sexta-feira, 25 de abril de 2008

POLÍTICA DE SAÚDE: INVESTIR PARA NÃO GASTAR

* Publicado no Jornal "Diário da Manhã" em 24.04.08

Estando diretamente relacionada com as condições de vida e os hábitos da população, a política de saúde no Brasil vem sofrendo importantes transformações, desde o final da década de 70, quando passou a ser compreendida enquanto fenômeno multifatorial, de interesse, não só dos técnicos de saúde, e ainda, com uma dimensão política, o que, naquela época, mobilizou os profissionais de saúde em torno dos outros interesses coletivos nacionais.

No início da década de 70, a perda do poder aquisitivo do salário mínimo, a migração intensa e a urbanização desordenada, foram fatores que intensificaram os efeitos perversos da economia capitalista centralizadora e agravaram as condições de vida e saúde da população.

Em meio às lutas pela transição e consolidação da democracia no Brasil, a Reforma Sanitária que deu início ao atual Sistema Único de Saúde - SUS pregava uma mudança de valores que rompessem com o individualismo, o corporativismo e a falta de compromissos no setor público. O movimento que emergia era contrário à mercantilização da atenção médica e ao modelo econômico vigente, sempre visando à lucratividade em detrimento da ética e das reais necessidades da população.

A partir da VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, “a saúde foi considerada resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde”. Hoje, o direito universal à saúde integral, o dever do Estado na garantia desse bem essencial e a participação popular nos processos de decisão, implantação e controle desta política, são concepções garantidas na Constituição brasileira.

As doenças crônicas e a prevenção são os principais gargalos da saúde em Goiânia, atualmente, além, é claro, do excedente de usuários advindos do interior e até de outros estados.

Tomar consciência e modificar hábitos nocivos são premissas urgentes, já que a saúde exige a busca diária do bem estar físico, emocional e social. Acidentes automobilísticos e outros, violência, uso abusivo de drogas e até mordidas de cachorro são problemas que normalmente ocasionam o fluxo intenso nas unidades de atendimento de emergência. Nos ambulatórios, é grande a incidência de doenças sexualmente transmissíveis e de gravidez precoce, além dos distúrbios psico-neurológicos. A recorrência de doenças é comum, quase sempre devido o fato de que os tratamentos são interrompidos ou não são feitos conforme a orientação médica prescrita.

É preciso investir mais em ações de saúde coletiva e na atenção primária, aliando os conselhos locais de saúde, que devem ser mais preparados e parceiros nas ações preventivas, como as vacinações, e nos programas de atendimento e controle de doenças que voltam a preocupar, citando a meningite, o sarampo, a catapora, a tuberculose, a hanseníase, a hantavirose, a dengue e a febre amarela, por exemplo, paralelamente ao desenvolvimento de programas como o de saúde da mulher, de acompanhamento do desenvolvimento e crescimento de crianças, de controle e prevenção da hipertensão, da obesidade, da diabete, da asma, do tabagismo.

A melhora na saúde da população está intimamente condicionada às condições de vida, e o acesso aos demais direitos sociais básicos (educação, trabalho, esportes, cultura, lazer, habitação, transporte, segurança, alimentação) é condição sem a qual, qualquer ação de caráter curativo tem alto custo e eficácia reduzida.

Buscar a integração dos serviços e equipamentos sociais em nível local e construir uma política econômica que melhore as condições de trabalho, diminuindo o desgaste e a espoliação da saúde de trabalhadores e trabalhadoras, são desafios deste século, em que precisamos repensar nossa mentalidade com relação à questão Saúde, saindo do campo microscópico de intervenção, para percebê-la em seu contexto, compreendendo o usuário do SUS, não de forma fragmentada, mas inserido na dinâmica das relações sociais, com a sua historicidade, percebendo sua doença enquanto fenômeno produzido a partir de relações vividas na família, no trabalho, na sociedade.

Ampliar o investimento público na Saúde e garantir melhor atendimento nas unidades do SUS é tão importante e necessário quanto a população imprimir novos conceitos, valores e atitudes voltadas para a educação e a prevenção de riscos e danos à Saúde.

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