terça-feira, 30 de março de 2010

Educação e participação em assistência social

* Publicado no jornal DM em 22.03.10

"A produção de ideias,
de representações da consciência
está diretamente entrelaçada
com a atividade material
e com o intercâmbio material dos homens..."
Marx e Engels

Considerando os cinco pontos que norteiam o trabalho social, a saber – a pobreza, a ignorância, a enfermidade, a ociosidade e o meio ambiente, quero chamar a atenção para o papel educativo da assistência social. O serviço social tem em seu arcabouço teórico, referenciais como Paulo Freire, que trabalha a educação popular. A posição educativa de Paulo Freire supõe o homem/educando, como um ser concreto, situado no tempo e no espaço, vivendo determinada época, num contexto sócio-cultural específico. É deste homem que parte o processo educativo.
Em serviço social como em Vigótski, acredita-se que “não é a atividade em si que ensina, mas a possibilidade de interagir, de trocar experiências e partilhar significados”. Entende-se que a educação não é resultado, mas sim, processo. A educação na assistência social pressupõe participação e construção dialógica.
A participação da população na formulação desta política pública e no controle das ações sociais é diretriz da assistência social e é um processo educativo que se torna possível a partir dos Cras – Centros de Referência em Assistência Social, que são espaços físicos apropriados ao desenvolvimento de comunidades e grupos nas cidades e devem ter conselhos locais.
A ação social deve ampliar o espaço de atuação e de participação do ser no mundo, elevando seu nível de consciência acerca de si mesmo, face à realidade em que está inserido. Em serviço social, a reflexão racional constitui o método educativo.
Daí se promover, através das ações sociais, espaços de discussão sobre a vida; a própria vida, a vida pretendida, a preterida. Sobre o trabalho, a família, a morada, o bairro, o que se tem, o que se quer.
A educação popular vincula o particular com o geral, o local com o global, o cotidiano com o histórico, a experiência diária com a teoria.
Compreende que "a vida não é um conjunto de episódios sem conexão, mas uma sequência contínua onde se encontram relações de causa e efeito", como disse Gordon Hamilton.
A ação de pensar as coisas que vivemos nos dá uma nova dimensão de compreensão.
Na escola, as dificuldades naturais, desafiadoras da imaginação criativa, são substituídas por dificuldades falsas e abstratas, impostas por um modelo autoritário de sistema educacional.
Na escola, quase sempre, o que importa é saber responder à imagem e semelhança do mestre, e ainda, cumprir a grade curricular, que já vem pronta.
Entende-se que ao serviço social cabe possibilitar ao homem a tomada de consciência acerca de si próprio, perante e do que poderá ser ante o mundo, em um posicionamento filosófico que permita não só o trato com este homem, mas o questionamento sobre o que significa ser homem e a complexidade de sua situação no mundo.
A educação através da assistência social não trabalha um indivíduo isolado de suas condições objetivas, materiais, sociais e culturais. Esta educação compreende a subjetividade construída no jogo das relações.
É esta subjetividade que permite o vislumbre de novas realidade, novas possibilidades.

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