quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O aborto, o estupro, o Estado, a política e a politicalha

*Artigo original publicado no jornal DM em 01.11.10

Cheguei a pensar que minha candidata ao Governo Federal deste segundo turno das eleições no Brasil, teria competência para avançar nas discussões apresentadas e trazer novos temas à pauta.
Ledo engano. Que pena!
Para quem pensa que aborto não é tema político, digo que penso que é.
E digo que até cogitei votar em Serra, para oxigenar o governo. Mas ele foi muito leviano, jogando este tema sem querer discutir e pior, sendo hipócrita, pois sua esposa fez aborto. Hipócrita, não por ela ter feito, mas por terem mascarado... Ela podia ter falado em sua experiência, aí sim, mas não – eles condenaram, para provocar saia justa em Dilma, apenas... Serra trouxe a bestialização da campanha.
Dilma me convenceu que é melhor do que Serra. Pelos movimentos sociais, pelo governo popular e democrático, votei em Dilma, agora. Antes, votei em Marina Silva.
E repeti meu voto em Marconi Perillo.
Penso que serão estadistas o suficiente para colocarem o Estado acima de suas siglas partidárias, no decorrer de seus mandatos. Deste modo, equilibramos os poderes. Nada estará dominado por um, nem por outro, penso.
Mas, voltando ao tema, perdemos a oportunidade de iniciarmos uma discussão fundamental, de acordo com Freud, para a nossa felicidade, enquanto humanidade: a nossa sexualidade.
Ainda que o tempo tenha sido pouco, poderíamos ter falado juntamente ao tema Aborto, dos inúmeros e até dos ignorados estupros que sabemos que existem, em nosso país. Da violência doméstica. Dos inúmeros casos de gravidez precoce (12,14,15 anos). Da precocidade da iniciação sexual de nossa moçada (ou não?!).
Ora, se nossa sociedade joga feto/bebê vivo no lixo, ou se mata antes de jogar... Isto não é problema de foro íntimo, apenas.
Se nossos homens (moços, até) se comportam como bestas, como animais rupestres, e estupram, violentam, desacolhem suas crias (mesmo que sejam frutos de relação “extemporânea”...), isto é uma questão de saúde mental, cultural e de educação e de segurança... É sim, uma questão de Estado.
Ora, se mulher não quer filho, se preserve, existem vários meios. Não tem que jogar fora – de uma vez por todas, é o que penso. Nossa sociedade precisa entender a lei da ação e da reação.
Nossa sociedade precisa parar de educar e de viver para satisfazer o mercado. Precisa pensar a vida que vive e a vida que quer.
O Estado precisa parar de governar para o mercado. Desenvolver políticas educacionais para além da escola formal, utilizando-se para isto, da Assistência Social, por exemplo, que deve fazer mais do que oferecer bolsas de auxílio. Precisa de uma Educação que alcance crianças e jovens e adultos, para uma sociedade que avance em sentido contrário a barbárie.
O mercado está aí oferecendo a volúpia, seja através de imagens e de produtos, seja através da normatização velada e/ou escancarada, de comportamentos... Oferecendo festas open bar com álcool à vontade, e as drogas vêm juntas... Tudo está interligado.
Como mãe, prefiro aqui nem comentar os conflitos que tenho, diante da falta de sintonia que enfrento com o mundo e com as minhas “crianças”, quando não os autorizo, por terem 15,13 e 11 anos, a irem às festas, aos shows e bares de adultos. Com meu filho de 24 anos, meu problema esteve nas lan houses... Superamos.
Prá mal dos pecados, o governo e a sociedade agem como se o ECA fosse só para a classe “menos favorecida”.
Se para jovens pobres temos uma política pública ineficiente, para a juventude de classe média e alta, a política é zero e isto está errado!
Uma sexualidade sadia e prazerosa é preciso. Hipocrisia e omissão, não é preciso!

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