quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Por entre pensamentos grandiosos, pedantismos e viscosidades

*Publicado no jornal Diário da Manhã em 10/01/15

Ter estudado em bons colégios católicos, me garantiu boa formação cristã e fui bem despertada para o interesse no conhecimento. Em casa, desde pequena, vejo meus pais lendo jornais, livros, revistas, fazendo palavras cruzadas, conversando sobre diferentes assuntos e sendo solidários às causas que lhes chegam, sempre participando das questões em voga. Quando pequena e até certo tempo, tive alguma dificuldade com questões relativas à localização/espaço. Também tive a fama de ser lerda, polêmica, briguenta. Outro dia, no trabalho, reencontrei uma colega de universidade que me indagou se continuo “doidinha”; muitas pessoas na faculdade me acharam doidinha, apenas porque eu desafiava e aceitava desafios àcêrca dos pensamentos. Agora, pasmem: outro dia, eu chegava ao caps, meu local de trabalho, quando também chegavam três motoqueiros muito barulhentos, sendo que um deles acelerou seu motorzão várias vezes, na porta do estabelecimento, depois de quase me atropelar na calçada, o que me obrigou a entrar reclamando, por entre eles e chamando a atenção dos mesmos, diante de tanta balbúrdia. Haviam outros “moços” do porte deles, lá na entrada, aos que eles se juntaram. Eles galhofaram da “represália”, concordando comigo. Pois, pois: Ao adentrar meu recinto de trabalho, reencontrei ali, conversando com minha diretora, a colega assistente social, que já era policial à època da universidade. Soube que ela estava ali, com os “moços” barulhentos lá de fora, para entenderem melhor o serviço realizado pelo Caps AD, já que a cidade deles, na região metropolitana de Goiânia, estaria implantando um; então, entendi que todos eles seriam policiais e que ali estavam, à paisana, para uma atividade meio que “extra”... Por fim, quem os recebeu e conversou com eles, de pé, ali, na entrada, pelo lado de fora mesmo, em decorrẽncia da falta de espaço, fui eu, em um papo descontraído e muitíssimo proveitoso. Cumprimentei a todos pelo desprendimento para o conhecimento sobre o que é o trabalho psicosocial em saúde mental, e à colega, pela iniciativa, que deveria ser mais sistemática e institucionalizada, para estudos e atividades comuns. Foi uma experiência inusitada, como muita coisa, em minha vida. Estranhamente, também sempre fui considerada boazinha, pacífica, serena. Intelectual. Recentemente passei a ser considerada engraçada. Engraçado, isto. Comigo mesma, sempre que sentia-me sutilmente oprimida, entalada, fora de lugar, fora do eixo, ia tentando me adequar, sem me descaracterizar, claro; e ainda é assim. Nunca me importei com o que pensam ou dizem sobre mim, embora sempre preste muita atenção em mim e nas pessoas. Já falei mais de mim, quando perguntavam. Hoje me cansei das estorinhas e falo bem menos; quase nada. Também sou muito avessa a falar de pessoas, de modo fofoquento, embora goste de ler, eventualmente, notícias da vida alheia. O ser humano me interessa. Li muito e conversei muito também. Nada muito direcionado, nada de buscas específicas, tudo conforme as possibilidades. No início do ano 2000 já havia publicado cartas e artigos, em jornais, sobre assuntos de meu interesse, geralmente voltados às questões relativas às políticas públicas; questões socioambientais. Só hoje entendo a razão dos vômitos e do mau estar que me causaram escrever alguns artigos, pois vejo que estão na contramão das idéias reinantes. Andar na contramão é sempre perigoso, mesmo no campo das idéias. Nunca me importei de ser chamada de doidinha, mas o boazinha me incomodou muito, durante um tempo em que observei se minha bondade era para garantir aprovações e/ou ganhos e comecei a me achar meio malvada, por não me dispor a trocar bondades, algumas vezes, neste mundo de meu Deus. Também percebi que muitas vezes deixava de ousar, como quando criança, quando eu via que a ousadia de minha irmã mais velha lhe rendia alguma represália. Comecei a tomar remédio controlado muito cedo, depois de um acidente no qual minha cabeça levou uma pancada. Ao ficar noiva, larguei-os por conta própria; detestava remédios. E também, as injeções para anemia. No ano passado, depois de uma crise longa de fibromialgia, sem médico reumatologista, nem ortopedista, nem acupunturista e nem neurologista, encontrei um psiquiatra que me diagnosticou com bipolaridade; estava muita mal à época e não me importei com o diagnóstico, até brinquei, dizendo que até a Terra é bipolar e justificando com minhas múltiplas tarefas e funções e com o fato de que minha vida tem sido muito instável, nas últmas décadas. Comentei que já sabia, mas que sempre conseguia manter-me no polo positivo, mas que naquele momento, não estava dando. Eu estava muito dorminhoca, chorona e agressiva, nas palavras. Posteriormente, um primo psiquiatra disse-me, quando fui à clínica dele visitar um “impaciente” querido, lá do meu trabalho, que eu seria hexapolar, mas que eu estava ótima... Rimos um bocado. Gostei muitíssimo, dele. Esse primeiro psiquiatra que citei, deixou de atender por estar convalescendo, após ter sofrido um acidente ciclístico terrível, onde batera a cabeça. Passei por outros e outras medicações que não deram certo e alguns neurologistas, até que um me pediu um mapa cerebral. Embora tenha dado um resultado muito insignificante para os médicos, todos me receitam medicamentos com os quais não me adapto. Nenhum explica realmente o resultado do exame. Estive estudando os termos que encontrei no exame e comparando com os resultados que tive, na infância. Voltei a me interessar por leitura, com isto, mas até compreender que teria uma sobrevida de cinco anos, aconteceu. Pensei nos parentes próximos, de saúde mental comprometida e em meus pais, que são primos. Compreendi o valor do Ferro para o cérebro, e que talvez, eu tomasse remédio para anemia na infância, por recomendação psiquiátrica... Desisti de entender os exames e de tomar os remédios, por hora; estou conseguindo controlar um pouco, os “gatilhos” que desencadeiam os sintomas da fibromialgia, que é o que incomoda. Fiquei mais de mês em terapia, com psicóloga. Nesse processo, confirmei que realmente, as luzes do belíssimo show de Paul McCartney tiveram influência no comportamento que tive, nos dias que se seguiram. Li um pouco sobre auras gástrica e extática e pensei sobre os soluços que tenho, em determinadas situações; e sobre as tonturas, a quietude e sobre o fato de ter ficado enxergando em preto e branco, há três anos, sob forte stress. Sobre os momentos e experiências que eu considerava como “espirituais”. Sobre o meu faro fino, a minha oralidade e a extrema gratidão que sinto, pelo que sou grata. Percebi em meu comportamento, um certo pedantismo, a viscosidade, a querelância. Admiti que sou faladora e que às vezes adquiro ares de arrogância. Tenho achado tudo muito interessante. Mas não quero deixar de lado minhas “idéias grandiosas”. Sinto por ter parado a medicação, mas não tolero muito os efeitos colaterais, ainda que os remédios me ajudem, inicialmente. Agora, novamente conseguindo organizar as ideias, não trabalho mais com saúde mental. Entendi, certa manhã, que deveria obedecer a outra parte que os médicos me recomendam e agora trabalho com turismo, esportes e lazer. Antes, eu dizia que me sentia muito em casa e agora, continuo assim. Acho, na verdade, que sou meio cigana. Feliz Ano Novo para nós!!!

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