quinta-feira, 30 de julho de 2009

A presença do marxismo na Assistência Social

* Publicado no Jornal "Diário da Manhã", em 27.07.09

O compromisso com a consolidação da cidadania enviesa o Código de Ética dos Assistentes Sociais e aproxima o trabalho social das classes trabalhadoras. A contemporaneidade traz uma diversidade crescente de trabalhadores. Ocupar posição de chefia, desenvolver trabalho intelectual ou técnico e ter bom salário não exclui a condição de trabalhador (a).
A “Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e gênero” consta como um dos Princípios Fundamentais do referido Código, bem como a “Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida”.
Este Código determina um “Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure a universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática” e o “Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e a discussão das diferenças”.
A estas orientações, soma-se na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, o princípio da “supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica” e também um de seus objetivos, que é “a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice”.
Enquanto política pública de direito e de direitos, a Assistência Social deve incluir em seu público, todo cidadão que dela precisar, segundo a Constituição de 1988.
Estas colocações são orientações legais e querem dizer que é preciso que se pare de pensar que a Assistência Social é coisa para “pobres”, pois ela não discrimina, embora atue mais ligada às pessoas com maiores vulnerabilidades econômicas.
Mas o Serviço Social sabe que a pobreza não é seu objeto de trabalho. Antes, a organização da classe trabalhadora. E tem caráter participativo. Ele não acha que vai resolver os dilemas para seus usuários, mas com eles. Aí, reconhece a partir da categoria da contradição, os fenômenos sociais a serem trabalhados.
E o Serviço Social sabe também que indivíduos não estão desajustados, mas que a sociedade capitalista traz em seu bojo, a concentração de renda e a conseqüente exclusão, a exploração da mão de obra e a conseqüente dilapidação de direitos humanos e sociais. Busca, então, através da categoria da totalidade, a análise e a compreensão dos fenômenos, para sua atuação.
Sabe que a drogadição e a violência não são causa de desassossego para alguns, mas conseqüência do desassossego de muitos. Que ninguém fica excluído por que quer, porque se pauta no princípio da dignidade humana, da igualdade; não poderia crer que alguns nasceram ruins, perdidos ou “sem jeito”. Nem que tudo isto seja problema espiritual, apenas.
O Serviço Social reconhece a desestruturação familiar enquanto conseqüência de uma sociedade consumista, que fortalece a rivalidade e o egoísmo e causa os problemas sociais da infância, da juventude, da maturidade. Sabe que os problemas destes segmentos não são meramente, questão de polícia.
Com a mediação, outra categoria do marxismo, busca superar a reprodução das situações que emperram a emancipação humana, tendo criado para tanto, o trabalho com grupos e com comunidades.
A busca da transformação social preconizada no Serviço Social, por si, é fruto inconteste do conhecimento marxista, que substituiu os primeiros princípios norteadores desta profissão, pautada inicialmente na religiosidade (caridade) e em seguida, no positivismo.
Na efetivação da política de Assistência Social, se alteram dialeticamente, temas/fenômenos sociais para atuação de assistentes sociais, com demandas nos campos da saúde (obesidade/segurança alimentar, planejamento familiar, drogadição lícita e ilícita, epidemias e pandemias), do trabalho, da segurança e do meio ambiente e articulação nos setores da habitação, da educação, do turismo, de esportes e lazer.
Neste sentido, o caráter de política pública de direitos da Assistência Social coaduna com a música que diz que “a gente não quer só comida”, embora os investimentos na questão social e até o reconhecimento de que ela existe e de que não surgiu do nada, dependam da ideologia do poder hegemônico.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

“... Mesmo longe, na saudade, a amizade vai ficando até mais forte..."

* Publicado no Jornal "Diário da Manhã" em 19.07.09

Consta na Folhinha que o Dia Internacional da Amizade é comemorado em 20 de julho. Acompanhar diariamente as datas comemorativas nas pagelas da Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, é um hábito prazeroso ao qual me dedico e considero um hobby.
Oriento-me, pelas datas comemorativas. A Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, seria outro papo, não fosse a nossa amizade, desde tempos longes, da minha infância, que é desde quando me lembro dela, na casa de meus pais.
A amizade me acompanha sempre em momentos jamais esquecidos que às vezes me atordoam, diante de minhas limitações e fraquezas que intimidam bastante minhas relações. Ofereço pouco, peço perdão, sinceramente por isto.
Às vezes, fico meio que embasbacada com a amizade com que sou acolhida.
O que seria de minha vivência, de meu crescimento, não fosse a amizade que me dedicaram tantas pessoas queridas, desconhecidas, abastadas, desprovidas, que me servem de exemplo, de alento, de sustento, de controle.
Muitas vezes, dói uma saudade de pensar momentos vividos com pessoas as quais me propiciaram o prazer de ouvir, de aprender, que dedicaram amizade à minha pessoa; pessoas das quais pude discordar e com as quais pude falar, sem assustar ou despertar o desejo de conserto ou represália; partilhar experiências de bate-papo, de discordâncias, de silêncio, de medos, de alegrias, de aventuras, de sonhos, de esperanças, de tristezas, decepções. Compartilhar músicas, danças, sabores, dores, paisagens, feriados, trabalhos, situações as mais diversas. Mas é dor de gratidão e de alegria pelas lembranças e sentimentos.
Momentos de amizade. Belos momentos, duros momentos. Muitos, saudosos. “A amizade vem de Deus e a Deus deve levar”.
À amizade de meus pais, na minha vida, glórias! E à de minha irmã e às nossas amizades, todas, louvo a Deus, “pois a amizade é um bem”.
Recebi, na adolescência, um recadinho escrito que “amigo é aquele que nos conhece a fundo e não obstante nos quer bem” e acreditei nisto. Querer bem é ter amizade, independente das imperfeições.
Às vezes, penso em alguém como amigo (a). Em outras, em alguns (as), como pessoa amiga. Com estas, a gente pode até não conviver. Mas recebe e/ou troca amizade. Por palavras, olhares, gestos, na rua, no comércio, no trabalho, em um momento de descontração, na igreja, na pista de dança, de Cooper, no trânsito.
Tenho bons amigos. Muitos momentos de amizade. Encontro muitas pessoas amigas. “A amizade faz cantar o coração”.
Às amizades recentes, imaginárias, antigas, atuais, inativas, às dos amores, de amigos, de meus filhos, de desconhecidos, de parentes e de aderentes, – Viva! A todas elas.
Por mais que eu não diga e que as palavras sejam breves, obrigada aos que me conhecendo a fundo ou não, me querem bem. Que bons momentos tenhamos, juntos ou distantes, de amizade, dia após dia.
E obrigada às pessoas que me tornam capaz de desfrutar do sentimento de ter amizade, que me despertam o bem querer.
Minha humanidade estaria mais comprometida, sem vocês. Com a luta pela sobrevivência, confesso ter esquecido que “eu quero uma casa no campo, onde eu possa guardar meus amigos, meus discos, meus livros e nada mais”. Outro dia, do nada, entrei no carro de uma amiga e logo começou a tocar esta música, e... Poxa, como é corrida esta vida, o que seria sem os momentos de amizade?
Segundo o rabino Nilton Bonder, em seu livro “A Cabala do Dinheiro”, a um rabino muito justo, foi permitido conhecer o paraíso e o inferno. Confuso com a surpresa das imagens, aos poucos foi discernindo uma e outra. Ambas se compunham de uma mesa elegantemente posta para um banquete e pessoas elegantemente vestidas assentadas ao seu redor. Iguarias especiais sem fim, à disposição dos convivas.
Atentando para as imagens, o justo rabino percebeu que as pessoas tinham seus cotovelos virados, o que fazia com que seus braços e mãos fossem voltados para o lado contrário do que temos, normalmente.
Um pouco chocado, atentou-se mais e aos poucos, grande alvoroço foi tomando conta dos dois grupos e o rabino pode observar que no inferno, as pessoas se debatiam mais e começavam a se desesperar e se digladiar, angustiadas com suas condições físicas limitadoras, e o banquete – este se perdia, na confusão.
Cansado, o rabino, ao olhar para o paraíso, pode perceber que aos poucos certa calmaria se instalava naquele ambiente e ele pode ouvir uma música suave, e como que inebriado, ele viu que os braços virados dos convivas fizeram com que uns servissem aos outros, em um ritual de pura magia, em que, além do prazer sentido pelas iguarias trazidas à boca, as pessoas eliminavam angústia cada vez que levavam a comida à boca da outra.
A todos, muita amizade!

Minc e a sociedade do novo milênio

* Publicado no Jornal "Diário da Manhã", em 12.07.09

Por mais que seja complicado tolerar a situação de omissão, cumplicidade e até participação do poder público nas ingerências do mercado no que tange a questões do meio ambiente, o Ministro Minc pode mesmo ter exagerado em suas declarações, ultimamente, sobre ruralistas. Qualquer um pode exagerar, neste campo, me parece.
Mas nunca alguém combateu tão do alto, tão de frente e diante de holofotes de repercussão nacional e até mundial, poderes tão arraigados em nossa terra, mãe gentil explorada, devastada, vilipendiada. O Minc é nosso único ministro com cara de esquerda, além da Dilma, claro.
No decorrer do episódio por ora arrefecido, ao ministro Minc foi atribuído o desejo de “dividir a sociedade em grandes, médios e pequenos produtores”.
Sinto-me muito aliada deste ministro e sentir-me-ia mais desprezada ainda, se não tivesse eu lido As belas Mentiras e já discutido um pouco sobre a apropriação indevida do conhecimento marxista para inculcação ideológica, pelos conservadores.
Ora, como negar a existência de pequenos, médios e grandes produtores? Nesta perspectiva, é bom lembrar que nossa sociedade também se compõe, além de produtores (de gado, alimentos, combustíveis, da indústria, de ciência, de arte etc.), de trabalhadores, de comerciantes, de excluídos. É do sistema capitalista, a divisão social do trabalho – que eu inclusive, acho linda, por remeter a humanidade à interdependência entre suas partes. Isto não é deste governo.
Será já possível discutir as políticas, no campo dos poderes públicos constituídos, da perspectiva da luta de classes, será isto, e a partir do discurso dos ditos ruralistas? Têm a mesma força, estão juntos na mesma luta pequenos, médios e grandes produtores? Difícil imaginar isto.
Mas não é difícil saber que a ira do ministro não pode ser atribuída ao trabalho e ao comportamento de pequenos e médios produtores. Tampouco que são estes que garantem a segurança alimentar no Brasil.
O que ele tem combatido com veemência é uma elite econômica extremamente unida para defender interesses comuns, como a grilagem, que garante os grandes negócios de carvoarias, madeireiras, pecuaristas, produtores de cana de açúcar, de soja, de milho e de monocultivos de madeiras como eucalipto e pinho, todos, agronegócios de exportação, que não seriam problema, não fossem movidos pela cobiça capitalista que comanda a invasão de reservas florestais, por exemplo, mediante ampliação dos seus terrenos através da ocupação da área a ser demarcada e em seguida, legalizada. Á esta elite, até pela sua organização incontestável, ao longo dos séculos, no Brasil, a política sempre garantiu os necessários subsídios agrícolas, as autorizações de uso da terra, e as compras de terras a preços questionáveis. É isto, o que se quer combater, creio.
Muito se noticiou da ofensiva do ministro Minc, mas pouco das cinco horas de suas retratações diante do júri, digo, da Comissão de Agricultura da Câmara, mês passado. É incrível como ficou pobre a discussão, apenas no viés da provocação vingativa, do levante de acusações pessoais, cínicas ou sinistras, insinuosas, inconseqüentes, fora do contexto. No caso, o que se destila, em contrapartida às palavras e ações de Minc pelo Meio Ambiente, são sempre contundências relativas à pessoalidade do ministro. Quanto exagero.
Mas o imaginável acontece e na democracia, com sabedoria, é preciso dizer apenas, humildemente, como fez Minc, na sessão para qual fora convocado, a fim de levar um “passa-fora público”: que não se aceita as injúrias pessoais levantadas, nem as mentiras e falsas interpretações, afinal às vezes, viver não é preciso. Paciência. A caravana passa.
Parabéns, ao Ministro Minc, que a cada dia merece mais, o cargo que ocupa. Continue, junto aos seus, coibindo crimes ambientais, quaisquer que sejam, e esteja certo de que defeitos vários, todos temos. Com vocês ambientalistas, estamos muitos cidadãos comuns.
Neste episódio, esperava eu, mais da liderança ruralista, composta de pessoas da mais alta estirpe, que já devem ter clareza da mudança de tempos, que não são novos, pois há muito temos constatado, dito e ouvido sobre a necessidade da mudança de paradigmas e de comportamentos políticos.
Quão medonho devem ter sido os espetáculos nas arenas em que homens eram jogados aos leões.
É preciso que todos reconheçam logo os atuais e futuros prejuízos socioeconômicos e ambientais previsíveis e mais, que os relacionemos com as arcaicas práticas que temos admitido em nome do mercado capitalista, na busca de uma nova cultura, com novos valores, com vistas à desejada construção da sociedade sustentável que queremos deixar como herança de nossa civilidade.