domingo, 15 de junho de 2008

NOVA ORDEM

* Publicado no Jornal Diário da Manhã em 13.06.08


A realidade econômica mundial nos remete a obrigação de buscarmos novos rumos para o consumo e a produção de bens e serviços, que garantam padrão de qualidade e sustentabilidade sócio-ambiental. A diversidade de opções do mercado exige competitividade. Por outro lado, administradores modernos indicam a visão de futuro como sendo quesito para qualquer empreendimento de sucesso. Outro valor importante nesta era é o investimento no capital humano e em treinamentos e assistência aos funcionários, que acabam melhorando a produtividade.

É certo que longe estamos da sociedade ideal, mas é inadiável que a façamos aqui e agora, em nosso tempo e espaço, vivenciando ao máximo aquilo em que acreditamos, buscando realmente a inovação de alguns valores, regras e comportamentos, tanto no mercado quanto na sociedade como um todo. A consolidação dos direitos humanos só se dará com novas relações que não indiquem explorado e explorador, na superação da visão mercadológica do capitalismo, onde tudo é mercadoria, onde o lucro e a vantagem são premissas básicas.

Em tempos de crise na fé política, a construção de ações políticas genuinamente voltadas para o bem comum, os ideais coletivos e a emancipação do homem, depende do investimento na produção do pensamento coletivo acerca das questões humanas. Associar a prática aos ideais teóricos, e ainda, a sociedade com o poder estatal, são alguns desafios que percebemos na luta política, cotidianamente, além das questões práticas como o problema dos diversos e altos impostos, que não é somente uma questão de quanto se cobra, mas também de onde e de como eles são empregados.

Questões como diminuição de jornada de trabalho, direitos e deveres trabalhistas e patronais, entre outros temas relevantes, devem fazer parte deste pensamento coletivo, que irá refletir sobre condições e modernização do trabalho, no sentido de ampliarmos o grau de satisfação de patrões, trabalhadores e usuários dos serviços e produtos, e garantir a sustentabilidade do espaço que nos cerca, gerando excelência e qualidade total e contribuindo com um mundo de vidas mais felizes e com uma transformação socioeconômica efetiva e persistentemente construída por toda a sociedade.

Existem estratégias interessantes de gestão empresarial e do estado, que não se prendem na burocracia e em regras estabelecidas no século passado, mas que focam missões e metas de forma inteligente, administram prevenindo variáveis, antecipando oportunidades e avaliando, permanentemente, os resultados.

Quero sinceramente, ver um governo e um empresariado moderno, nas cidades e nos campos, que ousem construir novas relações sociais e de produção. Que se empenhem realmente em buscar investimentos e políticas que atendam necessidades sociais e não que simplesmente saciem o apetite de um mercado arcaico e perverso; que saiam do produtismo que tem devorado nossos recursos econômicos e nossa força de trabalho e reproduzido cada vez mais, velhos riscos sociais e ecológicos.

Percebo certa incoerência ao se falar em desenvolvimento sustentável ao mesmo tempo em que se busca mercado para exportação da carne e de grãos e isto me lembra o fato de que o “Brasil é uma empresa para os outros”. Quando é que deixaremos de querer produzir para fora o que sequer garantimos para nós? É muita loucura pensar que temos mais cabeças de gado em nosso país do que de gente e no que isto significa em termos de deterioração do meio ambiente. A pecuária é uma das maiores fontes de gases causadores do efeito estufa no Brasil, que depois da Índia possui o maior rebanho bovino do mundo.

Para se produzir 1 Kg. de carne, são necessários 5000 l. de água. Fala-se sobre a destruição de 70% das matas goianas e do solo, provocada pelos pivôs utilizados na irrigação para produção de pasto e outros produtos a serem exportados, como a soja e o milho, por exemplo, e ainda, sobre a cadeia ecológica, que diz que o que acontece aqui tem reflexos em todo o planeta e vice-versa.

Para se ter uma idéia, já em 1973 o New York Time Post verificou que uma enorme instalação para matar galinhas utilizava 378 milhões de litros de água por dia. Em agosto de 1974, a Agência Central de Inteligência (CIA) alertou, em um relato, sobre a necessidade de que o consumo de animais criados com cereais diminuísse “rápida e drasticamente”. Nada neste sentido foi feito, estamos muito atrasados.

Osires Silva, 69 anos, criador da Embraer e do avião Bandeirante, ganhador do prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia, do CNPQ em 1999, disse recentemente que pensar nas grandes extensões plantadas enquanto salvação da lavoura é, na verdade, “colocar o país numa competição de quem chega por último, pois a venda de 1kg de soja, por exemplo, equivale a 35 centavos de dólar, sendo que o mesmo peso de um avião vale 1000 U$”.

É a hora da reforma agrária e agrícola. Do investimento no campo e na agricultura familiar, que reduz o desperdício e os custos do armazenamento e do transporte, além de promover um desenvolvimento sustentável.

Precisamos pensar e empreender novos investimentos na agricultura e, por exemplo, no turismo, na indústria química e farmacêutica, na tecnologia de ponta. Adquirir e vivenciar novos hábitos sociais, culturais e alimentares, dignificando nossas relações entre nós e com o meio ambiente, sem parasitismo nem alienação. É preciso determinação, inovação, conhecimento e coragem para ousar, sem medo de sermos felizes!

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