sábado, 8 de novembro de 2008

Pão e Oração

Há alguns anos estive encarregada de administrar uma casa de alimentos naturais, onde se elaboravam massa, principalmente pães.
Quem fazia era especialista na matéria, e seu trabalho atraía toda a vizinhança. Certo dia teve de viajar de repente, e ficamos sem ninguém que o substituísse. Diante da situação, só me restou a alternativa de assumir eu mesma essa responsabilidade, sem nunca ter feito pão antes. Pus as mãos na massa e entreguei os resultados a Deus. Acaso não tinha sido ele que me trouxera o desafio?
Sempre que amassava pão sentia como se os ingredientes, aparentemente inertes, fossem tomando forma, mudando de textura, sutilizando-se, criando vida. Quanto mais amassava, mais aquilo se transformava, e o milagre se renovava todos os dias. Comecei então a orar enquanto amassava. Pouco a pouco senti que, através do que sucedia e que era inexplicável para mim, eu me comunicava com o mundo por outras vias ocultas, interiores. Era como que escrever cartas de amor a desconhecidos, àqueles que comeriam o pão.
Grande foi a minha surpresa quando percebi que a clientela havia mudado completamente. Já não eram apenas os vizinhos que vinham, mas gente dos mais diversos pontos da cidade, só para levar o pão.
Um dia pus-me a conversar com uma senhora que todos os dias vinha de muito longe. Eu a vi cansada e lhe ofereci chá. Enquanto tomava, contou-me que tinha uma filha de 15 anos com câncer terminal; a moça não ingeria quase nada, e a única coisa que pedia era “aquele pão”. Foi quando entendi que no pão realmente se imprimiam energias luminosas, que ajudavam a quem estivesse receptivo.
Fui tomada de profunda gratidão ao dar-me conta, ainda que parcialmente, do alcance da oração. E agradeci ao Único por bem dizer com seu amor aquele humilde trabalho.
Não só ao elaborar alimentos, mas em todos os atos temos oportunidade de prestar serviço do mais íntimo do nosso ser sem esperar retribuição, de prestar um serviço só pelo Bem.
Teodora, Figueira

* Extraído do Boletim de Sinais nº 10, de Figueira 2001, da IRDIN EDITORA LTDA.

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