todos que avaliam e têm posicionamentos críticos diante da atual Assistência Social que se oferece no município de Goiânia, o fazem por ser oposição à esta gestão. Quem avisa, muitas vezes, é pessoa amiga, embora maltratada. E ademais, políticas públicas têm que ser avaliadas mesmo; e adequadas.
Não se pode dizer que a Assistência Social "cresceu 200%" pelo fato de ter ampliado o número de atendimento. Ora, se a Assistência Social, enquanto secretaria assumiu o trabalho que era feito pela Cidadão 2000, isto não é crescimento. A vantagem da Assistência não pode estar em números, mas em qualidade. A qualidade do serviço caiu enormemente. O rumo está equivocado. O município não tem uma política de Assistência Social. Recursos retornam às fontes. Trabalhadores rechaçam o trabalho que fazem. Na PNAS, o SUAS preconiza a informação, o monitoramento e a avaliação da Assistência Social, mas nada disto é feito. Já foi cobrado pelo MDS a adequação dos espaços físicos onde funcionam os CRAS conforme prevêem as normativas federais e isto também ñ foi feito. Faltam recursos básicos para o trabalho, como os pedagógicos, administrativos, de comunicação, de transporte e alimentação para profissionais e usuários da política. É preciso ampliar a política de modo a alcançar usuários (as) em outros programas além dos atuais, com atividades mais dinâmicas e atrativas, que garantam eficiência ao serviço prestado. E que este serviço seja construído de forma descentralizada, democraticamente (entre usuários e trabalhadores), em relações horizontais, respeitosas, conforme determinam as leis e normas da Assistência Social.
É preciso principalmente que se reconheça que nem todos que avaliam e têm posicionamentos críticos diante da atual Assistência Social que se oferece no município de Goiânia, o fazem por ser oposição à esta gestão. Quem avisa, muitas vezes, é pessoa amiga, embora maltratada. E ademais, políticas públicas têm que ser avaliadas mesmo; e adequadas.
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quinta-feira, 26 de agosto de 2010
O Plano de Marconi Perillo e a Assistência Social
* Publicado no Jornal Diário da Manhã em 26.08.10
A linha enxuta e moderna do Plano de Marconi revela uma visão clara do papel do Estado e do governo, em uma linha de gestão descentralizada, ambos voltados para a satisfação da população, representada em instâncias deliberativas, e com padrões administrativos pautados na qualidade dos serviços prestados e no estímulo ao segundo e terceiro setores, sem, no entanto, ignorar a necessária redistribuição da riqueza, pois afirma claramente que não basta uma “economia pujante”, e que “o crescimento tem que ser transformado em desenvolvimento e ser compartilhado pela população”, apontando que isto acontece quando o governo garante serviços e políticas públicas eficientes e reconhecendo as contradições entre capital e trabalho.
Planejar é sem dúvida fundamental, como também o é, a execução e a avaliação do plano e das ações previstas.
Encontrei no Plano de Marconi Perillo, os chamados “Contratos de Gestão”, que são “um mecanismo de controle, regulação e responsabilização de todas as ações, diretas e indiretas do governo” e serão celebrados com OG’S, ONG’S e OSCIP’S relacionadas ao trabalho do governo no Estado, para a permanente avaliação deste trabalho.
Este Plano revela a construção de um Estado conciliador de interesses do capital e do trabalho, enviesado pelo bem coletivo, não por interesses de grupos. Um Estado de visão sistêmica, que integra e dinamiza recursos; um Estado de bem estar social gerado democraticamente, de modo transparente e participativo.
Ponto para a visão de trabalho em rede.
Senti falta, no entanto, de clareza quanto à Assistência Social. Não há evidências de que haverá, pelo governo representado por Marconi, o entendimento da Assistência Social com comando único e tampouco, compromisso com o desenvolvimento e o aprimoramento do SUAS – Sistema Único de Assistência Social.
É preciso que se compreenda a Assistência Social a partir da CF/89, enquanto uma política pública de direito e não enquanto um monte de programas, benefícios ou encaminhamentos.
A segmentação do atendimento neste campo sugere a não compreensão da centralidade da família no foco das políticas sociais. Este Plano não evidencia que a Assistência Social será tratada com profissionalismo. Que será compreendida e executada à luz de suas normas operacionais básicas, de seus marcos teóricos e dentro de seu Código de Ética, rompendo de vez com o clientelismo, o voluntarismo, as benesses.
É urgente que se empreenda, pelos governos dos estados, uma Assistência Social pautada em pesquisas do campo técnico-científico das ciências sociais e econômicas, em ações politizantes de grupos e comunidades, e ainda, que se informatize esta Assistência Social (condição sine qua non para o desenvolvimento dos programas do MDS nos municípios).
Que se compreenda a Assistência Social em seu papel educativo, mobilizador, organizador, preventivo. Para além das transferências de renda mensais, em seu dia a dia. Junto às lutas do meio ambiente, da saúde, da educação informal, da habitação, do turismo, do lazer – enfim, dos direitos humanos.
A linha enxuta e moderna do Plano de Marconi revela uma visão clara do papel do Estado e do governo, em uma linha de gestão descentralizada, ambos voltados para a satisfação da população, representada em instâncias deliberativas, e com padrões administrativos pautados na qualidade dos serviços prestados e no estímulo ao segundo e terceiro setores, sem, no entanto, ignorar a necessária redistribuição da riqueza, pois afirma claramente que não basta uma “economia pujante”, e que “o crescimento tem que ser transformado em desenvolvimento e ser compartilhado pela população”, apontando que isto acontece quando o governo garante serviços e políticas públicas eficientes e reconhecendo as contradições entre capital e trabalho.
Planejar é sem dúvida fundamental, como também o é, a execução e a avaliação do plano e das ações previstas.
Encontrei no Plano de Marconi Perillo, os chamados “Contratos de Gestão”, que são “um mecanismo de controle, regulação e responsabilização de todas as ações, diretas e indiretas do governo” e serão celebrados com OG’S, ONG’S e OSCIP’S relacionadas ao trabalho do governo no Estado, para a permanente avaliação deste trabalho.
Este Plano revela a construção de um Estado conciliador de interesses do capital e do trabalho, enviesado pelo bem coletivo, não por interesses de grupos. Um Estado de visão sistêmica, que integra e dinamiza recursos; um Estado de bem estar social gerado democraticamente, de modo transparente e participativo.
Ponto para a visão de trabalho em rede.
Senti falta, no entanto, de clareza quanto à Assistência Social. Não há evidências de que haverá, pelo governo representado por Marconi, o entendimento da Assistência Social com comando único e tampouco, compromisso com o desenvolvimento e o aprimoramento do SUAS – Sistema Único de Assistência Social.
É preciso que se compreenda a Assistência Social a partir da CF/89, enquanto uma política pública de direito e não enquanto um monte de programas, benefícios ou encaminhamentos.
A segmentação do atendimento neste campo sugere a não compreensão da centralidade da família no foco das políticas sociais. Este Plano não evidencia que a Assistência Social será tratada com profissionalismo. Que será compreendida e executada à luz de suas normas operacionais básicas, de seus marcos teóricos e dentro de seu Código de Ética, rompendo de vez com o clientelismo, o voluntarismo, as benesses.
É urgente que se empreenda, pelos governos dos estados, uma Assistência Social pautada em pesquisas do campo técnico-científico das ciências sociais e econômicas, em ações politizantes de grupos e comunidades, e ainda, que se informatize esta Assistência Social (condição sine qua non para o desenvolvimento dos programas do MDS nos municípios).
Que se compreenda a Assistência Social em seu papel educativo, mobilizador, organizador, preventivo. Para além das transferências de renda mensais, em seu dia a dia. Junto às lutas do meio ambiente, da saúde, da educação informal, da habitação, do turismo, do lazer – enfim, dos direitos humanos.
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quarta-feira, 16 de junho de 2010
Duas Classes Duas Escolas
“Em toda sociedade civilizada existem necessariamente duas classes de pessoas: a que tira sua subsistência da força de seus braços e a que vive da renda de suas propriedades, ou do produto de funções onde o trabalho de espírito prepondera sobre o trabalho manual. A primeira é a classe operária; a segunda é aquela que eu chamaria de classe erudita.
Os homens da classe operária têm desde cedo necessidade de trabalho dos seus filhos. Estas crianças precisam adquirir desde cedo conhecimento e, sobretudo o hábito e a tradição do trabalho penoso a que se destinam. Não podem, portanto, perder tempo nas escolas.
(...) Os filhos da classe erudita, ao contrário, podem dedicar-se a estudar durante muito tempo; têm muita coisa a aprender para alcançar o que se espera deles no futuro. Esses são fatos que não dependem da vontade humana; decorrem necessariamente da própria natureza dos homens e da sociedade; ninguém está em condições de mudá-los. Portanto, trata-se de dados invariáveis dos quais devemos partir.
Concluamos então, que em todo estado bem administrado e no qual se dá a devida atenção a educação dos cidadãos, deve haver dois sistemas completos de instrução que não têm nada em comum entre si ”.
Destutt de Tracy (1802)
Prost, Antoine. “L’enseigmant en France de 1800 à 1967”. Paris: Armand Colin, 1968, in Cuidado, Escola! Desigualdade, domesticação e algumas saídas. Claudius Ceccon; Miguel Darcy de Oliveira; Rosiska Darcy de Oliveira. Apresentação Paulo Freire – Ed. Brasiliense. São Paulo, 1986
Da população economicamente Ativa (PEA) do Brasil:
18,4% começaram a trabalhar antes dos 09 anos de idade;
64,1% começaram a trabalhar antes dos 14 anos de idade;
84,2% começaram a trabalhar antes dos 17 anos de idade;
Menos de 20% da população tem mais de 11 anos de escolaridade
Mais de 1 milhão ( 1.006.422 ) de crianças de 05 a 09 anos trabalham;
Quase 3 milhões ( 2.817..889 ) de crianças de 10 a 14 anos trabalham.
Dados: Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílos ( PNAD ) – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE)
Elaboração: Anuário dos Trabalhadores
DIEESE – WWW.dieese.org.br
Divulgação: IIEP – Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas
iiep@uol.com.br / ( 11 ) 3337 6775
Os homens da classe operária têm desde cedo necessidade de trabalho dos seus filhos. Estas crianças precisam adquirir desde cedo conhecimento e, sobretudo o hábito e a tradição do trabalho penoso a que se destinam. Não podem, portanto, perder tempo nas escolas.
(...) Os filhos da classe erudita, ao contrário, podem dedicar-se a estudar durante muito tempo; têm muita coisa a aprender para alcançar o que se espera deles no futuro. Esses são fatos que não dependem da vontade humana; decorrem necessariamente da própria natureza dos homens e da sociedade; ninguém está em condições de mudá-los. Portanto, trata-se de dados invariáveis dos quais devemos partir.
Concluamos então, que em todo estado bem administrado e no qual se dá a devida atenção a educação dos cidadãos, deve haver dois sistemas completos de instrução que não têm nada em comum entre si ”.
Destutt de Tracy (1802)
Prost, Antoine. “L’enseigmant en France de 1800 à 1967”. Paris: Armand Colin, 1968, in Cuidado, Escola! Desigualdade, domesticação e algumas saídas. Claudius Ceccon; Miguel Darcy de Oliveira; Rosiska Darcy de Oliveira. Apresentação Paulo Freire – Ed. Brasiliense. São Paulo, 1986
Da população economicamente Ativa (PEA) do Brasil:
18,4% começaram a trabalhar antes dos 09 anos de idade;
64,1% começaram a trabalhar antes dos 14 anos de idade;
84,2% começaram a trabalhar antes dos 17 anos de idade;
Menos de 20% da população tem mais de 11 anos de escolaridade
Mais de 1 milhão ( 1.006.422 ) de crianças de 05 a 09 anos trabalham;
Quase 3 milhões ( 2.817..889 ) de crianças de 10 a 14 anos trabalham.
Dados: Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílos ( PNAD ) – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE)
Elaboração: Anuário dos Trabalhadores
DIEESE – WWW.dieese.org.br
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sábado, 15 de maio de 2010
ASSISTÊNCIA SOCIAL
INTRODUÇÃO
No último mês de outubro, ao participarmos da 5a. Conferência Municipal de Assistência Social, em Goiânia, tivemos a grata satisfação de partilhar preocupações acerca da Assistência Social, que, infelizmente, ainda não aparecem nos discursos oficiais.
Ainda hoje, quase 100anos após a abertura da 1a. Escola de Trabalho Social, em Nova York, e há cerca de 400 anos após os primeiros registros sobre as condições de vida e a pauperização, na Bélgica, identificando possíveis causas da miséria, ouvimos pessoas falarem de Assistência Social como sendo obra de caridade, questão de humanidade ou filantropia, devido ao fato de que a história do Serviço Social realmente está entremeada à atuação da Igreja Católica e identificada com a solidariedade social.
Tendo surgido a partir do movimento de mulheres da aristocracia européia, que oferecia ajuda a doentes e pobres no ano de 1660, só em 1869, em Londres, a Sociedade para a organização da caridade – COS, começou a oferecer treinamento para membros e voluntários. Em 1891, o papa Leão XIII, publica a encíclica Rerum Novarum, com idéias sobre a questão social e a justiça, que influenciaram a Escola de Filantropia de Nova York, criada por Mary Richmond. Esta escola se transformou em Escola de Trabalho Social da Universidade de Nova York, no ano de 1918. Antes, em 1899, na Holanda, foi criada a Escola de Trabalho Social.
Em 1920, o Código Social de Malinas reforça o tomismo, que é a filosofia de São Tomás Aquino, nos princípios do Serviço Social. Em 1925, surge a 1a. Escola de Serviço Social da América Latina, no Chile.
No Brasil, a 1a Escola de Serviço Social é fundada em São Paulo, no ano de 1936, por leigos identificados com o pensamento da Igreja Católica e inspirados nos princípios neotomistas e no instrumental técnico da concepção funcionalista norte americana.
Foi em 1960, em um encontro em Belo Horizonte, que o Serviço Social no Brasil adquiriu ares de engajamento político e compromisso com a transformação social, à partir de um trabalho alinhado com o Movimento de Educação de Base da Igreja Católica junto à classe trabalhadora, calcados em Althusser, na Teoria da Dependência e no Método Dialético. Mas somente após o Encontro de Sumaré, em 1978 e no início dos anos 80, com a abertura política, ainda que gradual e restrita, é que a literatura e a formação profissional do Serviço Social passou a incorporar elementos das correntes teóricas presentes hoje, na perspectiva definida para o trabalho de Assistência Social no Brasil, concebendo a Assistência Social enquanto política de direito, sob a batuta do CFESS, que em nível nacional, representa os CRESS, os CEAS e os CMAS, respectivamente, os conselhos regionais, estaduais e dos municípios.
As correntes teóricas assumidas então, à saber – a Teoria Sistêmica, a Dialética e a Fenomenologia, hoje, orientam o Serviço Social, e possuem metodologias específicas para o trato profissional.
A concepção funcionalista ou sistêmica, de cunho positivista, trabalha na perspectiva da manutenção do status quo e tem como método o estudo/o diagnóstico/o tratamento, que se realizam tendo como objetos de trabalho os desajustes sociais e as dificuldades pessoais, que são percebidas em uma perspectiva que coloca o sistema como sendo o ideal, com algumas partes que se desarmonizam devido disfunções próprias, precisando portanto serem reintegradas ao todo, para harmonia e funcionamento do conjunto.
A corrente dialética, referendada pelo materialismo histórico e dialético, tem como método a pesquisa/ação, o conhecimento/ação, e a reflexão/ação, à partir da realidade do fenômeno, em suas conexões, oposições e mediações, compreendendo-o no mundo real em sua relação com ele, e tem como objeto , as relações sociais e de produção. Tendo admitido conceitos como representação, conceituação, mais-valia, reprodução social e luta de classes, entre outros do marxismo, esta corrente visa a libertação do homem, compreendido em situações antagônicas produzidas pelo sistema explorador do mundo capitalista, que deve ser transformado através de uma contra ideologia firmada na conquista de direitos e na organização dos trabalhadores. O método dialético não propõe apenas conhecer e interpretar o real, mas transformá-lo através da práxis social (prática social + teoria social), condição sine qua non para o processo e desenvolvimento do método, que tem nas Categorias Dialéticas o subsídio para a transformação da realidade social, enquanto auxiliares no conhecimento e na análise desta, não de modo reificado, mas se completando mutuamente. São elas, por exemplo, a contradição, a totalidade, a mediação, a reprodução, a negação(síntese e antítese), a hegemonia. Nesta perspectiva, o profissional de Serviço Social trabalha com o usuário e não para o usuário.
A Fenomenologia tem como método, a investigação diagnóstica da SEP – Situação Existencial Problematizada, e como objeto, esta mesma SEP. Na corrente fenomenológica, o profissional busca, junto à pessoa humana, através de diálogos, o encontro da essência dos fenômenos vividos, em uma intervenção que propõe à consciência, um outro projeto de existência, através da reflexão e interpretação dialógica; não trabalha na perspectiva do ajuste, mas da construção deste outro projeto.
DESENVOLVIMENTO
Nos últimos 20 anos, no Brasil, embora vários movimentos de reconceituação tenham havido, o Serviço Social continua sendo usado como instrumento para reprodução da classe trabalhadora.
Recentemente, um jornal local publicou trechos de uma avaliação do cientista político Francisco Itami Campos, na qual ele afirma que os programas sociais atualmente são clientelistas e não promovem o desenvolvimento social, antes, perpetuam a dependência das pessoas e oneram o Estado. Também o Ministro Jacques Wagner criticou a utilização de programas de transferência de renda como única via de inclusão social e revelou a compreensão de que políticas compensatórias devem ser temporárias, vislumbrando a necessidade de que o governo estabeleça uma política econômica que amplie os níveis de renda e a oferta de empregos produtivos, propiciando uma integração cidadã.
Também através de leitura em jornal, pudemos ver um trecho de um ensaio recente, da cientista política Apásia Camargo, que escreveu que “precisamos reduzir as diferenças espaciais e sociais, apostando nos municípios e na sociedade civil, recém-saída da casca do ovo”.
Então, reportando-me à 5a Conferência Municipal de Assistência Social, reitero a importância das falas ali colocadas. Tivemos a oportunidade de ouvir, por exemplo, a Prof. Abigail, que nos disse que nós, da assistência social, só falamos conosco mesmo, e como ela disse, “às vezes mal”. Chamou a atenção para a nossa responsabilidade em estabelecermos uma interlocução com a sociedade e seus poderes constituídos, no sentido de nos fazer entender melhor, e a nossa profissão. A Profa. Potyara Amazoneida nos falou sobre a “política da pobreza”; que ela é uma armadilha, pois que o usuário não faz questão de sair dos critérios, já que assim, perde o “benefício”. Frizou as diferenças entre seletividade e focalidade e entre condicionalidade e contra-partida. Pontuou a presença do autoritarismo, quando a pessoa usuária tem de se submeter a regras, sem acordos e pactos prévios e sem a compreensão do compromisso entre as partes. Dra. Potyara também discorreu sobre o fato de que as políticas não podem mais se dar de forma isolada, mas em conexões entre o social, o econômico e o ambiental. Mas o que particularmente me encantou e me motivou escrever este texto foi a fala desta Dra. ao nos contar sobre uma proposta contra hegemônica que já existe no Serviço Social e pela qual tenho ansiado. Neste grupo, que buscarei conhecer melhor, há compreensão de que é preciso haver uma inversão nas políticas públicas, e, segundo a Profa., para esta ala do Serviço Social, “são as necessidades humanas que devem orientar o trabalho, o mercado, a busca dos recursos e não o contrário”. Falou de cinco pontos que deve nortear, hoje, o trabalho social à saber – pobreza/ignorância/enfermidade/ociosidade/insalubridade ambiental. E ela fala ainda do fato de que o neoliberalismo deu certo por se fazer ideologicamente, o que tem faltado à esquerda, que não conseguiu ainda, montar um corpo teórico.
Diante destas colocações, creio ficar claro o momento frutuoso que nos circunda, se nos atentarmos às definições dos encontros, para não estarmos sempre recomeçando. É importante, como falou o professor Dr. Benedito Rodrigues dos Santos, “refazermos os espaços da crítica, da avaliação, e percebermos até que ponto nossos antes, companheiros de luta, estão trabalhando a contento daquele projeto e até que ponto está remodelando o discurso que combatíamos...”. E ele também nos fala em repropormos urgentemente um movimento de resignificação da vida, e que, “só melhorarmos condições de vida não adianta, temos que refazer a construção da sociedade, estamos criando pessoas materialistas e individualistas”.
E, se o Prof. Bené, indaga onde está o dinheiro da Assistência Social e cobra o efetivo monitoramento e a avaliação contínua e sistemática das políticas sob o aspecto qualitativo e sob o aspecto quantitativo, a Professora Rosa Stein afirma que não se assegura os 5% da Seguridade, mas apenas 3%, e que o avanço das políticas públicas não aparecem através das amostras estatísticas, mas na ampliação da qualidade dos serviços. Esta professora nos falou também que a questão do sonho é de suma importância, como a relação entre as particularidades dos problemas, que não começam e nem terminam em si mesmos.
Sobre esta temática, a Sra. Dilma, Assistente Social, lembrou o “descompasso entre o que se discute e a agilidade administrativa”, a importância dos conselhos de assistência social no acompanhamento do órgão gestor desta política pública e a necessidade de “construirmos indicadores sobre o quanto se cumpre daquilo que se discute”; aí falamos da necessidade de que se discuta os projetos, programas e o acompanhamento dos mesmos, em termos de qualidade, efetividade e eficiência, com a publicização , inclusive, da prestação de contas com aspectos econômicos e sociais. Pudemos, com a fala dela, e da Dra. Valéria Getúlio, discutir sobre a questão dos planos teórico-metodológico e orçamentário e ficou claro a necessidade aí do tripé planejamento/execução/avaliação do trabalho e da construção de um banco de dados que justifiquem receitas e despesas, possuindo indicadores sócio-econômico dos demandatários.
No caderno No. 30, da ABONG, com subsídios à III Conferência Nacional de Assistência Social, de novembro de 2001, diz-se que o Serviço Social “necessita de uma forte atualização, algo que o faça entrar em sintonia com a nova sociedade e o novo Estado, precisa de inovações em sua formatação e em seu gerenciamento”.Ainda neste caderno, fala-se em se criar um trabalhador mais pleno de sentido, não só um emprego a ser defendido.
Pois bem: é neste sentido que este trabalho pretende colaborar, ao resgatar os momentos citados, buscando identificar os sinais que precisamos neste momento, em que urge à Assistência Social a definição dos paradigmas que norteiam esta profissão e que enfim, poderão suplantar a visão utilitarista e pragmática do trabalho social, através de uma visão humanística centrada na formação e emancipação do ser humano, abandonando “o espírito que considera pobreza algo material”, como ouvi em uma entrevista, do consultor Geraldo Eustáquio de Souza. O paradigma creio, é de transformação social. Estamos no exercício de reprodução social.
Pedro Nogare diz que “a pessoa deve ser considerada sempre um fim e nunca como meio. Ela é sempre meta, nunca instrumento”. Com este trecho, quero colocar a importância, neste momento, de retomarmos a filosofia de São Tomás Aquino, que muito bem discorreu sobre sociedade, bem comum e ética.
Os postulados neotomistas presentes, no Documento de Araxá, nos falam da dignidade humana, na sociabilidade essencial da pessoa humana e na perfectibilidade humana. São Tomás definiu a pessoa humana enquanto um composto de corpo e de alma, afirmando que tudo é inteligível pelo ser, que tem o seu desenvolvimento dependente do dos outros, demonstrando claramente que o homem necessita viver em sociedade. Segundo este filósofo, por ser filho (a) de Deus, “a pessoa humana tem uma perfeição natural que se manifesta através da razão. A inteligência, conhecendo os caminhos, tenderá a busca da virtude, do bem.” Estes são princípios da Assistência Social.
Creio piamente que esta é a idéia que deve permear nosso trabalho, e não a que diz que devemos priorizar pobres, negros, mulheres, crianças etc., por serem minoria, pois são valor absoluto como ser humano e esta é a causa. O planejamento deve localizar demandas e intervenções pautado em dados e não em chavões do mundo político, que diz que é preciso acabar com a pobreza, sem no entanto identificar e atuar em questões estruturais da sociedade.
Definido está, pelo Serviço Social, o caráter do seu trabalho, que deve ser:
- Corretivo – através de intervenções na realidade, para fins de remoção de causas que impedem ou dificultam o desenvolvimento de indivíduos, grupos, comunidades, populações e organismos;
- Preventivo – que intervenha se antepondo às conseqüências indesejadas
- Promocional – que atue de maneira a facilitar ou mesmo habilitar para a realização de potencialidades.
Já foi dito que não se pode dizer que a Assistência Social cresceu, apenas observando-se o dote orçamentário e estatísticas do número crescente de atendimentos e que é preciso avaliarmos a qualidade dos serviços.
Vemos o fracasso do atual formato das políticas sociais, constantemente, tanto na sociedade, através dos meios de comunicação, das pesquisas divulgadas e das relações cotidianas, ao constatarmos um número cada vez mais crescente de gravidez na adolescência e dos usuários de drogas lícitas e ilícitas, que muitas vezes se envolvem em algum tipo de violência, principalmente nos grandes centros urbanos, como também nas unidades de atendimento para assistência social, onde grassam a desmotivação, o descomprometimento e comportamentos anti-sociais entre as partes envolvidas, tais como, a agressividade, o desrespeito e o descuido social.
Qual o reflexo dos planos na participação política, no exercício efetivo da profissão e da cidadania, na “cara” dos serviços e das cidades?
A intersetorialidade necessária e presente na Assistência Social, nos traz o risco da desresponsabilização dos profissionais, que democratizam as relações no trabalho, por não quererem tutelar ou serem donos da verdade ou por não terem clareza quanto a práxis profissional, e acabam deixando de orientar quanto à objetivos, recursos, instrumentos, possibilidades, entraves e concepções do trabalho, esquecendo-se da transformação social preconizada e defendida nas instâncias competentes desta classe profissional.
CONCLUSÃO
No Brasil, as políticas sociais ainda trabalham no viés do controle social, do atendimento ao pobre ou em caso contrário, os riscos de insurreição social. E em se tratando de políticas públicas, agora que o poder dominante é outro, se faz necessário repensarmos e reconstruirmos a ideologia dominante, de modo democrático e participativo.
Tive a oportunidade de participar do projeto de Assistência Social do SESC quando criança e lembro-me como eram bons aqueles momentos. Recentemente pude viajar em uma excursão do SESC, para Aruanã, e relembrei o zelo dos profissionais, a disposição à alegria e ao diferente, ao novo, ao bom, ao belo, ao divertido; é uma linha de atuação que deu certo desde seus primórdios, oferecendo aos trabalhadores acesso aos seus direitos básicos, compreendendo esses direitos para além das questões materiais. Dentro da linha da professora Dra. Rosane Castilho, que falou recentemente em um noticiário sobre a importância de que a Assistência Social trabalhe a subjetividade das pessoas, possibilitando que vislumbrem outras realidades, novas possibilidades.
A experiência de trabalhar a Assistência no setor público, me deixa claro que estamos na perspectiva de mediar conflitos entre as classes sociais e econômicas e propiciar a reprodução da Força de Trabalho, com manutenção da ordem social. Como em Paulo Freire, “nosso sonho de sociedade”, deve ultrapassar “os limites de sonhar que aí estão”. Paulo Freire já dizia “Eu não aceito que a ética do mercado, que é profundamente malvada, perversa, a ética da venda, do lucro, seja a que satisfaz ao ser humano”.
Ultimamente, todas as instituições estão sendo questionadas em seu papel, em sua metodologia, em seus princípios.
É importante que percebamos, por exemplo, que a família está terceirizando o seu papel e não está cuidando dos filhos, mas que isto não é opção, é devido às relações de trabalho. Deste modo, precisamos repensar a idéia da escola integral, o tempo diário de serviço, o valor dos salários que obrigam pai mãe e filho às vezes adolescente a estarem no mercado de trabalho, ao invés de estar se preparando para a vida adulta. E aí entra a queima de etapas no desenvolvimento da pessoa, a falta da compreensão do planejamento familiar e os resultados disto, apesar das injeções anticoncepcionais gratuitas, no SUS, o que também deve ser pensado, no que toca a idade das jovens. Interessante vermos os EUA falando da necessidade em se retardar o início das atividades sexuais, após ter sido o povo preconizador do amor livre, na modernidade. Aliás, outra postura diferente lá, é com relação ao fast food (comida rápida), normalmente composto de ingredientes pouco saudáveis, que vem recebendo inclusive maiores taxações em impostos, além da incipiente campanha de alerta diante dos casos de obesidade e de seus agravamentos correlatos.E este é outro ponto que quero colocar aqui, já que questiono as refeições oferecidas no âmbito das instituições de ensino e socialização.
É certo que um lanchinho é necessário entre as atividades, mas para quê servir arroz, feijão, carne, salada? Dizer que não se tem tempo para fazer em casa não pode ser desculpa neste novo milênio, em que a tecnologia está cada vez mais facilitando ou substituindo o trabalho humano, daí até a luta por menos tempo de serviço. É papel dar peixe ou ensinar a pescar? É importante família unida ou mutilada, carcomida, que não toma refeição unida, não tem horário comum de chegada, não tem convivência, tem pouca afetividade e muita ansiedade, estranheza. Além do quê o lanche é uniformizado, para compleições físicas e psicológicas diferentes; ainda que caprichado pelas merendeiras e sendo gostoso, é quase sempre como comida de dia a dia de casa, não altera a vivência, não transforma, reproduz. E comer e estudar não combina, colação é outra história com relação ao estômago. E se pizza é bom contra o câncer, e soja é mais econômico e saudável e prático que carne, porquê não fazer diferente? E se suco em pó artificial agride a saúde, e não se tem de fazer arroz, salada crua, feijão e carne, nem sopa ou mexidinho, então não fica difícil usar o capricho de sempre no suco da laranja, na saladinha de fruta, na pizza napolitana, no quibe de soja assado recheado com queijo e tomate e azeite... É educativo isto, em tempos de obesidade, cardiopatias e outros males da má educação, inclusive alimentar, o que, vale lembrar, se reverte em prejuízo aos cofres públicos por decorrência dos tratamentos de saúde. Para sermos aqui pragmáticos. Segundo Smilles, “A boa casa é a melhor de todas as escolas, quer para a mocidade, quer para a velhice”. E é aí que é mais fácil ensinar o respeito ao alimento, a alegria (diferente de euforia) e o prazer de se preparar e de comer em um ambiente adequado, além é claro, a boca fechada. São bobagens que fazem a diferença para o exercício de cidadania, até. O alimento que seria preparado pode ampliar o número de cestas que são justas a quem delas realmente precisa.
E por quê a diferença entre o adolescente e o jovem de classes sociais diferentes serem tratados com direitos diferentes? Qualquer jovem tem que se dedicar a esportes, aos estudos, à comunidade, ao lazer, a si, até porque tem muito idoso trabalhando desde oito, dez, doze anos sem ter uma tranqüilidade, tendo que trabalhar, às vezes já aposentado, e muitas vezes, em serviços pesados como vender picolé na rua, vigia, varredor de rua etc.
Interessante como, em reuniões com a comunidade, tive a oportunidade de vê-la sempre, ao ser interrogada sobre os cursos que quer, responder “– profissionalizante”. Na Assistência Social, concordo com cestas básicas, mas vislumbro termos sustentação teórica para uma virada no campo das concepções mesmo, concomitantemente no campo da atuação, que já optamos no coletivo pela práxis. Não é só trabalho que traz dignidade e nem todos que trabalham deveriam ou querem ter um trabalho; somente poucos conseguem garantir seus direitos básicos com a renda que percebe. E embora o desemprego não signifique falta de oferta de posto de trabalho, entrando aí a falta de capacitação mesmo, sabe-se que profissionalizar não garante vaga, neste mercado onde a mão de obra é excedente. E barata. Então, identificamos, como Safira B. Amman, “os aparatos do Estado garantindo a reprodução da desigualdade...”.
Estudos e pesquisas apontam que “diversão é privilégio de poucos” paralelo aos estudos que indicam o estresse como mal do século, ao lado das alergias, da obesidade, das cardiopatias, das variações climáticas, da falta de postos de trabalho. Estudos e pesquisas também apontam que faltam opções de lazer ao jovem. E também aos seus pais e avós e irmãos menores. E que os recursos para diversão e conhecimento, como renda, tempo, meio de locomoção etc., são parcos. O Conselho Municipal de Direitos de Crianças e Adolescentes aprovou em Assembléia da última Conferência, a busca, junto ao poder público, de espaços e momentos para entretenimento e lazer como esportes e oficinas de arte, de línguas, inclusive a portuguesa, bibliotecas, videotecas e cafésnet, entre outras atividades, nos turnos matutino, vespertino e também noturno, já que a indústria paga não para e não tem compromisso social, apesar do papel que exerce (diga-se das lan houses, dos postos de conveniência e das festas psicodélicas). Outro ponto de pauta em termos de conclusão, é o fato de que o turismo é a indústria que mais oferece negócios e empregos, além de ser importantíssimo na vida pessoal de pessoas, bem como na vida social. Então precisa ser estimulado, ampliando cada vez mais o conhecimento da humanidade sobre a sua humanidade, o seu direito de ir e vir. E isto é bom para a cidade. E em Goiânia, fazer o quê e ficar onde? Isto já foi indagado por pessoas de várias idades e situação econômica, em um jornal local. Então, políticas para prática de arvorismo, para a efetivação de albergues bacanas e acessíveis a estudantes e para a organização de passeios coletivos, além é claro do estímulo à revitalização do centro de Goiânia e ao turismo, com um plano urgente para as vielas deste centro histórico, que possa movimentar o mesmo através de atrações diversas, culturais como samba, tango etc., artísticas como exposições e oficinas de dança, pinturas, teatro, poesia, oratória, yoga etc., aliado a um plano de divulgação de tudo isto. Se a Assistência Social organiza este trabalho, que é acima de tudo multiprofissional e intrasetorial, em contra partida, exige disposição para o atendimento de demandatários “seus”.
Todas estas colocações estão assim postas, como justificativa e suporte às idéias para projetos, anexadas a este trabalho. Espero contribuir efetivamente com o Serviço Social, para além das falhas e limites profissionais que possam aqui ter interferido, e que estão abertos às correções, estando sempre à disposição para estes e outros assuntos relacionados à opção de transformação social.
Alexandra Machado Costa, CRESS 1517
março, 2004
No último mês de outubro, ao participarmos da 5a. Conferência Municipal de Assistência Social, em Goiânia, tivemos a grata satisfação de partilhar preocupações acerca da Assistência Social, que, infelizmente, ainda não aparecem nos discursos oficiais.
Ainda hoje, quase 100anos após a abertura da 1a. Escola de Trabalho Social, em Nova York, e há cerca de 400 anos após os primeiros registros sobre as condições de vida e a pauperização, na Bélgica, identificando possíveis causas da miséria, ouvimos pessoas falarem de Assistência Social como sendo obra de caridade, questão de humanidade ou filantropia, devido ao fato de que a história do Serviço Social realmente está entremeada à atuação da Igreja Católica e identificada com a solidariedade social.
Tendo surgido a partir do movimento de mulheres da aristocracia européia, que oferecia ajuda a doentes e pobres no ano de 1660, só em 1869, em Londres, a Sociedade para a organização da caridade – COS, começou a oferecer treinamento para membros e voluntários. Em 1891, o papa Leão XIII, publica a encíclica Rerum Novarum, com idéias sobre a questão social e a justiça, que influenciaram a Escola de Filantropia de Nova York, criada por Mary Richmond. Esta escola se transformou em Escola de Trabalho Social da Universidade de Nova York, no ano de 1918. Antes, em 1899, na Holanda, foi criada a Escola de Trabalho Social.
Em 1920, o Código Social de Malinas reforça o tomismo, que é a filosofia de São Tomás Aquino, nos princípios do Serviço Social. Em 1925, surge a 1a. Escola de Serviço Social da América Latina, no Chile.
No Brasil, a 1a Escola de Serviço Social é fundada em São Paulo, no ano de 1936, por leigos identificados com o pensamento da Igreja Católica e inspirados nos princípios neotomistas e no instrumental técnico da concepção funcionalista norte americana.
Foi em 1960, em um encontro em Belo Horizonte, que o Serviço Social no Brasil adquiriu ares de engajamento político e compromisso com a transformação social, à partir de um trabalho alinhado com o Movimento de Educação de Base da Igreja Católica junto à classe trabalhadora, calcados em Althusser, na Teoria da Dependência e no Método Dialético. Mas somente após o Encontro de Sumaré, em 1978 e no início dos anos 80, com a abertura política, ainda que gradual e restrita, é que a literatura e a formação profissional do Serviço Social passou a incorporar elementos das correntes teóricas presentes hoje, na perspectiva definida para o trabalho de Assistência Social no Brasil, concebendo a Assistência Social enquanto política de direito, sob a batuta do CFESS, que em nível nacional, representa os CRESS, os CEAS e os CMAS, respectivamente, os conselhos regionais, estaduais e dos municípios.
As correntes teóricas assumidas então, à saber – a Teoria Sistêmica, a Dialética e a Fenomenologia, hoje, orientam o Serviço Social, e possuem metodologias específicas para o trato profissional.
A concepção funcionalista ou sistêmica, de cunho positivista, trabalha na perspectiva da manutenção do status quo e tem como método o estudo/o diagnóstico/o tratamento, que se realizam tendo como objetos de trabalho os desajustes sociais e as dificuldades pessoais, que são percebidas em uma perspectiva que coloca o sistema como sendo o ideal, com algumas partes que se desarmonizam devido disfunções próprias, precisando portanto serem reintegradas ao todo, para harmonia e funcionamento do conjunto.
A corrente dialética, referendada pelo materialismo histórico e dialético, tem como método a pesquisa/ação, o conhecimento/ação, e a reflexão/ação, à partir da realidade do fenômeno, em suas conexões, oposições e mediações, compreendendo-o no mundo real em sua relação com ele, e tem como objeto , as relações sociais e de produção. Tendo admitido conceitos como representação, conceituação, mais-valia, reprodução social e luta de classes, entre outros do marxismo, esta corrente visa a libertação do homem, compreendido em situações antagônicas produzidas pelo sistema explorador do mundo capitalista, que deve ser transformado através de uma contra ideologia firmada na conquista de direitos e na organização dos trabalhadores. O método dialético não propõe apenas conhecer e interpretar o real, mas transformá-lo através da práxis social (prática social + teoria social), condição sine qua non para o processo e desenvolvimento do método, que tem nas Categorias Dialéticas o subsídio para a transformação da realidade social, enquanto auxiliares no conhecimento e na análise desta, não de modo reificado, mas se completando mutuamente. São elas, por exemplo, a contradição, a totalidade, a mediação, a reprodução, a negação(síntese e antítese), a hegemonia. Nesta perspectiva, o profissional de Serviço Social trabalha com o usuário e não para o usuário.
A Fenomenologia tem como método, a investigação diagnóstica da SEP – Situação Existencial Problematizada, e como objeto, esta mesma SEP. Na corrente fenomenológica, o profissional busca, junto à pessoa humana, através de diálogos, o encontro da essência dos fenômenos vividos, em uma intervenção que propõe à consciência, um outro projeto de existência, através da reflexão e interpretação dialógica; não trabalha na perspectiva do ajuste, mas da construção deste outro projeto.
DESENVOLVIMENTO
Nos últimos 20 anos, no Brasil, embora vários movimentos de reconceituação tenham havido, o Serviço Social continua sendo usado como instrumento para reprodução da classe trabalhadora.
Recentemente, um jornal local publicou trechos de uma avaliação do cientista político Francisco Itami Campos, na qual ele afirma que os programas sociais atualmente são clientelistas e não promovem o desenvolvimento social, antes, perpetuam a dependência das pessoas e oneram o Estado. Também o Ministro Jacques Wagner criticou a utilização de programas de transferência de renda como única via de inclusão social e revelou a compreensão de que políticas compensatórias devem ser temporárias, vislumbrando a necessidade de que o governo estabeleça uma política econômica que amplie os níveis de renda e a oferta de empregos produtivos, propiciando uma integração cidadã.
Também através de leitura em jornal, pudemos ver um trecho de um ensaio recente, da cientista política Apásia Camargo, que escreveu que “precisamos reduzir as diferenças espaciais e sociais, apostando nos municípios e na sociedade civil, recém-saída da casca do ovo”.
Então, reportando-me à 5a Conferência Municipal de Assistência Social, reitero a importância das falas ali colocadas. Tivemos a oportunidade de ouvir, por exemplo, a Prof. Abigail, que nos disse que nós, da assistência social, só falamos conosco mesmo, e como ela disse, “às vezes mal”. Chamou a atenção para a nossa responsabilidade em estabelecermos uma interlocução com a sociedade e seus poderes constituídos, no sentido de nos fazer entender melhor, e a nossa profissão. A Profa. Potyara Amazoneida nos falou sobre a “política da pobreza”; que ela é uma armadilha, pois que o usuário não faz questão de sair dos critérios, já que assim, perde o “benefício”. Frizou as diferenças entre seletividade e focalidade e entre condicionalidade e contra-partida. Pontuou a presença do autoritarismo, quando a pessoa usuária tem de se submeter a regras, sem acordos e pactos prévios e sem a compreensão do compromisso entre as partes. Dra. Potyara também discorreu sobre o fato de que as políticas não podem mais se dar de forma isolada, mas em conexões entre o social, o econômico e o ambiental. Mas o que particularmente me encantou e me motivou escrever este texto foi a fala desta Dra. ao nos contar sobre uma proposta contra hegemônica que já existe no Serviço Social e pela qual tenho ansiado. Neste grupo, que buscarei conhecer melhor, há compreensão de que é preciso haver uma inversão nas políticas públicas, e, segundo a Profa., para esta ala do Serviço Social, “são as necessidades humanas que devem orientar o trabalho, o mercado, a busca dos recursos e não o contrário”. Falou de cinco pontos que deve nortear, hoje, o trabalho social à saber – pobreza/ignorância/enfermidade/ociosidade/insalubridade ambiental. E ela fala ainda do fato de que o neoliberalismo deu certo por se fazer ideologicamente, o que tem faltado à esquerda, que não conseguiu ainda, montar um corpo teórico.
Diante destas colocações, creio ficar claro o momento frutuoso que nos circunda, se nos atentarmos às definições dos encontros, para não estarmos sempre recomeçando. É importante, como falou o professor Dr. Benedito Rodrigues dos Santos, “refazermos os espaços da crítica, da avaliação, e percebermos até que ponto nossos antes, companheiros de luta, estão trabalhando a contento daquele projeto e até que ponto está remodelando o discurso que combatíamos...”. E ele também nos fala em repropormos urgentemente um movimento de resignificação da vida, e que, “só melhorarmos condições de vida não adianta, temos que refazer a construção da sociedade, estamos criando pessoas materialistas e individualistas”.
E, se o Prof. Bené, indaga onde está o dinheiro da Assistência Social e cobra o efetivo monitoramento e a avaliação contínua e sistemática das políticas sob o aspecto qualitativo e sob o aspecto quantitativo, a Professora Rosa Stein afirma que não se assegura os 5% da Seguridade, mas apenas 3%, e que o avanço das políticas públicas não aparecem através das amostras estatísticas, mas na ampliação da qualidade dos serviços. Esta professora nos falou também que a questão do sonho é de suma importância, como a relação entre as particularidades dos problemas, que não começam e nem terminam em si mesmos.
Sobre esta temática, a Sra. Dilma, Assistente Social, lembrou o “descompasso entre o que se discute e a agilidade administrativa”, a importância dos conselhos de assistência social no acompanhamento do órgão gestor desta política pública e a necessidade de “construirmos indicadores sobre o quanto se cumpre daquilo que se discute”; aí falamos da necessidade de que se discuta os projetos, programas e o acompanhamento dos mesmos, em termos de qualidade, efetividade e eficiência, com a publicização , inclusive, da prestação de contas com aspectos econômicos e sociais. Pudemos, com a fala dela, e da Dra. Valéria Getúlio, discutir sobre a questão dos planos teórico-metodológico e orçamentário e ficou claro a necessidade aí do tripé planejamento/execução/avaliação do trabalho e da construção de um banco de dados que justifiquem receitas e despesas, possuindo indicadores sócio-econômico dos demandatários.
No caderno No. 30, da ABONG, com subsídios à III Conferência Nacional de Assistência Social, de novembro de 2001, diz-se que o Serviço Social “necessita de uma forte atualização, algo que o faça entrar em sintonia com a nova sociedade e o novo Estado, precisa de inovações em sua formatação e em seu gerenciamento”.Ainda neste caderno, fala-se em se criar um trabalhador mais pleno de sentido, não só um emprego a ser defendido.
Pois bem: é neste sentido que este trabalho pretende colaborar, ao resgatar os momentos citados, buscando identificar os sinais que precisamos neste momento, em que urge à Assistência Social a definição dos paradigmas que norteiam esta profissão e que enfim, poderão suplantar a visão utilitarista e pragmática do trabalho social, através de uma visão humanística centrada na formação e emancipação do ser humano, abandonando “o espírito que considera pobreza algo material”, como ouvi em uma entrevista, do consultor Geraldo Eustáquio de Souza. O paradigma creio, é de transformação social. Estamos no exercício de reprodução social.
Pedro Nogare diz que “a pessoa deve ser considerada sempre um fim e nunca como meio. Ela é sempre meta, nunca instrumento”. Com este trecho, quero colocar a importância, neste momento, de retomarmos a filosofia de São Tomás Aquino, que muito bem discorreu sobre sociedade, bem comum e ética.
Os postulados neotomistas presentes, no Documento de Araxá, nos falam da dignidade humana, na sociabilidade essencial da pessoa humana e na perfectibilidade humana. São Tomás definiu a pessoa humana enquanto um composto de corpo e de alma, afirmando que tudo é inteligível pelo ser, que tem o seu desenvolvimento dependente do dos outros, demonstrando claramente que o homem necessita viver em sociedade. Segundo este filósofo, por ser filho (a) de Deus, “a pessoa humana tem uma perfeição natural que se manifesta através da razão. A inteligência, conhecendo os caminhos, tenderá a busca da virtude, do bem.” Estes são princípios da Assistência Social.
Creio piamente que esta é a idéia que deve permear nosso trabalho, e não a que diz que devemos priorizar pobres, negros, mulheres, crianças etc., por serem minoria, pois são valor absoluto como ser humano e esta é a causa. O planejamento deve localizar demandas e intervenções pautado em dados e não em chavões do mundo político, que diz que é preciso acabar com a pobreza, sem no entanto identificar e atuar em questões estruturais da sociedade.
Definido está, pelo Serviço Social, o caráter do seu trabalho, que deve ser:
- Corretivo – através de intervenções na realidade, para fins de remoção de causas que impedem ou dificultam o desenvolvimento de indivíduos, grupos, comunidades, populações e organismos;
- Preventivo – que intervenha se antepondo às conseqüências indesejadas
- Promocional – que atue de maneira a facilitar ou mesmo habilitar para a realização de potencialidades.
Já foi dito que não se pode dizer que a Assistência Social cresceu, apenas observando-se o dote orçamentário e estatísticas do número crescente de atendimentos e que é preciso avaliarmos a qualidade dos serviços.
Vemos o fracasso do atual formato das políticas sociais, constantemente, tanto na sociedade, através dos meios de comunicação, das pesquisas divulgadas e das relações cotidianas, ao constatarmos um número cada vez mais crescente de gravidez na adolescência e dos usuários de drogas lícitas e ilícitas, que muitas vezes se envolvem em algum tipo de violência, principalmente nos grandes centros urbanos, como também nas unidades de atendimento para assistência social, onde grassam a desmotivação, o descomprometimento e comportamentos anti-sociais entre as partes envolvidas, tais como, a agressividade, o desrespeito e o descuido social.
Qual o reflexo dos planos na participação política, no exercício efetivo da profissão e da cidadania, na “cara” dos serviços e das cidades?
A intersetorialidade necessária e presente na Assistência Social, nos traz o risco da desresponsabilização dos profissionais, que democratizam as relações no trabalho, por não quererem tutelar ou serem donos da verdade ou por não terem clareza quanto a práxis profissional, e acabam deixando de orientar quanto à objetivos, recursos, instrumentos, possibilidades, entraves e concepções do trabalho, esquecendo-se da transformação social preconizada e defendida nas instâncias competentes desta classe profissional.
CONCLUSÃO
No Brasil, as políticas sociais ainda trabalham no viés do controle social, do atendimento ao pobre ou em caso contrário, os riscos de insurreição social. E em se tratando de políticas públicas, agora que o poder dominante é outro, se faz necessário repensarmos e reconstruirmos a ideologia dominante, de modo democrático e participativo.
Tive a oportunidade de participar do projeto de Assistência Social do SESC quando criança e lembro-me como eram bons aqueles momentos. Recentemente pude viajar em uma excursão do SESC, para Aruanã, e relembrei o zelo dos profissionais, a disposição à alegria e ao diferente, ao novo, ao bom, ao belo, ao divertido; é uma linha de atuação que deu certo desde seus primórdios, oferecendo aos trabalhadores acesso aos seus direitos básicos, compreendendo esses direitos para além das questões materiais. Dentro da linha da professora Dra. Rosane Castilho, que falou recentemente em um noticiário sobre a importância de que a Assistência Social trabalhe a subjetividade das pessoas, possibilitando que vislumbrem outras realidades, novas possibilidades.
A experiência de trabalhar a Assistência no setor público, me deixa claro que estamos na perspectiva de mediar conflitos entre as classes sociais e econômicas e propiciar a reprodução da Força de Trabalho, com manutenção da ordem social. Como em Paulo Freire, “nosso sonho de sociedade”, deve ultrapassar “os limites de sonhar que aí estão”. Paulo Freire já dizia “Eu não aceito que a ética do mercado, que é profundamente malvada, perversa, a ética da venda, do lucro, seja a que satisfaz ao ser humano”.
Ultimamente, todas as instituições estão sendo questionadas em seu papel, em sua metodologia, em seus princípios.
É importante que percebamos, por exemplo, que a família está terceirizando o seu papel e não está cuidando dos filhos, mas que isto não é opção, é devido às relações de trabalho. Deste modo, precisamos repensar a idéia da escola integral, o tempo diário de serviço, o valor dos salários que obrigam pai mãe e filho às vezes adolescente a estarem no mercado de trabalho, ao invés de estar se preparando para a vida adulta. E aí entra a queima de etapas no desenvolvimento da pessoa, a falta da compreensão do planejamento familiar e os resultados disto, apesar das injeções anticoncepcionais gratuitas, no SUS, o que também deve ser pensado, no que toca a idade das jovens. Interessante vermos os EUA falando da necessidade em se retardar o início das atividades sexuais, após ter sido o povo preconizador do amor livre, na modernidade. Aliás, outra postura diferente lá, é com relação ao fast food (comida rápida), normalmente composto de ingredientes pouco saudáveis, que vem recebendo inclusive maiores taxações em impostos, além da incipiente campanha de alerta diante dos casos de obesidade e de seus agravamentos correlatos.E este é outro ponto que quero colocar aqui, já que questiono as refeições oferecidas no âmbito das instituições de ensino e socialização.
É certo que um lanchinho é necessário entre as atividades, mas para quê servir arroz, feijão, carne, salada? Dizer que não se tem tempo para fazer em casa não pode ser desculpa neste novo milênio, em que a tecnologia está cada vez mais facilitando ou substituindo o trabalho humano, daí até a luta por menos tempo de serviço. É papel dar peixe ou ensinar a pescar? É importante família unida ou mutilada, carcomida, que não toma refeição unida, não tem horário comum de chegada, não tem convivência, tem pouca afetividade e muita ansiedade, estranheza. Além do quê o lanche é uniformizado, para compleições físicas e psicológicas diferentes; ainda que caprichado pelas merendeiras e sendo gostoso, é quase sempre como comida de dia a dia de casa, não altera a vivência, não transforma, reproduz. E comer e estudar não combina, colação é outra história com relação ao estômago. E se pizza é bom contra o câncer, e soja é mais econômico e saudável e prático que carne, porquê não fazer diferente? E se suco em pó artificial agride a saúde, e não se tem de fazer arroz, salada crua, feijão e carne, nem sopa ou mexidinho, então não fica difícil usar o capricho de sempre no suco da laranja, na saladinha de fruta, na pizza napolitana, no quibe de soja assado recheado com queijo e tomate e azeite... É educativo isto, em tempos de obesidade, cardiopatias e outros males da má educação, inclusive alimentar, o que, vale lembrar, se reverte em prejuízo aos cofres públicos por decorrência dos tratamentos de saúde. Para sermos aqui pragmáticos. Segundo Smilles, “A boa casa é a melhor de todas as escolas, quer para a mocidade, quer para a velhice”. E é aí que é mais fácil ensinar o respeito ao alimento, a alegria (diferente de euforia) e o prazer de se preparar e de comer em um ambiente adequado, além é claro, a boca fechada. São bobagens que fazem a diferença para o exercício de cidadania, até. O alimento que seria preparado pode ampliar o número de cestas que são justas a quem delas realmente precisa.
E por quê a diferença entre o adolescente e o jovem de classes sociais diferentes serem tratados com direitos diferentes? Qualquer jovem tem que se dedicar a esportes, aos estudos, à comunidade, ao lazer, a si, até porque tem muito idoso trabalhando desde oito, dez, doze anos sem ter uma tranqüilidade, tendo que trabalhar, às vezes já aposentado, e muitas vezes, em serviços pesados como vender picolé na rua, vigia, varredor de rua etc.
Interessante como, em reuniões com a comunidade, tive a oportunidade de vê-la sempre, ao ser interrogada sobre os cursos que quer, responder “– profissionalizante”. Na Assistência Social, concordo com cestas básicas, mas vislumbro termos sustentação teórica para uma virada no campo das concepções mesmo, concomitantemente no campo da atuação, que já optamos no coletivo pela práxis. Não é só trabalho que traz dignidade e nem todos que trabalham deveriam ou querem ter um trabalho; somente poucos conseguem garantir seus direitos básicos com a renda que percebe. E embora o desemprego não signifique falta de oferta de posto de trabalho, entrando aí a falta de capacitação mesmo, sabe-se que profissionalizar não garante vaga, neste mercado onde a mão de obra é excedente. E barata. Então, identificamos, como Safira B. Amman, “os aparatos do Estado garantindo a reprodução da desigualdade...”.
Estudos e pesquisas apontam que “diversão é privilégio de poucos” paralelo aos estudos que indicam o estresse como mal do século, ao lado das alergias, da obesidade, das cardiopatias, das variações climáticas, da falta de postos de trabalho. Estudos e pesquisas também apontam que faltam opções de lazer ao jovem. E também aos seus pais e avós e irmãos menores. E que os recursos para diversão e conhecimento, como renda, tempo, meio de locomoção etc., são parcos. O Conselho Municipal de Direitos de Crianças e Adolescentes aprovou em Assembléia da última Conferência, a busca, junto ao poder público, de espaços e momentos para entretenimento e lazer como esportes e oficinas de arte, de línguas, inclusive a portuguesa, bibliotecas, videotecas e cafésnet, entre outras atividades, nos turnos matutino, vespertino e também noturno, já que a indústria paga não para e não tem compromisso social, apesar do papel que exerce (diga-se das lan houses, dos postos de conveniência e das festas psicodélicas). Outro ponto de pauta em termos de conclusão, é o fato de que o turismo é a indústria que mais oferece negócios e empregos, além de ser importantíssimo na vida pessoal de pessoas, bem como na vida social. Então precisa ser estimulado, ampliando cada vez mais o conhecimento da humanidade sobre a sua humanidade, o seu direito de ir e vir. E isto é bom para a cidade. E em Goiânia, fazer o quê e ficar onde? Isto já foi indagado por pessoas de várias idades e situação econômica, em um jornal local. Então, políticas para prática de arvorismo, para a efetivação de albergues bacanas e acessíveis a estudantes e para a organização de passeios coletivos, além é claro do estímulo à revitalização do centro de Goiânia e ao turismo, com um plano urgente para as vielas deste centro histórico, que possa movimentar o mesmo através de atrações diversas, culturais como samba, tango etc., artísticas como exposições e oficinas de dança, pinturas, teatro, poesia, oratória, yoga etc., aliado a um plano de divulgação de tudo isto. Se a Assistência Social organiza este trabalho, que é acima de tudo multiprofissional e intrasetorial, em contra partida, exige disposição para o atendimento de demandatários “seus”.
Todas estas colocações estão assim postas, como justificativa e suporte às idéias para projetos, anexadas a este trabalho. Espero contribuir efetivamente com o Serviço Social, para além das falhas e limites profissionais que possam aqui ter interferido, e que estão abertos às correções, estando sempre à disposição para estes e outros assuntos relacionados à opção de transformação social.
Alexandra Machado Costa, CRESS 1517
março, 2004
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Nossa Prece
"SENHOR: É chegado o momento em que o meu espírito
cansado de lutas se debruça em êxtase ante
o incomensurável.
SENHOR: Sei que sou pequeno, no entanto, o Vosso poder
é tão imenso que minha alma rejubila-se na
Vossa grandeza.
Fazei de mim um servo humilde para Vos compreender, para Vos amar.
Colocai no meu peito de rebelde a solução dos sentimentos puros, de cordialidade, de fraternidade e de humildade.
SENHOR: Fazei com que o silêncio demore em mim como um
consolo e um conforto.
Daí compreensão àqueles que vivem comigo, para que
minha alma cansada de sofrer, busque nos caminhos
perenes do amor, abrigo para minhas emoções.
SENHOR: Sei que o mundo nada me oferece, porém levantai os
meus sentimentos, para que eu busque em Vós, fonte
perene de saber, a solução das minhas caminhadas
pelas estradas batidas de incompreensões humanas,
de lamas e holocausto.
SENHOR: Amparai a minha consciência para que eu possa viver
em Vós, e sobretudo, Senhor, colocai
nela o senso de responsabilidade, mesmo nas
adversidades, para, vivendo e sofrendo, neste
amálgama de incompreensões eu possa Vos servir,
sem sofismas ou equívocos.
SENHOR: Que a Vossa vontade se faça em mim,
que a Vossa vontade se faça em mim, Senhor.
ASSIM SEJA"
cansado de lutas se debruça em êxtase ante
o incomensurável.
SENHOR: Sei que sou pequeno, no entanto, o Vosso poder
é tão imenso que minha alma rejubila-se na
Vossa grandeza.
Fazei de mim um servo humilde para Vos compreender, para Vos amar.
Colocai no meu peito de rebelde a solução dos sentimentos puros, de cordialidade, de fraternidade e de humildade.
SENHOR: Fazei com que o silêncio demore em mim como um
consolo e um conforto.
Daí compreensão àqueles que vivem comigo, para que
minha alma cansada de sofrer, busque nos caminhos
perenes do amor, abrigo para minhas emoções.
SENHOR: Sei que o mundo nada me oferece, porém levantai os
meus sentimentos, para que eu busque em Vós, fonte
perene de saber, a solução das minhas caminhadas
pelas estradas batidas de incompreensões humanas,
de lamas e holocausto.
SENHOR: Amparai a minha consciência para que eu possa viver
em Vós, e sobretudo, Senhor, colocai
nela o senso de responsabilidade, mesmo nas
adversidades, para, vivendo e sofrendo, neste
amálgama de incompreensões eu possa Vos servir,
sem sofismas ou equívocos.
SENHOR: Que a Vossa vontade se faça em mim,
que a Vossa vontade se faça em mim, Senhor.
ASSIM SEJA"
sexta-feira, 2 de abril de 2010
Setor Aeroporto, Dr. Paulo Teles e Câmara de Vereadores de Goiânia
*Publicado no jornal Diário da Manhã, em 01.04.10
Quando participei da fundação da Associação de Moradores do Setor Aeroporto – AMSA, em 27 de março de 2001, pretendia, com o grupo, desenvolver um trabalho sócio-ambiental no bairro e com as comunidades adjacentes, principalmente as das margens do Córrego Capim Puba.
Em nossa diretoria constavam, além de mim, advogados, comerciantes, aposentados, outra assistente social, professores, economista, donas de casa, enfim, gente séria e disposta ao enfrentamento de diversas questões que incomodavam e incomodam o Setor Aeroporto.
Durante a primeira gestão, da qual fiz parte como primeira secretária, foi possível desenvolvermos algumas reuniões e atividades com o grupo diretor e a comunidade. Ao final do mandato, já com bastante controvérsia diante do andamento da mesma, assumi a direção e realizamos em 2004, junto ao CCAB, de acordo com o Estatuto, a primeira eleição da AMSA, que se realizou mediante protestos devido à construção do viaduto da Av. República do Líbano.
A chapa vencedora, que se posicionou e organizou pequenas manifestações contra o referido viaduto, logo começou a se desmantelar e nunca exerceu de fato, uma gestão coletiva, consistente.
Após seis anos, nada há de registro sobre a Amsa, no 2º Tabelionato de Protestos e Registros de Pessoas Jurídicas, Títulos e Documentos. Na última vez que li o Livro de Atas da Amsa, há cerca de três anos, apenas constava minha letra.
Sei que existem, em nome da Amsa, desde a primeira gestão, débitos altos, de autoria cível e junto ao Estado, o que não entendo. Mas não pretendo aqui, expor as várias mazelas que circundam a Amsa, desde sua fundação.
Confesso estar descrente dos poderes, pois já enviei e-mail ao TJ-GO via site, solicitando medidas cabíveis, após crer em palavras vãs de vereador que não teve responsabilidade com o meu trabalho, nem com o bairro e as pessoas que também acreditaram nele, quando da organização e efetivação de uma fatídica feirinha aqui no bairro.
Porém, diante do aniversário da Amsa, aqui exponho novamente meu sincero desejo de que esta possa vir a desenvolver de fato um trabalho relevante, que altere positivamente a realidade da região e quiçá, da cidade.
Tive, em 2007, o apoio moral do saudoso amigo, Dr. Isaac Benchimol, que me disse após tentar encaminhar a questão no MP, que a promotoria que cuidava das associações de moradores, já não cuidava mais.
Peço então, humildemente, em nome de nossa comunidade, à Câmara de Vereadores, que aprovou requerimento para a realização de sessões plenárias em bairros de Goiânia, e ao Excelentíssimo Senhor Dr. Paulo Teles, do TJ-GO, que tem manifestado proximidade com o movimento comunitário, mediação neste assunto.
Que este processo (Câmara Itinerante) se inicie na Praça do Avião, convidando para a primeira plenária, cidadãos e cidadãs dos bairros dos arredores da Câmara: Setor Central, Norte Ferroviário, Setor dos Funcionários e Setor Aeroporto.
É preciso que o poder público aja com equidade, diante dos problemas da cidade. As ações públicas na periferia são imprescindíveis, mas não se pode fechar os olhos para o que temos vivido, no Centro.
Quando participei da fundação da Associação de Moradores do Setor Aeroporto – AMSA, em 27 de março de 2001, pretendia, com o grupo, desenvolver um trabalho sócio-ambiental no bairro e com as comunidades adjacentes, principalmente as das margens do Córrego Capim Puba.
Em nossa diretoria constavam, além de mim, advogados, comerciantes, aposentados, outra assistente social, professores, economista, donas de casa, enfim, gente séria e disposta ao enfrentamento de diversas questões que incomodavam e incomodam o Setor Aeroporto.
Durante a primeira gestão, da qual fiz parte como primeira secretária, foi possível desenvolvermos algumas reuniões e atividades com o grupo diretor e a comunidade. Ao final do mandato, já com bastante controvérsia diante do andamento da mesma, assumi a direção e realizamos em 2004, junto ao CCAB, de acordo com o Estatuto, a primeira eleição da AMSA, que se realizou mediante protestos devido à construção do viaduto da Av. República do Líbano.
A chapa vencedora, que se posicionou e organizou pequenas manifestações contra o referido viaduto, logo começou a se desmantelar e nunca exerceu de fato, uma gestão coletiva, consistente.
Após seis anos, nada há de registro sobre a Amsa, no 2º Tabelionato de Protestos e Registros de Pessoas Jurídicas, Títulos e Documentos. Na última vez que li o Livro de Atas da Amsa, há cerca de três anos, apenas constava minha letra.
Sei que existem, em nome da Amsa, desde a primeira gestão, débitos altos, de autoria cível e junto ao Estado, o que não entendo. Mas não pretendo aqui, expor as várias mazelas que circundam a Amsa, desde sua fundação.
Confesso estar descrente dos poderes, pois já enviei e-mail ao TJ-GO via site, solicitando medidas cabíveis, após crer em palavras vãs de vereador que não teve responsabilidade com o meu trabalho, nem com o bairro e as pessoas que também acreditaram nele, quando da organização e efetivação de uma fatídica feirinha aqui no bairro.
Porém, diante do aniversário da Amsa, aqui exponho novamente meu sincero desejo de que esta possa vir a desenvolver de fato um trabalho relevante, que altere positivamente a realidade da região e quiçá, da cidade.
Tive, em 2007, o apoio moral do saudoso amigo, Dr. Isaac Benchimol, que me disse após tentar encaminhar a questão no MP, que a promotoria que cuidava das associações de moradores, já não cuidava mais.
Peço então, humildemente, em nome de nossa comunidade, à Câmara de Vereadores, que aprovou requerimento para a realização de sessões plenárias em bairros de Goiânia, e ao Excelentíssimo Senhor Dr. Paulo Teles, do TJ-GO, que tem manifestado proximidade com o movimento comunitário, mediação neste assunto.
Que este processo (Câmara Itinerante) se inicie na Praça do Avião, convidando para a primeira plenária, cidadãos e cidadãs dos bairros dos arredores da Câmara: Setor Central, Norte Ferroviário, Setor dos Funcionários e Setor Aeroporto.
É preciso que o poder público aja com equidade, diante dos problemas da cidade. As ações públicas na periferia são imprescindíveis, mas não se pode fechar os olhos para o que temos vivido, no Centro.
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terça-feira, 30 de março de 2010
Qual é mesmo o projeto?
* Publicado no jornal Diário da Manhã em 14.03.10
Não o pessoal. Que precisa de Íris Rezende governador, prá se dar bem.
Não o pessoal.
Qual o projeto de Estado é necessário prá se eleger o governador?
Não falo de discurso pragmático, que rende, mas de plano de governo. De rumos. De práticas.
O que está pesando nas pesquisas? O que o PMDB tem em comum com o PT, além das trombadas do passado, quais as afinidades, os verdadeiros interesses? A democracia? Qual a visão de mundo que se tem das questões que permeiam o governo do Estado de Goiás, no campo social, econômico e político? Qual o cenário desejável?
A briga que vemos é por poder e não por projeto. Não se defende idéias, propostas, ideais. Mas manutenção e repasse de poder. Pelo poder.
Palco mórbido de notícias requentadas, a nossa política. Até o que parece novo, é apenas roupagem, carcaça. Discurso.
Necessidade esquálida de se garantir as próprias necessidades, mesquinhez de política narcísica, em nada coletiva.
Eu, que nunca quis ideologia pra viver, agora quero.
Acompanho as notícias políticas e não vi Henrique Meirelles dizer que não seria candidato a governador. Apenas, reiterou, sempre que pressionado, não ter a resposta pronta antes do final de março. Quanta balbúrdia ao redor. Pressão só pra atrapalhar, barulhar, aparecer, mostrar comando.
E ainda tem gente que espera dele, sorrisinhos e afagos, resposta branda, posicionamento de príncipe. Companheiro é companheiro.
Não precisamos dos políticos de holofotes, dos tapinhas nas costas, dos sorrisos de hiena das corjas umbiguistas e acéfalas. Dos motes repetitivos que não alteram nada, além dos próprios bolsos.
O meu repúdio aos políticos que focam nos resultados, maquiavélicos. Que não enxergam a baixeza que imprimem aos processos, cujos princípios, meios e fins são dicotômicos, de acordo com os próprios interesses, flutuantes. Que trabalham para a manutenção do próprio poder. Que se sentem os donos dos “currais eleitorais” que acreditam representar, ou ameaçados nestes currais, por outro que não pode entrar.
Prefeito, a dúvida não é de Deus, que seja o teu sim, sim e o teu não, não. Pensa no seu Estado, sua cidade, seu país. Se for, que ganhe. Se ficar, que fique bem.
Agora, tem que querer ser governador, pra ser, ora. Deus é luz, não fique na escuridão. Nunca vi isto, que coisa horrorosa, este novo quadro. Palhaçada. Tomara se resolva logo.
Enquanto isto vou cantando o blues da piedade, tentando iluminar minhas mini certezas.
E ainda tem quem fale mal do Cazuza. Mas ele era artista.
Não o pessoal. Que precisa de Íris Rezende governador, prá se dar bem.
Não o pessoal.
Qual o projeto de Estado é necessário prá se eleger o governador?
Não falo de discurso pragmático, que rende, mas de plano de governo. De rumos. De práticas.
O que está pesando nas pesquisas? O que o PMDB tem em comum com o PT, além das trombadas do passado, quais as afinidades, os verdadeiros interesses? A democracia? Qual a visão de mundo que se tem das questões que permeiam o governo do Estado de Goiás, no campo social, econômico e político? Qual o cenário desejável?
A briga que vemos é por poder e não por projeto. Não se defende idéias, propostas, ideais. Mas manutenção e repasse de poder. Pelo poder.
Palco mórbido de notícias requentadas, a nossa política. Até o que parece novo, é apenas roupagem, carcaça. Discurso.
Necessidade esquálida de se garantir as próprias necessidades, mesquinhez de política narcísica, em nada coletiva.
Eu, que nunca quis ideologia pra viver, agora quero.
Acompanho as notícias políticas e não vi Henrique Meirelles dizer que não seria candidato a governador. Apenas, reiterou, sempre que pressionado, não ter a resposta pronta antes do final de março. Quanta balbúrdia ao redor. Pressão só pra atrapalhar, barulhar, aparecer, mostrar comando.
E ainda tem gente que espera dele, sorrisinhos e afagos, resposta branda, posicionamento de príncipe. Companheiro é companheiro.
Não precisamos dos políticos de holofotes, dos tapinhas nas costas, dos sorrisos de hiena das corjas umbiguistas e acéfalas. Dos motes repetitivos que não alteram nada, além dos próprios bolsos.
O meu repúdio aos políticos que focam nos resultados, maquiavélicos. Que não enxergam a baixeza que imprimem aos processos, cujos princípios, meios e fins são dicotômicos, de acordo com os próprios interesses, flutuantes. Que trabalham para a manutenção do próprio poder. Que se sentem os donos dos “currais eleitorais” que acreditam representar, ou ameaçados nestes currais, por outro que não pode entrar.
Prefeito, a dúvida não é de Deus, que seja o teu sim, sim e o teu não, não. Pensa no seu Estado, sua cidade, seu país. Se for, que ganhe. Se ficar, que fique bem.
Agora, tem que querer ser governador, pra ser, ora. Deus é luz, não fique na escuridão. Nunca vi isto, que coisa horrorosa, este novo quadro. Palhaçada. Tomara se resolva logo.
Enquanto isto vou cantando o blues da piedade, tentando iluminar minhas mini certezas.
E ainda tem quem fale mal do Cazuza. Mas ele era artista.
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Educação e participação em assistência social
* Publicado no jornal DM em 22.03.10
"A produção de ideias,
de representações da consciência
está diretamente entrelaçada
com a atividade material
e com o intercâmbio material dos homens..."
Marx e Engels
Considerando os cinco pontos que norteiam o trabalho social, a saber – a pobreza, a ignorância, a enfermidade, a ociosidade e o meio ambiente, quero chamar a atenção para o papel educativo da assistência social. O serviço social tem em seu arcabouço teórico, referenciais como Paulo Freire, que trabalha a educação popular. A posição educativa de Paulo Freire supõe o homem/educando, como um ser concreto, situado no tempo e no espaço, vivendo determinada época, num contexto sócio-cultural específico. É deste homem que parte o processo educativo.
Em serviço social como em Vigótski, acredita-se que “não é a atividade em si que ensina, mas a possibilidade de interagir, de trocar experiências e partilhar significados”. Entende-se que a educação não é resultado, mas sim, processo. A educação na assistência social pressupõe participação e construção dialógica.
A participação da população na formulação desta política pública e no controle das ações sociais é diretriz da assistência social e é um processo educativo que se torna possível a partir dos Cras – Centros de Referência em Assistência Social, que são espaços físicos apropriados ao desenvolvimento de comunidades e grupos nas cidades e devem ter conselhos locais.
A ação social deve ampliar o espaço de atuação e de participação do ser no mundo, elevando seu nível de consciência acerca de si mesmo, face à realidade em que está inserido. Em serviço social, a reflexão racional constitui o método educativo.
Daí se promover, através das ações sociais, espaços de discussão sobre a vida; a própria vida, a vida pretendida, a preterida. Sobre o trabalho, a família, a morada, o bairro, o que se tem, o que se quer.
A educação popular vincula o particular com o geral, o local com o global, o cotidiano com o histórico, a experiência diária com a teoria.
Compreende que "a vida não é um conjunto de episódios sem conexão, mas uma sequência contínua onde se encontram relações de causa e efeito", como disse Gordon Hamilton.
A ação de pensar as coisas que vivemos nos dá uma nova dimensão de compreensão.
Na escola, as dificuldades naturais, desafiadoras da imaginação criativa, são substituídas por dificuldades falsas e abstratas, impostas por um modelo autoritário de sistema educacional.
Na escola, quase sempre, o que importa é saber responder à imagem e semelhança do mestre, e ainda, cumprir a grade curricular, que já vem pronta.
Entende-se que ao serviço social cabe possibilitar ao homem a tomada de consciência acerca de si próprio, perante e do que poderá ser ante o mundo, em um posicionamento filosófico que permita não só o trato com este homem, mas o questionamento sobre o que significa ser homem e a complexidade de sua situação no mundo.
A educação através da assistência social não trabalha um indivíduo isolado de suas condições objetivas, materiais, sociais e culturais. Esta educação compreende a subjetividade construída no jogo das relações.
É esta subjetividade que permite o vislumbre de novas realidade, novas possibilidades.
"A produção de ideias,
de representações da consciência
está diretamente entrelaçada
com a atividade material
e com o intercâmbio material dos homens..."
Marx e Engels
Considerando os cinco pontos que norteiam o trabalho social, a saber – a pobreza, a ignorância, a enfermidade, a ociosidade e o meio ambiente, quero chamar a atenção para o papel educativo da assistência social. O serviço social tem em seu arcabouço teórico, referenciais como Paulo Freire, que trabalha a educação popular. A posição educativa de Paulo Freire supõe o homem/educando, como um ser concreto, situado no tempo e no espaço, vivendo determinada época, num contexto sócio-cultural específico. É deste homem que parte o processo educativo.
Em serviço social como em Vigótski, acredita-se que “não é a atividade em si que ensina, mas a possibilidade de interagir, de trocar experiências e partilhar significados”. Entende-se que a educação não é resultado, mas sim, processo. A educação na assistência social pressupõe participação e construção dialógica.
A participação da população na formulação desta política pública e no controle das ações sociais é diretriz da assistência social e é um processo educativo que se torna possível a partir dos Cras – Centros de Referência em Assistência Social, que são espaços físicos apropriados ao desenvolvimento de comunidades e grupos nas cidades e devem ter conselhos locais.
A ação social deve ampliar o espaço de atuação e de participação do ser no mundo, elevando seu nível de consciência acerca de si mesmo, face à realidade em que está inserido. Em serviço social, a reflexão racional constitui o método educativo.
Daí se promover, através das ações sociais, espaços de discussão sobre a vida; a própria vida, a vida pretendida, a preterida. Sobre o trabalho, a família, a morada, o bairro, o que se tem, o que se quer.
A educação popular vincula o particular com o geral, o local com o global, o cotidiano com o histórico, a experiência diária com a teoria.
Compreende que "a vida não é um conjunto de episódios sem conexão, mas uma sequência contínua onde se encontram relações de causa e efeito", como disse Gordon Hamilton.
A ação de pensar as coisas que vivemos nos dá uma nova dimensão de compreensão.
Na escola, as dificuldades naturais, desafiadoras da imaginação criativa, são substituídas por dificuldades falsas e abstratas, impostas por um modelo autoritário de sistema educacional.
Na escola, quase sempre, o que importa é saber responder à imagem e semelhança do mestre, e ainda, cumprir a grade curricular, que já vem pronta.
Entende-se que ao serviço social cabe possibilitar ao homem a tomada de consciência acerca de si próprio, perante e do que poderá ser ante o mundo, em um posicionamento filosófico que permita não só o trato com este homem, mas o questionamento sobre o que significa ser homem e a complexidade de sua situação no mundo.
A educação através da assistência social não trabalha um indivíduo isolado de suas condições objetivas, materiais, sociais e culturais. Esta educação compreende a subjetividade construída no jogo das relações.
É esta subjetividade que permite o vislumbre de novas realidade, novas possibilidades.
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Educação copiada
* Publicado no jornal DM - Cartas do Leitor em 21 de Março de 2010
COMENTÁRIO SOBRE: A inaceitável realidade: no Brasil cada vez mais crianças envolvidas com crimes violentos - Artigo de Iris de Araújo, publicado dia 18/03/2010
Educação copiada
Mais que defender a educação, precisamos saber para que a queremos. Para treinar? Para depositar conteúdos? Para preencher o tempo?
Há muito a educação formal deixou de existir para constituir cidadãos que constituam um mundo melhor. Ela existe para atender o mercado, e o mercado não tem vocação social. Sua ética é a do lucro. É preciso que paremos de dizer que a educação tem varinha mágica, que vai resolver os problemas sociais.
É preciso que se fale na distribuição da riqueza socialmente construída, pra se falar em dignidade, e não em falta de educação, afinal, é muita gente trabalhando com educação, formal ou não. É muita gente trabalhando com crianças e jovens.
Por quanto tempo crianças e jovens permanecem nas escolas integrais na Europa? O que elas fazem nestas escolas e como fazem? O que encontram, quando chegam às suas casas? Como foi a educação que seus pais receberam? O que fazem, além de frequentar a escola, e nos fins de semana?
Como é e como vive o professorado, dentro e fora da escola? E se repetirmos as mesmas indagações com foco na realidade brasileira, quais serão as respostas?
A educação que precisamos requer ser construída democraticamente e não copiada. E certamente, não tem um único caminho.
COMENTÁRIO SOBRE: A inaceitável realidade: no Brasil cada vez mais crianças envolvidas com crimes violentos - Artigo de Iris de Araújo, publicado dia 18/03/2010
Educação copiada
Mais que defender a educação, precisamos saber para que a queremos. Para treinar? Para depositar conteúdos? Para preencher o tempo?
Há muito a educação formal deixou de existir para constituir cidadãos que constituam um mundo melhor. Ela existe para atender o mercado, e o mercado não tem vocação social. Sua ética é a do lucro. É preciso que paremos de dizer que a educação tem varinha mágica, que vai resolver os problemas sociais.
É preciso que se fale na distribuição da riqueza socialmente construída, pra se falar em dignidade, e não em falta de educação, afinal, é muita gente trabalhando com educação, formal ou não. É muita gente trabalhando com crianças e jovens.
Por quanto tempo crianças e jovens permanecem nas escolas integrais na Europa? O que elas fazem nestas escolas e como fazem? O que encontram, quando chegam às suas casas? Como foi a educação que seus pais receberam? O que fazem, além de frequentar a escola, e nos fins de semana?
Como é e como vive o professorado, dentro e fora da escola? E se repetirmos as mesmas indagações com foco na realidade brasileira, quais serão as respostas?
A educação que precisamos requer ser construída democraticamente e não copiada. E certamente, não tem um único caminho.
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Trabalho
quinta-feira, 4 de março de 2010
A CABALA DA INVEJA - Nilton Bonder
OBS.: TEXTO INCOMPLETO
“Receptáculo de raiva, muita raiva,
as invejas retêm no coração muito ódio.
Como “celulite emocional e espiritual”,
a inveja controla atos, situações e vidas inteiras”
CONDIÇÃO DE INVEJA
• “Moisés, no final de sua vida, quis saber de D’us porque teria que morrer”.
“Porque já nomeei Josué em teu lugar para liderar os israelitas”, respondeu D’us.
“Deixe que ele lidere”, contestou Moisés. “Eu serei seu servo”.
D’us concordou, mas Josué não gostou muito da situação. Moisés então lhe perguntou: “você não quer que eu permaneça vivo?”.
Josué consentiu e tornou-se líder e mestre até mesmo para ele, Moisés.
Quando foram entrar na Tenda Sagrada (onde se encontrava a Arca), uma nuvem surgiu. Josué foi autorizado a entrar no espaço sagrado e Moisés teve que permanecer do lado de fora.
Disse Moisés: “Uma centena de mortes são preferíveis à dor da inveja”.Naquele dia pediu para morrer.”(Crônicas de Moisés)”
• Você – Josué de cada um de nós – é o que não sou, fantasma de mim mesmo
• O trágico na condição de inveja é que esta não se instala, na grande maioria, das experiências, apenas no final da vida, como em nossa história. Representa, infelizmente, o final prematuro de muitas vidas. Vidas que preferem, como Moisés, extinguir-se a ter que enfrentar a dor da inveja. Morrem, na verdade, ao dedicarem suas vidas a dor da inveja, ou seja, dispendendo energia na expectativa de que o “outro” não seja bem-sucedido. Neste caso, a própria vida não é mais capaz de propiciar tanto prazer e contentamento quanto o fracasso do “outro”. O invejoso está diante de seu próprio cadáver, pois não é mais capaz de sentir por si só.
• Somos todos invejosos de todos. Com exceção daqueles que conseguimos perceber como extensão nossa invejamos a todos.
• A maneira com que cada um de nós lida com este sentimento, o período que ele permanece em nós e as conseqüências que lhe permitimos causar, variam consideravelmente de pessoa a pessoa.
• Hoje, graças à psicanálise, compreendemos muito sobre as origens e anomalias da inveja. Sabemos, por exemplo, que remontam a momentos primários da relação do bebê com a frustração e a satisfação. Reconhecemos com maior facilidade que é impossível se evitar a experiência da carência, da fome, do frio, da dor e do desconforto. Ao mesmo tempo, temos consciência da necessidade de afeto e atenção para, apesar das experiências de frustração, encontrarmos equilíbrio na maneira de vivermos nossas vidas.
• Nosso interesse não é tanto o estudo da patologia da inveja, mas a convivência com a mesma. A sabedoria antiga, construída das “dores de barriga” de gerações passadas, de reflexões posteriores à revelação dos ímpetos e atitudes acumulados durante nossa história coletiva, é herança valiosíssima para a construção do ser potencial que somos hoje.
• Isolar o vírus da inveja e identificá-lo em meio a suas inúmeras dissimulações é investir na descoberta de nossa verdadeira cara; é olhar a realidade com outra visão. Poder enxergar em meio à escuridão da superficialidade reduz o nível de agressividade deste mundo e torna nossa realidade mais aceitável, mais tolerável.
• Descobriremos acima de tudo que a injustiça é uma condição originada pelo modo com que abordamos um problema ou questão. Podemos construir enormes estruturas de injustiça em nossas mentes e sentimentos para lidar com a mágoa e a inveja. Torna-se fundamental, então, para nossa qualidade de vida evitarmos cair nas armadilhas que nos justificam a partir da injustiça. Isto, porque, além da perda de tempo e energia, nos descobrimos encurralados na solidão destes sentimentos.
ÓDIO COMO INVEJA
A Descoberta da Rixa
• No ciúme queremos obter algo para nós, independente deste “outro” de quem temos ciúme.
• O ciúme tem seu centro em nós mesmos; o outro é apenas o intermediário para expressarmos o quanto desejamos algo. Na inveja, no entanto, o algo é o outro. Somos prisioneiros do outro. Nosso desejo é a destruição total daquilo que identificamos como o objeto do que não nos dá prazer, que nos frustra. A inveja é insaciável.
• O invejoso desgraça a todos, inclusive a si mesmo, de forma consciente.
• A inveja estabelece uma relação de rixa. A rixa é uma forma de ódio que se conserva, que não é dispendida.
• Conflitos de qualquer natureza estabelecem relações de rixa e de inveja.
• Abordando exatamente este sentimento, a bíblia (Lev. 19:17) estipula: “Não odiará teu próximo no teu coração!”.
• Devemos ser muito cuidadosos com o que penetra nossos corações, para que estes não sejam poluídos.
• Na verdade, todos os sentidos deveriam ser compreendidos como portões para o mundo externo, onde um rigoroso controle alfandegário se faz necessário. Na pratica judaica, esta alfândega é simbolizada pelo uso de estranhos objetos rituais chamados tefilin. Compostos de duas caixas de madeira contendo pergaminhos com textos bíblicos, os tefilin são colocados junto ao coração, no braço esquerdo, e na testa, entre os olhos. Com estes objetos a pessoa medita logo que acorda, conscientizando-se do dia que terá pela frente. Reconhece então que um novo dia se inicia e que aqueles que não conseguirem fazer uma leitura do mundo a sua volta além da superficialidade da rotina, terão, com certeza, um dia mais difícil.
• Os tefilin são primos próximos da mezuzá, amuleto na forma de pequena caixa contendo pergaminhos que é colocado nos portais das casas dos judeus e que são beijados ao se entrar e ao sair e ao entrar de casa. A razão de se fazer isto advém da possibilidade de sacralização do espaço interno da casa. Quando entramos em casa, tocamos a mezuzá como forma de perceber que tudo de ruim e pesado que possa ter ocorrido conosco deve ficar do lado de fora, ou ao menos, ser transformado, de forma a condizer com o novo meio que adentramos. Da mesma forma, ao sairmos de casa devemos perceber que abandonamos o espaço da intimidade e tolerância que abandonamos o espaço da intimidade e tolerância que é vivido neste meio. Na rua, devemos ser extremamente cuidadosos para não ofender, ou ser mal-entendidos. Na rua, o benefício da dúvida, o perdão imediato e o carinho gratuito são apenas ideais; até o dia em que todas as ruas e cidades sejam transformadas numa grande casa.
• O que entra e sai em forma de sentimentos de nosso coração deve ser resguardado para não poluir o mundo ou a nós mesmos. O que penetra nosso cérebro sob a forma de pensamento ou aquilo que externamos deve também estar sintonizado de maneira a não poluir nós mesmos com idéias nocivas.
INVEJA E ECOLOGIA
• Uma mente ou um coração pode tornar-se um depósito de elementos poluentes que não desaparecem com o tempo – não são degradáveis. Tanto a ingenuidade nata do coração como a da mente podem acumular suficientes dejetos de experiências de não-amor, frustração, violência, traição ou falsidade de forma a criar condições que não possibilitem a nosso sistema vital processá-los.
• Ou realizamos limpezas estruturais de tempos em tempos, permitindo-nos crises ou “sacudidas”, ou nossas mentes e corações se tornam saturados e incapazes de produzir “solo fértil” para pensamentos e sentimentos.
• Muitos são os que sucumbem à poluição e regridem ao estado animal puro, conseguindo apenas realizar operações triviais de pensamento e sentimento. São simplórios aprisionados ao que acreditam “ter razão”, como se houvesse algo absoluto por si próprio. Confundem justiça divina com o maniqueísmo de sua própria visão do mundo. Acreditam que há certo e errado, e não certos e errados, que podem em dadas condições, inverter as polaridades.
• Estar desesperado, com o rosto caído, não por fracassar, mas pelo sucesso do outro, é a descrição da dor da inveja.
• Sociedades mais consumistas são, sem sombras de dúvidas, sociedades mais invejosas e mais desejosas de ter. Investem sua energia de ser, sua vida, para adquirir sua própria enceradeira. Cada prédio poderia ter uma única enceradeira coletiva, porém, o desejo de ter sua enceradeira própria é conseqüência da descoberta publicitária de que a inveja é a descoberta publicitária de que a inveja é um sentimento humano intenso e poderoso.
• Segundo Melanie Klein, a inveja se instaura na ansiedade primeva relativa ao seio materno. Este seio que é visto como um “objeto bom”, é ao mesmo tempo, responsável por muita crueldade, ao privar ou gratificar alguém como o esperado.
INVEJA E IDOLATRIA
• Em relação ao décimo mandamento, que determina não se cobiçar o que é do outro, dizia o Radviler: “Aquele que não dispõe de autodisciplina para cumprir esta proibição com relação à cobiça deve recomeçar tudo de novo, repassando o primeiro mandamento: amar e reconhecer a justiça divina. Pois se realmente tal indivíduo acreditasse em D’us, não teria inveja daquilo que foi alocado como parte da porção de seu vizinho”.
• A inveja revela tanto a descrença na Força Ordenadora quanto aos desvios que fazem com que muitos dos que crêem sejam, em realidade, idólotras.
• Aquele que diz crer e que inveja, na verdade crê em algo ou em alguma justiça que não é absoluta. Provavelmente possui um Deus particular cuja visão de mundo e agenda são personalizadas. Sua manifestação no mundo se dá na confirmação de pequenas vitórias ou conquistas pessoais que os tornam arrogantes e egocentrados, invejosos clássicos.
• De onde tirar esta certeza que nos faça abarcar as premissas contidas nos Dez Mandamentos? De si, da capacidade de invejar menos ou de se satisfazer mais com as ofertas para ser, ao invés de reter e obter.
• Enquanto a inveja depõe constantemente em favor da irracionalidade das crenças em D’us, a gratidão age no sentido oposto.
• O estabelecimento de uma era messiânica é a expectativa não de uma comprovação externa da verdade contida em D’us, mas o predomínio absoluto do sentimento de gratidão. Um momento em que as pessoas não mais se identificarão. Um momento em que as pessoas não mais se identificarão com a inveja e a estranharão.
RANCOR NOUTROS MUNDOS
• A reação à dor é uma imediata disponibilidade animal para a briga ou para amaldiçoar aquele que nos pisa.
• Ter o “pé pisado” muitas vezes, mesmo com as devidas desculpas, acaba por criar um determinado tipo de ódio cumulativo; na tradição judaica, este primeiro nível do ódio receberá o nome de sin`hat chinam (raiva gratuita por tudo).
EXPRESSÕES HUMANAS DE RANCOR NOS QUATRO MUNDOS
- “Há quatro disposições na gradação da raiva: 1) naquele que é fácil de provocar-se e também fácil apaziguar-se, o que há de negativo neutraliza-se com o positivo; 2) naquele que é difícil de ser provocado e difícil de ser apaziguado, o que há de positivo, neutraliza-se com o negativo; 3) aquele que é difícil de ser provocado e fácil de ser apaziguado: este é o sábio; e 4) aquele que é facilmente provocado e dificilmente apaziguado: este é o perverso” (Ética dos Ancestrais 5:14)
- A situação do perverso e do sábio é evidente. O primeiro perde-se no pantanal enquanto o último passeia pelo pomar. O sábio tem uma leitura profunda da realidade que por si só torna difícil a provocação e que também lhe dá capacidade de rapidamente ajustar-se às situações da vida e de se controlar com facilidade.
ROUBANDO A ROUPA DO REI
- Ë bastante comum acharmos que a humildade é o outro extremo do orgulho, quando é, na realidade, uma situação de equilíbrio. O extremo oposto do orgulho é a falta de auto-estima. O humilde nada tem a ver com aquele que não consegue reconhecer e apreciar a si como parte das maravilhas deste mundo. Sua atitude, porém, é distinta do orgulhoso, que é totalmente centrado em si.
- O orgulho, no induz à crença de que estamos “certos”e obstrui nossa capacidade de relativizar e olhar situações sob diferentes perspectivas de nossa opinião ou julgamento já formados.
- Não há pior orgulho que o orgulho dos devotos
- Os momentos de transição estimulam a preservação do único bem não perecível: o autoconhecimento. Quando instituições e ideologias enfraquecem, não temos onde investir nossas vidas, a não ser no crescimento pessoal.
- Muitas pessoas desejam “ter”crescimento ao invés de vivê-lo.
HUMILDADE COM MÁXIMA SABEDORIA
“Nem todos se contentam com sua aparência, mas todos se contentam com seu cérebro!” (Provérbio iídiche)
- Para alguém poder chegar ao “temor a D`us” deve ultrapassar o culto ao deus da recompensa, o deus da necessidade imediata, o deus do poder, o deus da veneração pessoal e conseguir eliminar os elementos infantis de sua percepção simbólica de D’us.
RAZÕES PARA O ÓDIO
- Somos condicionados a amar tudo que percebemos como parte de nós ou de nossa essência.
- O crescimento pessoal ocorre da constante revisão de quem somos e, a partir daí, de buscarmos compreender quem são nossos filhos/irmãos ou discípulos/amigos. Quanto mais pobre nossa percepção de quem somos, mais limitada será nossa capacidade de incluir o outro sob uma destas duas categorias.
- Aquele que ama apenas a si ama algo muito pequeno pois é na sua incapacidade de encontrar grandeza e amplidão em si que se origina sua dificuldade de encontrar no mundo filhos/ irmãos ou discípulos/ amigos.
- Se deixamos lacunas na verdade, estas podem vir a ser preenchidas pelo outro e absorvidas como dolorosas mágoas.
RUBOR – Sangrando por Dentro
- A justiça não é simplesmente produto de uma lógica distante da realidade. Ao contrário, é uma resultante da interação de muitos indivíduos e muitas realidades. Portanto, é regra básica tomar-se muito cuidado com atitudes calcadas no direito que pensamos possuir a partir de uma injustiça.
- Não é tão óbvio o que nos diz o coração magoado ou injustiçado.
“FOFOCA” – A Rede Informal de Ódio
- Devemos ser cuidadosos não apenas para não agirmos levianamente espalhando “histórias”, como também educando-nos a não ouvi-las.
- “Saiba que aquele que escuta uma afirmação maldosa é tão perverso quanto aquele que a transmite”
- Os embustes da intriga não estão na essência do que é dito, mas na forma com que é transmitida; mesmo a lisonja e o elogio podem conter tanto veneno quanto a blasfêmia.
PISANDO NO PÉ
- O mesmo cuidado que uma pessoa esclarecida tem ao integrar-se a um grupo de outra cultura, deveria ter ao se aproximar de outras pessoas, buscando um comportamento que se adeque à realidade à qual nos agregamos.
- Não devemos nos esquecer que quando as pessoas nos pisam o pé, muitas vezes o fazem porque não deixamos nenhum outro espaço onde pudessem colocar o próprio pé, senão sobre o nosso.
TOMANDO COMO PESSOAL
- Na verdade, “tomar algo como pessoal” diz respeito a permitir-nos ingresso no mundo da inveja/rixa ou não. Resistir a este sentimento é uma reação típica provocada pelos “anticorpos”de nosso coração e mente diante da possibilidade de ceder ao rancor que neles se estabeleça
- Vozes e imagens nos garantem, repetindo cenas ou repassando diálogos, a autenticidade de nosso sentimento. Nesta situação estamos com problemas.
- Na verdade, realizamos muito de nossas ofensas de forma não verbal. O status de uma não ofensa é o mesmo de uma ofensa.
- Todo rancor está centrado na certeza de que sua pessoa foi objeto de ataque. Portanto, cabe em cada situação, além de percebermos a dimensão perigosa de rancor que evocamos ao tomarmos algo como pessoal, identificar o verdadeiro sujeito a quem se direcionou a agressão. Se adquirirmos a capacidade de perceber que em inúmeros casos o ataque parte de pessoas estressadas e oprimidas por seu mundo, ou de medos e inseguranças internas, descobrimos que o sujeito verdadeiramente agredido tenha sido talvez a própria pessoa que ofende, ou sua esposa, seu pai, sua irmã etc.
- Se fui agredido por alguém que brigou com seu patrão, talvez possa entender que sua atitude, apesar de violenta não era pessoal.
- Que diferença isto faz? Muita. Ao se identificar uma ofensa como não sendo pessoal, fica erradicada a possibilidade de se entrar na dimensão da rixa.
- Tanto a inveja como a rixa são parasitas da sensação de ódio pessoal que os outros nutrem para conosco.
- Para a tradição judaica, aquele que fala, é como um arqueiro. Joga suas flexas e, uma vez que estas já estejam no ar, não pode mais se arrepender. Quem percebe isto conhece a arte de falar pouco.
- Aquele que “toma algo como pessoal”anda pela floresta e onde quer que veja uma flecha cravada numa árvore, desenha ao seu redor um alvo.
INIMIGOS PÚBLICOS
- “Os rabinos ensinaram – há quatro tipos de pessoas que ninguém tolera: um pobre que é arrogante; um rico que bajula; um idoso luxurioso e um líder que governa sua comunidade sem causa”.(Talmude Bab., Pess. 113b.)
- Estar numa situação de “inimigo público”é ser flagrado em atitudes que revelam não as fraquezas humanas, mas a dificuldade de lidar com as mesmas. Expressam formas de ridículo a que pode um ser humano chegar, demonstrando acima de tudo, o quanto se deixou de aprender da vida e de sua condição.
- Os exemplos são óbvios. Um pobre que é arrogante é o símbolo da frustração em estado avançado. Um rico bajulador dos outros e de si, é alguém que é míope da vida; qualquer objeto que não seja imediato se forma aquém de sua retina. Por sua vez, o ancião luxurioso é o símbolo da decadência, do belo que não sabe se renovar sobre outras formas. Já o líder que não é líder expõe – se a sentimentos que vão do grotesco ao cômico. Comanda o ar e acena de uma alta varanda diante de uma praça vazia como se precisasse disto para certificar-se estar vivo.
- Todos os inimigos públicos possuem a mesma característica de buscar ocultar elementos de sua personalidade que são óbvios. Seu ridículo está na capacidade que têm de levar uma vida onde, por mais que se vistam e se adornem, estão sempre nus diante do público.
LÁGRIMAS TRÍPLICES
- Em todo ódio existe uma componente pessoal que intensifica fraquezas do outro; fraquezas estas que sob a perspectiva de um outro observador podem ser percebidas como razão de admiração e não de repulsa.
- Podemos odiar intensamente algo nos outros que não gostamos em nós mesmos, ou algo nos outros que nos relembre algumas de nossas frustrações, e assim por diante. Ninguém se dá ao luxo de odiar de forma a estar em rixa sem que esteja fortemente vinculado ao objeto de seu ódio.
- Impressionante é a capacidade que pessoas complementares, ou pessoas que se admiram e precisam muito uma da outra, têm de iniciar processo de briga. Entre
amigos que acreditam doar-se muito um ao outro, o senso de traição e ingratidão é intolerável.
- O ódio, instantes antes de “calcificar-se”. É matéria facilmente moldável em amor, desde que a correta química se processe.
BRIGANDO COM D’US
- Quem entra em conflito, acalenta em seu ser mais profundo a idéia de que vencerá. Ninguém brigaria (uma rixa) se acreditasse que fosse perder a briga. A certeza da vitória vem acompanhada de muita depressão e de constantes desilusões quanto a esta expectativa.
- “O mau impulso age de duas maneiras: como a água que esfria o desejo de se realizarem boas intenções e como o fogo que aquece o desejo de transgredir”. Ou seja, o desejo de buscar o reencontro e as resoluções das pendências é constantemente esfriado, enquanto que a compulsão à agressão é aquecida. Desta forma, o tempo passa, a depressão se instala e tornam-se possíveis finais trágicos.
- Os custos das brigas são incalculáveis, pois lesa o bem estar do planeta de maneira assustadora. Sua destruição é tão avassaladora, que mesmo quando seus efeitos não são tão concretos, transtorna e amarga vidas inteiras.
- Para vencer esta verdadeira maldição que é a rixa, Jacó se submeteu a uma das experiências mais intensas relatadas em toda a Bíblia – lutar com D’us. Não é com pouco conhecimento de causa que Jacó, ao reencontrar seu irmão exclama: “ver teu rosto é como ver o rosto de D’us”. (Gen. 33:10)
- Sermos capazes de lutar com nosso D’us, com nossa estrutura interna mais profunda e a perspectiva de nosso olhar para com o mundo, são as únicas coisas que podem dar fim a uma rixa estabelecida.
- O ato de brigar com D’us ou de mudar totalmente as perspectivas já assimiladas, se não ocorre através da sapiência e do crescimento pessoal, só vem com o tempo e sua incrível capacidade de nos desapegarmos dos indivíduos, ou melhor, dos fantasmas que acreditamos tão reais dentro de nós. Triste, porém, é quando nosso tempo interno não está sintonizado com o destino e nos vemos na situação desesperadora de Rabi Ionatan, pois seu amigo com quem estava brigado, morrera antes que pudesse brigar com D’us. Restou-lhe ainda a possibilidade desta briga interna, apesar de que para sempre estaria privado da incrível experiência de olhar no rosto de seu amigo e compreender que era como se olhasse o rosto de D’us.
EU TENHO RAZÃO
- Uma das ilusões mais fortes quando estamos aprisionados à dimensão da briga é a sensação de que “temos razão”. É como se criássemos uma consciência circular da situação em que nos encontramos, toda ela amarrada em si mesma. Por mais que tentemos, não conseguimos transpor os limites desta subconsciência.
- Se a posição do outro é insustentável e se ainda assim a mantém, concluímos então que o outro é em si ruim. O outro faz parte do mundo que vê as coisas às avessas. Pensamos: “por causa de sujeitos assim é que o mundo é como é!”.
- Tanto a confiança total em nosso julgamento quanto a busca obsessiva por provar que o outro está errado tem duas conseqüências malignas: a acusação e a autojustificação.
- O alerta é claro: nas questões de julgamento, estamos sempre submetidos a uma agenda interna, a interesses que nos justificam antes mesmo de qualquer imparcialidade. Acabamos sempre estabelecendo os critérios de nosso julgamento a partir de quem somos e de nossos interesses. Portanto, em briga, não somos muito confiáveis e devemos suspeitar sempre de nossas certezas. Elas muito freqüentemente ocultarão dificuldades que nos são muito dolorosas.
- Em outras palavras, você não pode se permitir identificar na sua proposição qualquer crítica ao outro que tenha medo de fazer a si mesmo nem nada no outro que busque justificar em si mesmo. Porque isto é “você ser você porque o outro é o outro”; é envolver-se nas couraças/argumentos do falso Ego.
- “Estar com a razão” é a tênue fronteira entre a devoção e a idolatria. Por um lado, é um sentimento a ser evitado, pois possibilita desvios e perversões, fortificando falsas percepções de si e dificultando toda sorte de diálogo. Por outro, é a postura do sábio e do justo, pois saber-se posicionar verdadeiramente em nome do que se acredita ser correto, sem se permitir corromper por interesses e necessidades pessoais está entre os feitos de mais difícil realização para os seres humanos.
- Poderíamos dizer, portanto, que existe uma forma construtiva de conflito, na qual o fato de se crer assertivamente “estar com a razão” não apenas promove o diálogo, mas define a própria tarefa do justo. A estas discórdias fundamentais é que, durante séculos, os rabinos do Talmude se dedicaram.
DISCÓRDIAS EM NOME DOS CÉUS
- Para poder se envolver em discórdias em nome dos céus, uma pessoa deve compartilhar de um mesmo nível de compromisso com seu adversário para com o assunto em questão. Estes compromissos dizem respeito a se “ter razão”: se a tônica deste sentimento recai sobre o desejo de se encontra a “razão”, delineia-se um tipo de comprometimento; se, no entanto, a tônica estiver no verbo “ter”, esboça-se outro tipo de comprometimento.
- Para que um justo faça uma afirmação, deve atingir o complexo estágio de “saber que não está certo, porém ter a certeza de que não está errado”. Esta é a única forma legítima de alguém se colocar diante de uma questão, com o objetivo de iniciar um possível diálogo. Não saber se está certo diz respeito a capacidade de ouvir e de querer saber a verdade; já a certeza de não estar errado é a confiança em seus propósitos mais profundos. Quem tem certeza de não estar errado, é na verdade, comprometido com valores que não estão emaranhados ou misturados aos interesses e necessidades pessoais. A própria verdade está subordinada aos propósitos de sua busca. Não existe verdade absoluta senão em relação a algo. Por esta razão, pessoas comprometidas com diferentes conjuntos de intenções, não conseguem estabelecer relações , e não há diálogo;
- A verdade de cada um estabelece discórdias que não se dão em nome dos céus.
- Atitude muito comum entre os seres humanos: imaginamos que vamos conseguir provar ao nosso adversário que este está totalmente errado. Temos tanta certeza do que defendemos, que fantasiamos o momento em que os céus, as forças do próprio cosmos, irão se mobilizar em nosso auxílio.
- Lidar com a expectativa de que se faça justiça em um conflito é algo extremamente complexo. A justiça sim, se fará expressa, afirmam os sábios, mas no seu próprio tempo de interação e maturação.
EVITANDO CONFLITOS
SABENDO ENXERGAR
- Quando estamos irados, temos dificuldade de ver e respirar.
- No que diz respeito a si próprio, o sábio deve perceber que o ódio é um meio mais denso que a realidade – todo sentimento por ele passado será desvirtuado.
- Se estamos envolvidos em uma interação de briga, devemos sempre delimitar papéis de maneira a definir quem é o tinók she-nishbar – o menor. Se o adversário está mergulhado numa rixa, sem capacidade de “enxergar”, aquele que vê torna-se instantaneamente responsável pelo destino da controvérsia.
- Por isso, diz o ditado: “quando um não quer dois não brigam”, onde “não brigam” diz respeito à rixa. Quando um não quer, dois podem sim, “sair no tapa”. Mas, se um perceber como adulto que o outro é como um “bebê que engatinha”, não haverá rixa.
- Se no calor das desavenças conseguirmos estabelecer esta ponte com uma realidade menos superficial, definindo a capacidade de cada um de enxergar, não nos deixaremos arrastar pelas artimanhas da ira. É importante também lembrar que identificar-se com um adulto em relação a um menor não quer dizer assumir ares de superioridade. Afinal, ser adulto não encerra maior mérito que ser criança, mas a contingência de estado diferente. Poder verdadeiramente sentir isto representa “enxergar”.
- Quando um falsamente diz que não quer, dois brigam e muito!
PERIGOS DE SE ENXERGAR – Digressão sobre a Natureza Humana
- Saber enxergar é tarefa realmente para sábios. Não basta ver aquilo que o clarão das reações e posturas humanas revela; deve-se também prestar atenção aos fantasmas destas luminosidade. Certas imagens que permanecem junto à retina daquele que não fechou seus olhos diante de um clarão, percebendo assim intenções e motivações profundas, não são reais e devem ser apagadas do retrato da realidade gravado em nossa memória.
- Poder ler a mente e o coração de uma pessoa é algo muito sério, pois para tal, devemos também ser capazes de analisar corretamente os dados fornecidos por esta leitura. O perigo para o sábio está obviamente nas armadilhas que compõem a própria sapiência. O tolo é o aprendiz de sábio que legitima uma percepção como sábia antes que esta tenha chegado a sua completa maturação como tal. O tolo percorre um certo caminho sincero e sensível e afirma ter chegado à sapiência quando esta encontra-se ainda mais adiante, exigindo maior perseverança e caminhada.
- Uma criança, por mais angelical que seja seu semblante, esconde um ser que, se tivesse acesso ao poder, tornar-se ia o maior dos tiranos e déspotas. Sua capacidade de elaborar o outro é tão pequena que tornar-se ia implacável com quem não a satisfizesse e insaciável diante do desejo de satisfazer-se.
ABRINDO ESPAÇO – Farguinen, o Antônimo da Inveja
- A língua iídiche possui um verbo que é no mínimo raro, senão único: farguinen. Seu significado poderia ser traduzido como “abrir espaço”, “compartilhar prazer”, ou simplesmente como o oposto de invejar. Portanto, se invejar significa ter desgosto e pesar pela felicidade do outro, farguinen tem o sentido de compactuar com o prazer e alegria do outro. Representa o espaço que permitimos ao outro para que exteriorize sua alegria, sua sensação de sucesso ou felicidade.
- Nestas situações, nos é muito difícil esconder os olhares furtivos que escapam à interação com os olhos do outro para se refugiarem dentro, em pensamentos silenciosos que nos atormentam. É como se estivéssemos diante de uma cena de filme, onde podemos ouvir nosso ser exterior repetindo, em câmara lenta: “que coisa boa... que bom...”, enquanto que por dentro, ecoam perguntas do tipo: “por que logo com este camarada?... O que eu não faria com esta quantia?...” e coisas do gênero. Em geral, nestas situações, fica tão evidente nossa dificuldade de lidar com a alegria do outro que, quase sempre, este a percebe. Muitas amizades e confianças terminam nestes rápidos instantes.
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“Receptáculo de raiva, muita raiva,
as invejas retêm no coração muito ódio.
Como “celulite emocional e espiritual”,
a inveja controla atos, situações e vidas inteiras”
CONDIÇÃO DE INVEJA
• “Moisés, no final de sua vida, quis saber de D’us porque teria que morrer”.
“Porque já nomeei Josué em teu lugar para liderar os israelitas”, respondeu D’us.
“Deixe que ele lidere”, contestou Moisés. “Eu serei seu servo”.
D’us concordou, mas Josué não gostou muito da situação. Moisés então lhe perguntou: “você não quer que eu permaneça vivo?”.
Josué consentiu e tornou-se líder e mestre até mesmo para ele, Moisés.
Quando foram entrar na Tenda Sagrada (onde se encontrava a Arca), uma nuvem surgiu. Josué foi autorizado a entrar no espaço sagrado e Moisés teve que permanecer do lado de fora.
Disse Moisés: “Uma centena de mortes são preferíveis à dor da inveja”.Naquele dia pediu para morrer.”(Crônicas de Moisés)”
• Você – Josué de cada um de nós – é o que não sou, fantasma de mim mesmo
• O trágico na condição de inveja é que esta não se instala, na grande maioria, das experiências, apenas no final da vida, como em nossa história. Representa, infelizmente, o final prematuro de muitas vidas. Vidas que preferem, como Moisés, extinguir-se a ter que enfrentar a dor da inveja. Morrem, na verdade, ao dedicarem suas vidas a dor da inveja, ou seja, dispendendo energia na expectativa de que o “outro” não seja bem-sucedido. Neste caso, a própria vida não é mais capaz de propiciar tanto prazer e contentamento quanto o fracasso do “outro”. O invejoso está diante de seu próprio cadáver, pois não é mais capaz de sentir por si só.
• Somos todos invejosos de todos. Com exceção daqueles que conseguimos perceber como extensão nossa invejamos a todos.
• A maneira com que cada um de nós lida com este sentimento, o período que ele permanece em nós e as conseqüências que lhe permitimos causar, variam consideravelmente de pessoa a pessoa.
• Hoje, graças à psicanálise, compreendemos muito sobre as origens e anomalias da inveja. Sabemos, por exemplo, que remontam a momentos primários da relação do bebê com a frustração e a satisfação. Reconhecemos com maior facilidade que é impossível se evitar a experiência da carência, da fome, do frio, da dor e do desconforto. Ao mesmo tempo, temos consciência da necessidade de afeto e atenção para, apesar das experiências de frustração, encontrarmos equilíbrio na maneira de vivermos nossas vidas.
• Nosso interesse não é tanto o estudo da patologia da inveja, mas a convivência com a mesma. A sabedoria antiga, construída das “dores de barriga” de gerações passadas, de reflexões posteriores à revelação dos ímpetos e atitudes acumulados durante nossa história coletiva, é herança valiosíssima para a construção do ser potencial que somos hoje.
• Isolar o vírus da inveja e identificá-lo em meio a suas inúmeras dissimulações é investir na descoberta de nossa verdadeira cara; é olhar a realidade com outra visão. Poder enxergar em meio à escuridão da superficialidade reduz o nível de agressividade deste mundo e torna nossa realidade mais aceitável, mais tolerável.
• Descobriremos acima de tudo que a injustiça é uma condição originada pelo modo com que abordamos um problema ou questão. Podemos construir enormes estruturas de injustiça em nossas mentes e sentimentos para lidar com a mágoa e a inveja. Torna-se fundamental, então, para nossa qualidade de vida evitarmos cair nas armadilhas que nos justificam a partir da injustiça. Isto, porque, além da perda de tempo e energia, nos descobrimos encurralados na solidão destes sentimentos.
ÓDIO COMO INVEJA
A Descoberta da Rixa
• No ciúme queremos obter algo para nós, independente deste “outro” de quem temos ciúme.
• O ciúme tem seu centro em nós mesmos; o outro é apenas o intermediário para expressarmos o quanto desejamos algo. Na inveja, no entanto, o algo é o outro. Somos prisioneiros do outro. Nosso desejo é a destruição total daquilo que identificamos como o objeto do que não nos dá prazer, que nos frustra. A inveja é insaciável.
• O invejoso desgraça a todos, inclusive a si mesmo, de forma consciente.
• A inveja estabelece uma relação de rixa. A rixa é uma forma de ódio que se conserva, que não é dispendida.
• Conflitos de qualquer natureza estabelecem relações de rixa e de inveja.
• Abordando exatamente este sentimento, a bíblia (Lev. 19:17) estipula: “Não odiará teu próximo no teu coração!”.
• Devemos ser muito cuidadosos com o que penetra nossos corações, para que estes não sejam poluídos.
• Na verdade, todos os sentidos deveriam ser compreendidos como portões para o mundo externo, onde um rigoroso controle alfandegário se faz necessário. Na pratica judaica, esta alfândega é simbolizada pelo uso de estranhos objetos rituais chamados tefilin. Compostos de duas caixas de madeira contendo pergaminhos com textos bíblicos, os tefilin são colocados junto ao coração, no braço esquerdo, e na testa, entre os olhos. Com estes objetos a pessoa medita logo que acorda, conscientizando-se do dia que terá pela frente. Reconhece então que um novo dia se inicia e que aqueles que não conseguirem fazer uma leitura do mundo a sua volta além da superficialidade da rotina, terão, com certeza, um dia mais difícil.
• Os tefilin são primos próximos da mezuzá, amuleto na forma de pequena caixa contendo pergaminhos que é colocado nos portais das casas dos judeus e que são beijados ao se entrar e ao sair e ao entrar de casa. A razão de se fazer isto advém da possibilidade de sacralização do espaço interno da casa. Quando entramos em casa, tocamos a mezuzá como forma de perceber que tudo de ruim e pesado que possa ter ocorrido conosco deve ficar do lado de fora, ou ao menos, ser transformado, de forma a condizer com o novo meio que adentramos. Da mesma forma, ao sairmos de casa devemos perceber que abandonamos o espaço da intimidade e tolerância que abandonamos o espaço da intimidade e tolerância que é vivido neste meio. Na rua, devemos ser extremamente cuidadosos para não ofender, ou ser mal-entendidos. Na rua, o benefício da dúvida, o perdão imediato e o carinho gratuito são apenas ideais; até o dia em que todas as ruas e cidades sejam transformadas numa grande casa.
• O que entra e sai em forma de sentimentos de nosso coração deve ser resguardado para não poluir o mundo ou a nós mesmos. O que penetra nosso cérebro sob a forma de pensamento ou aquilo que externamos deve também estar sintonizado de maneira a não poluir nós mesmos com idéias nocivas.
INVEJA E ECOLOGIA
• Uma mente ou um coração pode tornar-se um depósito de elementos poluentes que não desaparecem com o tempo – não são degradáveis. Tanto a ingenuidade nata do coração como a da mente podem acumular suficientes dejetos de experiências de não-amor, frustração, violência, traição ou falsidade de forma a criar condições que não possibilitem a nosso sistema vital processá-los.
• Ou realizamos limpezas estruturais de tempos em tempos, permitindo-nos crises ou “sacudidas”, ou nossas mentes e corações se tornam saturados e incapazes de produzir “solo fértil” para pensamentos e sentimentos.
• Muitos são os que sucumbem à poluição e regridem ao estado animal puro, conseguindo apenas realizar operações triviais de pensamento e sentimento. São simplórios aprisionados ao que acreditam “ter razão”, como se houvesse algo absoluto por si próprio. Confundem justiça divina com o maniqueísmo de sua própria visão do mundo. Acreditam que há certo e errado, e não certos e errados, que podem em dadas condições, inverter as polaridades.
• Estar desesperado, com o rosto caído, não por fracassar, mas pelo sucesso do outro, é a descrição da dor da inveja.
• Sociedades mais consumistas são, sem sombras de dúvidas, sociedades mais invejosas e mais desejosas de ter. Investem sua energia de ser, sua vida, para adquirir sua própria enceradeira. Cada prédio poderia ter uma única enceradeira coletiva, porém, o desejo de ter sua enceradeira própria é conseqüência da descoberta publicitária de que a inveja é a descoberta publicitária de que a inveja é um sentimento humano intenso e poderoso.
• Segundo Melanie Klein, a inveja se instaura na ansiedade primeva relativa ao seio materno. Este seio que é visto como um “objeto bom”, é ao mesmo tempo, responsável por muita crueldade, ao privar ou gratificar alguém como o esperado.
INVEJA E IDOLATRIA
• Em relação ao décimo mandamento, que determina não se cobiçar o que é do outro, dizia o Radviler: “Aquele que não dispõe de autodisciplina para cumprir esta proibição com relação à cobiça deve recomeçar tudo de novo, repassando o primeiro mandamento: amar e reconhecer a justiça divina. Pois se realmente tal indivíduo acreditasse em D’us, não teria inveja daquilo que foi alocado como parte da porção de seu vizinho”.
• A inveja revela tanto a descrença na Força Ordenadora quanto aos desvios que fazem com que muitos dos que crêem sejam, em realidade, idólotras.
• Aquele que diz crer e que inveja, na verdade crê em algo ou em alguma justiça que não é absoluta. Provavelmente possui um Deus particular cuja visão de mundo e agenda são personalizadas. Sua manifestação no mundo se dá na confirmação de pequenas vitórias ou conquistas pessoais que os tornam arrogantes e egocentrados, invejosos clássicos.
• De onde tirar esta certeza que nos faça abarcar as premissas contidas nos Dez Mandamentos? De si, da capacidade de invejar menos ou de se satisfazer mais com as ofertas para ser, ao invés de reter e obter.
• Enquanto a inveja depõe constantemente em favor da irracionalidade das crenças em D’us, a gratidão age no sentido oposto.
• O estabelecimento de uma era messiânica é a expectativa não de uma comprovação externa da verdade contida em D’us, mas o predomínio absoluto do sentimento de gratidão. Um momento em que as pessoas não mais se identificarão. Um momento em que as pessoas não mais se identificarão com a inveja e a estranharão.
RANCOR NOUTROS MUNDOS
• A reação à dor é uma imediata disponibilidade animal para a briga ou para amaldiçoar aquele que nos pisa.
• Ter o “pé pisado” muitas vezes, mesmo com as devidas desculpas, acaba por criar um determinado tipo de ódio cumulativo; na tradição judaica, este primeiro nível do ódio receberá o nome de sin`hat chinam (raiva gratuita por tudo).
EXPRESSÕES HUMANAS DE RANCOR NOS QUATRO MUNDOS
- “Há quatro disposições na gradação da raiva: 1) naquele que é fácil de provocar-se e também fácil apaziguar-se, o que há de negativo neutraliza-se com o positivo; 2) naquele que é difícil de ser provocado e difícil de ser apaziguado, o que há de positivo, neutraliza-se com o negativo; 3) aquele que é difícil de ser provocado e fácil de ser apaziguado: este é o sábio; e 4) aquele que é facilmente provocado e dificilmente apaziguado: este é o perverso” (Ética dos Ancestrais 5:14)
- A situação do perverso e do sábio é evidente. O primeiro perde-se no pantanal enquanto o último passeia pelo pomar. O sábio tem uma leitura profunda da realidade que por si só torna difícil a provocação e que também lhe dá capacidade de rapidamente ajustar-se às situações da vida e de se controlar com facilidade.
ROUBANDO A ROUPA DO REI
- Ë bastante comum acharmos que a humildade é o outro extremo do orgulho, quando é, na realidade, uma situação de equilíbrio. O extremo oposto do orgulho é a falta de auto-estima. O humilde nada tem a ver com aquele que não consegue reconhecer e apreciar a si como parte das maravilhas deste mundo. Sua atitude, porém, é distinta do orgulhoso, que é totalmente centrado em si.
- O orgulho, no induz à crença de que estamos “certos”e obstrui nossa capacidade de relativizar e olhar situações sob diferentes perspectivas de nossa opinião ou julgamento já formados.
- Não há pior orgulho que o orgulho dos devotos
- Os momentos de transição estimulam a preservação do único bem não perecível: o autoconhecimento. Quando instituições e ideologias enfraquecem, não temos onde investir nossas vidas, a não ser no crescimento pessoal.
- Muitas pessoas desejam “ter”crescimento ao invés de vivê-lo.
HUMILDADE COM MÁXIMA SABEDORIA
“Nem todos se contentam com sua aparência, mas todos se contentam com seu cérebro!” (Provérbio iídiche)
- Para alguém poder chegar ao “temor a D`us” deve ultrapassar o culto ao deus da recompensa, o deus da necessidade imediata, o deus do poder, o deus da veneração pessoal e conseguir eliminar os elementos infantis de sua percepção simbólica de D’us.
RAZÕES PARA O ÓDIO
- Somos condicionados a amar tudo que percebemos como parte de nós ou de nossa essência.
- O crescimento pessoal ocorre da constante revisão de quem somos e, a partir daí, de buscarmos compreender quem são nossos filhos/irmãos ou discípulos/amigos. Quanto mais pobre nossa percepção de quem somos, mais limitada será nossa capacidade de incluir o outro sob uma destas duas categorias.
- Aquele que ama apenas a si ama algo muito pequeno pois é na sua incapacidade de encontrar grandeza e amplidão em si que se origina sua dificuldade de encontrar no mundo filhos/ irmãos ou discípulos/ amigos.
- Se deixamos lacunas na verdade, estas podem vir a ser preenchidas pelo outro e absorvidas como dolorosas mágoas.
RUBOR – Sangrando por Dentro
- A justiça não é simplesmente produto de uma lógica distante da realidade. Ao contrário, é uma resultante da interação de muitos indivíduos e muitas realidades. Portanto, é regra básica tomar-se muito cuidado com atitudes calcadas no direito que pensamos possuir a partir de uma injustiça.
- Não é tão óbvio o que nos diz o coração magoado ou injustiçado.
“FOFOCA” – A Rede Informal de Ódio
- Devemos ser cuidadosos não apenas para não agirmos levianamente espalhando “histórias”, como também educando-nos a não ouvi-las.
- “Saiba que aquele que escuta uma afirmação maldosa é tão perverso quanto aquele que a transmite”
- Os embustes da intriga não estão na essência do que é dito, mas na forma com que é transmitida; mesmo a lisonja e o elogio podem conter tanto veneno quanto a blasfêmia.
PISANDO NO PÉ
- O mesmo cuidado que uma pessoa esclarecida tem ao integrar-se a um grupo de outra cultura, deveria ter ao se aproximar de outras pessoas, buscando um comportamento que se adeque à realidade à qual nos agregamos.
- Não devemos nos esquecer que quando as pessoas nos pisam o pé, muitas vezes o fazem porque não deixamos nenhum outro espaço onde pudessem colocar o próprio pé, senão sobre o nosso.
TOMANDO COMO PESSOAL
- Na verdade, “tomar algo como pessoal” diz respeito a permitir-nos ingresso no mundo da inveja/rixa ou não. Resistir a este sentimento é uma reação típica provocada pelos “anticorpos”de nosso coração e mente diante da possibilidade de ceder ao rancor que neles se estabeleça
- Vozes e imagens nos garantem, repetindo cenas ou repassando diálogos, a autenticidade de nosso sentimento. Nesta situação estamos com problemas.
- Na verdade, realizamos muito de nossas ofensas de forma não verbal. O status de uma não ofensa é o mesmo de uma ofensa.
- Todo rancor está centrado na certeza de que sua pessoa foi objeto de ataque. Portanto, cabe em cada situação, além de percebermos a dimensão perigosa de rancor que evocamos ao tomarmos algo como pessoal, identificar o verdadeiro sujeito a quem se direcionou a agressão. Se adquirirmos a capacidade de perceber que em inúmeros casos o ataque parte de pessoas estressadas e oprimidas por seu mundo, ou de medos e inseguranças internas, descobrimos que o sujeito verdadeiramente agredido tenha sido talvez a própria pessoa que ofende, ou sua esposa, seu pai, sua irmã etc.
- Se fui agredido por alguém que brigou com seu patrão, talvez possa entender que sua atitude, apesar de violenta não era pessoal.
- Que diferença isto faz? Muita. Ao se identificar uma ofensa como não sendo pessoal, fica erradicada a possibilidade de se entrar na dimensão da rixa.
- Tanto a inveja como a rixa são parasitas da sensação de ódio pessoal que os outros nutrem para conosco.
- Para a tradição judaica, aquele que fala, é como um arqueiro. Joga suas flexas e, uma vez que estas já estejam no ar, não pode mais se arrepender. Quem percebe isto conhece a arte de falar pouco.
- Aquele que “toma algo como pessoal”anda pela floresta e onde quer que veja uma flecha cravada numa árvore, desenha ao seu redor um alvo.
INIMIGOS PÚBLICOS
- “Os rabinos ensinaram – há quatro tipos de pessoas que ninguém tolera: um pobre que é arrogante; um rico que bajula; um idoso luxurioso e um líder que governa sua comunidade sem causa”.(Talmude Bab., Pess. 113b.)
- Estar numa situação de “inimigo público”é ser flagrado em atitudes que revelam não as fraquezas humanas, mas a dificuldade de lidar com as mesmas. Expressam formas de ridículo a que pode um ser humano chegar, demonstrando acima de tudo, o quanto se deixou de aprender da vida e de sua condição.
- Os exemplos são óbvios. Um pobre que é arrogante é o símbolo da frustração em estado avançado. Um rico bajulador dos outros e de si, é alguém que é míope da vida; qualquer objeto que não seja imediato se forma aquém de sua retina. Por sua vez, o ancião luxurioso é o símbolo da decadência, do belo que não sabe se renovar sobre outras formas. Já o líder que não é líder expõe – se a sentimentos que vão do grotesco ao cômico. Comanda o ar e acena de uma alta varanda diante de uma praça vazia como se precisasse disto para certificar-se estar vivo.
- Todos os inimigos públicos possuem a mesma característica de buscar ocultar elementos de sua personalidade que são óbvios. Seu ridículo está na capacidade que têm de levar uma vida onde, por mais que se vistam e se adornem, estão sempre nus diante do público.
LÁGRIMAS TRÍPLICES
- Em todo ódio existe uma componente pessoal que intensifica fraquezas do outro; fraquezas estas que sob a perspectiva de um outro observador podem ser percebidas como razão de admiração e não de repulsa.
- Podemos odiar intensamente algo nos outros que não gostamos em nós mesmos, ou algo nos outros que nos relembre algumas de nossas frustrações, e assim por diante. Ninguém se dá ao luxo de odiar de forma a estar em rixa sem que esteja fortemente vinculado ao objeto de seu ódio.
- Impressionante é a capacidade que pessoas complementares, ou pessoas que se admiram e precisam muito uma da outra, têm de iniciar processo de briga. Entre
amigos que acreditam doar-se muito um ao outro, o senso de traição e ingratidão é intolerável.
- O ódio, instantes antes de “calcificar-se”. É matéria facilmente moldável em amor, desde que a correta química se processe.
BRIGANDO COM D’US
- Quem entra em conflito, acalenta em seu ser mais profundo a idéia de que vencerá. Ninguém brigaria (uma rixa) se acreditasse que fosse perder a briga. A certeza da vitória vem acompanhada de muita depressão e de constantes desilusões quanto a esta expectativa.
- “O mau impulso age de duas maneiras: como a água que esfria o desejo de se realizarem boas intenções e como o fogo que aquece o desejo de transgredir”. Ou seja, o desejo de buscar o reencontro e as resoluções das pendências é constantemente esfriado, enquanto que a compulsão à agressão é aquecida. Desta forma, o tempo passa, a depressão se instala e tornam-se possíveis finais trágicos.
- Os custos das brigas são incalculáveis, pois lesa o bem estar do planeta de maneira assustadora. Sua destruição é tão avassaladora, que mesmo quando seus efeitos não são tão concretos, transtorna e amarga vidas inteiras.
- Para vencer esta verdadeira maldição que é a rixa, Jacó se submeteu a uma das experiências mais intensas relatadas em toda a Bíblia – lutar com D’us. Não é com pouco conhecimento de causa que Jacó, ao reencontrar seu irmão exclama: “ver teu rosto é como ver o rosto de D’us”. (Gen. 33:10)
- Sermos capazes de lutar com nosso D’us, com nossa estrutura interna mais profunda e a perspectiva de nosso olhar para com o mundo, são as únicas coisas que podem dar fim a uma rixa estabelecida.
- O ato de brigar com D’us ou de mudar totalmente as perspectivas já assimiladas, se não ocorre através da sapiência e do crescimento pessoal, só vem com o tempo e sua incrível capacidade de nos desapegarmos dos indivíduos, ou melhor, dos fantasmas que acreditamos tão reais dentro de nós. Triste, porém, é quando nosso tempo interno não está sintonizado com o destino e nos vemos na situação desesperadora de Rabi Ionatan, pois seu amigo com quem estava brigado, morrera antes que pudesse brigar com D’us. Restou-lhe ainda a possibilidade desta briga interna, apesar de que para sempre estaria privado da incrível experiência de olhar no rosto de seu amigo e compreender que era como se olhasse o rosto de D’us.
EU TENHO RAZÃO
- Uma das ilusões mais fortes quando estamos aprisionados à dimensão da briga é a sensação de que “temos razão”. É como se criássemos uma consciência circular da situação em que nos encontramos, toda ela amarrada em si mesma. Por mais que tentemos, não conseguimos transpor os limites desta subconsciência.
- Se a posição do outro é insustentável e se ainda assim a mantém, concluímos então que o outro é em si ruim. O outro faz parte do mundo que vê as coisas às avessas. Pensamos: “por causa de sujeitos assim é que o mundo é como é!”.
- Tanto a confiança total em nosso julgamento quanto a busca obsessiva por provar que o outro está errado tem duas conseqüências malignas: a acusação e a autojustificação.
- O alerta é claro: nas questões de julgamento, estamos sempre submetidos a uma agenda interna, a interesses que nos justificam antes mesmo de qualquer imparcialidade. Acabamos sempre estabelecendo os critérios de nosso julgamento a partir de quem somos e de nossos interesses. Portanto, em briga, não somos muito confiáveis e devemos suspeitar sempre de nossas certezas. Elas muito freqüentemente ocultarão dificuldades que nos são muito dolorosas.
- Em outras palavras, você não pode se permitir identificar na sua proposição qualquer crítica ao outro que tenha medo de fazer a si mesmo nem nada no outro que busque justificar em si mesmo. Porque isto é “você ser você porque o outro é o outro”; é envolver-se nas couraças/argumentos do falso Ego.
- “Estar com a razão” é a tênue fronteira entre a devoção e a idolatria. Por um lado, é um sentimento a ser evitado, pois possibilita desvios e perversões, fortificando falsas percepções de si e dificultando toda sorte de diálogo. Por outro, é a postura do sábio e do justo, pois saber-se posicionar verdadeiramente em nome do que se acredita ser correto, sem se permitir corromper por interesses e necessidades pessoais está entre os feitos de mais difícil realização para os seres humanos.
- Poderíamos dizer, portanto, que existe uma forma construtiva de conflito, na qual o fato de se crer assertivamente “estar com a razão” não apenas promove o diálogo, mas define a própria tarefa do justo. A estas discórdias fundamentais é que, durante séculos, os rabinos do Talmude se dedicaram.
DISCÓRDIAS EM NOME DOS CÉUS
- Para poder se envolver em discórdias em nome dos céus, uma pessoa deve compartilhar de um mesmo nível de compromisso com seu adversário para com o assunto em questão. Estes compromissos dizem respeito a se “ter razão”: se a tônica deste sentimento recai sobre o desejo de se encontra a “razão”, delineia-se um tipo de comprometimento; se, no entanto, a tônica estiver no verbo “ter”, esboça-se outro tipo de comprometimento.
- Para que um justo faça uma afirmação, deve atingir o complexo estágio de “saber que não está certo, porém ter a certeza de que não está errado”. Esta é a única forma legítima de alguém se colocar diante de uma questão, com o objetivo de iniciar um possível diálogo. Não saber se está certo diz respeito a capacidade de ouvir e de querer saber a verdade; já a certeza de não estar errado é a confiança em seus propósitos mais profundos. Quem tem certeza de não estar errado, é na verdade, comprometido com valores que não estão emaranhados ou misturados aos interesses e necessidades pessoais. A própria verdade está subordinada aos propósitos de sua busca. Não existe verdade absoluta senão em relação a algo. Por esta razão, pessoas comprometidas com diferentes conjuntos de intenções, não conseguem estabelecer relações , e não há diálogo;
- A verdade de cada um estabelece discórdias que não se dão em nome dos céus.
- Atitude muito comum entre os seres humanos: imaginamos que vamos conseguir provar ao nosso adversário que este está totalmente errado. Temos tanta certeza do que defendemos, que fantasiamos o momento em que os céus, as forças do próprio cosmos, irão se mobilizar em nosso auxílio.
- Lidar com a expectativa de que se faça justiça em um conflito é algo extremamente complexo. A justiça sim, se fará expressa, afirmam os sábios, mas no seu próprio tempo de interação e maturação.
EVITANDO CONFLITOS
SABENDO ENXERGAR
- Quando estamos irados, temos dificuldade de ver e respirar.
- No que diz respeito a si próprio, o sábio deve perceber que o ódio é um meio mais denso que a realidade – todo sentimento por ele passado será desvirtuado.
- Se estamos envolvidos em uma interação de briga, devemos sempre delimitar papéis de maneira a definir quem é o tinók she-nishbar – o menor. Se o adversário está mergulhado numa rixa, sem capacidade de “enxergar”, aquele que vê torna-se instantaneamente responsável pelo destino da controvérsia.
- Por isso, diz o ditado: “quando um não quer dois não brigam”, onde “não brigam” diz respeito à rixa. Quando um não quer, dois podem sim, “sair no tapa”. Mas, se um perceber como adulto que o outro é como um “bebê que engatinha”, não haverá rixa.
- Se no calor das desavenças conseguirmos estabelecer esta ponte com uma realidade menos superficial, definindo a capacidade de cada um de enxergar, não nos deixaremos arrastar pelas artimanhas da ira. É importante também lembrar que identificar-se com um adulto em relação a um menor não quer dizer assumir ares de superioridade. Afinal, ser adulto não encerra maior mérito que ser criança, mas a contingência de estado diferente. Poder verdadeiramente sentir isto representa “enxergar”.
- Quando um falsamente diz que não quer, dois brigam e muito!
PERIGOS DE SE ENXERGAR – Digressão sobre a Natureza Humana
- Saber enxergar é tarefa realmente para sábios. Não basta ver aquilo que o clarão das reações e posturas humanas revela; deve-se também prestar atenção aos fantasmas destas luminosidade. Certas imagens que permanecem junto à retina daquele que não fechou seus olhos diante de um clarão, percebendo assim intenções e motivações profundas, não são reais e devem ser apagadas do retrato da realidade gravado em nossa memória.
- Poder ler a mente e o coração de uma pessoa é algo muito sério, pois para tal, devemos também ser capazes de analisar corretamente os dados fornecidos por esta leitura. O perigo para o sábio está obviamente nas armadilhas que compõem a própria sapiência. O tolo é o aprendiz de sábio que legitima uma percepção como sábia antes que esta tenha chegado a sua completa maturação como tal. O tolo percorre um certo caminho sincero e sensível e afirma ter chegado à sapiência quando esta encontra-se ainda mais adiante, exigindo maior perseverança e caminhada.
- Uma criança, por mais angelical que seja seu semblante, esconde um ser que, se tivesse acesso ao poder, tornar-se ia o maior dos tiranos e déspotas. Sua capacidade de elaborar o outro é tão pequena que tornar-se ia implacável com quem não a satisfizesse e insaciável diante do desejo de satisfazer-se.
ABRINDO ESPAÇO – Farguinen, o Antônimo da Inveja
- A língua iídiche possui um verbo que é no mínimo raro, senão único: farguinen. Seu significado poderia ser traduzido como “abrir espaço”, “compartilhar prazer”, ou simplesmente como o oposto de invejar. Portanto, se invejar significa ter desgosto e pesar pela felicidade do outro, farguinen tem o sentido de compactuar com o prazer e alegria do outro. Representa o espaço que permitimos ao outro para que exteriorize sua alegria, sua sensação de sucesso ou felicidade.
- Nestas situações, nos é muito difícil esconder os olhares furtivos que escapam à interação com os olhos do outro para se refugiarem dentro, em pensamentos silenciosos que nos atormentam. É como se estivéssemos diante de uma cena de filme, onde podemos ouvir nosso ser exterior repetindo, em câmara lenta: “que coisa boa... que bom...”, enquanto que por dentro, ecoam perguntas do tipo: “por que logo com este camarada?... O que eu não faria com esta quantia?...” e coisas do gênero. Em geral, nestas situações, fica tão evidente nossa dificuldade de lidar com a alegria do outro que, quase sempre, este a percebe. Muitas amizades e confianças terminam nestes rápidos instantes.
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A CABALA DA COMIDA - Nilton Bonder
• Obesidade # magro / gordo
leve / pesado
• Dieta não é regime
• Relação de poder com o mundo / espaço emocional: sentir e lidar com as emoções
• Dieta = padrão
• Dieta baseada em conhecimentos holísticos "obeso é todo aquele que se encontra insatisfeito em sua relação com os alimentos, seja a nível da saúde do plano físico, da sociabilidade, das emoções ou do espírito
• Exercitar / aperfeiçoar
• Receber: trocar: vida / universo circundante, inclusão na corrente ecológica
• Problemas de recebimento
• A cultura, a tecnologia e as relações sociais são os produtos de uma civilização em termos de continuidade e troca com o mundo a partir da energia transformada em consciência
• Entender-se Ser: em alimentação, quer dizer seguir uma dieta que inclua bom senso e conhecimento sobre alguma ciência - tradição
• Desequilíbrio na alimentação: pode causar obesidades inclusive do tipo moral, emocional e espiritual
• Saúde: interação constante, integrada e responsável com o universo
• Vida: capacidade que nos é inerente de encontrar prazer e significado nesta saúde
• 2 carneiros (chifre): terrível: " a intenção não é comer da comida do outro, e sim a de que o outro não tenha o que ele tem"
• Adonai: o alimento representa uma forma de expressão concreta de nossas trocas e se presta como símbolo destas variadas dimensões ou mundos da existência
• Mau recebimento: prejudica e influi carmicamente
• Grande pesadelo dos seres humanos: não servirem à verdadeira causa da vida, transformando suas existências naquilo que por definição não o são, ou seja, antivida
• A idéia de diferentes mundos que se sobrepõem e se sobrepõem e se interferem mutuamente é essencial na cabala, nos mistérios do recebimento
• Os segredos que advém desta consciência maior desta realidade e de como ela se desdobra em diferentes dimensões ou mundos, acaba sendo a arte de enxergar além e, no nosso caso específico, de alimentar-se além do que física e esteticamente este ato representa
• Nosso mais importante exercício será o de descobrir vitalidade ou anomalia através de nossas trocas alimentares, reconhecendo a forma como estas se desdobram nos diferentes mundos:
Físico / corpo; funcional / mente; da formação / sentimentos; da criação / espírito; emanações / conexão
• Três atitudes para com a comida: a ascética, a puritana e a de aceitação com gratidão
• Na aceitação com gratidão, o apetite físico é uma dádiva de Deus que, apesar de não ser o mais venerável objetivo humano, está longe de ser uma vergonha. Através deste, pode-se encontrar caminhos que levam ao sagrado
• A partir da configuração material do alimento se pode chegar à fonte das emanações, de onde realmente se origina sua energia como alimento
• " Os pensamentos dos seres humanos, quando se alimentam, deveriam estar vinculados a Deus mais do que em qualquer outro momento" - " E viram a Deus enquanto comiam e bebiam..."
• Reb Shloma nos diz que " muitos têm endereços, mas poucos têm verdadeiros lares". Para a maioria de nós, nossos corpos são meros endereços e poucos nos sentimos em casa com eles
• Emagrecer ou abandonar um vício, pode ser muito perigoso se esta mudança não vier acompanhada de um esforço para deter ou modificar aquilo que só não aflora graças a este pequeno truque de decodificação que transforma "energias" negativas em celulite, obesidade ou simplesmente tecido adiposo
• Nosso corpo é produto cumulativo de nossa história emocional e espiritual, das opções de vida que tomamos em razão de nossas disponibilidades emocionais e espirituais
• Na concepção judáica, a codificação da energia alimentar passa por muitos estágios, numa complexidade que em muito transcende a sobrevivência meramente física
• O alimento representa uma forma de expressão concreta de nossas trocas e se presta como símbolo de nossas variadas dimensões ou mundos da existência ( mundo físico, funcional, da formação, da criação, das emanações )
• A idéia de diferentes mundos que se sobrepõem e se interferem mutuamente é essencial na Cabala, nos mistérios do recebimento. Os segredos que advém desta consciência maior desta realidade e de como ela se desdobra em diferentes dimensões ou mundos acabam sendo a arte de enxergar além do que física e esteticamente este ato representa
• A palavra "demônio" em hebraico (Satan) tem sua raiz no verbo "bloquear ou impedir"
• A noção de batalha entre o sagrado e o profano que se realiza no momento da refeição deve ser compreendida literalmente
• A possibilidade de tirar deste ato cotidiano saúde em todos os planos, não só no físico, é tão real quanto a possibilidade de absorver doenças e anomalias (também em todos os planos)
• Diante da comida estamos perante um " recebimento"
• Alimentação: representa ou um reforço ou a quebra de um padrão
• Fim do exílio: retorno à própria casa, ao próprio ser, à própria natureza
• O exilado compreende onde se encontra o seu "centro", sente-se deslocado e alimenta esperanças constantes de retorno
• "muitos têm endereços, mas poucos têm verdadeiros lares"
• Patinho feio: não ideal, mas exílio
• Alma, intelecto e corpo são instrumentos humanos de recebimento
• Qualquer ato físico, especialmente a alimentação, pode acabar sendo uma disfunção provocada por um mal recebimento de uma mensagem decodificada erroneamente desde nossa alma
• Estamos dizendo: prefiro ser gordo...
• Uma boa dieta quer dizer, em última análise, auto-conhecimento, que significa penetrar nosso intelecto e revelar a nós mesmos as disfunções em nossa decodificação
• Nosso corpo é produto cumulativo de nossa história emocional e espiritual, das opções de vida que tomamos em razão de nossas disponibilidades
• Mudar este produto também é algo que se dá cumulativamente, mudá-lo repentinamente é um convite ao desequilíbrio - uma negação desta historicidade que somos nós mesmos
• ... Queremos perder peso, mas não estamos interessado em abandonar o exílio. Sabemos o que está por trás da obesidade e a aceitamos internamente
• O acrobata
• O primeiro a se fazer, é reconhecer o mau impulso; não existe meio impulso
• Para o adulto não quer dizer que tudo tenha que vir sempre do mesmo canal; não como o bebê com problemas, que vai ao seio...
• Meu tecido adiposo em excesso: não me dirigi à fonte certa
• Desengajar-se do impulso:
1º - Cabala (receber) - permitir-se viver o caminhar rumo à geladeira; desde a esperança que é a sensação de abrir uma nova porta lacrada pela sucção das "geléias", "queijos", "tortas"...
• Mal de Adão: pensar no futuro; não se preocupou com sua responsabilidade no momento
• Um regime se expressa em semanas, uma dieta se expressa no instante
• Vozes internas - colcha de retalhos; viver as experiências
• "ouça com todo o seu coração e não com a metade dele"
• controlar impulsos é como cair do cavalo
• qual é a pior coisa que uma inclinação negativa pode fazer? Fazer-nos esquecer de nossa grandeza, de que somos imagem e semelhança do criador
• perdemos a noção do ser que somos potencialmente e nos aceitamos menos do que na realidade somos
• uma das percepções mais difíceis em alimentação diz respeito ao fato de que os alimentos passarão a ser parte daqueles que os ingerem - "somos o que ingerimos"
• a consciência na ingestão deve existir tanto a nível teórico, que é aquele no qual entendemos e discernimos o universo da alimentação a partir de conhecimentos culturais e científicos, quanto no prático ou dia à dia, em que nos comprotemos com uma percepção existencial do nosso próprio corpo
• estas duas formas de consciência da relação entre alimentação e nosso corpo só são possíveis por meio de disciplina e treinamento
• brachá (benção)
• o dono do bar
• a kasrut (consciência da essência energética dos alimentos)
• a kasrut redefine obesidade e anomalia como qualquer situação em que não estejamos atentos ao grande fluxo da vida. Qualquer dieta que vise reordenar apenas um segmento do ciclo de recebimento, não só resulta ineficiente, como provavelmente complica mais ainda os problemas que nos fazem recorrer a ela e deixa de ser dieta
• a kasrut nos sugere o exame de todos os produtos alimentícios buscando determinar se evocam, tonificam ou fortificam o processo da vida
• "Le Chaim": Que seja para a vida!
• Kasher: adequado
• Aos que vivem preceitos alimentares certos alimentos passam a não representar uma possibilidade de serem transformados em "eu"
• Os rabinos alertam para toda e qualquer forma de desperdício como sendo oposta à idéia de pró-vida (kasher) - a saúde e a preservação estão diretamente ligadas à economia e administração da energia construtiva
• O cuidado com o corpo
• Eu/animal
• Saber valorizar estas trocas com a realidade, saber compreender prioridades e custos de cada uma destas transações, é o que nos localiza no tempo (nossa vida) e também no espaço (nosso corpo)
• "Se você se sente faminto ou sedento, espere um pouco - a possibilidade de dar-nos sempre uma Segunda chance de constatar se nosso corpo repete seu pedido acaba por revelar-se um eficaz e sincero diálogo com as necessidades do nosso corpo
• não coma depressa. Ao sentir fome, estabeleça um ritual de sentar e se possível, meditar sobre sua comida (os rabinos chamam isso de abençoá-la)
"Não considere o tempo que você gasta comendo ou dormindo como perdidos. A alma dentro de você descansa durante estes intervalos e eles lhe permitem renovar seu serviço sagrado com um novo entusiasmo"
• É apenas através do crescimento interno que aprendemos a moderar e equilibrar nosso interesse de comer muito e seus efeitos
• Shulchan Sruch: código de leis judáicas abordando todos os assuntos que dizem respeito ao cotidiano, para o indivíduo comum, não especialmente educado
• A "mesa posta" é a realidade em sua forma mais cruel, mais concreta
• Saber se portar ante ela
• O banquete é nosso! A atitude é que é errada - Le Chaim
• Provérbios, 21:23
• Através de nós o universo passa a ter de si mesmo
• Deuteronômio 11:13-17
leve / pesado
• Dieta não é regime
• Relação de poder com o mundo / espaço emocional: sentir e lidar com as emoções
• Dieta = padrão
• Dieta baseada em conhecimentos holísticos "obeso é todo aquele que se encontra insatisfeito em sua relação com os alimentos, seja a nível da saúde do plano físico, da sociabilidade, das emoções ou do espírito
• Exercitar / aperfeiçoar
• Receber: trocar: vida / universo circundante, inclusão na corrente ecológica
• Problemas de recebimento
• A cultura, a tecnologia e as relações sociais são os produtos de uma civilização em termos de continuidade e troca com o mundo a partir da energia transformada em consciência
• Entender-se Ser: em alimentação, quer dizer seguir uma dieta que inclua bom senso e conhecimento sobre alguma ciência - tradição
• Desequilíbrio na alimentação: pode causar obesidades inclusive do tipo moral, emocional e espiritual
• Saúde: interação constante, integrada e responsável com o universo
• Vida: capacidade que nos é inerente de encontrar prazer e significado nesta saúde
• 2 carneiros (chifre): terrível: " a intenção não é comer da comida do outro, e sim a de que o outro não tenha o que ele tem"
• Adonai: o alimento representa uma forma de expressão concreta de nossas trocas e se presta como símbolo destas variadas dimensões ou mundos da existência
• Mau recebimento: prejudica e influi carmicamente
• Grande pesadelo dos seres humanos: não servirem à verdadeira causa da vida, transformando suas existências naquilo que por definição não o são, ou seja, antivida
• A idéia de diferentes mundos que se sobrepõem e se sobrepõem e se interferem mutuamente é essencial na cabala, nos mistérios do recebimento
• Os segredos que advém desta consciência maior desta realidade e de como ela se desdobra em diferentes dimensões ou mundos, acaba sendo a arte de enxergar além e, no nosso caso específico, de alimentar-se além do que física e esteticamente este ato representa
• Nosso mais importante exercício será o de descobrir vitalidade ou anomalia através de nossas trocas alimentares, reconhecendo a forma como estas se desdobram nos diferentes mundos:
Físico / corpo; funcional / mente; da formação / sentimentos; da criação / espírito; emanações / conexão
• Três atitudes para com a comida: a ascética, a puritana e a de aceitação com gratidão
• Na aceitação com gratidão, o apetite físico é uma dádiva de Deus que, apesar de não ser o mais venerável objetivo humano, está longe de ser uma vergonha. Através deste, pode-se encontrar caminhos que levam ao sagrado
• A partir da configuração material do alimento se pode chegar à fonte das emanações, de onde realmente se origina sua energia como alimento
• " Os pensamentos dos seres humanos, quando se alimentam, deveriam estar vinculados a Deus mais do que em qualquer outro momento" - " E viram a Deus enquanto comiam e bebiam..."
• Reb Shloma nos diz que " muitos têm endereços, mas poucos têm verdadeiros lares". Para a maioria de nós, nossos corpos são meros endereços e poucos nos sentimos em casa com eles
• Emagrecer ou abandonar um vício, pode ser muito perigoso se esta mudança não vier acompanhada de um esforço para deter ou modificar aquilo que só não aflora graças a este pequeno truque de decodificação que transforma "energias" negativas em celulite, obesidade ou simplesmente tecido adiposo
• Nosso corpo é produto cumulativo de nossa história emocional e espiritual, das opções de vida que tomamos em razão de nossas disponibilidades emocionais e espirituais
• Na concepção judáica, a codificação da energia alimentar passa por muitos estágios, numa complexidade que em muito transcende a sobrevivência meramente física
• O alimento representa uma forma de expressão concreta de nossas trocas e se presta como símbolo de nossas variadas dimensões ou mundos da existência ( mundo físico, funcional, da formação, da criação, das emanações )
• A idéia de diferentes mundos que se sobrepõem e se interferem mutuamente é essencial na Cabala, nos mistérios do recebimento. Os segredos que advém desta consciência maior desta realidade e de como ela se desdobra em diferentes dimensões ou mundos acabam sendo a arte de enxergar além do que física e esteticamente este ato representa
• A palavra "demônio" em hebraico (Satan) tem sua raiz no verbo "bloquear ou impedir"
• A noção de batalha entre o sagrado e o profano que se realiza no momento da refeição deve ser compreendida literalmente
• A possibilidade de tirar deste ato cotidiano saúde em todos os planos, não só no físico, é tão real quanto a possibilidade de absorver doenças e anomalias (também em todos os planos)
• Diante da comida estamos perante um " recebimento"
• Alimentação: representa ou um reforço ou a quebra de um padrão
• Fim do exílio: retorno à própria casa, ao próprio ser, à própria natureza
• O exilado compreende onde se encontra o seu "centro", sente-se deslocado e alimenta esperanças constantes de retorno
• "muitos têm endereços, mas poucos têm verdadeiros lares"
• Patinho feio: não ideal, mas exílio
• Alma, intelecto e corpo são instrumentos humanos de recebimento
• Qualquer ato físico, especialmente a alimentação, pode acabar sendo uma disfunção provocada por um mal recebimento de uma mensagem decodificada erroneamente desde nossa alma
• Estamos dizendo: prefiro ser gordo...
• Uma boa dieta quer dizer, em última análise, auto-conhecimento, que significa penetrar nosso intelecto e revelar a nós mesmos as disfunções em nossa decodificação
• Nosso corpo é produto cumulativo de nossa história emocional e espiritual, das opções de vida que tomamos em razão de nossas disponibilidades
• Mudar este produto também é algo que se dá cumulativamente, mudá-lo repentinamente é um convite ao desequilíbrio - uma negação desta historicidade que somos nós mesmos
• ... Queremos perder peso, mas não estamos interessado em abandonar o exílio. Sabemos o que está por trás da obesidade e a aceitamos internamente
• O acrobata
• O primeiro a se fazer, é reconhecer o mau impulso; não existe meio impulso
• Para o adulto não quer dizer que tudo tenha que vir sempre do mesmo canal; não como o bebê com problemas, que vai ao seio...
• Meu tecido adiposo em excesso: não me dirigi à fonte certa
• Desengajar-se do impulso:
1º - Cabala (receber) - permitir-se viver o caminhar rumo à geladeira; desde a esperança que é a sensação de abrir uma nova porta lacrada pela sucção das "geléias", "queijos", "tortas"...
• Mal de Adão: pensar no futuro; não se preocupou com sua responsabilidade no momento
• Um regime se expressa em semanas, uma dieta se expressa no instante
• Vozes internas - colcha de retalhos; viver as experiências
• "ouça com todo o seu coração e não com a metade dele"
• controlar impulsos é como cair do cavalo
• qual é a pior coisa que uma inclinação negativa pode fazer? Fazer-nos esquecer de nossa grandeza, de que somos imagem e semelhança do criador
• perdemos a noção do ser que somos potencialmente e nos aceitamos menos do que na realidade somos
• uma das percepções mais difíceis em alimentação diz respeito ao fato de que os alimentos passarão a ser parte daqueles que os ingerem - "somos o que ingerimos"
• a consciência na ingestão deve existir tanto a nível teórico, que é aquele no qual entendemos e discernimos o universo da alimentação a partir de conhecimentos culturais e científicos, quanto no prático ou dia à dia, em que nos comprotemos com uma percepção existencial do nosso próprio corpo
• estas duas formas de consciência da relação entre alimentação e nosso corpo só são possíveis por meio de disciplina e treinamento
• brachá (benção)
• o dono do bar
• a kasrut (consciência da essência energética dos alimentos)
• a kasrut redefine obesidade e anomalia como qualquer situação em que não estejamos atentos ao grande fluxo da vida. Qualquer dieta que vise reordenar apenas um segmento do ciclo de recebimento, não só resulta ineficiente, como provavelmente complica mais ainda os problemas que nos fazem recorrer a ela e deixa de ser dieta
• a kasrut nos sugere o exame de todos os produtos alimentícios buscando determinar se evocam, tonificam ou fortificam o processo da vida
• "Le Chaim": Que seja para a vida!
• Kasher: adequado
• Aos que vivem preceitos alimentares certos alimentos passam a não representar uma possibilidade de serem transformados em "eu"
• Os rabinos alertam para toda e qualquer forma de desperdício como sendo oposta à idéia de pró-vida (kasher) - a saúde e a preservação estão diretamente ligadas à economia e administração da energia construtiva
• O cuidado com o corpo
• Eu/animal
• Saber valorizar estas trocas com a realidade, saber compreender prioridades e custos de cada uma destas transações, é o que nos localiza no tempo (nossa vida) e também no espaço (nosso corpo)
• "Se você se sente faminto ou sedento, espere um pouco - a possibilidade de dar-nos sempre uma Segunda chance de constatar se nosso corpo repete seu pedido acaba por revelar-se um eficaz e sincero diálogo com as necessidades do nosso corpo
• não coma depressa. Ao sentir fome, estabeleça um ritual de sentar e se possível, meditar sobre sua comida (os rabinos chamam isso de abençoá-la)
"Não considere o tempo que você gasta comendo ou dormindo como perdidos. A alma dentro de você descansa durante estes intervalos e eles lhe permitem renovar seu serviço sagrado com um novo entusiasmo"
• É apenas através do crescimento interno que aprendemos a moderar e equilibrar nosso interesse de comer muito e seus efeitos
• Shulchan Sruch: código de leis judáicas abordando todos os assuntos que dizem respeito ao cotidiano, para o indivíduo comum, não especialmente educado
• A "mesa posta" é a realidade em sua forma mais cruel, mais concreta
• Saber se portar ante ela
• O banquete é nosso! A atitude é que é errada - Le Chaim
• Provérbios, 21:23
• Através de nós o universo passa a ter de si mesmo
• Deuteronômio 11:13-17
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