domingo, 2 de novembro de 2008

O fim do éden na selva de pedra

*Publicado no Jornal "Diário da Manhã", em 31.10.08

O Jóquei Clube de Goiás tem enfrentado, nos últimos anos, uma crise oriunda da não adequação do clube às mudanças sociais do mundo pós-moderno.
Sabe-se que os clubes recreativos, tradicionais pontos de encontro da juventude e das famílias, em Goiânia, têm o número de freqüentadores em ritmo decrescente em função de vários fatores, entre os quais, a proliferação dos prédios e condomínios residenciais com área recreativa e esportiva privadas.
Enquanto isso e em meio à crise da água, o modo de vida que exercemos atualmente, nos leva ao individualismo, ao sedentarismo, ao consumismo e à virtualidade, que diariamente se traduzem na banalização da vida e das relações. A desumanidade e a falta de tempo grassam em nossos dias, acuando e limitando nossas vidas.
Neste tempo, em que a cidade de Goiânia está em processo de revitalização do seu centro histórico, o Jóquei Clube, localizado na área central desta cidade há quase setenta anos, pode contribuir sobremaneira com a cidadania, se passar a se comprometer enquanto função social, em ser um “poro oxigenador” da cidade, já que pode influir diretamente na qualidade de vida ao atuar no cotidiano de pessoas que buscam, no clube, preencher lacunas, quer sejam no campo do corpo físico, da parte emocional, da intelectualidade ou da sociabilidade apenas, oferecendo um espaço de alimentação, lazer, compras, entretenimento, convivência, informação, cultura e esportes.
Historicamente administrado e freqüentado por famílias tradicionalmente relacionadas à construção e à vida da cidade de Goiânia e do Estado de Goiás, o Jóquei Clube possui ainda hoje em seu quadro de associados, figuras reconhecidas e bem sucedidas em diversos campos de atuação em nossa cidade.
Não é difícil de se perceber o potencial que este clube possui, enquanto possível instrumento de requalificação da vida, enquanto contraproposta ao sistema atual de lazer e convivência.
Apoiada pelo Sr. Joaquim Naves, construí um projeto para atuação no campo das ações sociais deste clube, visando a ressocialização de joqueanos (as), através de um programa de ação social paralelo às atividades e à rotina atual do clube.
É um projeto interdisciplinar que visa resultados a médio e longo prazo e contribui com a difusão de uma cultura de vida fundamentada na máxima “mente sã, corpo são”, legitimando assim a função social do clube, que não teria razão de ser se não fosse o próprio associado.
O projeto sugere como primeira ação, após uma festa de lançamento com músicas de todos os tempos, uma pesquisa participativa, com sócios e funcionários do clube, visando conhecer melhor suas opiniões e disposições, realizada na área do clube, através de abordagens e de questionários avulsos, com temáticas voltadas para questões administrativas do clube e para questões em geral.
Seu principal programa é o de formação de grupos para a efetivação dos seguintes clubes: de Mães, de Jovens, para Maiores de 30, da Melhor Idade e do Vídeo, inicialmente. Os clubes teriam reuniões semanais, com horário entre 19h e 21h e atividades extras programadas com pessoas dos diversos clubes, como viagens, palestras, exposições, feiras temáticas, seminários, coral de vozes, campanhas (do livro, de coleta seletiva, de alimentos por ex.), gincanas filantrópicas, bazares, passeios, visitas enfim, eventos que possibilitem e que estimulem a convivência entre diversos, na vida cotidiana. Sem segmentarismo.
Nestas reuniões, seriam trabalhados temas e oficinas do interesse de cada grupo, propiciando a troca de experiências e conhecimentos, e também o desvelar de anseios e possibilidades, com temas voltados para o amor, a filosofia, a saúde e a conjuntura atual (meio ambiente, economia, política, sociedade), associando pessoas que, agrupadas sob um mesmo teto, identificam objetivos, sonhos, problemas e soluções comuns.
No projeto há previsão de espaços como uma revistaria/café-net com jornais, revistas, cafés, doces, refeições rápidas e saudáveis, além da rede de internet. Espaço também para loja de conveniência, banco 24 horas, biblioteca, salão de beleza e até pequena área de camping.
Segundo o projeto, o restaurante, inclusive aos finais de semana, deveria oferecer refeições típicas goianas e refeições alternativas e também, dever-se-ia incentivar o uso da sauna feminina, inclusive divulgando observações médicas sobre para quê serve, quando e como usar.
O projeto prevê parcerias com hotéis, Prefeitura de Goiânia, escolas, além de intercâmbio com outros Jóqueis Clube em todo o Brasil.
Infelizmente, de um momento para o outro me deparei com a devastação do que restava do bosque e tenho ainda, que conviver com aquele espaço explorado, dilapidado e abandonado, retratando a cara da nossa consciência ambiental, histórica e social.

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