domingo, 17 de maio de 2009

A discussão da maconha e a Macaúba

* Publicado no jornal "Diário da Manhã" em 03.05.09

Sobre a maconha, há muito se fala. Já a Macaúba é pouquíssimo conhecida. Cidadezinha pacata, próxima da capital, como todas as cidadezinhas pequenas, possui internet e participa dos modismos nacionais. Nos interiores goianos, existe um consumo intenso de álcool entre jovens.
Na Macaúba, uma vez por semana, existe uma “diversão para adultos” que combina música, erotismo, álcool e o que mais rolar, em um território, em uma festa, em uma segunda, sem lei.
Maconha ali é besteira.
Outro dia, dois carros voltavam de lá, correndo muito, na madrugada seguinte a um feriado, às 4h30, quando um “acidente” pôs fim à vida de três e feriu cinco pessoas, sendo duas meninas menores de idade. Motoristas embriagados.
Dirigir embriagado, não pode. Mas a festa é conhecida e divulgada na região.
Sobre maconha, a primeira vez que ouvi falar, me martela a cabeça e me faz ver que os equívocos na tentativa de contenção do seu uso são os mesmos.
Não se pode dizer que alguém do mal, ou que vem de fora, estranho e bandido, pode se achegar, seduzir e oferecer maconha ou obrigar ao uso, ou então recomendar cuidado com a fumaça ou ainda, repetir que a maconha provoca a violência, a delinquência ou algo parecido
Mas é preciso urgentemente, uma política que efetivamente incentive e garanta a prática de bons hábitos para a vida com saúde. Que garanta a promoção da educação, da autêntica assistência social.
Sempre defendi o ócio criativo e a ausência dele tem sido cada vez mais causador de problemas. Tanto quanto sempre defendi a diminuição da jornada de trabalho, por saber que o excesso de atividades na luta pela sobrevivência traz a falta de tempo que grassa nas famílias e as condena ao estranhamento de suas partes.
A entrada de jovens no mundo das drogas (lícitas ou não), seja fuga, seja curiosidade, acesso ou o que for, é busca de prazer.
Ausência de lazer, laços familiares frágeis, desequilíbrio emocional?
Pode ser também busca de autoafirmação social, considerando-se que, às vezes, uma pessoa da escola, da comunidade ou do trabalho, curiosamente bacana, da hora, ultra-antenada e pacífica, pode vir a ser, não traficante, mas uma pessoa amiga, que ouve, sorri, chora junto, entende, compartilha a existência, os anseios, os gostos, a maconha.
E depois do acidente, na Macaúba, tudo como dantes.
Na discussão da maconha, também.
Ou quase. Semana passada, ouvi e vi na TV, em um programa de entrevistas, goiano, um representante da polícia dizer que usar maconha, em casa, pode. Pode? Na Macaúba pode.
Pode? E o comércio, como fica?
E as meninas menores? Seus responsáveis serão responsabilizados? As escolas onde estudam e as comunidades onde vivem podem ser responsabilizadas?
Deveriam.
Ouvi uma vez, que durante a guerra, o consumo de maconha e de drogas psicodélicas era permitido pelos EUA, difundido pelo movimento hippie e demais, de contracultura. Isto, para que as multidões de jovens que se rebelavam ficassem “bodados” e confusos com suas drogas, meio que sem atitudes. Se autoanulariam, perderiam o ímpeto, e isto aconteceu.
A discussão atual da maconha está arcaica, preconceituosa, unilateral, limitada, hipócrita.
Só não é inócua, pois tira o tema do armário. Alguns falam contra o consumo abusivo de drogas e incluem aí remedinhos diversos, para dores, calmantes, para emagrecer.
Tem gente achando que “o governo vai liberar drogas”, sem foco na maconha.
O governo deveria ser responsabilizado, em última instância, por consequências graves, devido ao uso abusivo de drogas. São tantas as instituições e os recursos públicos no tratamento de dependentes. E os retornos dos casos, também.
Tratam-se usuários(as) como pessoas com problemas espirituais, mentais, de caráter, mas já se considera que a família também deve ser “tratada”.
E pouco se discute sobre valores, vícios, lazer, cultura, prazer, sistema socioeconômico. Pouco se projeta o futuro. Pouco se garante ainda, do ECA, dos direitos humanos. O atual formato da discussão do uso da maconha, como a realidade da Macaúba, deve ser pensado. Juntamente com as políticas públicas em geral.
Na matéria jornalística, sobre o referido acidente com o pessoal que saía de Macaúba, aparece a Segurança Pública falando sobre o ocorrido.
Nada de família, de escola, de posto de saúde, de comunidade... Nem de proprietário de festa sem lei e com presença de menores.

2 comentários:

irineu xavier cotrim disse...

interessante esta discussão - o que falta na verdade na sociedade.

Anônimo disse...

as leis sobre a maconha é q fazem mal,uma pergunta se vc quiser comprar um baseado onde compraria nas maos de traficante correndo riscos ou em um lugar seguro sem violencia onde esta renda pode voltar para o governo e esta ser investida na saude?
pensem
paz