sábado, 30 de maio de 2009

SOBRE A AUDIÊNCIA DE 21.05

Recebi aqui no blog, comentários interessantes sobre o artigo Os interesses do Estado, os do governo e o amianto, e aproveito este espaço, para comentá-los.
Ao Pablo, que diz que é de “extrema irresponsabilidade a autora deste artigo afirmar que não foi dado espaço às opiniões contrárias ao uso do amianto para se manifestarem na mesa da audiência pública citada” e não me deu tempo suficiente para publicar, no blog, seu comentário, dizendo-me arbitrária, afirmo que não tenho questionado pessoas, mas ações e compromissos, a despeito de qualquer julgo.
Pablo, talvez as falas tenham sido registradas pela AL, em vídeo ou texto, mas não vi nem ouvi mesmo, a oportunidade dada, para contraposições.
E com quem conversei, amistosamente, que estava ao meu lado e fez sua defesa, não me falou da ausência de entidades contrárias ao uso do amianto, que tenham sido convidadas.
Não fico por conta desta questão, nem do blog (infelizmente); gostaria de me dedicar mais a estes pontos. Daí a demora na publicação do comentário... Mas o blog não é público, mesmo, direitos e bons modos a parte...
Não se trata de pesquisa in loco, mais, para mim, que não me contentaria com cartões de visita e momentos solenes, Pablo. E sei bem a posição sindical e de trabalhadores (contrários e a favor), do amianto.
O problema desta luta, não é apenas no conteúdo, mas também na forma.
Aos questionamentos pertinentes do MarceloMF, digo que a região de Minaçú, ao que me parece, seria pródiga para o Turismo, a piscicultura, Marcelo. A ABREA, me parece, tem sugestões importantes no caso da desativação das minas de amianto, quero pesquisar mais sobre este futuro, inevitavelmente próximo.
E o mercado, ao se modernizar, meu querido, se adéqua às novas necessidades, se adapta e absorve, não apenas as novas tecnologias, como os antigos trabalhadores. O arcaísmo é diferente de tradição e nunca foi garantia de eternidade, desenvolvimento. A superação deve ser uma constante para qualquer progresso, e conter um destino seguro e pautado em princípios claros, no caso, a sustentabilidade socioeconômica.
Aproveito para lembrar a finitude do amianto, já que alguns de seus defensores dizem não saber o que será de Minaçú, sem a exploração de amianto. De qualquer modo, terão que pensar uma alternativa. Convém conhecermos a pós-exploração de outras cidades/minas brasileiras.
É fundamental que as instâncias do Poder Público, pertinentes à questão do amianto, se manifestem e clarifiquem os dados e as estatísticas referentes à exploração, reprodução, comercialização, uso e desuso do amianto crisotila. Não só do ponto de vista da quantidade de postos de trabalho/trabalhadores (inclusive a rotatividade), mas também na perspectiva da subnotificação relacionada à questão da saúde pública (nº de casos/tipos de problemas de saúde pulmonar/relação com SUS), do bem ambiental, do cumprimento de leis, da modernização/investimento do setor econômico na busca de alternativas socioeconômicas ambientalmente sustentáveis (relação custo/benefício) e ainda, dos princípios da precaução e da prevenção.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Os interesses do Estado, os do governo e o amianto

* Publicado no jornal "Diário da Manhã" em 25.05.09

A audiência pública em defesa do amianto, ocorrida em 21 de maio, na Assembléia Legislativa de Goiás, revelou a enorme discrepância entre o que deve ser, a bem do Estado, e o que vem sendo, para o bem do governo.
Esta confusão é histórica e determina todas as aberrações políticas que temos visto, ouvido e vivido nos últimos tempos, através da democracia e da liberdade de imprensa, que mal mal, vigoram em nosso país.
Digo mal mal, diante do fato de que o Estado é democrático mas não garante o mínimo, ainda, sem oferecer à todos as mesmas condições de acesso aos bens e serviços produzidos coletivamente e o governo sempre possui meios de controlar a comunicação, a educação e a cultura, ideologicamente e economicamente, através do apoio ou do boicote ao que lhe convém.
Quando comecei a escrever sobre a questão do amianto, apenas uma pessoa em nosso Estado, manifestava sua opinião através de artigos convenientes aos interesses do capital direcionado a exploração do amianto, sempre de modo ideologicamente construído, utilizando para tanto, recursos de uma retórica persuasiva, recheada de cinismo e evocando uma legitimidade supostamente digna a esta luta, que há mais de década observo, e apresentando os interesses de um grupo como sendo interesses gerais da sociedade, na tentativa de mobilizar a opinião pública em torno de determinados objetivos, escusos ao desenvolvimento sustentável preconizado nos discursos políticos de hoje em dia.
Nos últimos dias, no entanto, mais pessoas têm-se manifestado a favor da exploração do amianto, em Goiás. E isto é salutar. A produção de amianto vem mostrando a sua cara, em Goiás.
Pessoalmente, não sou contra nem a favor do amianto, mas ávida pela sua discussão, que demorou a chegar a nossa capital. Isto sempre me impressionou pelo que vem sendo posto mundialmente, sobre o amianto, enquanto por aqui sempre se fala de seus méritos econômicos.
E sinto muito, pela forma que chegou e mais ainda, pela última manifestação que vi, de sua discussão.
Ora, a sobreposição de fatores econômicos sobre os ambientais, humanos e sociais, não pode ser de um Estado justo, com um governo seriamente comprometido com o desenvolvimento socioeconômico sustentável e a democracia efetiva.
Estive na audiência aqui mencionada, e não havia sequer uma pessoa na composição da mesa, que pensasse diferente dos que pensam apenas nos méritos do amianto. A mesa não ofereceu espaço para falas, além de si mesma. E embora tenham sido mostradas imagens bem produzidas no aspecto do audiovisual, sobre as fábricas da ETERNIT e as instalações da SAMA, com enfoque em uma “produção limpa e sustentável”, e nada tenha sido contestado, considero deplorável que o nome da engenheira civil e auditora do trabalho em São Paulo, a Sra. Fernanda Giannasi, reconhecida, aclamada e premiada mundialmente como pessoa do bem e de bem, pelos seus estudos e sua luta, tenha sido mencionado tantas vezes, de forma jocosa e pior, como “ludibriadora”, enquanto a SAMA, segundo afirmações ali colocadas, tenha aderido ao Pacto Global.
O asqueroso não é a posição a favor, esta é legítima de seus beneficiados, mas a forma como ela tem se manifestado, ridicularizando o que chama de “oposição”, quer seja a pessoa do Ministro do Meio Ambiente, da Fernanda ou de qualquer “gato pingado” que se coloque nesta “oposição”.
Fui, porque a audiência se denominou pública. Foram feitas ali, indagações sobre dados da “oposição” ao amianto, mas os luxuosos ônibus que transportaram pessoas para a dita “audiência”, e que no fim do dia estavam estacionados em frente a uma churrascaria, apenas continham pessoas “a favor” da exploração do amianto. A inculcação ali estabelecida foi tamanha que acreditam que a SAMA é “empresa modelo para o mundo”, apesar das ações judiciais que respondem, por sonegação de impostos e compras de terras, do Estado, por bagatelas questionáveis. Sequer pensam nas indenizações conquistadas a duras custas, por mais de 2000 trabalhadores do amianto.
Ora, entendo que Minaçú tenha decretado feriado em 16 de abril e que pessoas encheram ônibus para Brasília. Sabemos que a visão de mundo das pessoas reflete-se do modo como exercem a produção e a reprodução de suas vidas. E esta, tem sido cada vez mais imediatista e descartável, mesmo.
O crescimento e a prosperidade das indústrias do amianto, ali colocadas e provavelmente, reais, e que foi atribuída a pessoas com “determinação”, entre “acionistas e colaboradores”, e ainda, à existência de mercado no Brasil, já que os produtos de amianto servem ao numeroso nicho da população, que é de baixa renda, é inquestionável. O questionável aí é o papel do Estado, que não pode mais ser o financiador da acumulação do capital, simplesmente.
O IBC, é público e notório, recebe verba pública e se diz científico. Mas não responde acusações dirigidas ao modus operandis de suas “pesquisas” e de seus pesquisadores, nem orientou a SAMA a procurar médico especializado, para perícias, quando estas eram feitas por médico ginecologista. Científico, mas crente que “não podemos correr o risco de perder este mineral tão importante para o país”.
Ah, o espaço é curto e pouco sei, desta questão do amianto. Mas gostaria de saber mais sobre as considerações da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (IARC, sigla em inglês), do Instituto Nacional de Saúde e Segurança Ocupacional (NIOSH) dos Estados Unidos, do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França (INSERM) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Brasil e também, as últimas reações da luta, em Pouso Alegre, em Curitiba, em Brasília, em São Paulo e no mundo.
Afinal, não é por estarmos no interior do Brasil, parte mais recentemente desbravada, que não queremos cultura, conhecimento, sustentabilidade e cidadania.

domingo, 17 de maio de 2009

A discussão da maconha e a Macaúba

* Publicado no jornal "Diário da Manhã" em 03.05.09

Sobre a maconha, há muito se fala. Já a Macaúba é pouquíssimo conhecida. Cidadezinha pacata, próxima da capital, como todas as cidadezinhas pequenas, possui internet e participa dos modismos nacionais. Nos interiores goianos, existe um consumo intenso de álcool entre jovens.
Na Macaúba, uma vez por semana, existe uma “diversão para adultos” que combina música, erotismo, álcool e o que mais rolar, em um território, em uma festa, em uma segunda, sem lei.
Maconha ali é besteira.
Outro dia, dois carros voltavam de lá, correndo muito, na madrugada seguinte a um feriado, às 4h30, quando um “acidente” pôs fim à vida de três e feriu cinco pessoas, sendo duas meninas menores de idade. Motoristas embriagados.
Dirigir embriagado, não pode. Mas a festa é conhecida e divulgada na região.
Sobre maconha, a primeira vez que ouvi falar, me martela a cabeça e me faz ver que os equívocos na tentativa de contenção do seu uso são os mesmos.
Não se pode dizer que alguém do mal, ou que vem de fora, estranho e bandido, pode se achegar, seduzir e oferecer maconha ou obrigar ao uso, ou então recomendar cuidado com a fumaça ou ainda, repetir que a maconha provoca a violência, a delinquência ou algo parecido
Mas é preciso urgentemente, uma política que efetivamente incentive e garanta a prática de bons hábitos para a vida com saúde. Que garanta a promoção da educação, da autêntica assistência social.
Sempre defendi o ócio criativo e a ausência dele tem sido cada vez mais causador de problemas. Tanto quanto sempre defendi a diminuição da jornada de trabalho, por saber que o excesso de atividades na luta pela sobrevivência traz a falta de tempo que grassa nas famílias e as condena ao estranhamento de suas partes.
A entrada de jovens no mundo das drogas (lícitas ou não), seja fuga, seja curiosidade, acesso ou o que for, é busca de prazer.
Ausência de lazer, laços familiares frágeis, desequilíbrio emocional?
Pode ser também busca de autoafirmação social, considerando-se que, às vezes, uma pessoa da escola, da comunidade ou do trabalho, curiosamente bacana, da hora, ultra-antenada e pacífica, pode vir a ser, não traficante, mas uma pessoa amiga, que ouve, sorri, chora junto, entende, compartilha a existência, os anseios, os gostos, a maconha.
E depois do acidente, na Macaúba, tudo como dantes.
Na discussão da maconha, também.
Ou quase. Semana passada, ouvi e vi na TV, em um programa de entrevistas, goiano, um representante da polícia dizer que usar maconha, em casa, pode. Pode? Na Macaúba pode.
Pode? E o comércio, como fica?
E as meninas menores? Seus responsáveis serão responsabilizados? As escolas onde estudam e as comunidades onde vivem podem ser responsabilizadas?
Deveriam.
Ouvi uma vez, que durante a guerra, o consumo de maconha e de drogas psicodélicas era permitido pelos EUA, difundido pelo movimento hippie e demais, de contracultura. Isto, para que as multidões de jovens que se rebelavam ficassem “bodados” e confusos com suas drogas, meio que sem atitudes. Se autoanulariam, perderiam o ímpeto, e isto aconteceu.
A discussão atual da maconha está arcaica, preconceituosa, unilateral, limitada, hipócrita.
Só não é inócua, pois tira o tema do armário. Alguns falam contra o consumo abusivo de drogas e incluem aí remedinhos diversos, para dores, calmantes, para emagrecer.
Tem gente achando que “o governo vai liberar drogas”, sem foco na maconha.
O governo deveria ser responsabilizado, em última instância, por consequências graves, devido ao uso abusivo de drogas. São tantas as instituições e os recursos públicos no tratamento de dependentes. E os retornos dos casos, também.
Tratam-se usuários(as) como pessoas com problemas espirituais, mentais, de caráter, mas já se considera que a família também deve ser “tratada”.
E pouco se discute sobre valores, vícios, lazer, cultura, prazer, sistema socioeconômico. Pouco se projeta o futuro. Pouco se garante ainda, do ECA, dos direitos humanos. O atual formato da discussão do uso da maconha, como a realidade da Macaúba, deve ser pensado. Juntamente com as políticas públicas em geral.
Na matéria jornalística, sobre o referido acidente com o pessoal que saía de Macaúba, aparece a Segurança Pública falando sobre o ocorrido.
Nada de família, de escola, de posto de saúde, de comunidade... Nem de proprietário de festa sem lei e com presença de menores.

sábado, 16 de maio de 2009

O amianto, a comunicação e o parlamento

* Publicado no jornal "Diário da Manhã" em 26.04.09

Há pouco menos de 15 anos, quando ouvia o Horário do Brasil, no rádio, ouvi pela primeira vez a voz e a fala, muito bem construída, de Fernanda Giannasi. Ela sempre tem espaço lá.
Já tinha ouvido alguma coisa sobre o amianto e naquele momento aderi ao processo da dúvida, na análise, e ao princípio da exclusão, na síntese, ao pensar este tema.
Têm sido veiculados neste jornal muitos artigos e matérias sobre a atual realidade das lutas em torno do amianto de Minaçu. Até provocamos matéria em outro grande jornal do Estado e também comentários em sites internacionalmente lidos e respeitados.
Esporadicamente, este tema era tratado em artigos nas páginas do DM, de modo a indicar a exploração do amianto como sendo uma atividade positiva para a economia do Estado de Goiás e, principalmente, do município de Minaçu.
Eu, sempre meio que indignada pela unilateralidade do trato do tema, não pude deixar de expressar aqui minha opção pela defesa da luta pelo banimento da exploração do amianto.
Sempre procurei notícias sobre o tema e jamais algum pool me financiou ou exerceu qualquer tipo de pressão sob meus pensamentos e atos (só meus pais) e nunca me admiti ser ideológica.
Por isto respeito o senador Marconi Perillo neste momento de discussão e de definição do rumo desta luta. Seu discurso é digno, eloquente e não desmerece seus opositores. Sempre ousado e atuante, Marconi Perillo propicia ao seu povo goiano a socialização desta luta, quer seja na defesa do banimento do amianto ou em sua condenação definitiva, pois Goiás se evidencia na produção brasileira de exploração, industrialização e comércio de amianto.
Não como respeito e admiro o DM, pelo que significa em termos de socialização de informações e conhecimentos. Nem como respeito e admiro Batista Custódio em sua grandeza/beleza intelectual, espiritual e concreta. E lhe digo que concordo com sua opinião sobre a importância e o retorno de José Dirceu no cenário político e que fui uma das primeiras a manifestar apoio ao Delúbio, contra a hipocrisia e a covardia no meio político.
Por falar nisto, li que o imperador Moulay Ismail, do Marrocos, possuiu 525 filhos e 342 filhas, em 1703. Imagina se todos tivessem direito a passagens aéreas?
Como Batista Custódio é visionário, eu sou, e imagino-o senador por Goiás, como o foi Alfredo Nasser.
O parlamento é pra “parlar” mesmo, e Batista Custódio lá faria isto muito bem, por Goiás! Amo o parlamento, pois ele é arma na luta pela transformação social transparente e democrática.
Sei que Fernanda nunca foi financiada por qualquer grupo econômico. Não está sendo julgada por crimes eleitorais, suas finanças estão declaradas e aprovadas. Sequer se lançou candidata a cargo político. Possui uma vida sem regalos.
Mas Fernanda Giannasi já foi candidata ao Prêmio Nobel da Paz, indicada pelo Greenpace Brasil, como representante “de dignidade, firmeza, compromisso e resistência ativa”. Recebeu, em 2001, junto com o Globo Ecologia e a Brasil Telecom, o Prêmio Pensamento Nacional das Bases Empresariais. Em 2004, Fernanda Giannasi foi homenageada no Japão. Em 2007, a economista brasileiro-palestina Amyra El Khalili, do Movimento de Mulheres pela P@Z! a indicou para o Prêmio Bertha Lutz, em um grito para que Fernanda “trabalhe sem pressões, intimidações, ameaças e acusações infundadas”.
Fernanda é engenheira e auditora-fiscal do Ministério do Trabalho em São Paulo há 21 anos e fundou, legitimamente, a Rede Virtual-Cidadã pelo Banimento do Amianto na América Latina e a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea).
Fernanda Giannasi recebeu homenagens como o Prêmio Cláudia, pelo “reconhecimento de seus relevantes serviços dedicados à preservação da vida”, o Prêmio Cidadã de Destaque do PNBE, Animaseg, Revista Cipa, o prêmio da Associação Americana de Saúde Pública, Ray Sentes no Canadá, além de ter sido eleita como membro vitalício do Collegium Ramazzini na Itália, e das homenagens da Câmara Municipal de Osasco.
Defendo a transparência na política brasileira, a liberdade, a equidade e a fraternidade. Pretendo uma reforma política que inclusive, determine o financiamento público dos partidos e campanhas eleitorais, o que tornaria nossa política menos tendenciosa.
Por isto, ao longo dos últimos anos, observei Fernanda Giannasi e sua luta contra o amianto e aderi a este lado, mas sempre indicando a necessidade da discussão, da pesquisa, da divulgação desta temática.
Sucesso às pesquisas e à audiência pública do amianto. O DM é imenso, mas precisamos sair do papel pra discutir o amianto, as alternativas econômicas sustentáveis para Minaçu, o grupo Saint- Gobain, blogs como o viomundo, ossemmidia, imprensalivre, mercadoetico, chapabranca, as histórias de Fernanda, de Luiz Salvador, de Minc, de Rocha Matos, dos Pinheiro Neto, de David Bernstein, Mário Terra Filho, Ericson Bagatin e Luiz Eduardo Nery, por exemplo, na questão do amianto.
Goiás merece e o mundo agradece.

1º de abril

* Publicado em 30.03.09, no Jornal "Diário da Manhã"

Pensei que seria um dia bem auspicioso para um encontro, digamos, intelectual. Mas, no início, esta data me intrigou,quando foi proposta, até porque passava eu por um período de grande descrença social.
Eu estava mesmo bem apática ao mesmo tempo que preocupada. Sentia-me acuada, sem possibilidade qualquer em vista, desempregada havia quatro meses.
Viver de poesia já não me garantia vitalidade suficiente para ter motivação, mas era o que me segurava. Explico-me: é que havia sido agraciada, naquela época, com a publicação do livro Quimera, de poesias, na Coleção Prosa e Verso, e esse livro me transmite valorosa significação.
Vez ou outra, vendia um livro, surpreendendo alguém e me surpreendendo com a receptividade positiva das pessoas, sensíveis ao tema do sonho, ao estilo poético; as pessoas valorizam a escrita, e poesia tem muito a ver, no coletivo imaginário, com o amor carnal. Poucas pessoas a relacionam com a contemplação, com algo mais universal e abstrato, mas, no geral, senti muitas manifestações de respeito e consideração ao meu poetismo.
Isso me mantinha, mas não me iludia o suficiente para me abster de meus problemas concretos. Sentia-me mesmo muito arrasada pelo desemprego, pelos compromissos e laços desfeitos.
Mas não descri da vida nem de Deus. Vivia mais contida, e a busca interior nos eleva a Deus e se confunde com sinais depressivos, mas me mantinha com uma rotina interessante de cuidados maternos e domésticos, internet, caminhadas diárias, afeto familiar e de pouquíssimos amigos.
Certa misantropia tomara conta de mim, mas intensos sentimentos me mantinham ligada em uma força que me fazia querer superar as limitações às quais eu estava submetida com o desemprego, por não concordar com aquilo para a minha vida, diante da disposição e da dedicação que sempre tive para com o trabalho.
Eis que tive vontade, do limo interior, de oferecer um livro meu ao sr. Batista Custódio.
Eu já havia publicado alguns artigos no DM e, há uma década, envio comentários de leitora. Estive, algumas vezes, na redação. Pensei que ele poderia me receber, afinal eu era uma escritora...
Resolvi procurar diretamente a diretoria-geral e me surpreendeu a delicadeza de Sabrina e a data sugerida: 1º de abril, há um ano. Fiquei intrigada e um pouco ansiosa. Menos que o normal, pois, naqueles dias, evitava, ao máximo, qualquer euforia para evitar a baixa, o descontentamento. Controlava a empolgação, evitava o entusiasmo.
Mas, naquele dia marcado, resolvi ligar para confirmar e confirmei. Não pude conter a insegurança pela roupa a vestir, pelas palavras que usaria. Conhecia Batista Custódio, embora nunca tivesse estado com ele. Sabia de sua simplicidade e excentricidade. De muitos de seus dilemas, suas lutas, algumas paixões e superações, de sua história, sempre tão exposta e sentida.
Não tive dúvidas de que a camisa amarelo-canário e calça jeans com algum salto estariam legal, embora eu estivesse taciturna e quisesse discrição, pois estava muito intimista, aquele amarelo arregalado me lembrou alguma luz, a sabedoria.
Fui para entrar em sua sala, no DM, depois de a Sabrina ter me recebido e pedido gentilmente um livro para que ele desse uma olhadinha, e eu lhe dizer que gostaria de autografar, imaginando já que não seria recebida e satisfeita de apenas encaminhar o livro... Ela me pediu que aguardasse um pouquinho.
Desajeitada, carregando pasta cheia e bolsa, desacostumada do salto e das relações, quando, de súbito, sua sala se abriu, impressionou-me nunca tê-la visto ali... E aquele ambiente me desnorteou um pouco, e o telefone dele tocou, e achei por bem aguardá-lo atender antes de entrar e, quando entrei, ele me recomendou sentar-me e me fez já uma observação positiva e pautada sobre o Quimera, que ele folheava à minha frente.
Qual não foi minha alegria quando percebi o amarelo-canário de sua camisa, que era igual a minha. Olhei ao redor, rapidamente, e estar entre o sr. Batista Custódio e o oratório que fica em sua sala me fez compreender a energia que me maravilhava, entre suas palavras e compromissos inadiáveis e decisões tomadas à minha frente e as pessoas trabalhadoras dali, que entravam e saíam sempre sem importunar ou quebrar o ritmo de nossa conversa, que agradável e extensa, marcou para sempre a minha vida, de modo concreto, mudando meu rumo e me reimprimindo uma dignidade e uma vontade de viver pela minha capacidade de ser feliz e de despertar em alguém tão mais que bacana alguma caridade que me desse atenção, que me ouvisse e perdesse tempo e palavras comigo.
Mas foi uma energia muito imensa mesmo, pleonástica. E intensa, embora tranquila, fluida. Mostrei a ele um livro meu de primário em que eu escrevi que lia e gostava do 5 de Março e seu Café de Esquina e também meus artigos, projetos, falei de mim. Revivi.
Jamais esqueço as palavras, os conselhos e casos que o sr. Batista me revelou e o seu convite para que eu escrevesse semanalmente no DM. Imensurável é a grandeza de Batista Custódio, pois sua obra revela extraordinários alcances e se fez através de sua persistência, coragem, lisura e objetividade, e sua trajetória me encanta também pelo que não é, embora pudesse ter sido, por ter nascido em berço esplêndido e com tanta inteligência, itens capazes de tornar alguém conservador, acomodado, louco ou desiludido ou narcisista, sei lá.
Batista Custódio impressiona, encanta e transmite a segurança de pessoa endurecida, mas que não perdeu a ternura nem o calor das vidas e dos corações inquietos em busca de um sossego que não vem do perecível, do passageiro, mas se concretiza nos encontros da vida, com semelhantes, com a natureza, com o inusitado dos sentidos e dos sentimentos bons.
E por ter anunciado meus serviços sociais nos classificados do DM gratuitamente, vi o anúncio do Sine, que me encaminhou para o emprego no qual estou desde agosto passado.
Parabéns, sr. Batista, e muito obrigada mesmo por tudo, pela sua história e pelo DM!