sábado, 30 de agosto de 2008

Pedi para sair, mas vou votar

* Publicado no jornal "Diário da Manhã", em 29.08.08

Diferentemente de 2002, quando deixei um trabalho onde eu estava muito bem, para trabalhar campanha majoritária em Goiânia, depois de ter acordado com pessoas nas quais eu confiava e que me garantiram o retorno, após a campanha. Mas aí foram festas de formaturas, de casamentos, de fim de ano, para estas pessoas e eu, nove meses no desemprego. Precisei pedir ao meu filho que fosse para a casa paterna. Sofri, mas resisti, afinal nunca estive na política para conseguir emprego. Aí, consegui um trabalho com salário bem inferior, devido o pedido de um amigo anterior ao meu ingresso na política, não pelos meus serviços prestados.
Mas sempre estive na política. E com a profissão que tenho, fica difícil não estar na política. Ao menos eu achava.
Meu primeiro trabalho na Prefeitura de Goiânia, onde hoje é o CRAS da Redenção, foi aos quinze anos, como auxiliar de recreadora. No início dos anos noventa, retornei. E a Prefeitura se tornou meu ideal de trabalho.
Encantada e comprometida com “minha aldeia”, tentei por quase vinte anos, produzir algo de bacana, com meu trabalho. Com o lema “vida simples, pensamento elevado”, fui persistente, busquei sempre a amorosidade, o respeito ao diferente. Fugi dos fatalismos estéreis e do messianismo, na política e em meu trabalho. Busquei o diálogo, fui atenta, ousei, sempre na ordem e no progresso.
Ajudei a fundar e administrar a Associação de Moradores do meu bairro, com veracidade e lutas. Participei e acreditei em Associação de Ex-Alunos. Ousei lutar pela minha categoria profissional. Assumi prejuízos inestimáveis.
Achava natural, que me dedicando e trabalhando sério, teria resultados positivos, profissionalmente. E tive, graças a Deus e à minha família, que ao meu lado sempre está.
Mas estou exilada da política partidária. E feliz, percorrendo “meu Rio Tejo”, que é longo, trabalhando sem precisar ter barriga para empurrar ou político para agradecer. Mas agradeço a todos, de coração.
Aos que me servem de exemplo, aos que admirei e aos que não me toleraram. Tantas experiências me enriqueceram, imaterialmente e me garantiram agora, um bom emprego, via SINE.
Sei que “devo identificar a presença da ideologia e a inexperiência democrática enraizada em nossas tradições”. E a ideologia está presente, sempre, transformando ou mantendo. Libertando ou subestimando.
Desesperada como eu estive, depois de pedir para sair de um trabalho que me consumia em vão, sem resultados positivos, onde meu esforço incomodava e me rendia desprezo e problemas familiares, esta é realmente uma vitória.
Esperei longo semestre, uma recolocação, conforme me fora garantido.
Reavaliando meus valores, minha expectativa de mundo, precisei encontrar novas condições e ideais.
Trabalho agora, de forma técnica, enfim, entre técnicos.
E é incrível como nesse meio, o poder e a chefia não são sinônimos de controle e nem requerem subordinação. O status vem da competência. A solidariedade não cheira barganha. As respostas não têm enrolação. E os sonhos indicam os trilhos do trabalho.
Não me cansei ou desisti de minha aldeia, voltarei, inda que demore.
Apenas me lembrei que tenho dentro de mim, a capacidade de fazer diferente, de ser diferente.
Não pude mais ouvir meu filho, hoje adulto, me dizer que “sempre foi assim...”.
Retirei-me para não romper com sentimentos que quero preservar, de esperança e de compromisso com a construção da liberdade e da emancipação do ser humano.
Aceito o exílio.
Para onde eu for, levarei o que foi bom.
Mas é em “minha aldeia”, que votarei!

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