quinta-feira, 10 de setembro de 2009

“O Alicerce fundamental de nossa obra é a juventude”Che Guevara

* Artigo publicado no jornal "Diário da Manhã" em 09.09.09

Quem acha que jovem tem que entrar cedo no mercado de trabalho, está, definitivamente, na contramão da história.
Nas próximas linhas, magnífico texto, para reflexão:
Duas Classes Duas Escolas
“Em toda sociedade civilizada existem necessariamente duas classes de pessoas: a que tira sua subsistência da força de seus braços e a que vive da renda de suas propriedades, ou do produto de funções onde o trabalho de espírito prepondera sobre o trabalho manual.
A primeira é a classe operária; a segunda é aquela que eu chamaria de classe erudita. Os homens da classe operária têm desde cedo necessidade do trabalho dos seus filhos. Estas crianças precisam adquirir desde cedo conhecimento e, sobretudo o hábito e a tradição do trabalho penoso a que se destinam. Não podem, portanto, perder tempo nas escolas.
(...) Os filhos da classe erudita, ao contrário, podem dedicar-se a estudar durante muito tempo; têm muita coisa a aprender para alcançar o que se espera deles no futuro. Esses são fatos que não dependem da vontade humana; decorrem necessariamente da própria natureza dos homens e da sociedade; ninguém está em condições de mudá-los. Portanto, trata-se de dados invariáveis dos quais devemos partir.
Concluamos então, que em todo estado bem administrado e no qual se dá a devida atenção a educação dos cidadãos, deve haver dois sistemas completos de instrução que não têm nada em comum entre si ”. Destutt de Tracy (1802)

Segundo a PNAD de 2003, da população economicamente ativa no Brasil:
• 16,6% começou a trabalhar antes de completar 09 anos de idade;
• 59,4% começou a trabalhar com no máximo, 14 anos de idade;
• 81,7% começou a trabalhar com menos de 17 anos.

Alguns questionamentos:
1. Por que o adolescente e o jovem de classes sociais diferentes ainda são tratados com direitos diferentes?
2. Por que tem muito idoso trabalhando desde os oito, dez, doze anos de idade e não tem seus direitos e necessidades básicas garantidas, tendo que trabalhar, às vezes já aposentado, e muitas vezes, em serviços pesados como vender picolé na rua, vigia, varredor de rua etc.?
3. Quem começa a trabalhar mais cedo, se aposenta mais cedo?
4. A pessoa aprendiz entra cedo no mercado de trabalho e convive com toda sorte de gente, no meio de gente boa: estressada, viciada, descrente, abusada... Qual a pedagogia do mercado?
5. É sabido que o mercado ganha, com a colocação de “jovens aprendizes” no mercado, mas ninguém fala em quem paga os resultados deste trabalho precoce: doenças físicas, mentais, emocionais e prejuízos sociais;
6. Será que se a população brasileira tivesse alcançado maiores níveis de escolaridade, entrando no mercado de trabalho com uma formação escolar mais elevada, teríamos hoje um menor contingente populacional abaixo da linha de pobreza?
7. O fato de todos os membros colaborarem na renda familiar e isto não garantir vida realmente digna, pode contribuir com a reprodução da pobreza?
8. O trabalho tende a afastar o/a adolescente da escola e a comprometer seu desenvolvimento social e seus laços afetivos?
9. A presença de adolescentes no mercado, ampliando o exército de reserva e a mão de obra barata, não tira a vaga de muitos adultos, pais/mães de família?
Recentemente, uma Pesquisa elaborada em parceria entre a OIT e a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) e o com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) constatou que quem começa a trabalhar antes dos 14 anos tem pouca chance de obter rendimentos mensais superiores a R$ 1 mil ao longo da vida; quem entra no mercado antes dos 9 anos tem pouca chance de receber salário maior que R$ 500.
"Em média, quem começou a trabalhar entre 15 e 17 anos não chega aos 30 anos com uma renda muito diferente de quem ingressou com 18 ou 19 anos. Mas, à medida que a pessoa envelhece, há maior probabilidade de que, se começou a trabalhar entre os 18 e 19 anos, consiga melhor renda do que quem começou a trabalhar entre os 15 e 17 anos".
Os avanços conquistados, no campo teórico do entendimento acerca da questão social que envolve a problemática de crianças, adolescentes e juventude, não podem se perder nos achismos de quem só tem compromisso com a conservação do status quo.
Não somos caranguejos.